Reproduzo artigo de Mario Augusto Jakobskind, publicado no sítio Pátria Latina:
As atenções na semana que passou estiveram voltadas para a América Latina, em especial Peru, Uruguai, Argentina e Brasil. No Peru, conforme indicavam as pesquisas ganhou no primeiro turno o candidate nacionalista Ollanta Humala com pouco mais de 31% dos votos, seguido de Keiko Fujimori com cerca de 22% dos 20 milhões de eleitores.
Os demais candidatos, dos vários segmentos da direita ficaram para trás, e um deles, exatamente o que teve apoio da Embaixada dos Estados Unidos, Pedro Pablo Kuzynsky, que além de peruano tem a nacionalidade estadunidense, em sua primeira declaração após a derrota eleitoral acusou Humala de ter recebido financiamento do presidente venezuelano Hugo Chávez na campanha. É o típico choro de derrotado. Kuzynsky naturalmente era também o preferido das multinacionais.
Keiko Fujimori, como se sabe, é filha do ex-Presidente Alberto Fujimori, condenado a 25 anos de prisão por violação dos direitos humanos e corrupção, e pretende indultar o pai e todos os implicados na justiça nos dez anos de mandato do referido. Além disso, há evidências fortes segundo as quais a candidata que disputará o segundo turno a 5 de junho próximo recebeu ajuda substancial de um grupo, conhecido como Paredes, mafioso e que se locupleta com o tráfico de drogas. Empreiteiras brasileiras como a Camargo Correa e a Queiroz Galvão também doaram dinheiros para a campanha de Keiko.
É possível que Keiko venha a ter o apoio de candidatos que a acusavam no primeiro turno. Afinal de contas, entre Keiko, que teria recebido 10 milhões de dólares do grupo mafioso que se apresenta como do setor mineiro, segundo as denúncias, e Ollanta Humala, a direita vai se alinhar com ela, por entender que poderá manter inalterado os esquemas de facilidades a grupos empresariais dos mais diversos setores, como aconteceu no governo do famigerado Fujimori.
A propósito, vale lembrar que quando Fujimori estava cai não cai quem saiu em sua defesa foi o ex-presidente brasileiro Fernando Henrique Cardoso. É sempre bom lembrar este fato, pois a memória é curta e se depender da mídia de mercado jamais se voltará ao assunto.
Ollanta Humala realmente é o único fato novo da política peruana, porque promete mudar os rumos do Peru, não aceitando mais a receita neoliberal que estava inclusive sendo colocada em prática pelo atual presidente, o social democrata Alan Garcia.
Uruguai e a Lei da Caducidade
No Uruguai, o Senado, por 16 a 15 anulou a Lei da Caducidade, que concede anistia a torturadores e assassinos, civis e militares, da época da ditadura (1973 – 1984). Agora, a matéria será votada na Câmara dos Deputados, onde já tinha sido aprovada, mas como sofreu algumas emendas no Senado volta para aquela Casa Legislativa.
A direita uruguaia, representada em sua maioria pelos Partidos Nacional e Colorado, bem como por setores militares remanescentes da repressão, está furiosa e usa um argumento discutível, mas evita aprofundar o tema e citar uma definição jurídica. Alega que em dois plebiscitos o povo se manifestou a favor da manutenção da lei que protege quem violou direitos humanos. Mas silencia diante do fato de a Corte Suprema de Justiça já ter se manifestado em três ocasiões arguindo a inconstitucionalidade da Lei de Caducidade.
Até o próximo dia 20 de maio, como se espera, a Câmara dos Deputados já terá votado a matéria e, segundo os analistas, vai aprovar o fim da lei que protege os torturadores. Confirmando-se as previsões, vai para a sanção do Presidente José Mujica, também um ex-preso político.
Dia 20 de maio é uma data emblemática, pois os uruguaios lembram sempre os desaparecidos e mortos no período ditatorial, que por sinal teve apoio dos generais de plantão brasileiros e de governos estadunidenses, conforme comprovam os arquivos implacáveis do Departamento de Estado norte-americano tornados públicos.
Argentina e Brasil
Na Argentina mais um ex-ditador, desta vez Reinaldo Bignone, foi condenado à prisão perpétua pela série de violações de direitos humanos cometidos durante o período em que mandavam e desmandavam no país vizinho, também com o apoio incondicional de Geisel e Figueiredo, os generais de plantão que comandavam de fato o Brasil naquele período.
No Brasil, militares sem comando e tropas lançaram um abaixo assinado, a ser encaminhado ao Ministério Público exigindo a suspensão da telenovela “Amor e Revolução”, que retrata os acontecimentos ocorridos após a derrubada do presidente constitucional João Goulart. A censura à novela que está sendo mostrada no SBT foi pedida antes mesmo dela entrar no ar. Só isso dá bem a ideia de quem apoia este tipo de restrição à liberdade de expressão.
Claro que quem torturou presos políticos não gosta de rever o fato desabonador na TV. Temem serem reconhecidos em algum momento e mesmo pagarem pelo que fizeram. Devem ficar ainda mais raivosos quando ao final de cada capítulo ex-presos políticos contam para os telespectadores o que sofreram nas masmorras.
Estes militares que elaboraram o abaixo assinado não se emendam. Envergonham a instituição militar e se apegam a ela para evitar desdobramentos que podem se voltar contra os próprios.
A telenovela de Tiago Santiago é também um fato novo na TV brasileira, sem dúvida. Jornalões como a Folha de S. Paulo e O Globo acionaram seus escribas para malharem o trabalho inovador. A direção da Folha, que cedia carros para a repressão, ficou raivosa com o depoimento da jornalista Rose Nogueira, que quando foi presa e torturada trabalhava num dos jornais da família Frias e foi ignorada enquanto profissional. Perdeu o emprego por abandono do cargo, quando todos os jornalistas e os postes de São Paulo sabiam que ela estava presa e consequentemente não tinha como voltar ao trabalho.
Como no Tribunal de Nuremberg, é importante não se esquecer do que fizeram em matéria de hediondez, para evitar que fatos dessa natureza venham a se repetir.
As atenções na semana que passou estiveram voltadas para a América Latina, em especial Peru, Uruguai, Argentina e Brasil. No Peru, conforme indicavam as pesquisas ganhou no primeiro turno o candidate nacionalista Ollanta Humala com pouco mais de 31% dos votos, seguido de Keiko Fujimori com cerca de 22% dos 20 milhões de eleitores.
Os demais candidatos, dos vários segmentos da direita ficaram para trás, e um deles, exatamente o que teve apoio da Embaixada dos Estados Unidos, Pedro Pablo Kuzynsky, que além de peruano tem a nacionalidade estadunidense, em sua primeira declaração após a derrota eleitoral acusou Humala de ter recebido financiamento do presidente venezuelano Hugo Chávez na campanha. É o típico choro de derrotado. Kuzynsky naturalmente era também o preferido das multinacionais.
Keiko Fujimori, como se sabe, é filha do ex-Presidente Alberto Fujimori, condenado a 25 anos de prisão por violação dos direitos humanos e corrupção, e pretende indultar o pai e todos os implicados na justiça nos dez anos de mandato do referido. Além disso, há evidências fortes segundo as quais a candidata que disputará o segundo turno a 5 de junho próximo recebeu ajuda substancial de um grupo, conhecido como Paredes, mafioso e que se locupleta com o tráfico de drogas. Empreiteiras brasileiras como a Camargo Correa e a Queiroz Galvão também doaram dinheiros para a campanha de Keiko.
É possível que Keiko venha a ter o apoio de candidatos que a acusavam no primeiro turno. Afinal de contas, entre Keiko, que teria recebido 10 milhões de dólares do grupo mafioso que se apresenta como do setor mineiro, segundo as denúncias, e Ollanta Humala, a direita vai se alinhar com ela, por entender que poderá manter inalterado os esquemas de facilidades a grupos empresariais dos mais diversos setores, como aconteceu no governo do famigerado Fujimori.
A propósito, vale lembrar que quando Fujimori estava cai não cai quem saiu em sua defesa foi o ex-presidente brasileiro Fernando Henrique Cardoso. É sempre bom lembrar este fato, pois a memória é curta e se depender da mídia de mercado jamais se voltará ao assunto.
Ollanta Humala realmente é o único fato novo da política peruana, porque promete mudar os rumos do Peru, não aceitando mais a receita neoliberal que estava inclusive sendo colocada em prática pelo atual presidente, o social democrata Alan Garcia.
Uruguai e a Lei da Caducidade
No Uruguai, o Senado, por 16 a 15 anulou a Lei da Caducidade, que concede anistia a torturadores e assassinos, civis e militares, da época da ditadura (1973 – 1984). Agora, a matéria será votada na Câmara dos Deputados, onde já tinha sido aprovada, mas como sofreu algumas emendas no Senado volta para aquela Casa Legislativa.
A direita uruguaia, representada em sua maioria pelos Partidos Nacional e Colorado, bem como por setores militares remanescentes da repressão, está furiosa e usa um argumento discutível, mas evita aprofundar o tema e citar uma definição jurídica. Alega que em dois plebiscitos o povo se manifestou a favor da manutenção da lei que protege quem violou direitos humanos. Mas silencia diante do fato de a Corte Suprema de Justiça já ter se manifestado em três ocasiões arguindo a inconstitucionalidade da Lei de Caducidade.
Até o próximo dia 20 de maio, como se espera, a Câmara dos Deputados já terá votado a matéria e, segundo os analistas, vai aprovar o fim da lei que protege os torturadores. Confirmando-se as previsões, vai para a sanção do Presidente José Mujica, também um ex-preso político.
Dia 20 de maio é uma data emblemática, pois os uruguaios lembram sempre os desaparecidos e mortos no período ditatorial, que por sinal teve apoio dos generais de plantão brasileiros e de governos estadunidenses, conforme comprovam os arquivos implacáveis do Departamento de Estado norte-americano tornados públicos.
Argentina e Brasil
Na Argentina mais um ex-ditador, desta vez Reinaldo Bignone, foi condenado à prisão perpétua pela série de violações de direitos humanos cometidos durante o período em que mandavam e desmandavam no país vizinho, também com o apoio incondicional de Geisel e Figueiredo, os generais de plantão que comandavam de fato o Brasil naquele período.
No Brasil, militares sem comando e tropas lançaram um abaixo assinado, a ser encaminhado ao Ministério Público exigindo a suspensão da telenovela “Amor e Revolução”, que retrata os acontecimentos ocorridos após a derrubada do presidente constitucional João Goulart. A censura à novela que está sendo mostrada no SBT foi pedida antes mesmo dela entrar no ar. Só isso dá bem a ideia de quem apoia este tipo de restrição à liberdade de expressão.
Claro que quem torturou presos políticos não gosta de rever o fato desabonador na TV. Temem serem reconhecidos em algum momento e mesmo pagarem pelo que fizeram. Devem ficar ainda mais raivosos quando ao final de cada capítulo ex-presos políticos contam para os telespectadores o que sofreram nas masmorras.
Estes militares que elaboraram o abaixo assinado não se emendam. Envergonham a instituição militar e se apegam a ela para evitar desdobramentos que podem se voltar contra os próprios.
A telenovela de Tiago Santiago é também um fato novo na TV brasileira, sem dúvida. Jornalões como a Folha de S. Paulo e O Globo acionaram seus escribas para malharem o trabalho inovador. A direção da Folha, que cedia carros para a repressão, ficou raivosa com o depoimento da jornalista Rose Nogueira, que quando foi presa e torturada trabalhava num dos jornais da família Frias e foi ignorada enquanto profissional. Perdeu o emprego por abandono do cargo, quando todos os jornalistas e os postes de São Paulo sabiam que ela estava presa e consequentemente não tinha como voltar ao trabalho.
Como no Tribunal de Nuremberg, é importante não se esquecer do que fizeram em matéria de hediondez, para evitar que fatos dessa natureza venham a se repetir.
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