Por Marcelo Hailer, na revista Fórum:
Estreou na noite de 23 de abril a campanha da Rede Globo para a Copa do Mundo. Com o tema “Somos um só”, a emissora dá um show no que diz respeito a transformar o Brasil num país branco. Você até verá negros no vídeo, porém, são corpos constrangidos e quase fora de enquadramento. Será que para a referida emissora a negritude brasileira deve ser envergonhada e ficar fora da tela?
Em seu livro Cultura de Massas no séc. XX – Vol. 1, o sociólogo Edgard Morin atenta para o fato de que, a partir da ascensão da cultura de massa/indústria cultural inicia-se um novo processo de colonização, no caso, dos espíritos. Ou seja, os produtos, para dialogarem com o maior número possível de pessoas e assim se lucrar mais, desconstroem os sujeitos e apresenta outros conforme o ideário que permeia tais instituições. Logo, os sujeitos apresentados são homogêneos, ocidentais e brancos. As outras etnias e culturas tornam-se “produtos exóticos”.
E o que temos na campanha da Rede Globo se não a transformação do Brasil e do futebol em um país e um esporte para brancos? E choca ainda mais quando pensamos no tema – “Somos um só”. Talvez o lema da campanha funcione perfeitamente sob o prisma pelo qual os programas televisivos funcionam: personagens brancos sempre em destaque e personagens negros encerrados na subalternidade.
Na verdade, o vídeo em questão traz, mais uma vez, o Brasil envergonhado, aquele que não se reconhece na miscigenação e muito menos enquanto país latino-americano.
O Brasil ainda está colonizado?
Mas a linha editorial do vídeo é coerente com os agentes envolvidos, não esqueçamos do veto da Fifa ao “casal da Copa”, que seria Lázaro Ramos e Camila Pitanga, mas que foi trocado pelos brasileiríssimos Fernanda Lima e Rodrigo Hilbert. A emissora poderia muito bem ter batido o pé, mas não, fez a troca para agradar o senhor Europa, que não está acostumado com essa gente carnavalesca e de cores diferentes.
Quem também atentou para o fato de que o país está submetido à federação máxima do futebol é o deputado federal Chico Alencar (PSOL-RJ), que em entrevista à Fórum declarou que o Brasil “está virando a colônia da Fifa”, isso por conta das remoções de moradores de rua dos logradouros próximos dos estádios e do forte aparato militar para evitar manifestações nos dias de jogos. Ou seja, tudo conforme as regras do senhor feudal.
O advento da Copa pode servir muito bem para fortalecer este debate a respeito da segunda colonização, pela qual não apenas o Brasil passa, mas todos os países que já foram colônia, seja na América Latina, seja na África. É preciso perguntar: por que o vídeo da emissora, que será peça chefe durante toda a Copa, esconde os corpos negros? Ora, é por que hoje a colonização não vem de fora, ela acontece aqui, em nosso quintal, a partir de instrumentos de poder comandados por aqueles que lambem a calçada de Wall Street e silenciam o caráter latino, afro e indígena do Brasil.
Posto assim, fica fácil de entender o mote da campanha – “Somos um só”: um povo branco, Americano (nem do Sul, nem Latino), loiro, cabelo liso… Ou seja, somos perfeitamente o sujeito da colônia. Infelizmente, o poder comunicacional ainda exerce forte influência nas mentes, mas é cada vez mais gritante o rompimento com tal ideologia branca-ocidental e por um resgate do sujeito que foi: primeiro exterminado pelos “descobridores” e segundo, que segue sendo deletado pelos agentes da indústria cultural. São os corpos abjetos que estão sendo removidos das vias públicas para que os estrangeiros não saiam daqui com uma “má visão” do país latino, ops, Americano.
Portanto, ficamos assim: no samba e na Copa da Globo, todo mundo é branco!
Estreou na noite de 23 de abril a campanha da Rede Globo para a Copa do Mundo. Com o tema “Somos um só”, a emissora dá um show no que diz respeito a transformar o Brasil num país branco. Você até verá negros no vídeo, porém, são corpos constrangidos e quase fora de enquadramento. Será que para a referida emissora a negritude brasileira deve ser envergonhada e ficar fora da tela?
Em seu livro Cultura de Massas no séc. XX – Vol. 1, o sociólogo Edgard Morin atenta para o fato de que, a partir da ascensão da cultura de massa/indústria cultural inicia-se um novo processo de colonização, no caso, dos espíritos. Ou seja, os produtos, para dialogarem com o maior número possível de pessoas e assim se lucrar mais, desconstroem os sujeitos e apresenta outros conforme o ideário que permeia tais instituições. Logo, os sujeitos apresentados são homogêneos, ocidentais e brancos. As outras etnias e culturas tornam-se “produtos exóticos”.
E o que temos na campanha da Rede Globo se não a transformação do Brasil e do futebol em um país e um esporte para brancos? E choca ainda mais quando pensamos no tema – “Somos um só”. Talvez o lema da campanha funcione perfeitamente sob o prisma pelo qual os programas televisivos funcionam: personagens brancos sempre em destaque e personagens negros encerrados na subalternidade.
Na verdade, o vídeo em questão traz, mais uma vez, o Brasil envergonhado, aquele que não se reconhece na miscigenação e muito menos enquanto país latino-americano.
O Brasil ainda está colonizado?
Mas a linha editorial do vídeo é coerente com os agentes envolvidos, não esqueçamos do veto da Fifa ao “casal da Copa”, que seria Lázaro Ramos e Camila Pitanga, mas que foi trocado pelos brasileiríssimos Fernanda Lima e Rodrigo Hilbert. A emissora poderia muito bem ter batido o pé, mas não, fez a troca para agradar o senhor Europa, que não está acostumado com essa gente carnavalesca e de cores diferentes.
Quem também atentou para o fato de que o país está submetido à federação máxima do futebol é o deputado federal Chico Alencar (PSOL-RJ), que em entrevista à Fórum declarou que o Brasil “está virando a colônia da Fifa”, isso por conta das remoções de moradores de rua dos logradouros próximos dos estádios e do forte aparato militar para evitar manifestações nos dias de jogos. Ou seja, tudo conforme as regras do senhor feudal.
O advento da Copa pode servir muito bem para fortalecer este debate a respeito da segunda colonização, pela qual não apenas o Brasil passa, mas todos os países que já foram colônia, seja na América Latina, seja na África. É preciso perguntar: por que o vídeo da emissora, que será peça chefe durante toda a Copa, esconde os corpos negros? Ora, é por que hoje a colonização não vem de fora, ela acontece aqui, em nosso quintal, a partir de instrumentos de poder comandados por aqueles que lambem a calçada de Wall Street e silenciam o caráter latino, afro e indígena do Brasil.
Posto assim, fica fácil de entender o mote da campanha – “Somos um só”: um povo branco, Americano (nem do Sul, nem Latino), loiro, cabelo liso… Ou seja, somos perfeitamente o sujeito da colônia. Infelizmente, o poder comunicacional ainda exerce forte influência nas mentes, mas é cada vez mais gritante o rompimento com tal ideologia branca-ocidental e por um resgate do sujeito que foi: primeiro exterminado pelos “descobridores” e segundo, que segue sendo deletado pelos agentes da indústria cultural. São os corpos abjetos que estão sendo removidos das vias públicas para que os estrangeiros não saiam daqui com uma “má visão” do país latino, ops, Americano.
Portanto, ficamos assim: no samba e na Copa da Globo, todo mundo é branco!
1 comentários:
Todos brancos e corinthianos, claro.
Postar um comentário