Está amplamente documentado que a Ucrânia atua como um enclave dos interesses ocidentais e imperialistas na Eurásia para corroer o poder mundial da Rússia.
O governo ucraniano, de ultradireita neonazista, se originou do golpe de Estado de 2014 que derrubou o governo pró-russo de Viktor Yanukovich. Desde então, o país serve de plataforma para a ação da OTAN e dos EUA no entorno estratégico da Rússia.
Se Pedro I, o Grande, fosse o presidente atual da Rússia, e considerando as circunstâncias atuais, de ameaça à defesa e à soberania do império russo [que não se confunde com imperialismo], ele provavelmente agiria como Putin agiu na Ucrânia.
Se Vladimir Ilyich Ulianiov, o Lênin, fosse hoje o presidente da Rússia e enfrentasse as ameaças militares que a OTAN representa se instalando na porta de entrada da Rússia, provavelmente ele também reagiria nos mesmos moldes que Putin reagiu.
E, se se extrapolar esse exercício hipotético, é bastante provável que se Joe Biden – ou qualquer outro governante ocidental, como Emmanuel Macron, Olav Scholz, Boris Johnson etc –, fosse governante do Estado russo, também agiria da mesma maneira que Putin agiu.
Do ponto de vista geopolítico, a contraofensiva russa em relação à escalada de ameaças belicistas engendrada pela OTAN [leia-se, EUA] nos últimos 8 anos é uma decisão não só coerente e legítima, como perfeitamente inteligível.
Em matéria de geopolítica, perde tempo quem julga movimentos táticos e estratégicos com romantismo idealista ou de olho no perfil psicológico/ideológico dos atores em cena.
Geopolítica não é um jogo de rivalidades entre mocinhos e bandidos, como Washington incute por meio da sua mídia hegemônica com uma narrativa russofóbica racista.
Em geopolítica, não existe esta ideia pueril de torcida organizada de time de futebol. Defender, portanto, o entendimento de escolhas geopolíticas de quem quer que seja, não significa identificação ou alinhamento ideológico automático, mas compreensão do jogo geopolítico.
Vladimir Putin, presidente da Rússia, é um político autoritário e ultraconservador. Entretanto, é equivocado empregar essa classificação para impugnar; e, menos ainda, para julgar as decisões dele em relação aos acontecimentos em curso e à atuação da Rússia na arena mundial.
Putin atua como um chefe de um Estado soberano que assistiu os EUA e seus aliados, com a conivência da ONU, descumprirem o Protocolo de Minsk.
Este protocolo, assinado em 2014 pela Ucrânia, Rússia e as Repúblicas de Donetsk e Lugansk sob os auspícios da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa, estabelecia condições que, se cumpridas pela Ucrânia, teriam evitado o conflito presente.
Ante a surdez e a indiferença dos governos europeus e dos EUA aos sucessivos apelos e ultimatos de Moscou uma vez que o protocolo estava sendo desrespeitado, Putin não teve outra alternativa senão agir como representante de um Estado soberano detentor de formidável e, em certos níveis inigualável, poder nuclear.
Para defender sua segurança territorial e existencial, a Rússia se viu contingenciada a agir por conta própria. Não sobrou outra alternativa diante da expansão ameaçadora da zona de influência e de domínio militar dos EUA-OTAN na direção da fronteira oeste com a Rússia. A inação russa, neste caso, representaria um risco de avanço irrecuperável do terreno nacional pelos agressores.
A defesa do entendimento das escolhas militares da Rússia na Ucrânia, longe de significar qualquer adesão ao militarismo, au endeusamento do Putin ou à defesa da solução bélica dos conflitos entre as nações, representa o reconhecimento do direito intrínseco de cada país à soberania e à defesa nacional.
Ao defender a soberania da Rússia, Putin trabalha, ao mesmo tempo, para concretizar um mundo multipolar, livre do arbítrio e do poder unipolar e imperial dos EUA. Um mundo multipolar está nascendo.
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