Por Ricardo Kotscho, em seu blog:
Mais cedo do que se temia desde a sua posse, o capitão Jair Bolsonaro resolveu ir à guerra contra tudo e contra todos ao mesmo tempo: o Congresso, os governadores, a imprensa, a cultura, a ciência, os direitos humanos, os índios, as mulheres, os negros, o meio ambiente e o que mais encontrar no caminho rumo ao caos.
Como se previa, não restará pedra sobre pedra quando esta barbárie chegar ao fim, se um dia chegar.
“Tem que entender que o pessoal verde está chegando, e o bicho vai pegar”, ameaçou o presidente da República em sua “live” semanal das quintas-feiras, ao anunciar o envio de tropas das Forças Armadas para o Ceará. “Se é pra tratar com flor essa galera, não fiquem enchendo nosso saco”, acrescentou com sua finesse habitual.
Era tudo o que ele queria. O autogolpe está em pleno andamento, após as ameaças feitas ao Congresso Nacional pelo general Augusto Heleno, ao mesmo tempo em que 20 governadores se uniam para assinar um documento contra os desatinos presidenciais.
Bolsonaro ouviu os conselhos de Heleno e ligou o “foda-se”, dando uma banana para a imprensa livre e o público em geral.
O pretexto para botar as tropas das Forças Armadas na rua foi um motim armado pela PM do Ceará, entrincheirada num quartel em Sobral, provocando o que Bolsonaro chamou de “guerra urbana”.
A semente deste cenário beligerante foi plantada ainda durante a campanha eleitoral, quando policiais militares de todo o país foram aos aeroportos em bandos, para recepcionar o candidato, fazendo arminhas com os dedos.
Emponderados e com licença para matar, esses PMs bolsonaristas agora foram pedir aumento de salários com armas na mão, fantasiados de milicianos. Embolou tudo.
As coisas nunca acontecem por acaso. Bolsonaro cevou essa tropa de choque policial desde 2014, quando montou suas milícias digitais e ia a todas as solenidades nos quartéis das PMs por todo o país. Na época, ninguém deu bola ao deputado do baixo claro.
Assim como aquele alemão montou as suas SA e SS para o assalto final ao poder, o delirante nazifascista nativo criou suas forças auxiliares próprias, enquanto convocava generais de farda ou de pijama para comandarem mesas na burocracia do governo.
Entregou a economia de porteira fechada para Paulo Guedes, o quindim do mercado, e a Justiça para Sergio Moro, com a tarefa de proteger as relações da família presidencial com as milícias, que saíram do Rio para o poder central.
A armação desse esquema não pode ter sido obra só do ex-tenente reformado como capitão, afastado do Exército com 33 anos, depois de planejar ataques aos quartéis e à Cedae, para pedir aumento de salários, o que o levou a ser preso e processado no Superior Tribunal Militar (leiam a história completa no livro “O cadete e o capitão”, de Luiz Maklouf Carvalho).
Não por acaso, foi também em 2014 que a Lava Jato começou a montar suas barricadas para detonar os partidos de oposição e a indústria nacional, após a descoberta do pré-sal.
Nestes seis anos, vicejaram por toda parte as igrejas neo-pentecostais dos pastores da grana e as milicias virtuais e armadas, que formam a base do bolsonarismo em marcha, junto com a rede bolsonarista de televisão.
Com a militarização do governo e a milicialização das PMs, chegamos a esta pornochanchada tropical estrelada por tipos recrutados no submundo olavista e em outros desvãos da civilização.
A seguir nessa batida, Bolsonaro vai acabar desmoralizando as Forças Armadas, que lhe deram sustentação durante toda a campanha, algo que nenhum governo civil conseguiu desde a redemocratização.
Agora está todo mundo se perguntando o que acontecerá depois da trégua do Carnaval, que já começa em clima de Quarta-feira de Cinzas para as instituições.
Quem será que criou e dirigiu esse trágico samba-enredo do capitão ensandecido, que não passa num exame psicotécnico para pilotar um tanque?
“O bicho vai pegar!”, anuncia o puxador do samba, entrando na avenida alegremente, como se não houvesse amanhã.
Bom Carnaval a todos.
Vida que segue.
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