O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (Progressistas-AL), vai tirar o comitê de imprensa do Salão Verde, que atualmente está localizada ao lado do Plenário. Os jornalistas que trabalham na cobertura da atividade parlamentar na Casa serão deslocados para o subsolo, em uma sala sem janelas e distante do principal local de discussão e votação. A medida é unilateral e é alvo de críticas tanto de repórteres como de parlamentares, que a consideram antidemocrática.
As principais críticas são relativas ao ataque à liberdade plena da imprensa e também em razão da pandemia de covid-19, já que os profissionais da mídia estarão confinados em um local sem ventilação. Hoje, o Salão Verde possui adaptações para respeitar medidas sanitárias contra o coronavírus. Lira, que desde sua eleição adotou uma postura autoritária, também se esquiva da imprensa. Questionado sobre a necessidade de tal mudança, o parlamentar limitou-se a dizer, ontem (10), que “a decisão está tomada”.
Repercussões
Segundo Lira, o Salão Verde deve sediar a Presidência da Câmara. Para a deputada federal Fernanda Melchiona (Psol-RS), a “liberdade de imprensa é uma das principais questões da Constituição Federal. Infelizmente nós já temos Jair Bolsonaro, que ataca os jornalistas sistematicamente. Não será a Câmara dos Deputados que vai inviabilizar o livre exercício das jornalistas e dos jornalistas”, disse em Plenário. Ela foi apoiada por deputados de campos políticos opostos.
A deputada Perpétua Almeida (PCdoB-AC), líder de seu partido na Câmara, afirmou que a mudança no local da imprensa prejudica a transparência da Casa e a liberdade de imprensa. “Cabe a nós parlamentares reforçar o papel da imprensa na democracia em meio a esta onda de retrocessos trazidas pelo governo Bolsonaro.”
A correspondente do Estadão Adriana Fernandes também criticou a decisão de Lira. “Passei toda a minha vida de formada trabalhando como jornalista em Brasília, onde estudei e cresci. O comitê de imprensa da Câmara é tradição, história, dia a dia de trabalho, sempre ao lado do plenário. Não pode ir para o subsolo”, protestou.
A jornalista Natália Portinari, do jornal O Globo, reforçou a importância do local estratégico da imprensa na Câmara. “Você pode ser de esquerda, de direita ou de centro. Boa parte do que você sabe sobre a Câmara é porque temos um comitê de imprensa ao lado do plenário. Arthur Lira quer transferir o comitê para um lugar no subsolo, sem ventilação. Ainda dá tempo de mudar de ideia, presidente.”
Associação
A Associação Nacional dos Jornais (ANJ) também saiu em defesa da manutenção do espaço da imprensa. “Os jornalistas que atuam na Câmara têm papel essencial no acompanhamento das atividades da Casa e na relação dos deputados com a sociedade. Somos contra toda medida que dificulta o trabalho da imprensa atenta contra a transparência do Parlamento e a necessária cobertura e acompanhamento dos trabalhos legislativos”, afirma a entidade em nota.
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