Por José Antonio Lima, na revista CartaCapital:
Definida a votação em que a Câmara salvou o presidente Michel Temer de uma denúncia por formação de quadrilha e obstrução da Justiça, o deputado Carlos Marun (PMDB-MS) não conseguiu esconder sua alegria na noite de quarta-feira, 25. Em frente a jornalistas, dançou e cantou. "Tudo está no seu lugar. Graças a Deus, graças a Deus. Surramos mais uma vez essa oposição, que não consegue nenhuma ganhar". A música, com sua rima improvisada, foi flagrada pela Folha de S.Paulo.
A alegria de Marun não é de se espantar. O deputado, atualmente vice-líder do PMDB na Câmara, é um dos mais ferrenhos defensores de Temer e esteve em posições estratégicas. Foi vice-líder do governo e também presidente da comissão especial de reforma da Previdência, onde se discutiu um dos carros-chefe do Planalto no Legislativo.
Após a votação de quarta-feira, Marun foi o porta-voz da linha-dura que o governo deve adotar com quem votou contra Temer. "Os deputados que votaram contra o presidente devem ser excluídos da base e serem tratados como oposição. Não devem ser nem recebidos pelos ministros", afirmou.
A postura de escudeiro não é estranha a Marun. Só que antes de proteger Temer, quem estava na posição de soberano era Eduardo Cunha. Ao longo de 2015, quando o então presidente da Câmara, hoje preso, atuou para inviabilizar o mandato de Dilma Rousseff, Marun esteve ao seu lado. Defendeu o desembarque do PMDB do governo, o impeachment e participou de manifestações de rua contra a petista em Campo Grande, capital de seu estado. No ocaso de Cunha, alvo de pedido cassação por mentir à Câmara, Marun não o abandonou. No Conselho de Ética, trabalhou para anistiar o colega e, na sessão que culminou com o expurgo de Cunha, foi um dos nove deputados que votou contra a cassação, sendo o único a defender o correligionário em plenário.
A prisão de Cunha afastou os dois. Na véspera do Natal de 2016, o deputado sul-mato-grossense usou verba da Câmara para visitar o colega cassado no Paraná, onde está preso por ordem de Sérgio Moro. Após a revelação do escândalo, Marun prometeu devolver os 1,2 mil reais que usou na visita natalina.
Com a saída de Cunha de cena, Marun se tornou automaticamente um defensor do governo e de Temer. Hoje, o deputado é relator de um colegiado que o governo observa com atenção, a CPI da JBS. O fato de Marun ter recebido, nas eleições de 2014, 103 mil reais em doações do frigorífico (50 mil por intermédio da senadora Simone Tebet e 53 mil via Nelson Trad Filho, ex-prefeito de Campo Grande), não foi empecilho para ele obter a posição. A CPI da JBS é vista nos bastidores como foro ideal para que a delação de Joesley Batista e outros executivos da gigante fabricante de proteínas seja anulada. Seria um alívio para Temer e Cunha.
Na denúncia que foi barrada na quarta-feira 25 pela Câmara, Temer era o protagonista, mas Cunha tinha um papel relevante. Segundo o ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot, Temer lidera uma organização criminosa formada pelos ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria-Geral), além de Cunha e dos também ex-deputados Geddel Vieira Lima (BA) e Henrique Alves (AL), ambos também presos.
Das investigações da Polícia Federal e do Ministério Público Federal, depreende-se que Cunha e Temer eram (são?) aliados e tinham em seu entorno uma série de deputados escudeiros, que em troca receberiam ajuda antes, durante e depois das eleições. Temer e Cunha tinham hierarquia semelhante no grupo, escreveu a PF em um relatório, mas o presidente tinha "a função de conferir oficialidade aos atos que viabilizam as tratativas acertadas por Eduardo Cunha, dando aparente legalidade e legitimidade em atos que interessam ao grupo."
A conclusão dos investigadores vai ao encontro de acusações feitas abertamente por alguns políticos, como o ex-ministro Ciro Gomes, segundo quem a aliança teria uma natureza ilegal. "Na verdade, Temer é o homem do Cunha, e não o inverso. Parte importante das loucuras que faz é por estar completamente comprometido", disse Ciro ainda em dezembro de 2015 a CartaCapital.
Contra Marun, nada pesa nas investigações da Lava Jato. O deputado tem, entretanto, seu próprios rolos. Nascido em Porto Alegre, Marun fez sua carreira política no Mato Grosso do Sul. Foi vereador de Campo Grande e deputado estadual. Depois, foi secretário estadual de Habitação e presidente da Agência de Habitação Popular de Mato Grosso do Sul (Agehab), cargos que exerceu no mandato do governador André Puccinelli, que hoje usa uma tornozeleira eletrônica por ser investigado por fraudes em licitações e desvios de dinheiro público.
Por conta de sua atuação no último cargo, Marun é alvo de um processo por improbidade administrativa. Desde 2013, é acusado de beneficiar a DigithoBrasil Soluções em Software Ltda, que prestava serviços à Agehab, em contratos de 16,6 milhões de reais. "Estou me defendendo, e tenho certeza de que o processo resultará na minha absolvição”, afirmou Marun recentemente ao jornal O Estado de S.Paulo. A empresa também alega inocência.
O fato de ambos, deputado e empresa, serem acusados de desvio de dinheiro público não provoca constrangimento. Nas eleições de 2014, a DigithoBrasil foi a principal financiadora da campanha de Marun – bancou 300 mil reais do 1,6 milhão de reais arrecadados.
Outras empresas com problemas judiciais também doaram ao escudeiro de Cunha e Temer. A H2L Equipamentos, cujo dono, Rodolfo Pinheiro Holsback, foi investigado na Operação Lama Asfáltica, investiu 145 mil reais no deputado; a Guizardi Júnior Construtora, cujo dono, Giovani Guizardi, é réu e delator da Operação Rêmora, banco outros 20 mil reais.
A alegria de Marun não é de se espantar. O deputado, atualmente vice-líder do PMDB na Câmara, é um dos mais ferrenhos defensores de Temer e esteve em posições estratégicas. Foi vice-líder do governo e também presidente da comissão especial de reforma da Previdência, onde se discutiu um dos carros-chefe do Planalto no Legislativo.
Após a votação de quarta-feira, Marun foi o porta-voz da linha-dura que o governo deve adotar com quem votou contra Temer. "Os deputados que votaram contra o presidente devem ser excluídos da base e serem tratados como oposição. Não devem ser nem recebidos pelos ministros", afirmou.
A postura de escudeiro não é estranha a Marun. Só que antes de proteger Temer, quem estava na posição de soberano era Eduardo Cunha. Ao longo de 2015, quando o então presidente da Câmara, hoje preso, atuou para inviabilizar o mandato de Dilma Rousseff, Marun esteve ao seu lado. Defendeu o desembarque do PMDB do governo, o impeachment e participou de manifestações de rua contra a petista em Campo Grande, capital de seu estado. No ocaso de Cunha, alvo de pedido cassação por mentir à Câmara, Marun não o abandonou. No Conselho de Ética, trabalhou para anistiar o colega e, na sessão que culminou com o expurgo de Cunha, foi um dos nove deputados que votou contra a cassação, sendo o único a defender o correligionário em plenário.
A prisão de Cunha afastou os dois. Na véspera do Natal de 2016, o deputado sul-mato-grossense usou verba da Câmara para visitar o colega cassado no Paraná, onde está preso por ordem de Sérgio Moro. Após a revelação do escândalo, Marun prometeu devolver os 1,2 mil reais que usou na visita natalina.
Com a saída de Cunha de cena, Marun se tornou automaticamente um defensor do governo e de Temer. Hoje, o deputado é relator de um colegiado que o governo observa com atenção, a CPI da JBS. O fato de Marun ter recebido, nas eleições de 2014, 103 mil reais em doações do frigorífico (50 mil por intermédio da senadora Simone Tebet e 53 mil via Nelson Trad Filho, ex-prefeito de Campo Grande), não foi empecilho para ele obter a posição. A CPI da JBS é vista nos bastidores como foro ideal para que a delação de Joesley Batista e outros executivos da gigante fabricante de proteínas seja anulada. Seria um alívio para Temer e Cunha.
Na denúncia que foi barrada na quarta-feira 25 pela Câmara, Temer era o protagonista, mas Cunha tinha um papel relevante. Segundo o ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot, Temer lidera uma organização criminosa formada pelos ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria-Geral), além de Cunha e dos também ex-deputados Geddel Vieira Lima (BA) e Henrique Alves (AL), ambos também presos.
Das investigações da Polícia Federal e do Ministério Público Federal, depreende-se que Cunha e Temer eram (são?) aliados e tinham em seu entorno uma série de deputados escudeiros, que em troca receberiam ajuda antes, durante e depois das eleições. Temer e Cunha tinham hierarquia semelhante no grupo, escreveu a PF em um relatório, mas o presidente tinha "a função de conferir oficialidade aos atos que viabilizam as tratativas acertadas por Eduardo Cunha, dando aparente legalidade e legitimidade em atos que interessam ao grupo."
A conclusão dos investigadores vai ao encontro de acusações feitas abertamente por alguns políticos, como o ex-ministro Ciro Gomes, segundo quem a aliança teria uma natureza ilegal. "Na verdade, Temer é o homem do Cunha, e não o inverso. Parte importante das loucuras que faz é por estar completamente comprometido", disse Ciro ainda em dezembro de 2015 a CartaCapital.
Contra Marun, nada pesa nas investigações da Lava Jato. O deputado tem, entretanto, seu próprios rolos. Nascido em Porto Alegre, Marun fez sua carreira política no Mato Grosso do Sul. Foi vereador de Campo Grande e deputado estadual. Depois, foi secretário estadual de Habitação e presidente da Agência de Habitação Popular de Mato Grosso do Sul (Agehab), cargos que exerceu no mandato do governador André Puccinelli, que hoje usa uma tornozeleira eletrônica por ser investigado por fraudes em licitações e desvios de dinheiro público.
Por conta de sua atuação no último cargo, Marun é alvo de um processo por improbidade administrativa. Desde 2013, é acusado de beneficiar a DigithoBrasil Soluções em Software Ltda, que prestava serviços à Agehab, em contratos de 16,6 milhões de reais. "Estou me defendendo, e tenho certeza de que o processo resultará na minha absolvição”, afirmou Marun recentemente ao jornal O Estado de S.Paulo. A empresa também alega inocência.
O fato de ambos, deputado e empresa, serem acusados de desvio de dinheiro público não provoca constrangimento. Nas eleições de 2014, a DigithoBrasil foi a principal financiadora da campanha de Marun – bancou 300 mil reais do 1,6 milhão de reais arrecadados.
Outras empresas com problemas judiciais também doaram ao escudeiro de Cunha e Temer. A H2L Equipamentos, cujo dono, Rodolfo Pinheiro Holsback, foi investigado na Operação Lama Asfáltica, investiu 145 mil reais no deputado; a Guizardi Júnior Construtora, cujo dono, Giovani Guizardi, é réu e delator da Operação Rêmora, banco outros 20 mil reais.
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