Charge: Schröder |
Bolsonaro passou parte do Carnaval na embaixada da Hungria. Duas noites, mais precisamente.
Normal, não é?
Muita gente faz isso. Em vez de ir para o Nordeste ou para o Rio, o sujeito se refugia em alguma embaixada, com medo do barulho e da confusão.
Além disso, em Budapeste, a bela capital da Hungria, há também carnaval. Chama-se “farsang”, e é mais tranquilo que o brasileiro.
Foi isso. Bolsonaro trocou o carnaval pela “farsang”. Quem há de culpá-lo?
Há outras hipóteses.
Pode ter se tratado de mero convite de cortesia, feito oportunamente após Bolsonaro ter seu passaporte apreendido pela polícia. Uma forma de consolá-lo. Ele buscou aconchego na cálida Hungria. Chorou suas dores ao som melancólico de Béla Bartók.
Também é possível que o ex-presidente tenha sido convidado para comer uma “goulash,” a tradicional sopa fria húngara, na embaixada. Uma maneira para ele esfriar a cabeça quente e confortar o estômago fraco.
Embora não se tenha notícias, na diplomacia mundial e na culinária internacional, de visita e jantar tão alongados, não se pode menosprezar a hospitalidade húngara.
Arrumaram para ele até cama e travesseiro. Teria sido a suposta “reunião protocolar” uma “festa do pijama”? Bolsonaro parece um tanto crescidinho para isso, mas até que seria bilateralmente divertido.
As más línguas, porém, tecem conjecturas outras.
Bolsonaro, em pânico, teria intentado buscar refúgio em território sob soberania jurídica húngara, e inviolável, conforme determina a Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas, na eventualidade da decretação de sua prisão.
Especula-se também que tenham sido discutidos, na ocasião, entre um e outro samba de Noel Rosa, muito apreciado na Hungria, mecanismos ulteriores para sua fuga da justiça brasileira.
Talvez um doce asilo na aprazível Budapeste. Lá, poderia, quem sabe, andar de jet-ski no Danúbio. Quiçá vender joias no mercado húngaro. Suas atividades preferidas, já que governar nunca foi seu forte.
Ironias à parte, trata-se de algo extremamente grave. O Sr. Jair Messias Bolsonaro, alvo de inquéritos da justiça do Brasil, não é um perseguido político. É um investigado da justiça. A opinião pública brasileira está perplexa com o caso.
O primeiro-ministro Viktor Orbán, que foi obviamente quem determinou a “recepção” a Bolsonaro, e seu embaixador em Brasília, Dr. Miklós Halmai, não podem obstruir a Justiça do Brasil e tentar dar refúgio a um cidadão acusado de tentar dar um golpe de Estado e que está submetido a devidos processos legais, com amplo direito à defesa.
Salientamos, a este respeito, que a Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas estabelece, em seu Artigo 41, a respeito do pessoal diplomático acreditado no país, o seguinte:
1. Sem prejuízo de seus privilégios e imunidades, tôdas as pessoas que gozem dêsses privilégios e imunidades deverão respeitar as leis e os regulamentos do Estado acreditado. Têm também o dever de não se imiscuir nos assuntos internos do referido Estado.
Bolsonaro, com essa atitude covarde e irresponsável, causou danos consideráveis às relações bilaterais Brasil/Hungria.
O embaixador na Hungria em Brasília foi chamado para dar explicações. Ficou, contudo, em silêncio constrangedor. Não tinha como explicar a vergonha.
Como afirmou Lula, Bolsonaro é “covardão”. E fujão, aparentemente.
Lula, inocente, se submeteu, com dignidade, à Justiça de seu país.
Bolsonaro, com óbvia consciência da sua imensa culpa, demonstra que não está disposto a isso. Vai tentar fugir, se puder.
Adora uma “farsang”.
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