quinta-feira, 7 de junho de 2018

Bolsonaro, Skaf e a aliança do golpe militar

Por Joaquim de Carvalho, no blog Diário do Centro do Mundo:

O pré-candidato a presidente Jair Bolsonaro, da extrema-direita militarista, quer reeditar em São Paulo a aliança que levou ao golpe de 1964. Através do major Olímpio, presidente do PSL, ele mantém um canal de negociação com o presidente licenciado da Fiesp, Paulo Skaf, pré-candidato a governador do Estado. Os dois querem formar um palanque no Estado.

Reportagem publicado pelo jornal O Estado de S. Paulo informa que Bolsonaro vê Skaf como o “único nome possível para a composição no maior colégio eleitoral do país”, já que, segundo ele, o PSDB e o PSB têm outros planos para a campanha presidencial. Com o PT, impossível. Bolsonaro e petistas são como água e óleo, não se misturam.

As histórias da Fiesp e de políticos como Bolsonaro estão unidas pelo golpe de 1964.

A Comissão da Verdade da Câmara Municipal de São Paulo colheu no início de 2014 um depoimento impactante do coronel reformado do Exército Erimá Pinheiro Moreira, testemunha de que a Fiesp corrompeu o general Amaury Kruel, às vésperas da derrubada de João Goulart.

O coronel Moreira acumulava suas funções no Exército com as de farmacêutico proprietário de um laboratório de análise no bairro da Aclimação, em São Paulo, cuja sede foi cedida, a pedido de um amigo comum, para um encontro reservado entre Kruel, na época responsável pelo 2o. Exército, e o então presidente da Fiesp, Raphael de Souza Noschese.

Segundo o coronel, o presidente da Fiesp entregou ao general malas com US$ 1,2 milhão - uma fortuna ainda maior na época, com o dólar muito mais valorizado - e, com isso, conseguiu mudar a posição de Kruel, amigo de Goulart, que então passou a apoiar o golpe.

Em seu depoimento à comissão da verdade, Moreira deu detalhes de como soube que era suborno. Quando viu os assessores do presidente da Fiesp entrarem com as malas, para subir até o andar de cima, onde estava Kruel, mandou que abrissem. “Podia ser uma bomba”, explicou.

Houve desentendimento, mas os assessores acabaram cedendo.

“Eu vi que era só dólar, dólar, dólar, todas elas cheias de dólar. Amarradinho do banco.”

O coronel soube depois que a fonte do dinheiro era o governo dos Estados Unidos.

Quando a história veio à tona, no início de 2014, o prédio onde ocorreu o encontro estava intacto e alugado para uma escola infantil. Logo depois, foi demolido e hoje, no lugar, existe uma farmácia de uma grande rede.

Em 2016, a Fiesp também se colocou na linha de frente do movimento que levou à queda de Dilma Rousseff, em um episódio que história ainda se encarregará de dar mais detalhes.

O que já se sabe, porém, é suficiente para concluir que a atuação dela, sob a presidência de Paulo Skaf, foi decisiva.

Além da campanha com a imagem do Pato, que procurava minar a popularidade de Dilma Rousseff, a Fiesp apoiou, com alimentação e espaço para acampamentos na Paulista, os bruta-montes que ameaçavam com agressão física todos aqueles que se manifestavam contra o impeachment.

Consumado o golpe, os impostos aumentam - não diretamente para os empresários, mas nos combustíveis -, direitos dos trabalhadores foram suprimidas e o orçamento social da União foi congelado em 20 anos.

Foi bom para rentistas, mas péssimo para a população em geral.

Portanto, essa aliança entre Skaf e Bolsonaro pode até não ser formalizada, mas ela de fato sempre existiu, pois é cimentada por afinidades.

Os dois poderão até não estar formalmente juntos, mas, por interesses ideológicos e de outra natureza, sempre estiveram unidos e continuarão juntos, na ações contra a democracia.

Nesse episódio da reedição da aliança do mal, como um espectro do atraso que nos ronda, o Estadão deu a sua contribuição, também histórica.

Ao noticiar a aliança da Fiesp com os militaristas, registrou que Bolsonaro lidera as pesquisas de intenção de voto no Estado de São Paulo, segundo o Ibope/Band.

Errado.

Quem lidera é Lula, com 23%, à frente de Bolsonaro, com 19%. Mas o jornal não faz esse registro, nem como uma candidatura hipotética.

É parte da estratégica de poder da elite do dinheiro que inclui a velha imprensa. Ela tem escondido o ex-presidente, para, mais à frente, decretar a sua morte política.

É a história que nos revisita, como nos tempos em que as pessoas eram trancadas em porões, torturadas e depois dadas como desaparecidas.

No Brasil, como se vê, o empenho é grande para que nada se mude. Mas, gostem ou não os inimigos da democracia, é impossível esconder a luz do sol.

A verdade triunfará.

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