Por Paulo Moreira Leite, em seu blog:
Num país que acaba de aprovar a PEC do gastos públicos, que proíbe - por 20 anos - toda elevação de despesas acima da inflação do ano anterior, o colapso do sistema de segurança do Espírito Santo é uma amostra da tragédia anunciada que Michel Teme reserva aos 206 milhões de brasileiros.
O desmonte da Policia Militar, que expôs a população à crueldade dos criminosos do Estado, tem sua raiz no programa de austeridade do governo Paulo Hartung, uma espécie de Henrique Meirelles antes da hora.
Queridinho de plantão da TV Globo, que sempre assegurou um tratamento generoso aos ataques contra os serviços públicos, garantindo ao governador uma cobertura de grande estadista, Hartung marcou sua gestão por um corte de R$ 1,3 bilhão no orçamento. Mesmo assim, desmentindo as previsões mais elementares, conseguia ser apontado como exemplo de que é possível reduzir gastos sem sacrificar os pobres e necessitados. Era chamado a dar entrevistas explicando façanha tão incrível.
A fábula durou pouco - como sabem todos aqueles que reconhecem o caráter essencialmente bíblico do milagre da multiplicação dos peixes e dos pães.
Os salários do funcionalismo - única chance de atendimento para a maioria que não pode pagar por serviços privados - foram a míngua. Na Polícia Militar, são sete anos sem aumento real, quatro sem reajuste para cobrir a inflação, o que explica uma revolta que já dura uma semana. Alguma surpresa?
O mesmo horizonte se constrói no plano nacional, com objetivo e método. Sem falar num agravante: no plano federal, a austeridade virou cláusula constitucional, está acima da vontade dos governos. Mesmo que o povo escolha um presidente para fazer o país crescer, sempre será possível dizer que a Constituição não deixa.
Celebrada pelo jornalismo em busca permanente de notícias agradáveis para o governo, a queda da inflação é o resultado óbvio de uma situação perversa, que soma várias camadas negativas - a maior recessão da história, um desemprego cavalar e um arrocho salarial tão profundo que 47% dos trabalhadores sindicalizados, tradicionalmente melhor protegidos em seus vencimentos, não conseguiram acordos sequer para repor as perdas inflacionárias do último ano.
O empobrecimento já empurra para baixo milhões de famílias que antes conseguiam se equilibrar em patamares menos desconfortáveis da pirâmide de renda. O trabalho sem carteira voltou a crescer.
O desmanche do setor público, esvaziado às pressas, impede qualquer estímulo real ao crescimento. A corrida para quebrar a Petrobras priva a indústria do maior cliente para alavancar investimentos com escala para movimentar o PIB para cima. Assumindo uma gestão típica do setor privado, os bancos públicos são levados a concorrer no mercado, disputar bons negócios e bons clientes - sem oferecer financiamentos compatíveis com a necessidade de crescimento.
Guerra política de 2017, a reforma da previdência começa a despertar a reação previsível das grandes parcelas de trabalhadores, anunciando que o ambiente de relativa paz de cemitério social de hoje pode estar chegando ao fim.
Esta é a grande diferença entre o Espírito Santo e o Brasil. Existe uma chance maior de derrotar o governo num confronto que diz respeito a várias gerações de brasileiros, e envolve uma conquista que é a melhor garantia de bem-estar social que o país possui.
Num país que acaba de aprovar a PEC do gastos públicos, que proíbe - por 20 anos - toda elevação de despesas acima da inflação do ano anterior, o colapso do sistema de segurança do Espírito Santo é uma amostra da tragédia anunciada que Michel Teme reserva aos 206 milhões de brasileiros.
O desmonte da Policia Militar, que expôs a população à crueldade dos criminosos do Estado, tem sua raiz no programa de austeridade do governo Paulo Hartung, uma espécie de Henrique Meirelles antes da hora.
Queridinho de plantão da TV Globo, que sempre assegurou um tratamento generoso aos ataques contra os serviços públicos, garantindo ao governador uma cobertura de grande estadista, Hartung marcou sua gestão por um corte de R$ 1,3 bilhão no orçamento. Mesmo assim, desmentindo as previsões mais elementares, conseguia ser apontado como exemplo de que é possível reduzir gastos sem sacrificar os pobres e necessitados. Era chamado a dar entrevistas explicando façanha tão incrível.
A fábula durou pouco - como sabem todos aqueles que reconhecem o caráter essencialmente bíblico do milagre da multiplicação dos peixes e dos pães.
Os salários do funcionalismo - única chance de atendimento para a maioria que não pode pagar por serviços privados - foram a míngua. Na Polícia Militar, são sete anos sem aumento real, quatro sem reajuste para cobrir a inflação, o que explica uma revolta que já dura uma semana. Alguma surpresa?
O mesmo horizonte se constrói no plano nacional, com objetivo e método. Sem falar num agravante: no plano federal, a austeridade virou cláusula constitucional, está acima da vontade dos governos. Mesmo que o povo escolha um presidente para fazer o país crescer, sempre será possível dizer que a Constituição não deixa.
Celebrada pelo jornalismo em busca permanente de notícias agradáveis para o governo, a queda da inflação é o resultado óbvio de uma situação perversa, que soma várias camadas negativas - a maior recessão da história, um desemprego cavalar e um arrocho salarial tão profundo que 47% dos trabalhadores sindicalizados, tradicionalmente melhor protegidos em seus vencimentos, não conseguiram acordos sequer para repor as perdas inflacionárias do último ano.
O empobrecimento já empurra para baixo milhões de famílias que antes conseguiam se equilibrar em patamares menos desconfortáveis da pirâmide de renda. O trabalho sem carteira voltou a crescer.
O desmanche do setor público, esvaziado às pressas, impede qualquer estímulo real ao crescimento. A corrida para quebrar a Petrobras priva a indústria do maior cliente para alavancar investimentos com escala para movimentar o PIB para cima. Assumindo uma gestão típica do setor privado, os bancos públicos são levados a concorrer no mercado, disputar bons negócios e bons clientes - sem oferecer financiamentos compatíveis com a necessidade de crescimento.
Guerra política de 2017, a reforma da previdência começa a despertar a reação previsível das grandes parcelas de trabalhadores, anunciando que o ambiente de relativa paz de cemitério social de hoje pode estar chegando ao fim.
Esta é a grande diferença entre o Espírito Santo e o Brasil. Existe uma chance maior de derrotar o governo num confronto que diz respeito a várias gerações de brasileiros, e envolve uma conquista que é a melhor garantia de bem-estar social que o país possui.
0 comentários:
Postar um comentário