Charge: Bruno Aziz |
Sergio Moro não volta mais na segunda temporada. Já morreu fazendo vários personagens, como juiz, ministro de Bolsonaro, futuro ministro do Supremo e como consultor.
E agora vai morrendo aos poucos também como pré-candidato a presidente. Moro foi um quase isso e quase aquilo várias vezes nos últimos seis anos.
Quase foi o maior juiz brasileiro de todos os tempos, quase foi o homem de confiança de Bolsonaro, quase protegeu os filhos do sujeito, quase ganhou uma cadeira no STF, quase foi diretor de fato da Alvarez e Marsal e quase foi levado a sério como candidato a presidente.
Moro não entregou nada do que prometeu do jeito que foi prometido. Pode ter entregue a quebradeira das empreiteiras e o encarceramento de Lula, mas fez um serviço sujo e mal feito e acabou fracassando. Lula nunca esteve tão forte.
Moro é o melhor exemplo dos fracassos da direita e uma explicação para a existência de Bolsonaro como opção extremista para os brasileiros desamparados pelo tucanismo.
Se os tucanos morreram e se a terceira via não existe, resta Bolsonaro. Moro é um dos inventores de Bolsonaro, com a Globo e a grande imprensa em geral, os empresários da Fiesp, o mercado, os colegas da Justiça e as omissões do Supremo.
O chefe de Deltan Dallagnol iludiu a classe média que antes era apenas coxinha e agora convive com nazifascistas. O ex-juiz enganou quem quis ser enganado com o que seria uma caçada moralista aos corruptos.
Mas o próprio Moro deve se perguntar: eu cheguei ao fim, mas e os outros? E os cúmplices do lavajatismo? E os grandes criminosos da área privada, incluindo sonegadores, contrabandistas e lavadores de dinheiro vestidos de verde-amarelo?
Moro é um caso a caminho de um desfecho político e de um sério impasse judicial. Falta enfrentar o resto. Os patrocinadores do gabinete do ódio (que é muito mais do que uma fábrica de fake news), grileiros, garimpeiros e perseguidores de jornalistas que expõem seus rolos.
Falta pegar, e talvez nunca peguem, as facções da cloroquina e das vacinas superfaturadas. Falta, sempre vai faltar, Aécio Neves, que ficou pra trás.
Muitos deles vão obter ou renovar imunidades, conseguindo ou reafirmando algum mandato para alguma coisa na eleição deste ano.
Não serão poucos. Militantes da extrema direita se socorrem do que combatem para ter a proteção da democracia. O voto vai tornar inimputáveis, talvez por muitos anos ou para sempre, figuras investigadas pelos mais variados crimes.
Podem ficar imunes e impunes, além dos filhos de Bolsonaro, Eduardo Pazuello, Damares Alves, Onyx Lorenzoni, Ricardo Salles, Braga Netto, o véio da Havan, Fabrício Queiroz, Daniel Silveira.
O pessoal da direita e da extrema direita desfruta de um recurso inacessível à maioria, em especial a negros e pobres. Eles gozam com frequência da prescrição, algo raro quando o réu não tem dinheiro e bons advogados ou é de esquerda.
Se forem eleitos, os investigados e processados do bolsonarismo estarão contando tempo para esquecimentos e prescrições.
A prescrição é a anistia de muitos pilantras que sonegam e têm contas no Exterior. E com a imunidade, tudo ficará mais fácil.
Sergio Moro, que já foi juiz, mesmo que um juiz suspeito, sabe como a prescrição bem gerida corre solta no Judiciário. Mas para ele, como candidato moribundo a presidente, não há saída.
Moro está num brete do qual só conseguirá se livrar se andar em marcha a ré e buscar a proteção de um mandato parlamentar, para sentar-se no Congresso ao lado de Queiroz e de Damares. Sergio Moro é hoje a maior vítima do lavajatismo.
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