Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil |
Ganhe quem ganhar, a Copa do Mundo de Futebol já deu vitória ao povo brasileiro. Ao final da sua primeira fase, o maior evento esportivo do mundo demonstrou nossa capacidade realizadora, fortaleceu o sentimento de brasilidade e, acima de tudo, forçará mudanças significativas na administração do esporte no Brasil.
Começa pelo fato de que dos 23 atletas convocados para a seleção canarinho, apenas dois ainda jogam no Brasil. Isso é fruto de uma visão instalada em nosso futebol, que qualifica o jogador como um produto de negócios, uma fonte de renda dos times e da cartolagem, não como desportista.
Essa visão precisa mudar. E a mudança tem que começar por um controle maior sobre a atividade dos times e principalmente das entidades esportivas. Ou seja, as federações estaduais afiliadas à Confederação Brasileira de Futebol (CBF), já que tanto a matriz quanto as filiais são verdadeiros antros de bandidos.
O Ministério do Esporte foi criado, em 2002, justamente para normatizar e fiscalizar tanto o futebol como os esportes olímpicos. Para pôr ordem na casa, enfim. Ou seja, o governo tem instrumentos para fazer com que a legislação existente, que é boa, seja aplicada.
Ademais, são estatais as principais empresas patrocinadoras dos esportes no Brasil (Banco do Brasil, Caixa, Petrobrás etc.), que podem pressionar pelo lado econômico.
Mesmo que se aceite o argumento dos cartolas de que as deles são entidades privadas, o governo tem instrumentos para impor regras ao jogo. Afinal, se todos os setores da atividade econômica seguem normas, por que o dos esportes não pode?
Também o Congresso Nacional pode ajudar. Por exemplo: falta uma lei que diga claramente como serão eleitos os dirigentes das entidades esportivas e até mesmo dos clubes. Hoje, os clubes elegem suas direções de formas obscuras, dando direito a voto a uma minoria de torcedores, que são aqueles que supostamente contribuem com grana.
Esses dirigentes é que escolhem os comandantes das federações estaduais e do DF. E só os presidentes dessas 27 entidades é que escolhem a camarilha da CBF, no caso do futebol. Isso é um absurdo, mas é o esquema que perpetua a mesma máfia de João Havelange, Ricardo Teixeira, Zé Maria Marin e seus apaniguados.
A Copa vem demonstrando que o torcedor quer ver jogos. Estádios lotados até nos jogos mais insignificantes, de Norte a Sul do país, não me deixam mentir. É certo que os preços dos ingressos não são lá muito acessíveis, mas isso não se reproduz nos campeonatos nacionais.
Fica, portanto, a estranheza de jogos do brasileirão, com times de grandes torcidas, como Flamengo e Corinthians, contarem com meia dúzia de gatos pingados nas arquibancadas. E esta seria uma importante fonte de receita para os clubes.
A resposta é óbvia, pois nossos craques jogam no exterior. Em verdade, hoje os times brasileiros são meras escolinhas de futebol, cuja função é produzir craques para jogarem lá fora. Ou produzir meninos de rua lá fora, pois os agentes levam muitas crianças que não dão certo no esporte e ficam perdidas mundo afora.
Pela legislação em vigor, menores de idade só podem sair do país com autorização dos pais. Mas esse documento é obtido com facilidade, já que muitos pais entregam os filhos por qualquer trocado para gastar nos mercados ou botecos. O correto seria a justiça conferir caso por caso.
Mas, mesmo os que dão certo, tem a agravante de que lá, em muitos países da Europa, eles desaprendem o futebol solto, bonito, em troca de uma eficiência esquemática que retira deles o nosso brilho. E a Copa já deixou claro que há um retorno ao futebol-arte.
A comprovação disso é que Espanha e Inglaterra foram mandadas embora logo no segundo jogo da Copa. E a Itália no terceiro. Mas o nosso time fica igualmente travado, querendo imitar esse futebol europeu, burocrático, sem se soltar, como é a nossa marca. Esse é, por certo, o grande ensinamento desta Copa.
Só falta saber se alguém nas esferas de poder já pegou o espírito da coisa.
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