Por Luis Nassif, no Jornal GGN:
O Brasil sempre cultivou uma cultura livresca – com exceção dos tempos escabrosos atuais. Bastava o sujeito ostentar diploma em universidade reputada, para ser pau para toda obra, até para funções que nada tinham a ver com sua especialidade.
Foi o que aconteceu com os economistas pós-ditadura.
Aprendi a apreciar os programas de gestão e qualidade vendo a completa disfuncionalidade de economistas no exercício do poder. Começou com o Plano Cruzado. Os economistas que assumiram a Fazenda – respeitáveis como intelectuais – tinham ojeriza aos funcionários de carreira, que acusavam de terem sido “cúmplices” da ditadura.
Sem eles, a máquina da Fazenda emperrou. Nada andava, porque os economistas não tinham a menor ideia sobre processos básicos de gestão, quanto mais sobre os procedimentos burocráticos da administração pública. A sorte é que mantiveram na Fazenda um funcionário exemplar, João Batista de Abreu, que garantiu um mínimo de funcionamento para a pasta.
Mesmo grandes gestores privados naufragam quando se trata da administração pública. Foi o caso de Alcides Tápias, alto executivo do Bradesco. No banco, uma ordem de cima chegava na base rapidamente. Na administração pública o jogo é outro. E são muitas as razões.
Algumas, na própria máquina, que é um cipoal burocrática, com pouca clareza sobre os processos. A falta de um carimbo para tudo. E quem tem o carimbo são os burocratas. Quem chega de fora não tem a menor ideia sobre os processos de decisão e procedimentos burocráticos internos.
Outro problema são as implicações políticas. Gestor público precisa ter absoluto conhecimento sobre os sistemas de decisão, o jogo de interesses políticos, os reflexos na opinião pública, no Congresso.
Pérsio Arida, o grande formulador dos conceitos básicos do Plano Real, foi presidente do BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social) e do Banco Central. Não conseguia sequer dar conta da agenda diária, por absoluta inadequação com funções burocráticas.
Por tudo isso, o superministério nas mãos de Paulo Guedes tem tudo para dar errado. Guedes é um formulador, assim como Arida. Mas sem a humildade, a paciência e a clareza de ideias de Arida.
É ruim como gestor até no setor privado. Dia desses, o Valor Econômico trouxe uma bela reportagem com ex-sócios de Guedes, falando sobre o seu comportamento profissional. Elogiavam sua visão de cenário, sua inteligência. Não embarcou no Cruzado, acreditou no Real, previu a explosão do câmbio em 1999. Mas todos – repito, todos! – mencionaram sua incapacidade absoluta como gestor e sua dificuldade de relacionamento e de tomar decisões. Como todo não-gestor, tem uma insegurança atávica em tomar decisões – inversamente proporcional à sua capacidade de dar declarações estapafúrdias. A maior qualidade que Bolsonaro viu nele – a rude franqueza – é a pior característica de um gestor.
Como gestor público, nem se fale! Não tem o menor conhecimento sobre o funcionamento da máquina, conforme se conferiu em sua atitude de confrontar o Congresso, sem se dar conta de que o orçamento de 2019 é votado agora. E menos ainda sobre as implicações políticas de cada medida.
Mesmo assim, chegou esfomeado, contando com a desinformação de Bolsonaro para ocupar todos os terrenos, julgando que o superpoder de um Ministro depende da quantidade de ministérios que comanda.
Luiz Carlos Mendonça de Barros, um dos economistas do Real, descrevia bem esses movimentos dos neófitos em administração pública. Assumem julgando que seus antecessores falhavam por falta de vontade política. Saem fazendo bobagem por todos os lados. Quando ganham sabedoria, não há mais tempo de empregar os ensinamentos: estão demitidos.
Delfim Neto controlava a Fazenda, o Banco Central, os bancos públicos, pelas ideias claras e por uma inédita capacidade de formulação e de gestão. Não precisava de um superministério debaixo dele. O guru de Guedes – o grande Roberto Campos – aprendeu as artimanhas da burocracia no Itamaraty e tinha ao seu lado um grande gestor, Octávio Gouvêa de Bulhões. E um país muito mais simples.
De outro lado, João Santana, conhecido como João-Bafo-de-Onça, ocupou um superministério do governo Collor sem ter a menor noção sobre como administrar um café.
Guedes quer trazer para si até o CADE (Conselho Administrativo de Direito Econômico) que, em qualquer país moderno, é subordinado ao Ministério da Justiça, não à Fazenda. Sua função é garantir os direitos dos consumidores preservando as condições de competitividade na economia, não ser instrumento de poder do Ministro da Fazenda. Nos anos 90, a escola de Chicago comprometeu esses princípios, defendendo a ideia de que quanto maior a empresa, maior o ganho de escala e maior os benefícios para a inovação os consumidores. Os gigantes da Internet mataram a concorrência e a capacidade de inovação da rede. Mas Guedes quer repetir a fórmula em um país que sequer tem um Google para se preocupar.
O Brasil sempre cultivou uma cultura livresca – com exceção dos tempos escabrosos atuais. Bastava o sujeito ostentar diploma em universidade reputada, para ser pau para toda obra, até para funções que nada tinham a ver com sua especialidade.
Foi o que aconteceu com os economistas pós-ditadura.
Aprendi a apreciar os programas de gestão e qualidade vendo a completa disfuncionalidade de economistas no exercício do poder. Começou com o Plano Cruzado. Os economistas que assumiram a Fazenda – respeitáveis como intelectuais – tinham ojeriza aos funcionários de carreira, que acusavam de terem sido “cúmplices” da ditadura.
Sem eles, a máquina da Fazenda emperrou. Nada andava, porque os economistas não tinham a menor ideia sobre processos básicos de gestão, quanto mais sobre os procedimentos burocráticos da administração pública. A sorte é que mantiveram na Fazenda um funcionário exemplar, João Batista de Abreu, que garantiu um mínimo de funcionamento para a pasta.
Mesmo grandes gestores privados naufragam quando se trata da administração pública. Foi o caso de Alcides Tápias, alto executivo do Bradesco. No banco, uma ordem de cima chegava na base rapidamente. Na administração pública o jogo é outro. E são muitas as razões.
Algumas, na própria máquina, que é um cipoal burocrática, com pouca clareza sobre os processos. A falta de um carimbo para tudo. E quem tem o carimbo são os burocratas. Quem chega de fora não tem a menor ideia sobre os processos de decisão e procedimentos burocráticos internos.
Outro problema são as implicações políticas. Gestor público precisa ter absoluto conhecimento sobre os sistemas de decisão, o jogo de interesses políticos, os reflexos na opinião pública, no Congresso.
Pérsio Arida, o grande formulador dos conceitos básicos do Plano Real, foi presidente do BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social) e do Banco Central. Não conseguia sequer dar conta da agenda diária, por absoluta inadequação com funções burocráticas.
Por tudo isso, o superministério nas mãos de Paulo Guedes tem tudo para dar errado. Guedes é um formulador, assim como Arida. Mas sem a humildade, a paciência e a clareza de ideias de Arida.
É ruim como gestor até no setor privado. Dia desses, o Valor Econômico trouxe uma bela reportagem com ex-sócios de Guedes, falando sobre o seu comportamento profissional. Elogiavam sua visão de cenário, sua inteligência. Não embarcou no Cruzado, acreditou no Real, previu a explosão do câmbio em 1999. Mas todos – repito, todos! – mencionaram sua incapacidade absoluta como gestor e sua dificuldade de relacionamento e de tomar decisões. Como todo não-gestor, tem uma insegurança atávica em tomar decisões – inversamente proporcional à sua capacidade de dar declarações estapafúrdias. A maior qualidade que Bolsonaro viu nele – a rude franqueza – é a pior característica de um gestor.
Como gestor público, nem se fale! Não tem o menor conhecimento sobre o funcionamento da máquina, conforme se conferiu em sua atitude de confrontar o Congresso, sem se dar conta de que o orçamento de 2019 é votado agora. E menos ainda sobre as implicações políticas de cada medida.
Mesmo assim, chegou esfomeado, contando com a desinformação de Bolsonaro para ocupar todos os terrenos, julgando que o superpoder de um Ministro depende da quantidade de ministérios que comanda.
Luiz Carlos Mendonça de Barros, um dos economistas do Real, descrevia bem esses movimentos dos neófitos em administração pública. Assumem julgando que seus antecessores falhavam por falta de vontade política. Saem fazendo bobagem por todos os lados. Quando ganham sabedoria, não há mais tempo de empregar os ensinamentos: estão demitidos.
Delfim Neto controlava a Fazenda, o Banco Central, os bancos públicos, pelas ideias claras e por uma inédita capacidade de formulação e de gestão. Não precisava de um superministério debaixo dele. O guru de Guedes – o grande Roberto Campos – aprendeu as artimanhas da burocracia no Itamaraty e tinha ao seu lado um grande gestor, Octávio Gouvêa de Bulhões. E um país muito mais simples.
De outro lado, João Santana, conhecido como João-Bafo-de-Onça, ocupou um superministério do governo Collor sem ter a menor noção sobre como administrar um café.
Guedes quer trazer para si até o CADE (Conselho Administrativo de Direito Econômico) que, em qualquer país moderno, é subordinado ao Ministério da Justiça, não à Fazenda. Sua função é garantir os direitos dos consumidores preservando as condições de competitividade na economia, não ser instrumento de poder do Ministro da Fazenda. Nos anos 90, a escola de Chicago comprometeu esses princípios, defendendo a ideia de que quanto maior a empresa, maior o ganho de escala e maior os benefícios para a inovação os consumidores. Os gigantes da Internet mataram a concorrência e a capacidade de inovação da rede. Mas Guedes quer repetir a fórmula em um país que sequer tem um Google para se preocupar.
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