Por Joaquim de Carvalho, no blog Diário do Centro do Mundo:
O movimento político verificado em 1994, na primeira eleição de um governador pelo Partido dos Trabalhadores, pode se repetir agora, 24 anos depois, na campanha para presidente da república.
Na época, um político da linha de Jair Bolsonaro, chamado Cabo Camata, liderava as pesquisas de intenção de voto no segundo turno das eleições no Espírito Santo, na disputa com Vítor Buaiz, candidato do PT.
Cabo da PM, Dejair Camata conquistou, primeiramente, o eleitorado mais pobre, com o discurso de que, eleito, acabaria com a bandidagem.
Apresentava-se também como uma novidade, um outsider, um candidato em condições de acabar com os privilégios da elite política, na qual incluía Buaiz, médico de carreira.
Era o mesmo discurso usado hoje por Bolsonaro, e Cabo Camata, depois de derrotar uma candidata do PSDB, foi para o segundo turno como favorito para a eleição.
Foi quando começou um movimento para demonstrar que a eleição do Cabo Camata significaria a vitória da barbárie contra a civilização, exatamente como agora.
Exatamente como agora, a elite capixaba do dinheiro apoiava Cabo Camata, com o objetivo de evitar a eleição de um candidato do PT.
O jornalista Rogério Sarlo de Medeiros, que chegou a ser prefeito da capital capixaba durante um curto período, coordenador da campanha de Buaiz, contou em uma estudo acadêmico como conseguiu convencer até Roberto Marinho a apoiar o candidato do PT ao governo do Espírito Santo:
“Quando a elite do Espírito Santo viu que o candidato capaz de derrotar o candidato do PT era Cabo Camata, ela embarcou”, disse ele, segundo registra a tese de dissertação de Uber José de Oliveira, a respeito do desempenho eleitoral do PT no Espírito Santo, entre 1982 e 2002.
Rogério tinha sido correspondente do Jornal do Brasil no Estado durante 24 anos e era amigo de Alberico de Souza Cruz, diretor de jornalismo da TV Globo.
“Falei com o Alberico e levei o Vitor Buaiz. O Alberico armou, e eu fui parar no gabinete do Roberto Marinho, e o Alberico tinha preparado o clima e o Roberto Marinho era também muito atento a tudo que estava acontecendo”, detalhou.
Depois disso, o jornal O Globo e até o Jornal Nacional começaram a publicar reportagens sobre o risco da eleição de Camata, apresentado na propaganda do PT na televisão como um filhote de Hitler.
O apoio de O Globo, segundo ele, foi decisivo, porque a elite do dinheiro se sentiu segura a apoiar Vitor Buaiz depois que viu no jornal em que acreditava editoriais favoráveis a Buaiz.
Em 24 anos, muita coisa mudou tanto no PT quanto no Grupo Globo — que ficou menos habilidoso e menos inteligente nos seus movimentos editoriais —, mas o paralelo pode estar se repetindo, e isso já pode se verificar em alguns reportagens recentes nos veículos da empresa.
Chamou a atenção, por exemplo, a veiculação de uma extensa nota na Globonews sobre o fake news que Bolsonaro emplacou no Jornal Nacional, a respeito do chamado kit gay.
O kit gay nunca existiu, como escreveu Haddad num extenso artigo da revista Piauí, recuperado pelo DCM, mas veículos do grupo Globo nunca tinham tocado no tema.
Na nota, apresentada por Leilane Neubarth, fica claro que Bolsonaro e o filho, Eduardo, fizeram uma manipulação grosseira dos fatos para tentar fazer o público acreditar que uma escola municipal de Maceió, Alagoas, estava utilizando um livro sobre sexualidade infantil como material didático, seguindo orientação do Ministério da Educação, do qual Haddad foi titular.
É uma sucessão de mentiras, que tem efeito eleitoral explosivo, e o desmentido, quando veiculado pela Globo, tem um peso importante no esforço para desmontar a fraude.
A Globo também entrevistou o delegado da Polícia Federal Rodrigo Morais, que investiga a facada em Bolsonaro, em uma reportagem que desmonta a farsa de que o autor do crime, Adélio Bispo de Oliveira, teria agido a mando de alguém — os jornalistas alinhados à extrema direita insinuam que seria ligado à campanha de Haddad, hipótese absurda, mas com força para confundir eleitores.
Essa aproximação da Globo com a prática jornalística tem poder para encantar ingênuos, mas, antes que alguém da campanha de Haddad chame os filhos de Roberto Marinho de companheiros, é bom verificar o que aconteceu com Buaiz depois que ele foi eleito.
No final do mandato, sem dinheiro e com a PM aquartelada, se tornou um zumbi político, o que abriu caminho para a eleição de um candidato do PSDB no Estado.
Na preservação de traços mínimos de civilização no Brasil, certamente há interesses convergentes entre a Globo e a campanha de Haddad.
Mas, se tiver algum tipo de cobertura isenta (para não dizer simpática), Haddad não será devedor de nada à Globo, que, de resto, age fundamentalmente de acordo com seus interesses.
Num momento em que já se diz que Haddad poderia fazer uma carta para acalmar o mercado ou teria outras atitudes de aproximação com a elite do dinheiro, da qual a Globo é porta-voz, é bom que sua campanha preste atenção nos fatos da história, e aprenda com eles.
José Dirceu, no início do primeiro governo Lula, teria dito que não precisava fortalecer veículos independentes ou a TV pública porque contava com o apoio da Globo — quem conta esta história é Roberto Requião.
Deu no que deu.
Em São Paulo, com Nunzio Briguglio no comando da comunicação da prefeitura, jornalistas e representantes da Globo eram frequentadores assíduos do gabinete de Haddad.
Deu no que deu: Haddad perdeu no primeiro turno, no embate com Doria.
A Globo se comporta como partido político e deve ser tratada como partido político. Episodicamente, pode estar na mesma trincheira. Mas será sempre episodicamente, como um partido político.
Na época, um político da linha de Jair Bolsonaro, chamado Cabo Camata, liderava as pesquisas de intenção de voto no segundo turno das eleições no Espírito Santo, na disputa com Vítor Buaiz, candidato do PT.
Cabo da PM, Dejair Camata conquistou, primeiramente, o eleitorado mais pobre, com o discurso de que, eleito, acabaria com a bandidagem.
Apresentava-se também como uma novidade, um outsider, um candidato em condições de acabar com os privilégios da elite política, na qual incluía Buaiz, médico de carreira.
Era o mesmo discurso usado hoje por Bolsonaro, e Cabo Camata, depois de derrotar uma candidata do PSDB, foi para o segundo turno como favorito para a eleição.
Foi quando começou um movimento para demonstrar que a eleição do Cabo Camata significaria a vitória da barbárie contra a civilização, exatamente como agora.
Exatamente como agora, a elite capixaba do dinheiro apoiava Cabo Camata, com o objetivo de evitar a eleição de um candidato do PT.
O jornalista Rogério Sarlo de Medeiros, que chegou a ser prefeito da capital capixaba durante um curto período, coordenador da campanha de Buaiz, contou em uma estudo acadêmico como conseguiu convencer até Roberto Marinho a apoiar o candidato do PT ao governo do Espírito Santo:
“Quando a elite do Espírito Santo viu que o candidato capaz de derrotar o candidato do PT era Cabo Camata, ela embarcou”, disse ele, segundo registra a tese de dissertação de Uber José de Oliveira, a respeito do desempenho eleitoral do PT no Espírito Santo, entre 1982 e 2002.
Rogério tinha sido correspondente do Jornal do Brasil no Estado durante 24 anos e era amigo de Alberico de Souza Cruz, diretor de jornalismo da TV Globo.
“Falei com o Alberico e levei o Vitor Buaiz. O Alberico armou, e eu fui parar no gabinete do Roberto Marinho, e o Alberico tinha preparado o clima e o Roberto Marinho era também muito atento a tudo que estava acontecendo”, detalhou.
Depois disso, o jornal O Globo e até o Jornal Nacional começaram a publicar reportagens sobre o risco da eleição de Camata, apresentado na propaganda do PT na televisão como um filhote de Hitler.
O apoio de O Globo, segundo ele, foi decisivo, porque a elite do dinheiro se sentiu segura a apoiar Vitor Buaiz depois que viu no jornal em que acreditava editoriais favoráveis a Buaiz.
Em 24 anos, muita coisa mudou tanto no PT quanto no Grupo Globo — que ficou menos habilidoso e menos inteligente nos seus movimentos editoriais —, mas o paralelo pode estar se repetindo, e isso já pode se verificar em alguns reportagens recentes nos veículos da empresa.
Chamou a atenção, por exemplo, a veiculação de uma extensa nota na Globonews sobre o fake news que Bolsonaro emplacou no Jornal Nacional, a respeito do chamado kit gay.
O kit gay nunca existiu, como escreveu Haddad num extenso artigo da revista Piauí, recuperado pelo DCM, mas veículos do grupo Globo nunca tinham tocado no tema.
Na nota, apresentada por Leilane Neubarth, fica claro que Bolsonaro e o filho, Eduardo, fizeram uma manipulação grosseira dos fatos para tentar fazer o público acreditar que uma escola municipal de Maceió, Alagoas, estava utilizando um livro sobre sexualidade infantil como material didático, seguindo orientação do Ministério da Educação, do qual Haddad foi titular.
É uma sucessão de mentiras, que tem efeito eleitoral explosivo, e o desmentido, quando veiculado pela Globo, tem um peso importante no esforço para desmontar a fraude.
A Globo também entrevistou o delegado da Polícia Federal Rodrigo Morais, que investiga a facada em Bolsonaro, em uma reportagem que desmonta a farsa de que o autor do crime, Adélio Bispo de Oliveira, teria agido a mando de alguém — os jornalistas alinhados à extrema direita insinuam que seria ligado à campanha de Haddad, hipótese absurda, mas com força para confundir eleitores.
Essa aproximação da Globo com a prática jornalística tem poder para encantar ingênuos, mas, antes que alguém da campanha de Haddad chame os filhos de Roberto Marinho de companheiros, é bom verificar o que aconteceu com Buaiz depois que ele foi eleito.
No final do mandato, sem dinheiro e com a PM aquartelada, se tornou um zumbi político, o que abriu caminho para a eleição de um candidato do PSDB no Estado.
Na preservação de traços mínimos de civilização no Brasil, certamente há interesses convergentes entre a Globo e a campanha de Haddad.
Mas, se tiver algum tipo de cobertura isenta (para não dizer simpática), Haddad não será devedor de nada à Globo, que, de resto, age fundamentalmente de acordo com seus interesses.
Num momento em que já se diz que Haddad poderia fazer uma carta para acalmar o mercado ou teria outras atitudes de aproximação com a elite do dinheiro, da qual a Globo é porta-voz, é bom que sua campanha preste atenção nos fatos da história, e aprenda com eles.
José Dirceu, no início do primeiro governo Lula, teria dito que não precisava fortalecer veículos independentes ou a TV pública porque contava com o apoio da Globo — quem conta esta história é Roberto Requião.
Deu no que deu.
Em São Paulo, com Nunzio Briguglio no comando da comunicação da prefeitura, jornalistas e representantes da Globo eram frequentadores assíduos do gabinete de Haddad.
Deu no que deu: Haddad perdeu no primeiro turno, no embate com Doria.
A Globo se comporta como partido político e deve ser tratada como partido político. Episodicamente, pode estar na mesma trincheira. Mas será sempre episodicamente, como um partido político.
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