Por Marcelo Zero
O Brasil não é uma ilha. O processo acelerado de “fascistização” do país e a profunda crise da democracia brasileira não podem ser abstraídos de um pano de fundo internacional que é a grande crise do capitalismo, em sua atual fase de acumulação.
Com efeito, a configuração hodierna do capitalismo, sua crise e a prevalência de políticas econômicas ortodoxas e neoliberais vêm configurando um quadro social muito negativo, que repercute fortemente nas democracias e nos sistemas de representação política.
Muitos autores, como Piketty, Cristian Laval e Chomsky, só para citar alguns mais conhecidos, destacam essa relação estreita entre o capitalismo financeirizado e desregulado, o aumento das desigualdades, a erosão dos Estado de Bem-Estar e a crise política que atinge em cheio as democracias e a legitimidade dos sistemas de representação. Obviamente, são esses grandes fatores que explicam também a eclosão de forças de direita e de extrema direita em todo o mundo.
Nesse sentido mais amplo, o que ocorre no Brasil guarda algumas semelhanças com o que ocorre também na Europa e nos EUA.
Mas há algumas diferenças marcantes que merecem ser destacadas.
A primeira e principal delas tange à atual fragilidade das instituições democráticas no Brasil. Com efeito, houve, nos últimos anos no Brasil, uma espécie de colapso democrático. Ocorreu um óbvio golpe de Estado jurídico-midiático contra a presidente Dilma Rousseff, o qual só foi possível devido à partidarização de muitos órgãos e instituições e à uma diuturna companha de ódio dirigida contra o PT e todas as forças mais progressistas do país.
O Brasil não é uma ilha. O processo acelerado de “fascistização” do país e a profunda crise da democracia brasileira não podem ser abstraídos de um pano de fundo internacional que é a grande crise do capitalismo, em sua atual fase de acumulação.
Com efeito, a configuração hodierna do capitalismo, sua crise e a prevalência de políticas econômicas ortodoxas e neoliberais vêm configurando um quadro social muito negativo, que repercute fortemente nas democracias e nos sistemas de representação política.
Muitos autores, como Piketty, Cristian Laval e Chomsky, só para citar alguns mais conhecidos, destacam essa relação estreita entre o capitalismo financeirizado e desregulado, o aumento das desigualdades, a erosão dos Estado de Bem-Estar e a crise política que atinge em cheio as democracias e a legitimidade dos sistemas de representação. Obviamente, são esses grandes fatores que explicam também a eclosão de forças de direita e de extrema direita em todo o mundo.
Nesse sentido mais amplo, o que ocorre no Brasil guarda algumas semelhanças com o que ocorre também na Europa e nos EUA.
Mas há algumas diferenças marcantes que merecem ser destacadas.
A primeira e principal delas tange à atual fragilidade das instituições democráticas no Brasil. Com efeito, houve, nos últimos anos no Brasil, uma espécie de colapso democrático. Ocorreu um óbvio golpe de Estado jurídico-midiático contra a presidente Dilma Rousseff, o qual só foi possível devido à partidarização de muitos órgãos e instituições e à uma diuturna companha de ódio dirigida contra o PT e todas as forças mais progressistas do país.
Esse quadro de colapso democrático explica também o surgimento de uma candidatura como a de Bolsonaro, a qual é aberta e desavergonhadamente fascista. Na Europa e nos EUA, as instituições democráticas não colapsaram e impõem limites civilizatórios à direita mais extremada. Nessas partes do globo, uma candidatura como a de Bolsonaro, que defende abertamente ditadura e tortura, muito dificilmente seria vitoriosa.
Uma segunda diferença, ligada à primeira, tange à atual tutela do poder militar sobre o poder civil no Brasil. Tal tutela começou a se configurar no governo golpista de Temer e, agora, se acentua muito com a vitória de Bolsonaro, um capitão do exército que sempre defendeu o “legado” autoritário e violento da ditadura militar brasileira. As recentes declarações do general Villas-Boas mostram que as forças armadas, tal como o poder judiciário e as instituições de controle, estão politizadas e partidarizadas.
Uma terceira diferença diz respeito ao inimigo identificado dessas forças de direita. Na Europa e nos EUA, o inimigo é, em essência, um inimigo externo, isto é, os imigrantes e suas culturas diferentes, as instituições supranacionais da União Europeia, ou ainda países estrangeiros que “roubam empregos” ou que “promovem terrorismo”. No Brasil, contudo, o inimigo a ser combatido é interno, tal como acontecia nos tempos do fascismo e nazismo clássicos. Os inimigos da nação são o PT e todas as forças progressistas, e ainda os gays, os negros, os índios, as mulheres feministas, etc. Isso tem implicações seríssimas sobre a democracia e o desfrute dos direitos humanos.
Uma quarta e importante diferença se relaciona ao fato de que as direitas e extremas direitas europeias e norte-americanas são, hoje em dia, majoritariamente nacionalistas e protecionistas, ao passo que o neofascismo brasileiro é antinacionalista e entreguista, pelo menos no campo econômico.
Por último, há também uma quinta diferença expressiva. Ela tange às manifestações primitivas e desavergonhadas, à ignorância, ao despreparo e à incompetência de seus quadros.
De fato, fosse Trump que tivesse dito, em algum momento de sua vida, que a democracia não serve para nada e que a seria melhor uma ditadura, como Bolsonaro declarou em alto e bom som, o atual presidente dos EUA não teria sido eleito sequer para síndico de prédio da Ku Klux Kan. Marine Le Pen, que suavizou bastante as ideias de seu pai, caso tivesse afirmado que negros são malandros e que índios são indolentes, como o fez Mourão, o Ariano, muito provavelmente não teria crescido nessas últimas eleições.
Na maior parte da Europa, um político abertamente fascistoide, antidemocrático, racista, homofóbico e misógino, como Bolsonaro, não só não chegaria ao poder, como estaria preso. Mesmo o húngaro Viktor Orban e seu partido, o Fidesz, enfrentam limites e pressões impostos pela União Europeia para conseguir realizar a sua agenda da “democracia iliberal”.
Já Bolsonaro, que foi insuflado pela grande mídia, pela Lava Jato, por boa parte do poder judiciário, pelos militares, pelas forças conservadoras tradicionais, etc. não parece enfrentar quaisquer obstáculos institucionais de monta para impor sua agenda profundamente retrógrada e antidemocrática. Daí a sua falta de vergonha e as declarações de mais pura barbárie dele, de seus filhos, de seu vice, etc.
Mas as declarações abertamente fascistas são apenas o começo da tragédia política brasileira. No início, o grupo do capitão chocava apenas pelas sistemáticas barbaridades antidemocráticas, misóginas, racistas e homofóbicas que proferia com orgulho néscio.
Não mais. Já eleita, a incrível armada Bolsoleone agora choca pelo inacreditável festival de trapalhadas e decisões beócias, o qual denota total despreparo para gerir o país.
Até mesmo o “intelectual “ do grupo, o Doutor Posto Ipiranga, demonstra inabalável desconhecimento sobre gestão governamental, pois ignora que o orçamento aplicável a um ano tem de ser aprovado no exercício anterior.
Em política externa, as declarações e decisões do grupo do capitão foram absolutamente desastrosas. Com efeito, desde as declarações contra o Mercosul, bloco estratégico para o Brasil, até a decisão ignara de anunciar a transferência da embaixada brasileira em Israel para Jerusalém, contrariando toda a tradição diplomática brasileira, passando pelas doidivanas ameaças à China, nosso principal parceiro comercial, a armada Bolsoleone escancarou sua ignorância absoluta sobre os interesses geopolíticos do país em todo o seu patético esplendor. Não satisfeito, agora o futuro ministro da Casa Civil da armada resolveu assestar suas baterias contra a pacífica Noruega, o país que mais financia projetos para a preservação da Amazônia.
No plano interno, decisões anunciadas com pompa e circunstância, como a anexação do Meio Ambiente à Agricultura e a extinção do Ministério do Trabalho, são, após a repercussão negativa, relativizadas ou desditas.
À ignorância crassa soma-se uma desorganização invencível. Os membros da armada Bolsoleone se esmeram em desmentir uns aos outros. Ninguém sabe quem manda.
E ninguém sabe quem poderá mandar, pois a armada Bolsoleone é um somatório confuso de quadros sem preparo e sem nenhuma experiência de gestão governamental, salvo raríssimas exceções. Parece que o decisivo critério de seleção, além da inexperiência administrativa e da ignorância política, é a fama amealhada em redes sociais. Sob tal prisma, talvez tivesse sido melhor compor um ministério com adolescentes youtubers.
Há alguns que têm dúvidas sobre se ministério até agora anunciado é de fato um ministério ou um bestiário medieval. A sondagem para que uma determinada atriz assumisse a pasta do Meio Ambiente é eloquente, a esse respeito.
Hitler teve Hjalmar Schacht, um gênio que, com suas inventivas políticas anticíclicas, acabou com o desemprego e tirou a Alemanha do buraco. Já Bolsonaro tem Paulo Guedes, um Chicago boy especializado, como todo Chicago boy, em jogar países em fossas procíclicas profundas. Isso diz tudo sobre o descalabro administrativo que se avizinha.
Lá fora, todo esse espetáculo de ópera-bufa provoca perplexidade, medo e risos de escárnio. O Brasil virou uma piada planetária. Nunca se viu um grupo político tão tosco, retrógrado e despreparado. A armada Bolsoleone parece uma caricatura da direita mais reacionária e incompetente.
Há, porém, um detalhe mórbido nesse libretto giocoso. Bolsoleone da Néscia chegou ao poder.
Apertem os cintos! O voo, se houver, será turbulento.
Uma segunda diferença, ligada à primeira, tange à atual tutela do poder militar sobre o poder civil no Brasil. Tal tutela começou a se configurar no governo golpista de Temer e, agora, se acentua muito com a vitória de Bolsonaro, um capitão do exército que sempre defendeu o “legado” autoritário e violento da ditadura militar brasileira. As recentes declarações do general Villas-Boas mostram que as forças armadas, tal como o poder judiciário e as instituições de controle, estão politizadas e partidarizadas.
Uma terceira diferença diz respeito ao inimigo identificado dessas forças de direita. Na Europa e nos EUA, o inimigo é, em essência, um inimigo externo, isto é, os imigrantes e suas culturas diferentes, as instituições supranacionais da União Europeia, ou ainda países estrangeiros que “roubam empregos” ou que “promovem terrorismo”. No Brasil, contudo, o inimigo a ser combatido é interno, tal como acontecia nos tempos do fascismo e nazismo clássicos. Os inimigos da nação são o PT e todas as forças progressistas, e ainda os gays, os negros, os índios, as mulheres feministas, etc. Isso tem implicações seríssimas sobre a democracia e o desfrute dos direitos humanos.
Uma quarta e importante diferença se relaciona ao fato de que as direitas e extremas direitas europeias e norte-americanas são, hoje em dia, majoritariamente nacionalistas e protecionistas, ao passo que o neofascismo brasileiro é antinacionalista e entreguista, pelo menos no campo econômico.
Por último, há também uma quinta diferença expressiva. Ela tange às manifestações primitivas e desavergonhadas, à ignorância, ao despreparo e à incompetência de seus quadros.
De fato, fosse Trump que tivesse dito, em algum momento de sua vida, que a democracia não serve para nada e que a seria melhor uma ditadura, como Bolsonaro declarou em alto e bom som, o atual presidente dos EUA não teria sido eleito sequer para síndico de prédio da Ku Klux Kan. Marine Le Pen, que suavizou bastante as ideias de seu pai, caso tivesse afirmado que negros são malandros e que índios são indolentes, como o fez Mourão, o Ariano, muito provavelmente não teria crescido nessas últimas eleições.
Na maior parte da Europa, um político abertamente fascistoide, antidemocrático, racista, homofóbico e misógino, como Bolsonaro, não só não chegaria ao poder, como estaria preso. Mesmo o húngaro Viktor Orban e seu partido, o Fidesz, enfrentam limites e pressões impostos pela União Europeia para conseguir realizar a sua agenda da “democracia iliberal”.
Já Bolsonaro, que foi insuflado pela grande mídia, pela Lava Jato, por boa parte do poder judiciário, pelos militares, pelas forças conservadoras tradicionais, etc. não parece enfrentar quaisquer obstáculos institucionais de monta para impor sua agenda profundamente retrógrada e antidemocrática. Daí a sua falta de vergonha e as declarações de mais pura barbárie dele, de seus filhos, de seu vice, etc.
Mas as declarações abertamente fascistas são apenas o começo da tragédia política brasileira. No início, o grupo do capitão chocava apenas pelas sistemáticas barbaridades antidemocráticas, misóginas, racistas e homofóbicas que proferia com orgulho néscio.
Não mais. Já eleita, a incrível armada Bolsoleone agora choca pelo inacreditável festival de trapalhadas e decisões beócias, o qual denota total despreparo para gerir o país.
Até mesmo o “intelectual “ do grupo, o Doutor Posto Ipiranga, demonstra inabalável desconhecimento sobre gestão governamental, pois ignora que o orçamento aplicável a um ano tem de ser aprovado no exercício anterior.
Em política externa, as declarações e decisões do grupo do capitão foram absolutamente desastrosas. Com efeito, desde as declarações contra o Mercosul, bloco estratégico para o Brasil, até a decisão ignara de anunciar a transferência da embaixada brasileira em Israel para Jerusalém, contrariando toda a tradição diplomática brasileira, passando pelas doidivanas ameaças à China, nosso principal parceiro comercial, a armada Bolsoleone escancarou sua ignorância absoluta sobre os interesses geopolíticos do país em todo o seu patético esplendor. Não satisfeito, agora o futuro ministro da Casa Civil da armada resolveu assestar suas baterias contra a pacífica Noruega, o país que mais financia projetos para a preservação da Amazônia.
No plano interno, decisões anunciadas com pompa e circunstância, como a anexação do Meio Ambiente à Agricultura e a extinção do Ministério do Trabalho, são, após a repercussão negativa, relativizadas ou desditas.
À ignorância crassa soma-se uma desorganização invencível. Os membros da armada Bolsoleone se esmeram em desmentir uns aos outros. Ninguém sabe quem manda.
E ninguém sabe quem poderá mandar, pois a armada Bolsoleone é um somatório confuso de quadros sem preparo e sem nenhuma experiência de gestão governamental, salvo raríssimas exceções. Parece que o decisivo critério de seleção, além da inexperiência administrativa e da ignorância política, é a fama amealhada em redes sociais. Sob tal prisma, talvez tivesse sido melhor compor um ministério com adolescentes youtubers.
Há alguns que têm dúvidas sobre se ministério até agora anunciado é de fato um ministério ou um bestiário medieval. A sondagem para que uma determinada atriz assumisse a pasta do Meio Ambiente é eloquente, a esse respeito.
Hitler teve Hjalmar Schacht, um gênio que, com suas inventivas políticas anticíclicas, acabou com o desemprego e tirou a Alemanha do buraco. Já Bolsonaro tem Paulo Guedes, um Chicago boy especializado, como todo Chicago boy, em jogar países em fossas procíclicas profundas. Isso diz tudo sobre o descalabro administrativo que se avizinha.
Lá fora, todo esse espetáculo de ópera-bufa provoca perplexidade, medo e risos de escárnio. O Brasil virou uma piada planetária. Nunca se viu um grupo político tão tosco, retrógrado e despreparado. A armada Bolsoleone parece uma caricatura da direita mais reacionária e incompetente.
Há, porém, um detalhe mórbido nesse libretto giocoso. Bolsoleone da Néscia chegou ao poder.
Apertem os cintos! O voo, se houver, será turbulento.
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