Reproduzo artigo de Flávio Aguiar, publicado no sítio Carta Maior:
Um caso recorrente na história do Japão (não tão recente) é a falta de credibilidade nas informações depois de desastres envolvendo responsabilidade por parte de grandes empresas.
O caso mais dramático foi o da baía de Minamata, onde a companhia química Chisso despejou mercúrio durante mais de 30 anos (1932 - 1968) causando danos irreparáveis a milhares de pessoas e animais, sem que houvesse providência por parte das autoridades ou da própria empresa que não fosse a de negar a origem do problema.
O envenamento, decorrente da ingestão de peixes e outros alimentos contaminados, provocava danos no sistema nervoso central e periférico, ataxia (perda de coordenação muscular), deformações nas extremidades dos membros, além de outros problemas, e afetava, inclusive, fetos.
Finalmente, a partir do fim da década de 60, diversos processos judiciais estabeleceram a responsabilidade da Chisso em pelo menos 2265 casos diretos e graves entre humanos, com 1784 óbitos. Outras 10 mil pessoas tiveram suas vidas de algum modo afetadas pelo mercúrio, o que resultou em indenizações no montante de 86 milhões de dólares. Mas não houve responsabilização das autoridades pela omissão anterior, pelo menos tanto quanto eu tenha pesquisado.
Um caso semelhante ao de Minamata foi registrado a partir de 1965 em Niigata, por responsabilidade da companhia de eletricidade Denko. Tal como no caso da Chisso, a primeira reação da empresa foi desacreditar as pesquisas e as conclusões das equipes universitárias de investigação. Mas o caso de Minamata repercutiu sobre o de Niigata - vice-versa, sendo a Denko afinal responsabilizada.
Outros dois casos conhecidos são os de Yokkaichi e de Itai-itai. No primeiro, a poluição industrial da atmosfera em níveis altíssimos, originando nuvens de smog (neblina carregada de poluentes), provocou casos especiais e agudos de asma, por responsabilidade da companhia petrolífera Yokkaichi entre 1960 e 1972, quando afinal medidas foram tomadas para deter o efeito.
Itai-itai foi o caso mais antigo. Tratava-se da mineração ao longo de um rio, o Jinzu, que remontava ao século XVI. Entretanto a intensificação do processo e o uso progressivo de cádmio ao redor da chamada Toyama Prefecture entre 1912 e 1945 provocou uma doença cujos efeitos principais eram a falência dos rins e o amolecimento dos ossos. Novamente o processo de estabelecimento de responsabilidades foi longo e demorado, embora a partir de 1946 o lançamento de cádmio no meio-ambiente fosse contido, não se registrando desde então novas ocorrências.
A partir de 1955 começaram as investigações sobre as causas e os efeitos das doenças, que se prolongaram até 1968 - quando veio à luz o caso de Minamata. Muitos dos processos judiciais decorrentes se estenderam até a década de 90 do século passado, alguns até 2000.
Casos semelhantes aos de Minamata e Niigata foram observados na província de Ontario, no Canadá, entre 1960 e 1972. Já a "asma de Yakkaichi" ocorreu também na Cidade do México e em algumas grandes cidades da China.
Já em Fukushima, a tentativa inicial de diminuir a extensão possível dos efeitos gerais da radioatividade, tanto por parte das autoridades quanto por parte da companhia Tepco gerou, de novo, compreensíveis desconfianças na população. Entretanto, hoje o nível e a quantidade de informação disponível é muito maior e veloz do que há 50 anos atrás, o que abranda de um lado, mas intensifica e dramatiza, de outro, as tentativas de minimizar os possíveis efeitos das catástrofes. De qualquer modo, fica a lição, a partir da própria história japonesa, que não é a única, sobre as tentativas de se tapar a informação com a peneira.
Décadas atrás, quando houve a catástrofe de Chernobyl na Ucrânia (então parte da finada União Soviética) houve quem atribuísse tanto as falhas técnicas e humanas, e a tentativa inicial de bloquear informações a algo como a "ineficiência" própria do regime comunista. Pelos casos aqui relatados, pode-se ver muito bem que isso também pode se dever à "eficiência" do regime capitalista.
Um caso recorrente na história do Japão (não tão recente) é a falta de credibilidade nas informações depois de desastres envolvendo responsabilidade por parte de grandes empresas.
O caso mais dramático foi o da baía de Minamata, onde a companhia química Chisso despejou mercúrio durante mais de 30 anos (1932 - 1968) causando danos irreparáveis a milhares de pessoas e animais, sem que houvesse providência por parte das autoridades ou da própria empresa que não fosse a de negar a origem do problema.
O envenamento, decorrente da ingestão de peixes e outros alimentos contaminados, provocava danos no sistema nervoso central e periférico, ataxia (perda de coordenação muscular), deformações nas extremidades dos membros, além de outros problemas, e afetava, inclusive, fetos.
Finalmente, a partir do fim da década de 60, diversos processos judiciais estabeleceram a responsabilidade da Chisso em pelo menos 2265 casos diretos e graves entre humanos, com 1784 óbitos. Outras 10 mil pessoas tiveram suas vidas de algum modo afetadas pelo mercúrio, o que resultou em indenizações no montante de 86 milhões de dólares. Mas não houve responsabilização das autoridades pela omissão anterior, pelo menos tanto quanto eu tenha pesquisado.
Um caso semelhante ao de Minamata foi registrado a partir de 1965 em Niigata, por responsabilidade da companhia de eletricidade Denko. Tal como no caso da Chisso, a primeira reação da empresa foi desacreditar as pesquisas e as conclusões das equipes universitárias de investigação. Mas o caso de Minamata repercutiu sobre o de Niigata - vice-versa, sendo a Denko afinal responsabilizada.
Outros dois casos conhecidos são os de Yokkaichi e de Itai-itai. No primeiro, a poluição industrial da atmosfera em níveis altíssimos, originando nuvens de smog (neblina carregada de poluentes), provocou casos especiais e agudos de asma, por responsabilidade da companhia petrolífera Yokkaichi entre 1960 e 1972, quando afinal medidas foram tomadas para deter o efeito.
Itai-itai foi o caso mais antigo. Tratava-se da mineração ao longo de um rio, o Jinzu, que remontava ao século XVI. Entretanto a intensificação do processo e o uso progressivo de cádmio ao redor da chamada Toyama Prefecture entre 1912 e 1945 provocou uma doença cujos efeitos principais eram a falência dos rins e o amolecimento dos ossos. Novamente o processo de estabelecimento de responsabilidades foi longo e demorado, embora a partir de 1946 o lançamento de cádmio no meio-ambiente fosse contido, não se registrando desde então novas ocorrências.
A partir de 1955 começaram as investigações sobre as causas e os efeitos das doenças, que se prolongaram até 1968 - quando veio à luz o caso de Minamata. Muitos dos processos judiciais decorrentes se estenderam até a década de 90 do século passado, alguns até 2000.
Casos semelhantes aos de Minamata e Niigata foram observados na província de Ontario, no Canadá, entre 1960 e 1972. Já a "asma de Yakkaichi" ocorreu também na Cidade do México e em algumas grandes cidades da China.
Já em Fukushima, a tentativa inicial de diminuir a extensão possível dos efeitos gerais da radioatividade, tanto por parte das autoridades quanto por parte da companhia Tepco gerou, de novo, compreensíveis desconfianças na população. Entretanto, hoje o nível e a quantidade de informação disponível é muito maior e veloz do que há 50 anos atrás, o que abranda de um lado, mas intensifica e dramatiza, de outro, as tentativas de minimizar os possíveis efeitos das catástrofes. De qualquer modo, fica a lição, a partir da própria história japonesa, que não é a única, sobre as tentativas de se tapar a informação com a peneira.
Décadas atrás, quando houve a catástrofe de Chernobyl na Ucrânia (então parte da finada União Soviética) houve quem atribuísse tanto as falhas técnicas e humanas, e a tentativa inicial de bloquear informações a algo como a "ineficiência" própria do regime comunista. Pelos casos aqui relatados, pode-se ver muito bem que isso também pode se dever à "eficiência" do regime capitalista.
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