Por Celso Schröder, no site da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj):
A Rede Globo anunciou há semanas com pompa e circunstância, como sempre, sua novidade para as noites de domingo: um novo Fantástico. Mas na verdade não era o novo conteúdo com novos formatos o que interessava. O importante era a ideia da mudança. Ou seja, mais relevante do que criar novos conteúdos com novas linguagens para tentar conter a sangria de audiência que a Rede sofre, a simples ideia da mudança era a notícia.
Bem, quando aparece o “novo Fantástico” o que temos é a mesma música rearranjada pela enésima vez e uma suposta aposta no jornalismo. Um jornalismo estranho em que os temas são propostos numa interatividade duvidosa, por atores globais misturados a “representantes do público” e até alguns jornalistas. Tudo ao vivo. Ou seja, mais relevante do que o novo formato era a notícia deste novo formato. O resultado? Reportagens superficiais, muitas delas de duvidoso interesse público e um forte cheiro de borracha recauchutada.
No mesmo período o jornal Zero Hora anuncia... sim, com pompa e circunstância, a sua também enésima mudança gráfica. O jornal gaúcho, que acompanha a tendência inaugurada pelo USA Today na década de 1980 de privilegiar a forma ao conteúdo, radicaliza na sua atualização gráfica, sacrifica o conteúdo ao seu limite e coloca o jornalismo em plano secundário, embora faça juras de valorizá-lo.
Espaço único
Imersas na perplexidade em que setores da imprensa se encontram a partir das novas tecnologias e do abandono contínuo de leitores/telespectadores/ouvintes, compreensivamente cansados com a opinião substituindo a informação, linguagens empobrecidas, conteúdos superficiais e interesses particulares apresentados como de interesse público, as empresas de jornalismo apostam na única saída que seu modelo de negócio permite: as mudanças formais. Novas cores e apresentadores sentados ou de pé frente às câmeras de televisão. Jornalistas travestidos de animadores de auditório no rádio, mudanças do corpo ou da família de letras e o aumento do espaço em branco nos jornais e revistas. Numa espécie de curto circuito midiático, como conceitua Ignacio Ramonet, o jornal tenta se mimetizar em televisão, a televisão em internet e a internet é a única que tem certeza que é um boteco eletrônico sem o charme dos botecos da vida real.
Diferente do Fantástico com suas mudanças cosméticas, Zero Hora desta vez realiza sua mudança gráfica a partir de uma ideia de mudança editorial. A começar pela sua capa, que assume um papel de cartaz desestruturado, com um logotipo publicitário que possivelmente se tornará obsoleto antes dos seis meses de existência, manchetes enigmáticas e risíveis e uma visível crise de critério jornalístico, a não ser o de continuar com seu papel partidário histórico e de eficácia já comprovadamente ineficiente.
O jornalismo foi reduzido a um quarto do jornal, amontoado num único espaço chamado de notícias. Enquanto até os supermercados sabem que consumidores precisam achar seus produtos rapidamente, os leitores de Zero Hora agora devem revirar o caderno em busca da notícia de política, que pode estar junto à uma internacional, ou a de economia junto à uma de cidade. As demais páginas do jornal ficaram com um caderno de esportes que vem sistematicamente sendo afastado do jornalismo, um de cultura e outro de estilo de vida, seja lá o que for isso. Na verdade o jornal é a síntese da internet.
As vítimas
A tese que parece vencedora, tanto na Globo com seu Fantástico, como na RBS com a Zero Hora, é de que o jornalismo acabou. Ignorando o papel histórico do jornalismo e sua necessidade social, inebriados pelo olhar embaçado do capital, as empresas atiram no seu próprio pé, não sem antes atingir vítimas inocentes.
As primeiras vítimas, como sempre, são os jornalistas. Demitidos, realocados, constrangidos a papéis humilhantes, ensaiam reações e resistências. A segunda vítima imediata é o público. Guindado à condição de cúmplice e copartícipe, o leitor/telespectador/ouvinte é traído e não leva nem mesmo o gato pela lebre comprada. A terceira e decisiva vítima é a esfera pública e a democracia, que, com o fim da mediação do jornalismo, perdem um suporte decisivo. Tudo é fantástico? Parece que sim, mas não jornalismo.
A Rede Globo anunciou há semanas com pompa e circunstância, como sempre, sua novidade para as noites de domingo: um novo Fantástico. Mas na verdade não era o novo conteúdo com novos formatos o que interessava. O importante era a ideia da mudança. Ou seja, mais relevante do que criar novos conteúdos com novas linguagens para tentar conter a sangria de audiência que a Rede sofre, a simples ideia da mudança era a notícia.
Bem, quando aparece o “novo Fantástico” o que temos é a mesma música rearranjada pela enésima vez e uma suposta aposta no jornalismo. Um jornalismo estranho em que os temas são propostos numa interatividade duvidosa, por atores globais misturados a “representantes do público” e até alguns jornalistas. Tudo ao vivo. Ou seja, mais relevante do que o novo formato era a notícia deste novo formato. O resultado? Reportagens superficiais, muitas delas de duvidoso interesse público e um forte cheiro de borracha recauchutada.
No mesmo período o jornal Zero Hora anuncia... sim, com pompa e circunstância, a sua também enésima mudança gráfica. O jornal gaúcho, que acompanha a tendência inaugurada pelo USA Today na década de 1980 de privilegiar a forma ao conteúdo, radicaliza na sua atualização gráfica, sacrifica o conteúdo ao seu limite e coloca o jornalismo em plano secundário, embora faça juras de valorizá-lo.
Espaço único
Imersas na perplexidade em que setores da imprensa se encontram a partir das novas tecnologias e do abandono contínuo de leitores/telespectadores/ouvintes, compreensivamente cansados com a opinião substituindo a informação, linguagens empobrecidas, conteúdos superficiais e interesses particulares apresentados como de interesse público, as empresas de jornalismo apostam na única saída que seu modelo de negócio permite: as mudanças formais. Novas cores e apresentadores sentados ou de pé frente às câmeras de televisão. Jornalistas travestidos de animadores de auditório no rádio, mudanças do corpo ou da família de letras e o aumento do espaço em branco nos jornais e revistas. Numa espécie de curto circuito midiático, como conceitua Ignacio Ramonet, o jornal tenta se mimetizar em televisão, a televisão em internet e a internet é a única que tem certeza que é um boteco eletrônico sem o charme dos botecos da vida real.
Diferente do Fantástico com suas mudanças cosméticas, Zero Hora desta vez realiza sua mudança gráfica a partir de uma ideia de mudança editorial. A começar pela sua capa, que assume um papel de cartaz desestruturado, com um logotipo publicitário que possivelmente se tornará obsoleto antes dos seis meses de existência, manchetes enigmáticas e risíveis e uma visível crise de critério jornalístico, a não ser o de continuar com seu papel partidário histórico e de eficácia já comprovadamente ineficiente.
O jornalismo foi reduzido a um quarto do jornal, amontoado num único espaço chamado de notícias. Enquanto até os supermercados sabem que consumidores precisam achar seus produtos rapidamente, os leitores de Zero Hora agora devem revirar o caderno em busca da notícia de política, que pode estar junto à uma internacional, ou a de economia junto à uma de cidade. As demais páginas do jornal ficaram com um caderno de esportes que vem sistematicamente sendo afastado do jornalismo, um de cultura e outro de estilo de vida, seja lá o que for isso. Na verdade o jornal é a síntese da internet.
As vítimas
A tese que parece vencedora, tanto na Globo com seu Fantástico, como na RBS com a Zero Hora, é de que o jornalismo acabou. Ignorando o papel histórico do jornalismo e sua necessidade social, inebriados pelo olhar embaçado do capital, as empresas atiram no seu próprio pé, não sem antes atingir vítimas inocentes.
As primeiras vítimas, como sempre, são os jornalistas. Demitidos, realocados, constrangidos a papéis humilhantes, ensaiam reações e resistências. A segunda vítima imediata é o público. Guindado à condição de cúmplice e copartícipe, o leitor/telespectador/ouvinte é traído e não leva nem mesmo o gato pela lebre comprada. A terceira e decisiva vítima é a esfera pública e a democracia, que, com o fim da mediação do jornalismo, perdem um suporte decisivo. Tudo é fantástico? Parece que sim, mas não jornalismo.
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