Por Flavio Fligenspan, no site Sul-21:
Uma notícia econômica percorre um longo caminho até ser o que é e, eventualmente, ter algum impacto político e social. Muito antes de ser notícia, um fenômeno econômico passa por várias etapas. A primeira delas é o enquadramento num arcabouço teórico pré conhecido e devidamente discutido e testado na academia. O passo seguinte é o da construção metodológica, ou seja, como o fenômeno será observado e medido, o que envolve a escolha dos instrumentos de medida. Só depois de feito o plano metodológico é que efetivamente se parte para a coleta das informações; em sequência vem o processamento e a seguir, a análise.
Organismos de pesquisa costumam passar por todo este caminho, normalmente nada simples, para chegarem ao ponto final de seu trabalho, proporcionar à sociedade um melhor entendimento da sua realidade. A partir daí é possível construir políticas públicas, seja para melhorar a situação de uma população, seja para inverter trajetórias consideradas ruins ou mesmo para manter condições consideradas adequadas. Isto vale para o cálculo do PIB, para as pesquisas de produção industrial, para as vendas do comércio, para a evolução do mercado de trabalho, para o acompanhamento do comércio externo de um país ou região e tantas outras.
Tendo trabalhado nesta área a vida toda, posso testemunhar o quanto é difícil chegar ao final do processo de produção de estatísticas confiáveis e que possam oferecer segurança aos governantes para que eles atuem sobre a realidade, transformando-a para melhor. A discussão teórica e metodológica é sempre penosa e geralmente envolve disputas técnicas entre membros da equipe de pesquisa, sempre na busca do aprimoramento do resultado que se vai entregar à sociedade. E muitas vezes, ainda é preciso voltar atrás, para corrigir problemas depois dos primeiros testes.
A imprensa, a sociedade e os governantes não têm a noção exata do longo caminho que um fenômeno econômico transcorre até virar informação útil a todos. O problema é que informações sociais, com inevitável conteúdo político, nunca agradam a todas as partes. Elas podem ser omitidas pela imprensa, o que frustra muito os produtores da informação – afinal, o trabalho estaria sendo escondido da sociedade –, ou podem ser divulgadas de formas diversas, ora a favor, ora contra as posições políticas de determinado setor. E esta variação pode ser intencional por parte da imprensa ou mesmo fortuita. Não raras vezes, um mesmo fenômeno pode gerar manchetes positivas ou negativas, dependendo apenas da forma como se agrega no tempo o resultado da pesquisa, fazendo-se comparações mensais ou inter anuais, por exemplo.
Dada a força política de determinados resultados de pesquisa, não é incomum governantes que se sentem incomodados com a revelação da realidade se manifestarem contrários à forma da divulgação, ao momento da divulgação ou aos números em si. A saída mais fácil nestes casos é colocar em dúvida todo o projeto da pesquisa, desde a escolha teórica, ou uma parte sensível dela, como a metodologia ou a coleta dos dados. Isto ocorre frequentemente com taxas de inflação e com taxas de desemprego, sobretudo em períodos pré eleitorais, mas não apenas. Duvida-se, por exemplo, que os preços das verduras não subiram tanto quanto as pesquisas revelam ou que o desemprego não é tão alto. Apela-se até mesmo para a observação pessoal do fenômeno, como se a sensibilidade do governante ou de seus assessores fosse muito superior à observação cuidadosa dos institutos de pesquisa. Afinal, se há muita gente circulando nos shoppings e nos cinemas, o PIB não deve estar crescendo tão pouco.
Pensei justamente nestes aspectos, com base na minha experiência profissional, quando vi há cerca de dez dias o Presidente da República duvidar – e reclamar – da taxa de desemprego divulgada pelo IBGE. Foi seguido o caminho usual, de desconfiar da metodologia e de apelar para a sensibilidade pessoal. O que aconteceu desta vez já se viu com outros governantes em diversos momentos do tempo.
Todavia, agora se está diante de um fenômeno que requer atenção, o aumento da taxa de subocupação por insuficiência de horas trabalhadas – a taxa que contabiliza as pessoas que gostariam e estão dispostas a trabalhar mais horas por semana, mas não lhes é oferecida esta oportunidade. Com a reforma trabalhista de Temer, em especial a introdução do trabalho intermitente, há uma tendência clara de aumento desta taxa, que reforça a medida da subutilização da força de trabalho, inclusive com consequências negativas sobre o total de rendimentos mensais auferidos pelos trabalhadores, uma vez que eles só recebem pelas horas efetivamente trabalhadas. Esta será sempre uma má notícia para o Governo, divulgada todos os meses. Assim, começar a por em dúvida a pesquisa do IBGE sobre ocupação e desemprego pode significar uma vacina contra resultados com tendência de piora daqui para frente.
Uma notícia econômica percorre um longo caminho até ser o que é e, eventualmente, ter algum impacto político e social. Muito antes de ser notícia, um fenômeno econômico passa por várias etapas. A primeira delas é o enquadramento num arcabouço teórico pré conhecido e devidamente discutido e testado na academia. O passo seguinte é o da construção metodológica, ou seja, como o fenômeno será observado e medido, o que envolve a escolha dos instrumentos de medida. Só depois de feito o plano metodológico é que efetivamente se parte para a coleta das informações; em sequência vem o processamento e a seguir, a análise.
Organismos de pesquisa costumam passar por todo este caminho, normalmente nada simples, para chegarem ao ponto final de seu trabalho, proporcionar à sociedade um melhor entendimento da sua realidade. A partir daí é possível construir políticas públicas, seja para melhorar a situação de uma população, seja para inverter trajetórias consideradas ruins ou mesmo para manter condições consideradas adequadas. Isto vale para o cálculo do PIB, para as pesquisas de produção industrial, para as vendas do comércio, para a evolução do mercado de trabalho, para o acompanhamento do comércio externo de um país ou região e tantas outras.
Tendo trabalhado nesta área a vida toda, posso testemunhar o quanto é difícil chegar ao final do processo de produção de estatísticas confiáveis e que possam oferecer segurança aos governantes para que eles atuem sobre a realidade, transformando-a para melhor. A discussão teórica e metodológica é sempre penosa e geralmente envolve disputas técnicas entre membros da equipe de pesquisa, sempre na busca do aprimoramento do resultado que se vai entregar à sociedade. E muitas vezes, ainda é preciso voltar atrás, para corrigir problemas depois dos primeiros testes.
A imprensa, a sociedade e os governantes não têm a noção exata do longo caminho que um fenômeno econômico transcorre até virar informação útil a todos. O problema é que informações sociais, com inevitável conteúdo político, nunca agradam a todas as partes. Elas podem ser omitidas pela imprensa, o que frustra muito os produtores da informação – afinal, o trabalho estaria sendo escondido da sociedade –, ou podem ser divulgadas de formas diversas, ora a favor, ora contra as posições políticas de determinado setor. E esta variação pode ser intencional por parte da imprensa ou mesmo fortuita. Não raras vezes, um mesmo fenômeno pode gerar manchetes positivas ou negativas, dependendo apenas da forma como se agrega no tempo o resultado da pesquisa, fazendo-se comparações mensais ou inter anuais, por exemplo.
Dada a força política de determinados resultados de pesquisa, não é incomum governantes que se sentem incomodados com a revelação da realidade se manifestarem contrários à forma da divulgação, ao momento da divulgação ou aos números em si. A saída mais fácil nestes casos é colocar em dúvida todo o projeto da pesquisa, desde a escolha teórica, ou uma parte sensível dela, como a metodologia ou a coleta dos dados. Isto ocorre frequentemente com taxas de inflação e com taxas de desemprego, sobretudo em períodos pré eleitorais, mas não apenas. Duvida-se, por exemplo, que os preços das verduras não subiram tanto quanto as pesquisas revelam ou que o desemprego não é tão alto. Apela-se até mesmo para a observação pessoal do fenômeno, como se a sensibilidade do governante ou de seus assessores fosse muito superior à observação cuidadosa dos institutos de pesquisa. Afinal, se há muita gente circulando nos shoppings e nos cinemas, o PIB não deve estar crescendo tão pouco.
Pensei justamente nestes aspectos, com base na minha experiência profissional, quando vi há cerca de dez dias o Presidente da República duvidar – e reclamar – da taxa de desemprego divulgada pelo IBGE. Foi seguido o caminho usual, de desconfiar da metodologia e de apelar para a sensibilidade pessoal. O que aconteceu desta vez já se viu com outros governantes em diversos momentos do tempo.
Todavia, agora se está diante de um fenômeno que requer atenção, o aumento da taxa de subocupação por insuficiência de horas trabalhadas – a taxa que contabiliza as pessoas que gostariam e estão dispostas a trabalhar mais horas por semana, mas não lhes é oferecida esta oportunidade. Com a reforma trabalhista de Temer, em especial a introdução do trabalho intermitente, há uma tendência clara de aumento desta taxa, que reforça a medida da subutilização da força de trabalho, inclusive com consequências negativas sobre o total de rendimentos mensais auferidos pelos trabalhadores, uma vez que eles só recebem pelas horas efetivamente trabalhadas. Esta será sempre uma má notícia para o Governo, divulgada todos os meses. Assim, começar a por em dúvida a pesquisa do IBGE sobre ocupação e desemprego pode significar uma vacina contra resultados com tendência de piora daqui para frente.
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