López Obrador. Arte: René Zubieta |
Há poucos dias das eleições gerais no México, que serão realizadas no dia 1 de julho, Andrés Manuel Lopez Obrador, do partido Morena (Movimento de Regeneração Nacional), desponta como favorito para ocupar a presidência, com mais de 20% de vantagem sobre o segundo colocado, Ricardo Anaya, do PAN (Partido da Ação Nacional), que representa a segunda força política do país, atrás apenas do PRI (Partido Revolucionário Institucional), do atual presidente Enrique Peña Nieto.
López Obrador perdeu duas eleições consecutivas, as presidenciais de 2006, para Felipe Calderón, e as de 2012, para Enrique Peña Nieto. Nos dois pleitos houve denúncias de fraude eleitoral. No entanto, em nenhuma das eleições anteriores as pesquisas de intenção de votos apontavam a diferença que há nesse momento entre o primeiro e o segundo colocado.
Para os analistas entrevistados pelo Brasil de Fato, a liderança nas pesquisas é o resultado da insatisfação popular com os partidos tradicionais, o PRI e o PAN, que governaram o país nos últimos 89 anos. “A liderança de López Obrador frente aos demais candidatos vem da indignação dos mexicanos com um modelo de governo que fracassou”, afirma o secretário de relações exteriores do Sindicato dos Eletricistas do México, José Humberto Montes Oca Luna.
O baixo valor do salário-mínimo, que atualmente está em torno de 135 dólares (cerca de R$ 513), a concentração de riqueza nas mãos de poucos empresários e o aumento da pobreza extrema são algumas das críticas feitas aos governos anteriores, de acordo com a avaliação do analista político Katu Arkonada.
Segundo dados da Oxfam, organização internacional de direitos humanos, atualmente os níveis de pobreza do México são muito parecidos aos apresentados na década de 90. “Nos últimos 20 anos, desde que o México começou a participar dos tratados de livre comércio com os EUA, a pobreza no país oscilou muito pouco. Subiu e baixou, más o nível de pobreza que hoje se vê no México é muito parecida a aquela apresentada entre o início e a metade dos anos 90”, informou o diretor executivo da Oxfam México, Ricardo Fuentes-Nieva, em entrevista à imprensa.
É nesse contexto que Obrador diferencia-se dos demais presidenciáveis. Segundo o sindicalista Oca Luna, o candidato do partido Morena é o único oferece uma proposta país diferente e uma alternativa de mudança real. Apesar de Obrador não ser considerado um candidato da esquerda tradicional, é um político que surge das bases do chamado “nacionalismo revolucionário mexicano”, representado pelo ex-presidente Lázaro Cardenas, que governou o México entre 1934 e 1940, e promoveu reformas importantes no estado, a exemplo do que fez Getúlio Vargas no Brasil e o general Juan Domingos Perón na Argentina.
“Obrador não vem da esquerda tradicional, nunca militou em partido de esquerda como o Partido Comunista. No entanto, sua principal identidade política é o nacionalismo revolucionário. Ele critica o modelo neoliberal. O saldo de trinta anos de governos neoliberais no México é desastroso. López Obrador está consciente disso que está propondo uma saída alternativa, sem ir a fundo. Dentro de uma margem de possibilidade, ele propõe fazer ajustes, reformas econômicas e políticas que permitam redistribuir a riqueza”, afirma Oca Luna.
O discurso nacionalista de Obrador está relacionado sobretudo ao setor econômico. Ele afirma que as riquezas naturais do país, como o petróleo e a água, continuarão sob o controle do Estado mexicano. O presidente Peña Nieto propôs em 2014 uma reforma energética, que privatizou parte do setor elétrico. Também permitiu maior abertura no setor petroleiro para entrada de empresas estrangeira no setor de exploração e produção, que hoje é controlado pela empresa estatal Pemex. “Vou frear as privatizações e recuperar a PEMEX para os mexicanos”, disse Obrador.
Outro aspecto nacionalista de sua campanha é a proposta relacionada a produção de alimentos do país. No dia 10 de abril, o candidato se reuniu com 5 mil camponeses no estado de Zacatecas, na região central do país, onde assinou um documento onde reafirma seu compromisso de implementar o Plano de Ayala do Século 21, que propõe uma série de políticas de produção agrícola direcionada aos pequenos produtores rurais e comunidades indígenas.“Vamos devolver ao México a soberania alimentar que perdeu com os governos neoliberais”, garantiu Obrador.
Críticas à Obrador
Para tentar ganhar essas eleições, Andrés Manuel López Obrador chegou com um discurso mais moderado, fez acordos com o setor financeiro e empresarial mexicano e até uma aliança com o conservador Partido Encontro Social (PES), legenda evangélica de extrema-direita. De acordo com o Morena, alianças como essa com o PES foram necessárias para garantir a presença em certos setores que Obrador não tinha espaço. Além disso, por ser um partido pequeno e com apenas três anos de registro eleitoral, o Morena não possui atuação massiva em todo o país. A aliança com outros partidos também é vista como importante para garantir presença de testemunhas eleitorais em todas as mesas de votação e assim diminuir as possibilidades de fraude.
"A diferença entre essa eleição e as anteriores é que agora os acordos com setor do capitalismo mexicano, com os políticos ligados ao PRI e à igreja evangélica, podem resultar na vitória de Obrador. Ainda assim, isso não elimina por completo a forma suja de operar a ‘tradicional fraude’. Mas ganhando ou perdendo o cenário para o movimentos sociais é difícil, por estarem fragmentados e debilitados”, analisa o ativista político e filósofo, doutor da Universidade Autônoma do México, Rafael Magdiel Sanchez Quiroz.
Além disso, as organizações de esquerda e movimentos sociais criticam a composição de seu gabinete, caso seja eleito. Na página de campanha de Obrador foram publicados os principais nomes que devem assumir os ministérios em seu governo. O caso mais emblemático é o do futuro ministro de Agricultura, o engenheiro agrônomo Victor Vilalobos, defensor dos transgênicos e ex-diretor-geral do Instituto Interamericano de Cooperação para la Agricultura (IICA), que faz parte da Organização dos Estados Americanos (OEA).
Apesar das críticas, o analista político Katu Arkonada afirma que Obrador é a única opção da esquerda nesse momento. “Entre os candidatos com reais chances de chegar ao poder, Andrés Manuel López Obrador é o único progressista e que pode oferecer uma alternativa aos setores sociais e de esquerda. López Obrador é a esquerda possível hoje no México."
Nessa mesma linha, Oca Luna diz um possível governo Obrador poderia também ter como efeito positivo frear a perseguição à esquerda. “Só o fato de ter um governo que não nos mate ou nos persiga já será um grande avanço e permitirá à esquerda se reorganizar, preencher esse vazio político que deixou a falta de uma alternativa que realmente possa nos representar enquanto esquerda”.
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