Reproduzo reportagem de Maurício Thuswohl, publicada na Rede Brasil Atual:
Um debate entre colunistas de veículos da imprensa convencional promovido na quinta-feira (23) pelo Clube Militar no Rio de Janeiro serviu como reunião de "preparação" dos setores mais conservadores da sociedade brasileira. Eles pediram "vigilância" aos militares sobre um eventual governo de Dilma Rousseff (PT), em virtude do que consideram ser ameaças à democracia e à liberdade de expressão. Esses riscos se tornariam mais concretos em caso de vitória da candidata do PT à Presidência da República, Dilma Rousseff, nas próximas eleições.
Organizado com o apoio do Instituto Millenium com o tema "A democracia ameaçada – Restrições à liberdade de expressão", o debate com os representantes da grande mídia atraiu muito mais público do que a palestra do candidato do PSDB à Presidência, José Serra, realizada no começo do mês no Clube da Aeronáutica. Participaram do debate os jornalistas Merval Pereira, da Rede Globo, Reinaldo Azevedo, blogueiro e colunista da revista Veja, e Rodolfo Machado Moura, diretor de Assuntos Legais da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert).
Composta em sua maioria por militares da reserva, a plateia ouviu dos debatedores conselhos de prudência e vigilância em relação a um eventual terceiro governo consecutivo de esquerda no Brasil. Entre as "ameaças" citadas, o destaque foi para o terceiro Plano Nacional de Direitos Humanos (III PNDH), para as mudanças na produção cultural e para as conferências setoriais realizadas pelo governo Lula.
O representante da Abert afirmou que "a liberdade de expressão e de imprensa no Brasil está assegurada pelo Artigo 5º da Constituição". Ele reconheceu que “no Brasil, as instituições felizmente têm amadurecido muito nos últimos anos". Moura, no entanto, fez um alerta: “É importantíssimo que a gente se mantenha sempre atentos para proteger a liberdade de expressão e de imprensa no país. Essa vigilância terá que ser diuturna, e não podemos em momento algum nos descuidar”, defendeu.
Moura afirmou que a Abert monitora atualmente cerca de 400 propostas legislativas para o setor de comunicação, sendo que 380 dessas propostas são contrárias aos interesses da entidade. O dirigente citou uma série de medidas do governo Lula que "preocuparam a Abert" nos últimos oito anos, como a ameaça de expulsão do correspondente do New York Times, Larry Rother, e as propostas de criação do Conselho Nacional de Jornalismo e da Agência do Cinema e Áudio Visual (Ancinav), além do PNDH e da realização das conferências setoriais.
Merval Pereira também criticou o governo Lula após afirmar que escreveu mais de duas mil colunas nesses oito anos. Aproveitou para avisar e divulgar o lançamento de um livro com uma coletânea de cerca de 200 colunas que falam "sobre o aparelhamento do Estado" no governo petista, entre outros temas. "Há um método neste governo desde o primeiro momento. Todos os passos na tentativa de controlar a imprensa não foram arroubos de grupos isolados. O controle da produção cultural do país é um objeto de estudo e de trabalho do governo federal. Existe uma tese, não é uma coisa por acaso. Desde o primeiro momento eles tentaram e tentam controlar a produção de notícias e a produção cultural no país”, disse.
"Limites do PT"
O jornalista da Rede Globo alertou ainda que a sociedade brasileira tem que estabelecer "os limites do PT", e que a imprensa é fundamental para isso. "O Lula e o grupo que o cerca sabem que existe limite para eles. A sociedade já havia dado os limites do PT, e o PT não pode ultrapassar esses limites", analisou. Mas, para ele, desde a tentativa de aprovação do Conselho Nacional de Jornalismo e da Ancinav, setores do governo teriam testado limites. "Mas, eles sabem que a sociedade brasileira é moderna e que os meios de comunicação no Brasil são muito fortes, muito atuantes, e continuam tendo uma influência muito grande", aliviou.
Em um eventual governo Dilma, segundo Merval, o PT certamente fará novas tentativas nessa linha. "Eles vão testar sempre os limites, vão reapresentar de diversas maneiras esses projetos. Por isso, o governo está tentando fazer uma maioria no Senado para que não seja barrada nenhum tipo de emenda constitucional que tente passar por lá. Mas, acho que essa maioria que parece que o governo vai obter no Congresso é tão heterodoxa e heterogênea que não há nenhum tipo de programa de governo que possa ser aprovado por uma gama de partidos que vai do PP ao PCdoB", ponderou.
Ditadores e democratas
Fiel ao seu estilo, Reinaldo Azevedo mostrou-se mais duro e até raivoso nas críticas ao ato contra o "golpismo midiático", realizado na quinta-feira (23) em São Paulo pelos movimentos sociais. O jornlaista acusou o ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência, Franklin Martins, de estar por trás da manifestação – por supostos elos com o Sindicato dos Jornalistas de São Paulo.
"O Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, calculem, abriga hoje uma manifestação contra a liberdade de imprensa. Quem diria, um sindicato defendendo a censura e o Clube Militar defendendo a democracia! Os senhores que no passado fizeram a ditadura e deram o golpe agora querem democracia e eu me pergunto: os que hoje estão pedindo ditadura no ato lá de São Paulo queriam democracia em 64? Não, não queriam", atacou.
"É uma vergonha que o sindicato participe disso. Um dos principais promotores dessa patuscada que acontece em São Paulo é funcionário do senhor Franklin Martins, cujo compromisso com a democracia é de todos aqui conhecido", insistiu.
Azevedo endossou o alerta contra as "ameaças" à democracia no Brasil: "Há ameaça à liberdade sim, ela está configurada. A sociedade brasileira tem reagido, mas o preço da liberdade é a eterna vigilância", pregou. A seguir, comparou o presidente brasileiro ao venezuelano Hugo Chávez: "Se você permitir que avancem, eles avançam. O chavismo do Lula consiste em testar permanentemente os limites, ele é chavista tanto quanto as instituições brasileiras lhe permitem ser chavista", disse.
O colunista de Veja chamou o PNDH de "Plano Nacional Socialista de Diretos Humanos" e afirmou que o governo pretende “criar uma comissão de redação para decidir o que pode ou não ser publicado" no país. Também não faltaram críticas ao processo de conferências setoriais levado a cabo pelo governo, com nova estocada no ministro da Secom. "O Franklin Martins está agora mesmo com o resultado das várias conferências que eles fizeram, ocupado em criar propostas de Projetos de Lei para apresentar para o Congresso que vem aí. As conferências de comunicação, de cultura e de direitos humanos pregaram a censura à imprensa. Se eles fizerem uma conferência de culinária, vão pregar a censura à imprensa. É uma tara", ironizou.
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sexta-feira, 24 de setembro de 2010
CTB na luta contra a mídia golpista
Reproduzo artigo de Fernando Damasceno, publicado no sítio da CTB:
Com mais gente do lado de fora do Sindicato dos Jornalistas do que dentro de suas dependências, centenas de comunicadores e representantes de movimentos sociais se aglomeraram na noite desta quinta-feira (23), na cidade de São Paulo, para manifestar seu apoio à ampla liberdade de expressão em todo o Brasil e denunciar, mais uma vez, as práticas golpistas que vêm sendo colocadas em prática pela chamada “grande imprensa” do país — grupo mais bem definido como PIG (Partido da Imprensa Golpista).
A CTB participou do ato, promovido pelo Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão do Itararé, ao lado de entidades como a UNE, o MST, a CUT, a CGTB, a Nova Central, representantes do PCdoB, do PSB, do PDT e do PT, além de jornalistas, comunicadores e blogueiros independentes, apoiadores da liberdade de expressão.
Além do protesto massivo, o ato desta quinta-feira aprovou três propostas cuja finalidade é combater a onda denuncista colocada em prática por veículos ligados ao Grupo Folha, à Editora Abril, à TV Globo e ao Grupo Estado.
A primeira é uma campanha de solidariedade à revista “CartaCapital”, que tem sido alvo constante de ataques; a segunda proposta tem por finalidade levar a Vice-Procuradora Geral Eleitoral, Sandra Cureau – que investiga a regularidade da publicidade oficial em “CartaCapital” – que investigue também as contas e a publicidade da Editora Abril, pela grande quantidade de dinheiro que recebe do governo tucano de São Paulo, da “Folha de S.Paulo”, do “Estado de S. Paulo”, e da Globo.
A terceira proposta, trazida ao público pelo presidente do Centro de Estudos Barão de Itararé, Altamiro Borges, é a elaboração de uma carta denunciando o golpismo da grande mídia brasileira, para que esta seja enviada aos veículos de comunicação de outros países.
Manifestos
Ao longo do ato, dois manifestos foram lidos, com o sentido de expressar publicamente as razões pelas quais diversas entidades e profissionais da comunicação decidiram se reunir e protestar formalmente contra o golpismo de parte da imprensa brasileira.
No primeiro deles, Altamiro Borges esclareceu os propósitos do ato e destacou a importância da defesa da liberdade de expressão para a democracia. No segundo texto, o presidente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, Guto Camargo, fez uma ampla defesa da importância de sua profissão para a sociedade, bem como da ética e do direitos de todos os cidadãos à informação. “Para avançar nessa discussão é necessário estabelecer a premissa de que informar a população sobre os desmandos do governo (qualquer deles) é dever da imprensa. Orquestrar campanhas pró ou contra candidatos é abuso de poder”, afirmou.
CTB tem lado
Nivaldo Santana, vice-presidente da CTB, afirmou durante o ato que a central subscreve os manifestos lidos, por entender que a classe trabalhadora é a principal interessada pela democracia e pelo direito à pluralidade de opiniões, especialmente em um momento político tão ímpar como o atual.
“Nós, sindicalistas, sempre somos criticados quando fazemos greves e passeatas, quanto lutamos por trabalho, empregos e melhores salários. Os trabalhadores não podem se omitir e precisam defender a liberdade de expressão e impedir que a manipulação da mídia procure inverter o sentimento majoritário da população brasileira, em defesa do avanço, do progresso e da democracia”, afirmou o dirigente da CTB.
Vergonha alheia, conspiração e democracia
Eduardo Guimarães, do Movimento dos Sem Mídia, disse que chega a soar como ridícula a insinuação de que o ato desta quinta-feira era favorável à censura e ao controle dos meios de comunicação, conforme sugeriram alguns dos cães de guarda do PIG. "Este é um ato de denúncia. Como é que eu, pequenininho, vou silenciar algo do tamanho da Globo? Faça-me o favor”, argumentou o blogueiro, dizendo ter “vergonha alheia” desse tipo de posicionamento por parte da mídia.
Por sua vez, o presidente nacional do PCdoB, Renato Rabelo, afirmou que, mais do que uma atitude golpista, a postura da mídia brasileira é a de quem atua por meio de uma conspiração para atingir seus objetivos. A deputada federal Luiza Erundina (PSB-SP) seguiu pela mesma linha e disse que o comportamento do PIG é consequência das conquistas obtidas pela sociedade durante a Conferência Nacional de Comunicação, realizada em dezembro de 2009. “Mas não é só isso”, salientou a deputada. “A mídia reage assim porque o governo de um ex-operário, o presidente Lula, deu certo. E também porque o Brasil vai eleger uma mulher pela primeira vez para a Presidência da República”, afirmou.
Erundina também deixou claro quem está realmente do lado certo nessa batalha. “Que a grande mídia não venha querer nos dar lição de democracia. Afinal, aqui estão os que lutaram muito por ela”, concluiu.
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Com mais gente do lado de fora do Sindicato dos Jornalistas do que dentro de suas dependências, centenas de comunicadores e representantes de movimentos sociais se aglomeraram na noite desta quinta-feira (23), na cidade de São Paulo, para manifestar seu apoio à ampla liberdade de expressão em todo o Brasil e denunciar, mais uma vez, as práticas golpistas que vêm sendo colocadas em prática pela chamada “grande imprensa” do país — grupo mais bem definido como PIG (Partido da Imprensa Golpista).
A CTB participou do ato, promovido pelo Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão do Itararé, ao lado de entidades como a UNE, o MST, a CUT, a CGTB, a Nova Central, representantes do PCdoB, do PSB, do PDT e do PT, além de jornalistas, comunicadores e blogueiros independentes, apoiadores da liberdade de expressão.
Além do protesto massivo, o ato desta quinta-feira aprovou três propostas cuja finalidade é combater a onda denuncista colocada em prática por veículos ligados ao Grupo Folha, à Editora Abril, à TV Globo e ao Grupo Estado.
A primeira é uma campanha de solidariedade à revista “CartaCapital”, que tem sido alvo constante de ataques; a segunda proposta tem por finalidade levar a Vice-Procuradora Geral Eleitoral, Sandra Cureau – que investiga a regularidade da publicidade oficial em “CartaCapital” – que investigue também as contas e a publicidade da Editora Abril, pela grande quantidade de dinheiro que recebe do governo tucano de São Paulo, da “Folha de S.Paulo”, do “Estado de S. Paulo”, e da Globo.
A terceira proposta, trazida ao público pelo presidente do Centro de Estudos Barão de Itararé, Altamiro Borges, é a elaboração de uma carta denunciando o golpismo da grande mídia brasileira, para que esta seja enviada aos veículos de comunicação de outros países.
Manifestos
Ao longo do ato, dois manifestos foram lidos, com o sentido de expressar publicamente as razões pelas quais diversas entidades e profissionais da comunicação decidiram se reunir e protestar formalmente contra o golpismo de parte da imprensa brasileira.
No primeiro deles, Altamiro Borges esclareceu os propósitos do ato e destacou a importância da defesa da liberdade de expressão para a democracia. No segundo texto, o presidente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, Guto Camargo, fez uma ampla defesa da importância de sua profissão para a sociedade, bem como da ética e do direitos de todos os cidadãos à informação. “Para avançar nessa discussão é necessário estabelecer a premissa de que informar a população sobre os desmandos do governo (qualquer deles) é dever da imprensa. Orquestrar campanhas pró ou contra candidatos é abuso de poder”, afirmou.
CTB tem lado
Nivaldo Santana, vice-presidente da CTB, afirmou durante o ato que a central subscreve os manifestos lidos, por entender que a classe trabalhadora é a principal interessada pela democracia e pelo direito à pluralidade de opiniões, especialmente em um momento político tão ímpar como o atual.
“Nós, sindicalistas, sempre somos criticados quando fazemos greves e passeatas, quanto lutamos por trabalho, empregos e melhores salários. Os trabalhadores não podem se omitir e precisam defender a liberdade de expressão e impedir que a manipulação da mídia procure inverter o sentimento majoritário da população brasileira, em defesa do avanço, do progresso e da democracia”, afirmou o dirigente da CTB.
Vergonha alheia, conspiração e democracia
Eduardo Guimarães, do Movimento dos Sem Mídia, disse que chega a soar como ridícula a insinuação de que o ato desta quinta-feira era favorável à censura e ao controle dos meios de comunicação, conforme sugeriram alguns dos cães de guarda do PIG. "Este é um ato de denúncia. Como é que eu, pequenininho, vou silenciar algo do tamanho da Globo? Faça-me o favor”, argumentou o blogueiro, dizendo ter “vergonha alheia” desse tipo de posicionamento por parte da mídia.
Por sua vez, o presidente nacional do PCdoB, Renato Rabelo, afirmou que, mais do que uma atitude golpista, a postura da mídia brasileira é a de quem atua por meio de uma conspiração para atingir seus objetivos. A deputada federal Luiza Erundina (PSB-SP) seguiu pela mesma linha e disse que o comportamento do PIG é consequência das conquistas obtidas pela sociedade durante a Conferência Nacional de Comunicação, realizada em dezembro de 2009. “Mas não é só isso”, salientou a deputada. “A mídia reage assim porque o governo de um ex-operário, o presidente Lula, deu certo. E também porque o Brasil vai eleger uma mulher pela primeira vez para a Presidência da República”, afirmou.
Erundina também deixou claro quem está realmente do lado certo nessa batalha. “Que a grande mídia não venha querer nos dar lição de democracia. Afinal, aqui estão os que lutaram muito por ela”, concluiu.
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Leonardo Boff e a guerra da mídia
Reproduzo artigo de Leonardo Boff, intitulado "A mídia comercial em guerra contra Lula e Dilma", publicado no sítio da Adital:
Sou profundamente pela liberdade de expressão em nome da qual fui punido com o “silêncio obsequioso” pelas autoridades do Vaticano. Sob risco de ser preso e torturado, ajudei a editora Vozes a publicar corajosamente o “Brasil Nunca Mais”, onde se denunciavam as torturas, usando exclusivamente fontes militares, o que acelerou a queda do regime autoritário.
Esta história de vida me avalisa fazer as críticas que ora faço ao atual enfrentamento entre o Presidente Lula e a midia comercial que reclama ser tolhida em sua liberdade. O que está ocorrendo já não é um enfrentamento de ideias e de interpretações e o uso legítimo da liberdade da imprensa. Está havendo um abuso da liberdade de imprensa que, na previsão de uma derrota eleitoral, decidiu mover uma guerra acirrada contra o Presidente Lula e a candidata Dilma Rousseff. Nessa guerra vale tudo: o factóide, a ocultação de fatos, a distorção e a mentira direta.
Precisamos dar o nome a esta mídia comercial. São famílias que, quando veem seus interesses comerciais e ideológicos contrariados, se comportam como “famiglia” mafiosa. São donos privados que pretendem falar para todo Brasil e manter sob tutela a assim chamada opinião pública. São os donos de O Estado de São Paulo, de A Folha de São Paulo, de O Globo, da revista Veja, na qual se instalou a razão cínica e o que há de mais falso e chulo da imprensa brasileira. Estes estão a serviço de um bloco histórico assentado sobre o capital que sempre explorou o povo e que não aceita um Presidente que vem desse povo. Mais que informar e fornecer material para a discusão pública, pois essa é a missão da imprensa, esta mídia empresarial se comporta como um feroz partido de oposição.
Na sua fúria, quais desesperados e inapelavelmente derrotados, seus donos, editorialistas e analistas não têm o mínimo respeito devido a mais alta autoridade do país, ao Presidente Lula. Nele veem apenas um peão a ser tratado com o chicote da palavra que humilha.
Mas há um fato que eles não conseguem digerir em seu estômago elitista. Custa-lhes aceitar que um operário, nordestino, sobrevivente da grande tribulação dos filhos da pobreza, chegasse a ser Presidente. Este lugar, a Presidência, assim pensam, cabe a eles, os ilustrados, os articulados com o mundo, embora não consigam se livrar do complexo de vira-latas, pois se sentem meramente menores e associados ao grande jogo mundial. Para eles, o lugar do peão é na fábrica produzindo.
Como o mostrou o grande historiador José Honório Rodrigues (Conciliação e Reforma), “a maioria dominante, conservadora ou liberal, foi sempre alienada, antiprogresssita, antinacional e não contemporânea. A liderança nunca se reconciliou com o povo. Nunca viu nele uma criatura de Deus, nunca o reconheceu, pois gostaria que ele fosse o que não é. Nunca viu suas virtudes, nem admirou seus serviços ao país, chamou-o de tudo - Jeca Tatu-; negou seus direitos; arrasou sua vida e logo que o viu crescer ela lhe negou, pouco a pouco, sua aprovação; conspirou para colocá-lo de novo na periferia, no lugar que contiua achando que lhe pertence (p.16)”.
Pois esse é o sentido da guerra que movem contra Lula. É uma guerra contra os pobres que estão se libertando. Eles não temem o pobre submisso. Eles têm pavor do pobre que pensa, que fala, que progride e que faz uma trajetória ascedente como Lula. Trata-se, como se depreende, de uma questão de classe. Os de baixo devem ficar em baixo. Ocorre que alguém de baixo chegou lá em cima. Tornou-se o Presidente de todos os brasileiros. Isso para eles é simplesmente intolerável.
Os donos e seus aliados ideológicos perderam o pulso da história. Não se deram conta de que o Brasil mudou. Surgiram redes de movimentos sociais organizados, de onde vem Lula, e tantas outras lideranças. Não há mais lugar para coroneis e para “fazedores de cabeça” do povo. Quando Lula afirmou que “a opinião pública somos nós”, frase tão distorcida por essa midia raivosa, quis enfatizar que o povo organizado e consciente arrebatou a pretensão da midia comercial de ser a formadora e a porta-voz exclusiva da opinião pública. Ela tem que renunciar à ditadura da palabra escrita, falada e televisionada e disputar com outras fontes de informação e de opinião.
O povo cansado de ser governado pelas classes dominantes resolveu votar em si mesmo. Votou em Lula como o seu representante. Uma vez no governo, operou uma revolução conceptual, inaceitável para elas. O Estado não se fez inimigo do povo, mas o indutor de mudanças profundas que beneficiaram mais de 30 milhões de brasileiros. De miseráveis se fizeram pobres laboriosos, de pobres laboriosos se fizeram classe média baixa e de classe média baixa de fizeram classe média. Começaram a comer, a ter luz em casa, a poder mandar seus filhos para a escola, a ganhar mais salário, em fim, a melhorar de vida.
Outro conceito inovador foi o desenvolvimento com inclusão social e distribuição de renda. Antes havia apenas desenvolvimento/crescimento que beneficiava aos já beneficiados à custa das massas destituidas e com salários de fome. Agora ocorreu visível mobilização de classes, gerando satisfação das grandes maiorias e a esperança que tudo ainda pode ficar melhor. Concedemos que no governo atual há um déficit de consciência e de práticas ecológicas. Mas, importa reconhecer que Lula foi fiel à sua promessa de fazer amplas políticas públicas na direção dos mais marginalizados.
O que a grande maioria almeja é manter a continuidade deste processo de melhora e de mudança. Ora, esta continuidade é perigosa para a mídia comercial que assiste, assustada, ao fortalecimento da soberania popular que se torna crítica, não mais manipulável e com vontade de ser ator dessa nova história democrática do Brasil. Vai ser uma democracia cada vez mais participativa e não apenas delegatícia. Esta abria amplo espaço à corrupção das elites e dava preponderância aos interesses das classes opulentas e ao seu braço ideológico que é a mídia comercial. A democracia participativa escuta os movimentos sociais, faz do Movimento dos Sem Terra (MST), odiado especialmente pela Veja, que faz questão de não ver, protagonista de mudanças sociais não somente com referência à terra, mas também ao modelo econômico e às formas cooperativas de produção.
O que está em jogo neste enfrentamento entre a midia comercial e Lula/Dilma é a questão: que Brasil queremos? Aquele injusto, neocoloncial, neoglobalizado e, no fundo, retrógrado e velhista; ou o Brasil novo com sujeitos históricos novos, antes sempre mantidos à margem e agora despontando com energias novas para construir um Brasil que ainda nunca tínhamos visto antes?
Esse Brasil é combatido na pessoa do Presidente Lula e da candidata Dilma. Mas estes representam o que deve ser. E o que deve ser tem força. Irão triunfar a despeito das más vontades deste setor endurecido da midia comercial e empresarial. A vitória de Dilma dará solidez a este caminho novo ansiado e construido com suor e sangue por tantas gerações de brasileiros.
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Sou profundamente pela liberdade de expressão em nome da qual fui punido com o “silêncio obsequioso” pelas autoridades do Vaticano. Sob risco de ser preso e torturado, ajudei a editora Vozes a publicar corajosamente o “Brasil Nunca Mais”, onde se denunciavam as torturas, usando exclusivamente fontes militares, o que acelerou a queda do regime autoritário.
Esta história de vida me avalisa fazer as críticas que ora faço ao atual enfrentamento entre o Presidente Lula e a midia comercial que reclama ser tolhida em sua liberdade. O que está ocorrendo já não é um enfrentamento de ideias e de interpretações e o uso legítimo da liberdade da imprensa. Está havendo um abuso da liberdade de imprensa que, na previsão de uma derrota eleitoral, decidiu mover uma guerra acirrada contra o Presidente Lula e a candidata Dilma Rousseff. Nessa guerra vale tudo: o factóide, a ocultação de fatos, a distorção e a mentira direta.
Precisamos dar o nome a esta mídia comercial. São famílias que, quando veem seus interesses comerciais e ideológicos contrariados, se comportam como “famiglia” mafiosa. São donos privados que pretendem falar para todo Brasil e manter sob tutela a assim chamada opinião pública. São os donos de O Estado de São Paulo, de A Folha de São Paulo, de O Globo, da revista Veja, na qual se instalou a razão cínica e o que há de mais falso e chulo da imprensa brasileira. Estes estão a serviço de um bloco histórico assentado sobre o capital que sempre explorou o povo e que não aceita um Presidente que vem desse povo. Mais que informar e fornecer material para a discusão pública, pois essa é a missão da imprensa, esta mídia empresarial se comporta como um feroz partido de oposição.
Na sua fúria, quais desesperados e inapelavelmente derrotados, seus donos, editorialistas e analistas não têm o mínimo respeito devido a mais alta autoridade do país, ao Presidente Lula. Nele veem apenas um peão a ser tratado com o chicote da palavra que humilha.
Mas há um fato que eles não conseguem digerir em seu estômago elitista. Custa-lhes aceitar que um operário, nordestino, sobrevivente da grande tribulação dos filhos da pobreza, chegasse a ser Presidente. Este lugar, a Presidência, assim pensam, cabe a eles, os ilustrados, os articulados com o mundo, embora não consigam se livrar do complexo de vira-latas, pois se sentem meramente menores e associados ao grande jogo mundial. Para eles, o lugar do peão é na fábrica produzindo.
Como o mostrou o grande historiador José Honório Rodrigues (Conciliação e Reforma), “a maioria dominante, conservadora ou liberal, foi sempre alienada, antiprogresssita, antinacional e não contemporânea. A liderança nunca se reconciliou com o povo. Nunca viu nele uma criatura de Deus, nunca o reconheceu, pois gostaria que ele fosse o que não é. Nunca viu suas virtudes, nem admirou seus serviços ao país, chamou-o de tudo - Jeca Tatu-; negou seus direitos; arrasou sua vida e logo que o viu crescer ela lhe negou, pouco a pouco, sua aprovação; conspirou para colocá-lo de novo na periferia, no lugar que contiua achando que lhe pertence (p.16)”.
Pois esse é o sentido da guerra que movem contra Lula. É uma guerra contra os pobres que estão se libertando. Eles não temem o pobre submisso. Eles têm pavor do pobre que pensa, que fala, que progride e que faz uma trajetória ascedente como Lula. Trata-se, como se depreende, de uma questão de classe. Os de baixo devem ficar em baixo. Ocorre que alguém de baixo chegou lá em cima. Tornou-se o Presidente de todos os brasileiros. Isso para eles é simplesmente intolerável.
Os donos e seus aliados ideológicos perderam o pulso da história. Não se deram conta de que o Brasil mudou. Surgiram redes de movimentos sociais organizados, de onde vem Lula, e tantas outras lideranças. Não há mais lugar para coroneis e para “fazedores de cabeça” do povo. Quando Lula afirmou que “a opinião pública somos nós”, frase tão distorcida por essa midia raivosa, quis enfatizar que o povo organizado e consciente arrebatou a pretensão da midia comercial de ser a formadora e a porta-voz exclusiva da opinião pública. Ela tem que renunciar à ditadura da palabra escrita, falada e televisionada e disputar com outras fontes de informação e de opinião.
O povo cansado de ser governado pelas classes dominantes resolveu votar em si mesmo. Votou em Lula como o seu representante. Uma vez no governo, operou uma revolução conceptual, inaceitável para elas. O Estado não se fez inimigo do povo, mas o indutor de mudanças profundas que beneficiaram mais de 30 milhões de brasileiros. De miseráveis se fizeram pobres laboriosos, de pobres laboriosos se fizeram classe média baixa e de classe média baixa de fizeram classe média. Começaram a comer, a ter luz em casa, a poder mandar seus filhos para a escola, a ganhar mais salário, em fim, a melhorar de vida.
Outro conceito inovador foi o desenvolvimento com inclusão social e distribuição de renda. Antes havia apenas desenvolvimento/crescimento que beneficiava aos já beneficiados à custa das massas destituidas e com salários de fome. Agora ocorreu visível mobilização de classes, gerando satisfação das grandes maiorias e a esperança que tudo ainda pode ficar melhor. Concedemos que no governo atual há um déficit de consciência e de práticas ecológicas. Mas, importa reconhecer que Lula foi fiel à sua promessa de fazer amplas políticas públicas na direção dos mais marginalizados.
O que a grande maioria almeja é manter a continuidade deste processo de melhora e de mudança. Ora, esta continuidade é perigosa para a mídia comercial que assiste, assustada, ao fortalecimento da soberania popular que se torna crítica, não mais manipulável e com vontade de ser ator dessa nova história democrática do Brasil. Vai ser uma democracia cada vez mais participativa e não apenas delegatícia. Esta abria amplo espaço à corrupção das elites e dava preponderância aos interesses das classes opulentas e ao seu braço ideológico que é a mídia comercial. A democracia participativa escuta os movimentos sociais, faz do Movimento dos Sem Terra (MST), odiado especialmente pela Veja, que faz questão de não ver, protagonista de mudanças sociais não somente com referência à terra, mas também ao modelo econômico e às formas cooperativas de produção.
O que está em jogo neste enfrentamento entre a midia comercial e Lula/Dilma é a questão: que Brasil queremos? Aquele injusto, neocoloncial, neoglobalizado e, no fundo, retrógrado e velhista; ou o Brasil novo com sujeitos históricos novos, antes sempre mantidos à margem e agora despontando com energias novas para construir um Brasil que ainda nunca tínhamos visto antes?
Esse Brasil é combatido na pessoa do Presidente Lula e da candidata Dilma. Mas estes representam o que deve ser. E o que deve ser tem força. Irão triunfar a despeito das más vontades deste setor endurecido da midia comercial e empresarial. A vitória de Dilma dará solidez a este caminho novo ansiado e construido com suor e sangue por tantas gerações de brasileiros.
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A "invasão" dos sem-midia
Reproduzo artigo de Eduardo Guimarães, publicado no Blog da Cidadania:
O calor era insuportável, no recinto. Era agravado por um público que se espremia em cada canto e pelos refletores das várias tevês, inclusive da tevê aberta (SBT e Gazeta), que foram cobrir o evento.
Altamiro Borges, o Miro, presidente do Centro Barão de Itararé, fez uma extensa exposição do primeiro documento oficial do ato. Em seguida, o presidente do Sindicato dos Jornalistas, José Augusto de Oliveira Camargo, o Guto, leu o documento da entidade, o segundo documento oficial.
Para a Mesa, foram convidados representantes das centrais sindicais CGTB, Nova Central, Força Sindical e CUT; o presidente da Altercom, Joaquim Palhares, o representante do MST, Gilmar Mauro, e eu mesmo pelo Movimento dos Sem Mídia; pelos partidos, vieram um representante do PDT, a deputada federal Luiza Erundina, pelo PSB, e o presidente do PCdoB, Renato Rabelo.
João Felício, ex-CUT, veio representando o PT, mas não conseguiu entrar, tal a quantidade de pessoas que compareceram. E quando digo que não conseguiu entrar, quero dizer que não conseguiu entrar nem no prédio. Aliás, ninguém conseguia entrar lá. O diretor jurídico do MSM também chegou mais tarde e não conseguiu.
Eu diria que o ponto alto do encontro foi o discurso da septuagenária Luiza Erundina (76). Parecia uma menina, em seu vigor, com aquele brilho que lhe brota dos olhos ao se rebelar contra essa vergonha que é essa imprensa golpista.
Tudo deu certo. Só o que não funcionou foi a sofrível cobertura que a mídia fez – a Folha de São Paulo, em sua matéria de hoje sobre o Ato, não conseguiu nem escrever direito o nome do Centro de Estudos da Mídia Barão de Itararé, organizador oficial do evento.
Mas penso que valeu. Nos últimos dias, o foco do debate político saiu do denuncismo. A mídia golpista acabou tendo que se concentrar em questionamentos que lhe estão sendo feitos. O noticiário ridiculamente desproporcional contra o ato acabou lhe dando notoriedade e atraindo público.
Tentei contribuir para o ato estimulando dezenas de membros do Movimento dos Sem Mídia a compareceram e divulgando-o. Sendo assim, cumprimento a todos, não só aos que compareceram, mas esses milhares de sem-mídia que vêm a este blog.
23 de setembro de 2010, portanto, foi um dia especial. Como dificilmente acontece, nesse dia nós deixamos de ser sem-mídia, mesmo que por pouco tempo. Se o Movimento dos Sem Terra ocupa propriedades rurais, nós ocupamos a mídia.
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O calor era insuportável, no recinto. Era agravado por um público que se espremia em cada canto e pelos refletores das várias tevês, inclusive da tevê aberta (SBT e Gazeta), que foram cobrir o evento.
Altamiro Borges, o Miro, presidente do Centro Barão de Itararé, fez uma extensa exposição do primeiro documento oficial do ato. Em seguida, o presidente do Sindicato dos Jornalistas, José Augusto de Oliveira Camargo, o Guto, leu o documento da entidade, o segundo documento oficial.
Para a Mesa, foram convidados representantes das centrais sindicais CGTB, Nova Central, Força Sindical e CUT; o presidente da Altercom, Joaquim Palhares, o representante do MST, Gilmar Mauro, e eu mesmo pelo Movimento dos Sem Mídia; pelos partidos, vieram um representante do PDT, a deputada federal Luiza Erundina, pelo PSB, e o presidente do PCdoB, Renato Rabelo.
João Felício, ex-CUT, veio representando o PT, mas não conseguiu entrar, tal a quantidade de pessoas que compareceram. E quando digo que não conseguiu entrar, quero dizer que não conseguiu entrar nem no prédio. Aliás, ninguém conseguia entrar lá. O diretor jurídico do MSM também chegou mais tarde e não conseguiu.
Eu diria que o ponto alto do encontro foi o discurso da septuagenária Luiza Erundina (76). Parecia uma menina, em seu vigor, com aquele brilho que lhe brota dos olhos ao se rebelar contra essa vergonha que é essa imprensa golpista.
Tudo deu certo. Só o que não funcionou foi a sofrível cobertura que a mídia fez – a Folha de São Paulo, em sua matéria de hoje sobre o Ato, não conseguiu nem escrever direito o nome do Centro de Estudos da Mídia Barão de Itararé, organizador oficial do evento.
Mas penso que valeu. Nos últimos dias, o foco do debate político saiu do denuncismo. A mídia golpista acabou tendo que se concentrar em questionamentos que lhe estão sendo feitos. O noticiário ridiculamente desproporcional contra o ato acabou lhe dando notoriedade e atraindo público.
Tentei contribuir para o ato estimulando dezenas de membros do Movimento dos Sem Mídia a compareceram e divulgando-o. Sendo assim, cumprimento a todos, não só aos que compareceram, mas esses milhares de sem-mídia que vêm a este blog.
23 de setembro de 2010, portanto, foi um dia especial. Como dificilmente acontece, nesse dia nós deixamos de ser sem-mídia, mesmo que por pouco tempo. Se o Movimento dos Sem Terra ocupa propriedades rurais, nós ocupamos a mídia.
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Um ato para a história
Reproduzo artigo de Renato Rovai, publicado em seu blog no sítio da Revista Fórum:
O Sindicato dos Jornalistas do Estado de São Paulo viveu um dos seus melhores dias nesta quinta-feira à noite.
Eram 18h15 quando este blogueiro chegou ao local e mais de cinquenta pessoas já se aglomeravam no auditório Wladimir Herzog, que tem capacidade para 100 pessoas sentadas.
O ato começaria às 19h, registre-se.
Entramos numa das salas da diretoria da entidade pra discutir os encaminhamentos do evento e quando saimos, umas 18h45, o auditório já está lotado.
O ato começou às 19h20. Éramos umas 300 pessoas no auditório e uma fila de mais de 100 tentando entrar.
Ao fim, os mais pessimistas falavam em 600 presentes. E os otimistas em mais de 1 mil. Este blogueiro arrisca dizer que de 700 a 800 pessoas estiveram no Sindicato dos Jornalistas nesta quinta à noite.
Havia gente no corredor, no saguão do prédio e na rua. Algo impressionante.
E gente de diversos lugares. Um número considerável de pessoas de outras cidades e até de outros estados.
Além da presença de muitos veículos da mídia independente e livre, o que surpreendeu foi a presença maciça de órgãos da mídia tradicional. Provavelmente esses veículos esperavam que algo fosse dar errado. Ou imaginavam que a gente repetiria o fiasco do ato que ajudaram a promover na tarde de ontem na Faculdade do Largo São Francisco. E que não juntou nem 100 pessoas.
De qualquer forma é importante que se registre aqui que a relação com a imprensa comercial foi absolutamente respeitosa. Nenhum jornalista teve qualquer dificuldade pra realizar o seu trabalho.
Posso assegurar, porque fiz essa mediação, que todos foram tratados de forma democrática e respeitosa.
Havia gente do Globo, do Estadão, da Folha, da Record, da Veja etc.
Da mesa do ato participaram representantes da CUT, CTB, CGTB, Nova Central Sindical, MST, Altercom, Barão de Itararé, Sindicato dos Jornalistas, PDT, PCdoB e PSB.
Pelo PSB falou a deputada federal Luiza Erundina. Ela encerrou o encontro e foi a mais aplaudida da noite.
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O Sindicato dos Jornalistas do Estado de São Paulo viveu um dos seus melhores dias nesta quinta-feira à noite.
Eram 18h15 quando este blogueiro chegou ao local e mais de cinquenta pessoas já se aglomeravam no auditório Wladimir Herzog, que tem capacidade para 100 pessoas sentadas.
O ato começaria às 19h, registre-se.
Entramos numa das salas da diretoria da entidade pra discutir os encaminhamentos do evento e quando saimos, umas 18h45, o auditório já está lotado.
O ato começou às 19h20. Éramos umas 300 pessoas no auditório e uma fila de mais de 100 tentando entrar.
Ao fim, os mais pessimistas falavam em 600 presentes. E os otimistas em mais de 1 mil. Este blogueiro arrisca dizer que de 700 a 800 pessoas estiveram no Sindicato dos Jornalistas nesta quinta à noite.
Havia gente no corredor, no saguão do prédio e na rua. Algo impressionante.
E gente de diversos lugares. Um número considerável de pessoas de outras cidades e até de outros estados.
Além da presença de muitos veículos da mídia independente e livre, o que surpreendeu foi a presença maciça de órgãos da mídia tradicional. Provavelmente esses veículos esperavam que algo fosse dar errado. Ou imaginavam que a gente repetiria o fiasco do ato que ajudaram a promover na tarde de ontem na Faculdade do Largo São Francisco. E que não juntou nem 100 pessoas.
De qualquer forma é importante que se registre aqui que a relação com a imprensa comercial foi absolutamente respeitosa. Nenhum jornalista teve qualquer dificuldade pra realizar o seu trabalho.
Posso assegurar, porque fiz essa mediação, que todos foram tratados de forma democrática e respeitosa.
Havia gente do Globo, do Estadão, da Folha, da Record, da Veja etc.
Da mesa do ato participaram representantes da CUT, CTB, CGTB, Nova Central Sindical, MST, Altercom, Barão de Itararé, Sindicato dos Jornalistas, PDT, PCdoB e PSB.
Pelo PSB falou a deputada federal Luiza Erundina. Ela encerrou o encontro e foi a mais aplaudida da noite.
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Os fariseus da "liberdade de imprensa"
Reproduzo matéria de Brizola Neto, publicada no blog Tijolaço:
Ontem, mergulhado nessa reta final de campanha eleitoral aqui no Rio, não pude estar em São Paulo no ato organizado pelos blogueiros, representantes dos movimentos sociais, centrais e partidos – coordenados pelo recém fundado Centro de Estudos Barão de Itararé de defesa da imprensa alternativa, presidido pelo jornalista Altamiro Borges.
Mas esteve lá, em nome do PDT, o jornalista Osvaldo Maneschy, um grande coladorador de meu avô, editor do site do PDT e meu amigo e representante onde quer que esteja. Dele, esta madrugada, recebi um e-mail que transcrevo aqui:
“Brizolinha, como você me pediu, além de representar o PDT, fiquei satisfeito em representar você ontem, no ato em São Paulo. Acho que seria ocioso descrever o encontro, que, à esta altura, está narrado em todos os blogs progressistas – e eram muitos – que estavam lá com seus próprios autores. Além disso, já está no youtube o discurso de encerramento – brilhante – da deputada Luiza Erundina que diz tudo que se poderia dizer.
Só quero te dizer o seguinte: não há nada de mais reconfortante para minha geração do que ver tanta gente jovem participando de um encontro como muitos dos quais participei, então jovem, no final dos anos 70, início dos 80.
A causa da liberdade era a mesma, a causa da democracia era igual, mas agora – que diferença – temos a proteção de um Estado de Direito e as armas da comunicação pela internet, que tão cedo despertaram a atenção de seu avô, ainda nos anos 90.
Por ironia, ontem na coluna do Merval Pereira – o que este sujeito já fez contra Brizola é inacreditável – um dirigente daquele famigerado Instituto Millenium, Paulo Uebel, referindo-se ao encontro num clube militar do qual Merval e Reinaldo Azevedo participariam, disse que “por ironia do destino, os militares organizaram um evento para defender a liberdade de imprensa no mesmo dia em que os sindicatos e os movimentos sociais organizaram uma manifestação para atacar a liberdade de imprensa. Os tempos mudaram”.
Sim, senhor Uebel, os tempos mudaram. Não fomos atacar a liberdade de imprensa, porque por ela demos os melhores anos de nossas juventudes, nossas liberdades e alguns, a própria vida. Nem mesmo fomos atacar as empresas de comunicação, pois não há um jornalista que não ame aqueles empreendedores que transformaram sonhos em papel impresso, que penduraram “papagaios” para mantê-los vivos, que enfrentaram aventuras e desventuras que os tornaram referências para gerações de jornalistas como eu.
Os tempos mudaram, senhor Uebel, porque o Brasil excludente, autoritário, censurado e triste que os anos pós 64 criaram não vai se repetir. Porque agora há liberdade, há regras institucionais que são sagradas, inclusive para os próprios militares, há um povo mais informado e as empresas e interesses representados por estas vozes que falam, hipocritamente, na democracia que mataram, naqueles tempo, já não são as únicas que se pode ouvir.
Lembro-me de uma frase de seu avô: nós, sermos contra a propriedade? De jeito nenhum, achamos a propriedade uma coisa tão boa que queremos que todos tenham direito a ela. O mesmo pode-se dizer da liberdade de informação e de imprensa. Nós a achamos tão boa, mas tão boa, que não queremos que ela seja privilégio dos donos das empresas de comunicação e dos jornalistas que os servem, antes de servirem ao povo brasileiro.
Queremos liberdade de imprensa para todos, não apenas para alguns; assim como queremos liberdade com emprego, com salário, com comida, com dignidade para todo ser humano e não apenas para uma parte deles.
Deste sonho de liberdade de informação – escute este veterano jornalista - nada nos aproximou tanto quanto a internet. Não pude pensar, pelos mais de 20 anos de convívio que tivemos, em como o velho Briza estaria feliz ali, naquele encontro. E como é bom ver o seu neto como um dos ponta-de-lança deste combate limpo, aberto e valente que a blogosfera trava, todos os dias, contra as trevas da desinformação e a perversidade da manipulação”
Um grande abraço e espero ter sido, nesta hora em que você, compreensivelmente, não pôde estar lá, o teu coração naquele encontro”.
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Ontem, mergulhado nessa reta final de campanha eleitoral aqui no Rio, não pude estar em São Paulo no ato organizado pelos blogueiros, representantes dos movimentos sociais, centrais e partidos – coordenados pelo recém fundado Centro de Estudos Barão de Itararé de defesa da imprensa alternativa, presidido pelo jornalista Altamiro Borges.
Mas esteve lá, em nome do PDT, o jornalista Osvaldo Maneschy, um grande coladorador de meu avô, editor do site do PDT e meu amigo e representante onde quer que esteja. Dele, esta madrugada, recebi um e-mail que transcrevo aqui:
“Brizolinha, como você me pediu, além de representar o PDT, fiquei satisfeito em representar você ontem, no ato em São Paulo. Acho que seria ocioso descrever o encontro, que, à esta altura, está narrado em todos os blogs progressistas – e eram muitos – que estavam lá com seus próprios autores. Além disso, já está no youtube o discurso de encerramento – brilhante – da deputada Luiza Erundina que diz tudo que se poderia dizer.
Só quero te dizer o seguinte: não há nada de mais reconfortante para minha geração do que ver tanta gente jovem participando de um encontro como muitos dos quais participei, então jovem, no final dos anos 70, início dos 80.
A causa da liberdade era a mesma, a causa da democracia era igual, mas agora – que diferença – temos a proteção de um Estado de Direito e as armas da comunicação pela internet, que tão cedo despertaram a atenção de seu avô, ainda nos anos 90.
Por ironia, ontem na coluna do Merval Pereira – o que este sujeito já fez contra Brizola é inacreditável – um dirigente daquele famigerado Instituto Millenium, Paulo Uebel, referindo-se ao encontro num clube militar do qual Merval e Reinaldo Azevedo participariam, disse que “por ironia do destino, os militares organizaram um evento para defender a liberdade de imprensa no mesmo dia em que os sindicatos e os movimentos sociais organizaram uma manifestação para atacar a liberdade de imprensa. Os tempos mudaram”.
Sim, senhor Uebel, os tempos mudaram. Não fomos atacar a liberdade de imprensa, porque por ela demos os melhores anos de nossas juventudes, nossas liberdades e alguns, a própria vida. Nem mesmo fomos atacar as empresas de comunicação, pois não há um jornalista que não ame aqueles empreendedores que transformaram sonhos em papel impresso, que penduraram “papagaios” para mantê-los vivos, que enfrentaram aventuras e desventuras que os tornaram referências para gerações de jornalistas como eu.
Os tempos mudaram, senhor Uebel, porque o Brasil excludente, autoritário, censurado e triste que os anos pós 64 criaram não vai se repetir. Porque agora há liberdade, há regras institucionais que são sagradas, inclusive para os próprios militares, há um povo mais informado e as empresas e interesses representados por estas vozes que falam, hipocritamente, na democracia que mataram, naqueles tempo, já não são as únicas que se pode ouvir.
Lembro-me de uma frase de seu avô: nós, sermos contra a propriedade? De jeito nenhum, achamos a propriedade uma coisa tão boa que queremos que todos tenham direito a ela. O mesmo pode-se dizer da liberdade de informação e de imprensa. Nós a achamos tão boa, mas tão boa, que não queremos que ela seja privilégio dos donos das empresas de comunicação e dos jornalistas que os servem, antes de servirem ao povo brasileiro.
Queremos liberdade de imprensa para todos, não apenas para alguns; assim como queremos liberdade com emprego, com salário, com comida, com dignidade para todo ser humano e não apenas para uma parte deles.
Deste sonho de liberdade de informação – escute este veterano jornalista - nada nos aproximou tanto quanto a internet. Não pude pensar, pelos mais de 20 anos de convívio que tivemos, em como o velho Briza estaria feliz ali, naquele encontro. E como é bom ver o seu neto como um dos ponta-de-lança deste combate limpo, aberto e valente que a blogosfera trava, todos os dias, contra as trevas da desinformação e a perversidade da manipulação”
Um grande abraço e espero ter sido, nesta hora em que você, compreensivelmente, não pôde estar lá, o teu coração naquele encontro”.
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Não foi fácil atentar contra as liberdades!
Reproduzo artigo sarcástico de Rodrigo Vianna, publicado no blog Escrevinhador:
Fui ao Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, ontem, para atentar contra a liberdade de imprensa. Foi assim que a velha mídia brasileira definiu o ato convocado para a noite dessa quinta-feira: uma manifestação contra as liberdades, promovida por entidades chapa-branca, mais um passo na escalada rumo à ditadura lulo-petista.
Desconfio que o noticiário acabou atraindo mais gente ao ato. Quando cheguei ao sindicato, por volta de 19h30, percebi que centenas de lulo-comunistas tinham chegado antes de mim. Confesso: não foi fácil atentar contra as liberdades!
A perigosa horda de malfeitores já se aglomerava na rua, nos corredores, nas escadarias, dificultando a entrada no auditório Vladimir Herzog. Depois de muito empura-empurra (o sindicato parecia o Metrô de São Paulo; a Soninha precisa falar sobre isso no twitter!), finalmente cheguei ao auditório, e me aboletei num cantinho, bem ao lado de um ventilador: no ambiente calorento, aquele era o lugar ideal para atentar contra a liberdade de imprensa!
Fiquei esperando a ordem para aquela massa ignara marchar até o prédio da “Folha”, e iniciar assim a ditadura do proletariado, obrigando Otavinho a publicar textos do Fidel Castro na página dos editoriais. Mas acho que o pessoal tava com preguiça de fazer a revolução…
Repórteres da “Folha”, “Estadão” e Abril – bravos defensores da liberdade ameaçada – misturavam-se aos raivosos lulo-comunistas. E, pasmen: não foram importunados. Tomaram nota de tudo, calmamente, para depois estampar a verdade absoluta sobre o ato nas páginas impolutas dos jornais e revistas para os quais trabalham.
Confesso também que estranhei um pouco quando vi o Gilmar Mauro (do MST) e a Luiza Erundina (deputada do PSB) discursando. Os dois foram aplaudidos de forma empolgada. Seriam eles, também, ameaças à liberdade de imprensa?
A fala da Erundina, emocionante, fechou o ato – que atraiu cerca de 600 pessoas ao local. Quando aquele povo perigoso começava a se dispersar, alguém teve a idéia de puxar o Hino Nacional. Não foi nada combinado, a iniciativa partiu da platéia. Debaixo do ventilador, pensei: esses lulo-comunistas são mesmo perigosos, além de tudo agora fingem que são patriotas.
Só as famílias Frias, Civita e Marinho podem salvar o Brasil desse caminho nefasto - como fizeram, de forma exemplar, em 1964.
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Fui ao Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, ontem, para atentar contra a liberdade de imprensa. Foi assim que a velha mídia brasileira definiu o ato convocado para a noite dessa quinta-feira: uma manifestação contra as liberdades, promovida por entidades chapa-branca, mais um passo na escalada rumo à ditadura lulo-petista.
Desconfio que o noticiário acabou atraindo mais gente ao ato. Quando cheguei ao sindicato, por volta de 19h30, percebi que centenas de lulo-comunistas tinham chegado antes de mim. Confesso: não foi fácil atentar contra as liberdades!
A perigosa horda de malfeitores já se aglomerava na rua, nos corredores, nas escadarias, dificultando a entrada no auditório Vladimir Herzog. Depois de muito empura-empurra (o sindicato parecia o Metrô de São Paulo; a Soninha precisa falar sobre isso no twitter!), finalmente cheguei ao auditório, e me aboletei num cantinho, bem ao lado de um ventilador: no ambiente calorento, aquele era o lugar ideal para atentar contra a liberdade de imprensa!
Fiquei esperando a ordem para aquela massa ignara marchar até o prédio da “Folha”, e iniciar assim a ditadura do proletariado, obrigando Otavinho a publicar textos do Fidel Castro na página dos editoriais. Mas acho que o pessoal tava com preguiça de fazer a revolução…
Repórteres da “Folha”, “Estadão” e Abril – bravos defensores da liberdade ameaçada – misturavam-se aos raivosos lulo-comunistas. E, pasmen: não foram importunados. Tomaram nota de tudo, calmamente, para depois estampar a verdade absoluta sobre o ato nas páginas impolutas dos jornais e revistas para os quais trabalham.
Confesso também que estranhei um pouco quando vi o Gilmar Mauro (do MST) e a Luiza Erundina (deputada do PSB) discursando. Os dois foram aplaudidos de forma empolgada. Seriam eles, também, ameaças à liberdade de imprensa?
A fala da Erundina, emocionante, fechou o ato – que atraiu cerca de 600 pessoas ao local. Quando aquele povo perigoso começava a se dispersar, alguém teve a idéia de puxar o Hino Nacional. Não foi nada combinado, a iniciativa partiu da platéia. Debaixo do ventilador, pensei: esses lulo-comunistas são mesmo perigosos, além de tudo agora fingem que são patriotas.
Só as famílias Frias, Civita e Marinho podem salvar o Brasil desse caminho nefasto - como fizeram, de forma exemplar, em 1964.
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Em defesa dos jornalistas e da ética
Reproduzo o corajoso pronunciamento de José Augusto Camargo, o Guto, presidente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo e secretário-geral da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), lido durante o ato desta quinta-feira:
Em defesa dos jornalistas, da ética e do direito à informação
O conceito de golpe midiático ganhou notoriedade nos últimos dias. O debate é público e parte da constatação de que setores da imprensa passaram a atuar de maneira a privilegiar uma candidatura em detrimento de outra. É legítimo - e desejável – que as direções das empresas jornalísticas explicitem suas opções políticas, partidárias e eleitorais. O que é inaceitável é que o façam também fora dos espaços editoriais. Distorcer, selecionar, divulgar opiniões como se fossem fatos não é exercer o jornalismo, mas, sim, manipular o noticiário cotidiano segundo interesses outros que não os de informar com veracidade.
Se esses recursos são usados para influenciar ou determinar o resultado de uma eleição configura-se golpe com o objetivo de interferir na vontade popular. Não se trata aqui do uso da força, mas sim de técnicas de manipulação da opinião pública. Neste contexto, o uso do conceito “golpe midiático” é perfeitamente compreensível.
Este estado de coisas só acontece porque os jornalistas perderam força e importância no processo de elaboração da informação no interior das empresas. Cada vez menos jornalistas detêm o poder da informação que será fornecida à opinião pública. Ela passa por uma triagem prévia já no seu processo de edição e aqueles que descumprem a dita orientação editorial são penalizados. Também nunca conseguem atingir cargos de direção que, agora, são ocupados por executivos que atendem aos interesses de comitês, bancos associados, acionistas etc.
Esse estado de coisas não apenas abre espaço para que a mídia atenda a interesses outros que não o do cidadão, como também avilta a profissão de jornalista, precariza condições de trabalho e achata salários. A consequência mais trágica disso é a necessidade de se adaptar ao “esquema da empresa” para garantir o emprego, mesmo em detrimento dos valores mais caros.
Para avançar nessa discussão é necessário estabelecer a premissa de que informar a população sobre os desmandos do governo (qualquer deles) é dever da imprensa. Orquestrar campanhas pró ou contra candidatos é abuso de poder. A linha divisória entre esses campos é tênue e cabe ao jornalista, respeitando o profissionalismo e a ética, estabelecer o limite tendo em conta o que é de interesse público.
Não podemos incorrer no erro de instaurar na cobertura de fatos políticos os erros cometidos em outras áreas, ou seja, o pré-julgamento (que dispensa provas, pois o suspeito está condenado previamente) e o jornalismo espetáculo (que expõe situações de maneira emocional para provocar reações extremadas).
A ideia de debater e protestar contra esse estado de coisas resultou na realização do ato em defesa da democracia e contra o golpismo midiático realizado no auditório do Sindicato dos Jornalistas. A proposta surgiu em conversa entre blogueiros, foi assumida pelo Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, que procurou o Sindicato dos Jornalistas e este aceitou sediar o evento.
A sociedade sabe que o local ideal para este debate é o Sindicato dos Jornalistas. Não apenas porque os jornalistas são parte importante nesse processo, mas, principalmente, pela tradição da entidade em ser um espaço democrático aberto às diversas manifestações públicas e de interesse social.
O que está em discussão são duas concepções opostas, uma que considera a informação um bem privado, passível de uso conforme interesses pessoais, e outro que entende a informação como direito social, portanto, regulado por um “contrato social”, exatamente como acontece com a saúde ou a educação.
Ter direito de resposta, garantir espaço para que o contraditório apareça, impedir o monopólio da mídia, tornar transparente os mecanismos de outorga das empresas de rádio e TV, destinar parte da verba oficial para pequenos veículos, criar a rede pública de comunicação, regulamentar as profissões envolvidas com a mídia, não são atos de censura, são movimentos em defesa da liberdade de expressão e cidadania!
O grupo dos liberais quer, a qualquer custo, impedir que o conceito de direito social seja estendido à informação. A confusão feita entre liberdade de opinião, de imprensa, de informação, de profissão e o conceito de censura e de controle público é intencional. Essa confusão é visível na argumentação utilizada pelo Ministro Gilmar Mendes para acabar com a necessidade do diploma de jornalismo. O objetivo é impedir que as ideias por trás das palavras sejam claramente entendidas pelo cidadão e, assim, interditar qualquer reivindicação popular nesse campo.
A liberdade de imprensa é o principal instrumento do jornalista profissional. Não é propriedade dos proprietários dos meios de comunicação. O verdadeiro ato em favor da liberdade de imprensa é feito em defesa do jornalista e, por consequência, diminui o poder da empresa. O problema é que, a exemplo do que escreveu George Orwell no livro 1984 quando criou a novilíngua (que pretendia reduzir o vocabulário, eliminar sinônimos e fundir palavras para diminuir a capacidade de pensamento), o conceito de liberdade de imprensa foi virado pelo avesso e, uma vez apropriado pela empresa de comunicação, passou a diminuir o papel do jornalista obrigando-o a se submeter às engrenagens do poder empresarial. Não é por acaso que existe a frase, ao mesmo tempo trágica e engraçada, de que apenas existe “liberdade de empresa”.
Não é por acaso que o debate sobre liberdade de imprensa e democratização da mídia está presente na campanha eleitoral deste ano. Não é uma briga entre partidos ou candidatos, é uma questão bastante difundida na sociedade e que exige posicionamento público das autoridades. A Associação Nacional de Jornais - ANJ está preparando um código de autoregulamentação para a imprensa que vem, exatamente, no sentido de fazer algo para impedir que o Estado ou a sociedade organizada o faça. Lembremos das palavras do escritor Giuseppe Tomasi di Lampedusa, em O Leopardo, “mudar para continuar igual”.
O debate público precisa ser aprofundado e ele não será feito com preconceitos ideológicos, mas, sim, a partir de análise apurada da realidade e das necessidades da democracia que, penso, não se concretiza sem o chamado “contrato social” que regra a atividade humana, impedindo que os mais fortes destruam os mais fracos. Estamos clamando pela verdadeira liberdade de imprensa, pela ética profissional e pelo direito do cidadão de informar e ser informado!
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Em defesa dos jornalistas, da ética e do direito à informação
O conceito de golpe midiático ganhou notoriedade nos últimos dias. O debate é público e parte da constatação de que setores da imprensa passaram a atuar de maneira a privilegiar uma candidatura em detrimento de outra. É legítimo - e desejável – que as direções das empresas jornalísticas explicitem suas opções políticas, partidárias e eleitorais. O que é inaceitável é que o façam também fora dos espaços editoriais. Distorcer, selecionar, divulgar opiniões como se fossem fatos não é exercer o jornalismo, mas, sim, manipular o noticiário cotidiano segundo interesses outros que não os de informar com veracidade.
Se esses recursos são usados para influenciar ou determinar o resultado de uma eleição configura-se golpe com o objetivo de interferir na vontade popular. Não se trata aqui do uso da força, mas sim de técnicas de manipulação da opinião pública. Neste contexto, o uso do conceito “golpe midiático” é perfeitamente compreensível.
Este estado de coisas só acontece porque os jornalistas perderam força e importância no processo de elaboração da informação no interior das empresas. Cada vez menos jornalistas detêm o poder da informação que será fornecida à opinião pública. Ela passa por uma triagem prévia já no seu processo de edição e aqueles que descumprem a dita orientação editorial são penalizados. Também nunca conseguem atingir cargos de direção que, agora, são ocupados por executivos que atendem aos interesses de comitês, bancos associados, acionistas etc.
Esse estado de coisas não apenas abre espaço para que a mídia atenda a interesses outros que não o do cidadão, como também avilta a profissão de jornalista, precariza condições de trabalho e achata salários. A consequência mais trágica disso é a necessidade de se adaptar ao “esquema da empresa” para garantir o emprego, mesmo em detrimento dos valores mais caros.
Para avançar nessa discussão é necessário estabelecer a premissa de que informar a população sobre os desmandos do governo (qualquer deles) é dever da imprensa. Orquestrar campanhas pró ou contra candidatos é abuso de poder. A linha divisória entre esses campos é tênue e cabe ao jornalista, respeitando o profissionalismo e a ética, estabelecer o limite tendo em conta o que é de interesse público.
Não podemos incorrer no erro de instaurar na cobertura de fatos políticos os erros cometidos em outras áreas, ou seja, o pré-julgamento (que dispensa provas, pois o suspeito está condenado previamente) e o jornalismo espetáculo (que expõe situações de maneira emocional para provocar reações extremadas).
A ideia de debater e protestar contra esse estado de coisas resultou na realização do ato em defesa da democracia e contra o golpismo midiático realizado no auditório do Sindicato dos Jornalistas. A proposta surgiu em conversa entre blogueiros, foi assumida pelo Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, que procurou o Sindicato dos Jornalistas e este aceitou sediar o evento.
A sociedade sabe que o local ideal para este debate é o Sindicato dos Jornalistas. Não apenas porque os jornalistas são parte importante nesse processo, mas, principalmente, pela tradição da entidade em ser um espaço democrático aberto às diversas manifestações públicas e de interesse social.
O que está em discussão são duas concepções opostas, uma que considera a informação um bem privado, passível de uso conforme interesses pessoais, e outro que entende a informação como direito social, portanto, regulado por um “contrato social”, exatamente como acontece com a saúde ou a educação.
Ter direito de resposta, garantir espaço para que o contraditório apareça, impedir o monopólio da mídia, tornar transparente os mecanismos de outorga das empresas de rádio e TV, destinar parte da verba oficial para pequenos veículos, criar a rede pública de comunicação, regulamentar as profissões envolvidas com a mídia, não são atos de censura, são movimentos em defesa da liberdade de expressão e cidadania!
O grupo dos liberais quer, a qualquer custo, impedir que o conceito de direito social seja estendido à informação. A confusão feita entre liberdade de opinião, de imprensa, de informação, de profissão e o conceito de censura e de controle público é intencional. Essa confusão é visível na argumentação utilizada pelo Ministro Gilmar Mendes para acabar com a necessidade do diploma de jornalismo. O objetivo é impedir que as ideias por trás das palavras sejam claramente entendidas pelo cidadão e, assim, interditar qualquer reivindicação popular nesse campo.
A liberdade de imprensa é o principal instrumento do jornalista profissional. Não é propriedade dos proprietários dos meios de comunicação. O verdadeiro ato em favor da liberdade de imprensa é feito em defesa do jornalista e, por consequência, diminui o poder da empresa. O problema é que, a exemplo do que escreveu George Orwell no livro 1984 quando criou a novilíngua (que pretendia reduzir o vocabulário, eliminar sinônimos e fundir palavras para diminuir a capacidade de pensamento), o conceito de liberdade de imprensa foi virado pelo avesso e, uma vez apropriado pela empresa de comunicação, passou a diminuir o papel do jornalista obrigando-o a se submeter às engrenagens do poder empresarial. Não é por acaso que existe a frase, ao mesmo tempo trágica e engraçada, de que apenas existe “liberdade de empresa”.
Não é por acaso que o debate sobre liberdade de imprensa e democratização da mídia está presente na campanha eleitoral deste ano. Não é uma briga entre partidos ou candidatos, é uma questão bastante difundida na sociedade e que exige posicionamento público das autoridades. A Associação Nacional de Jornais - ANJ está preparando um código de autoregulamentação para a imprensa que vem, exatamente, no sentido de fazer algo para impedir que o Estado ou a sociedade organizada o faça. Lembremos das palavras do escritor Giuseppe Tomasi di Lampedusa, em O Leopardo, “mudar para continuar igual”.
O debate público precisa ser aprofundado e ele não será feito com preconceitos ideológicos, mas, sim, a partir de análise apurada da realidade e das necessidades da democracia que, penso, não se concretiza sem o chamado “contrato social” que regra a atividade humana, impedindo que os mais fortes destruam os mais fracos. Estamos clamando pela verdadeira liberdade de imprensa, pela ética profissional e pelo direito do cidadão de informar e ser informado!
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Uma resposta à velha mídia golpista
Reproduzo reportagem de Luana Bonone, publicado no sítio Vermelho:
“Este é um ato singelo”. Riso generalizado. Com esta modéstia e muito bom humor, Altamiro Borges abriu o ato contra o golpismo midiático, que não coube no auditório, no corredor e quase não coube até mesmo nas escadarias do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo. O abarrotado protesto foi organizado pelo Centro Barão de Itararé na noite desta quinta-feira (23). Como disse o presidente do Sindicato, José Augusto de Oliveira Camargo (Guto), “o desconforto é a prova do sucesso deste ato”.
A presença do SBT, do Estadão e de outros veículos da chamada grande mídia – ou “velha mídia”, como definido pelo representante do Movimento dos Sem Mídia Eduardo Guimarães – não intimidou a mesa do ato, composta por entidades de luta pela democratização da mídia, representantes dos movimentos sociais e de partidos de esquerda. Miro fez questão, inclusive, de agradecer a mobilização de cerca de 500 pessoas - segundo a organização do ato - proporcionada pela velha mídia, referindo-se aos ataques à atividade veiculados nesta semana. “Mobilização pelo repúdio”, completou o presidente do Barão, que em seguida leu o documento intitulado “Pela ampla liberdade de expressão”.
O documento inicia com respostas a manchetes desta semana: “Após ataques de Lula, MST e centrais sindicais se juntam contra a imprensa” (O Globo); “Oposição critica ato contra a mídia apoiado pelo PT” (Estadão); “Entidades fazem ato contra a imprensa em São Paulo” (Folha), entre outras. Após valorizar a realização do ato no auditório denominado Vladmir Herzog, o documento contra-ataca: “esta visão autoritária, contrária aos próprios princípios liberais, fica explícita quando se tenta desqualificar a participação no ato das centrais sindicais e dos movimentos sociais, acusando-os de serem ‘ligados ao governo’. Ou será que alguns estão com saudades dos tempos da ditadura, quando os lutadores sociais eram perseguidos e proibidos de se manifestar?”.
Propostas provocativas ou provocações propositivas?
A primeira parte da carta lida por Miro é finalizada com a defesa da liberdade de expressão e em seguida são apresentadas cinco propostas, dentre as quais a solicitação de abertura dos contratos e contas de publicidade de veículos da Editora Abril, dos grupos Estadão e Folha e das organizações Globo. O pedido é direcionado à vice-procuradora regional eleitoral, Dra. Sandra Cureau, “a exemplo do que fez recentemente com a revista Carta Capital”. Segundo o documento, “é urgente uma operação ‘ficha limpa’ na mídia brasileira”.
Depois foi a vez do presidente do Sindicato dos Jornalistas ler a nota “Em defesa dos jornalistas, da ética e do direito à informação”, que esclarece o apoio do sindicato ao ato e é assinada por ele. Segundo Guto, a nota se fez necessária porque a divulgação de que se tratava de um ato “contra a imprensa” fez com que o sindicato recebesse inúmeras ligações questionando sua postura.
Sob gritos como "Serra é Frias!", vindos da muvuca que se acomodava no pequeno auditório, falaram no ato, ainda, o vice-presidente da CGTB, Ubiraci Dantas (Bira), representando o movimento sindical (estiveram no ato, ainda, CTB, Nova Central, Força Sindical e CUT); o presidente da Associação Brasileira de Empresas e Empreendedores da Comunicação (Altercom), Joaquim Palhares; o representante do MST, Gilmar Mauro, e o do Movimento dos Sem Mídia, Eduardo Guimarães; além dos representantes de partidos: o jornalista Osvaldo Maneschy (PDT) – que fez uma respeitável referência ao histórico dirigente do partido Leonel Brizola –, a deputada federal Luiza Erundina (PSB) e o presidente do PCdoB, Renato Rabelo. A UNE também foi citada como apoiadora do ato.
Gilmar Mauro zombou da velha mídia ao dizer que estava se divertindo, e explicou: “em que pesem os ataques, o povo ta se lixando”. Ao dizer que o MST assina embaixo do documento lido por Miro, Gilmar disse ainda que "quando começarem a falar bem de nós, é porque estamos errados", e deixou um recado: “o próximo governo tem que investir na democratização da mídia”.
Já Eduardo Guimarães disse sentir “vergonha alheia” pelo comportamento da velha mídia: “Essa gente é risível, dizendo que nós queremos censurar impérios de comunicação que faturam bilhões...! Tenham noção do ridículo”. E finalizou com uma provocação: “Será que os leitores dessa velha mídia não perguntam ‘o que pensam esses bichos-papões?’”. E completou “no dia 3 nós vamos responder”, referindo-se às eleições.
Quem tem história, tem autoridade
Para Renato Rabelo, o ato foi “emblemático”. Após dizer que a mídia vem radicalizando a luta política no país, Renato afirmou que “o PCdoB tem autoridade para dizer que nós somos os defensores da liberdade de expressão, não eles. Na Ditadura Militar, de que lado eles ficaram?”. Em seguida, fez troça do discurso utilizado por alguns veículos do “autoritarismo” do presidente Lula, assegurando: “não tem país no mundo que tem essa liberdade de imprensa que tem o Brasil”. Para Renato, a velha mídia vai além do golpismo, “é conspiração”.
A última a falar foi também a mais aplaudida. Reconhecida pela sua luta em defesa da democratização da comunicação, Luiza Erundina fez referência à 1ª Conferência Nacional de Comunicação (Confecom) e disparou: “Sabe por que eles estão bravos? Porque deu certo o primeiro presidente operário... Sabe por que a reação irada? Porque vamos eleger a primeira mulher presidente, e no primeiro turno!”. A fala final de Erundina resume um pouco do sentimento do ato: “Não venham nos dar lição sobre democracia, nós pagamos muito caro por esta democracia que temos”.
Fora da mesa, dentro do debate
Presidentes de entidades que não puderam comparecer ao ato - embora tenham enviado representação - e outras lideranças comentam o sucesso do protesto. Para o presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Arthur Henrique, "o ato foi um sucesso, teve uma representatividade bastante expressiva de vários setores da sociedade, e apontou que não é um ato contra a imprensa, muito pelo contrário, é em defesa da democracia, do voto popular. Acredito que o protesto cumpriu o objetivo de denunciar esta parte da mídia que acaba por ter uma postura parcial em relação à cobertura das eleições".
O presidente da União Nacional dos Estudants (UNE), Augusto Chagas, também valorizou a iniciativa: "Foi um ato importante do movimento social brasileiro, que procura responder a um movimento grosseiro que nós já conhecemos. Setores da imprensa insistem em fazer valer a sua opinião, seus interesses, à revelia da maioria da população, então colocam sua força para influenciar no processo democrático. Foi um ato importante para demonstrar que os movimentos sociais, as organizações populares estão atentas e vão continuar lutando contra essa investida".
Na avaliação de José Reinaldo, secretário de Comunicação do PCdoB, o ato foi “magnífico” e “consolidou a Barão de Itararé e suas entidades coligadas como parte constitutiva do movimento social brasileiro, portador da bandeira contra o terrorismo midiático e pela verdadeira liberdade de expressão”. A visão de José Reinaldo Carvalho, presente ao ato, é de que “a mídia, como expressão no plano da política, da ideologia e da comunicação social das classes dominantes do Brasil, pretende pautar o debate político, pautar a campanha eleitoral, definir os temas e adiantar vereditos sobre o que é certo e o que é errado, sobre o que é justo e o que é injusto, verdadeiro e falso. Isso significa que a mídia quer exercer uma ditadura sobre as consciências, castrando o direito à informação. Portanto, é necessário e justo que os movimentos sociais se rebelem contra isso, em nome da verdadeira democracia e da verdadeira liberdade de expressão”, declarou. Para ele, no ato desta quinta-feira “os quadros da esquerda e dos movimentos sociais expressaram a posição de não aceitar o ditame da grande imprensa, da velha imprensa”.
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“Este é um ato singelo”. Riso generalizado. Com esta modéstia e muito bom humor, Altamiro Borges abriu o ato contra o golpismo midiático, que não coube no auditório, no corredor e quase não coube até mesmo nas escadarias do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo. O abarrotado protesto foi organizado pelo Centro Barão de Itararé na noite desta quinta-feira (23). Como disse o presidente do Sindicato, José Augusto de Oliveira Camargo (Guto), “o desconforto é a prova do sucesso deste ato”.
A presença do SBT, do Estadão e de outros veículos da chamada grande mídia – ou “velha mídia”, como definido pelo representante do Movimento dos Sem Mídia Eduardo Guimarães – não intimidou a mesa do ato, composta por entidades de luta pela democratização da mídia, representantes dos movimentos sociais e de partidos de esquerda. Miro fez questão, inclusive, de agradecer a mobilização de cerca de 500 pessoas - segundo a organização do ato - proporcionada pela velha mídia, referindo-se aos ataques à atividade veiculados nesta semana. “Mobilização pelo repúdio”, completou o presidente do Barão, que em seguida leu o documento intitulado “Pela ampla liberdade de expressão”.
O documento inicia com respostas a manchetes desta semana: “Após ataques de Lula, MST e centrais sindicais se juntam contra a imprensa” (O Globo); “Oposição critica ato contra a mídia apoiado pelo PT” (Estadão); “Entidades fazem ato contra a imprensa em São Paulo” (Folha), entre outras. Após valorizar a realização do ato no auditório denominado Vladmir Herzog, o documento contra-ataca: “esta visão autoritária, contrária aos próprios princípios liberais, fica explícita quando se tenta desqualificar a participação no ato das centrais sindicais e dos movimentos sociais, acusando-os de serem ‘ligados ao governo’. Ou será que alguns estão com saudades dos tempos da ditadura, quando os lutadores sociais eram perseguidos e proibidos de se manifestar?”.
Propostas provocativas ou provocações propositivas?
A primeira parte da carta lida por Miro é finalizada com a defesa da liberdade de expressão e em seguida são apresentadas cinco propostas, dentre as quais a solicitação de abertura dos contratos e contas de publicidade de veículos da Editora Abril, dos grupos Estadão e Folha e das organizações Globo. O pedido é direcionado à vice-procuradora regional eleitoral, Dra. Sandra Cureau, “a exemplo do que fez recentemente com a revista Carta Capital”. Segundo o documento, “é urgente uma operação ‘ficha limpa’ na mídia brasileira”.
Depois foi a vez do presidente do Sindicato dos Jornalistas ler a nota “Em defesa dos jornalistas, da ética e do direito à informação”, que esclarece o apoio do sindicato ao ato e é assinada por ele. Segundo Guto, a nota se fez necessária porque a divulgação de que se tratava de um ato “contra a imprensa” fez com que o sindicato recebesse inúmeras ligações questionando sua postura.
Sob gritos como "Serra é Frias!", vindos da muvuca que se acomodava no pequeno auditório, falaram no ato, ainda, o vice-presidente da CGTB, Ubiraci Dantas (Bira), representando o movimento sindical (estiveram no ato, ainda, CTB, Nova Central, Força Sindical e CUT); o presidente da Associação Brasileira de Empresas e Empreendedores da Comunicação (Altercom), Joaquim Palhares; o representante do MST, Gilmar Mauro, e o do Movimento dos Sem Mídia, Eduardo Guimarães; além dos representantes de partidos: o jornalista Osvaldo Maneschy (PDT) – que fez uma respeitável referência ao histórico dirigente do partido Leonel Brizola –, a deputada federal Luiza Erundina (PSB) e o presidente do PCdoB, Renato Rabelo. A UNE também foi citada como apoiadora do ato.
Gilmar Mauro zombou da velha mídia ao dizer que estava se divertindo, e explicou: “em que pesem os ataques, o povo ta se lixando”. Ao dizer que o MST assina embaixo do documento lido por Miro, Gilmar disse ainda que "quando começarem a falar bem de nós, é porque estamos errados", e deixou um recado: “o próximo governo tem que investir na democratização da mídia”.
Já Eduardo Guimarães disse sentir “vergonha alheia” pelo comportamento da velha mídia: “Essa gente é risível, dizendo que nós queremos censurar impérios de comunicação que faturam bilhões...! Tenham noção do ridículo”. E finalizou com uma provocação: “Será que os leitores dessa velha mídia não perguntam ‘o que pensam esses bichos-papões?’”. E completou “no dia 3 nós vamos responder”, referindo-se às eleições.
Quem tem história, tem autoridade
Para Renato Rabelo, o ato foi “emblemático”. Após dizer que a mídia vem radicalizando a luta política no país, Renato afirmou que “o PCdoB tem autoridade para dizer que nós somos os defensores da liberdade de expressão, não eles. Na Ditadura Militar, de que lado eles ficaram?”. Em seguida, fez troça do discurso utilizado por alguns veículos do “autoritarismo” do presidente Lula, assegurando: “não tem país no mundo que tem essa liberdade de imprensa que tem o Brasil”. Para Renato, a velha mídia vai além do golpismo, “é conspiração”.
A última a falar foi também a mais aplaudida. Reconhecida pela sua luta em defesa da democratização da comunicação, Luiza Erundina fez referência à 1ª Conferência Nacional de Comunicação (Confecom) e disparou: “Sabe por que eles estão bravos? Porque deu certo o primeiro presidente operário... Sabe por que a reação irada? Porque vamos eleger a primeira mulher presidente, e no primeiro turno!”. A fala final de Erundina resume um pouco do sentimento do ato: “Não venham nos dar lição sobre democracia, nós pagamos muito caro por esta democracia que temos”.
Fora da mesa, dentro do debate
Presidentes de entidades que não puderam comparecer ao ato - embora tenham enviado representação - e outras lideranças comentam o sucesso do protesto. Para o presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Arthur Henrique, "o ato foi um sucesso, teve uma representatividade bastante expressiva de vários setores da sociedade, e apontou que não é um ato contra a imprensa, muito pelo contrário, é em defesa da democracia, do voto popular. Acredito que o protesto cumpriu o objetivo de denunciar esta parte da mídia que acaba por ter uma postura parcial em relação à cobertura das eleições".
O presidente da União Nacional dos Estudants (UNE), Augusto Chagas, também valorizou a iniciativa: "Foi um ato importante do movimento social brasileiro, que procura responder a um movimento grosseiro que nós já conhecemos. Setores da imprensa insistem em fazer valer a sua opinião, seus interesses, à revelia da maioria da população, então colocam sua força para influenciar no processo democrático. Foi um ato importante para demonstrar que os movimentos sociais, as organizações populares estão atentas e vão continuar lutando contra essa investida".
Na avaliação de José Reinaldo, secretário de Comunicação do PCdoB, o ato foi “magnífico” e “consolidou a Barão de Itararé e suas entidades coligadas como parte constitutiva do movimento social brasileiro, portador da bandeira contra o terrorismo midiático e pela verdadeira liberdade de expressão”. A visão de José Reinaldo Carvalho, presente ao ato, é de que “a mídia, como expressão no plano da política, da ideologia e da comunicação social das classes dominantes do Brasil, pretende pautar o debate político, pautar a campanha eleitoral, definir os temas e adiantar vereditos sobre o que é certo e o que é errado, sobre o que é justo e o que é injusto, verdadeiro e falso. Isso significa que a mídia quer exercer uma ditadura sobre as consciências, castrando o direito à informação. Portanto, é necessário e justo que os movimentos sociais se rebelem contra isso, em nome da verdadeira democracia e da verdadeira liberdade de expressão”, declarou. Para ele, no ato desta quinta-feira “os quadros da esquerda e dos movimentos sociais expressaram a posição de não aceitar o ditame da grande imprensa, da velha imprensa”.
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