Do sítio do Centro de Estudos Barão de Itararé:
Kristinn Hrafnsson, porta-voz do Wikileaks; Ignácio Ramonet, o criador do Le Monde Diplomatique; e o jornalista e blogueiro Luis Nassif debateram sobre o papel das novas mídias na primeira mesa do 1º Encontro Mundial de Blogueiros, que teve início nesta quinta-feira (27) e segue até sábado (29) na Itaipu Binacional, em Foz do Iguaçu (PR).
Enquanto o porta-voz do Wikileaks relatou a experiência da organização com a mídia tradicional e apontou a importância de uma ação integrada com os blogs, Ignácio Ramonet falou das possibilidades e limites das novas mídias e Luis Nassif pautou a importância da informação de qualidade para a guerra de informações na qual os blogueiros se inserem.
Wikileaks não morreu
Kristinn Hrafnsson iniciou desmentindo as notícias de que o Wikileaks estaria prestes a acabar. Ele disse que a organização suspendeu suas atividades para concentrar esforços em levantar fundos frente ao boicote promovido pelas empresas Visa, Mastercard, Paypal e Bank of America. Mas ele garante que as ações do Wikileaks serão retomadas.
O finlandês se disse decepcionado com a mídia tradicional pelas tentativas de supressão de informações e existência de censura interna, além de relação muito próxima aos governos. Kristinn diz que não esperava, por exemplo, que uma potência como o The New York Times, jornal que veiculou o escândalo de Watergate na época de Nixon, se dobraria diante de um pedido da Casa Branca de não publicação de histórias, como aconteceu. Ele relatou ainda sobre a recusa dos jornais de denunciarem práticas como esta, mesmo que o veículo a ser denunciado não disputasse público por ser em outro país, por exemplo.
Para Kristinn, é evidente a existência de uma lacuna entre o público e a confiança na mídia, algo constatado desde uma das primeiras ações do grupo, com a divulgação dos “Diários de Guerra do Afeganistão”. Para ele, uma ação conjunta do Wikileaks com blogueiros pode ser uma resposta eficaz à sociedade. “Wikileaks e blogueiros devem atuar de mãos dadas, quero que tenhamos a oportunidade de trabalhar juntos, pois sabemos que essa lacuna existe”.
Ramonet: luzes e sombras
O teórico da comunicação e criador do Le Monde Diplomatique, Ignácio Ramonet, abordou o que ele próprio chamou de “luzes e sombras” do papel dos novos meios. O francês afirmou que já não é possível fazer jornalismo desconsiderando os novos meios e os novos atores que surgem com a utilização destes. Em seguida, listou as principais consequências que identifica a partir da utilização das novas mídias.
Entre as luzes, que seriam os aspectos positivos, Ramonet avalia que os veículos tradicionais vivem uma crise e, ainda, que os Estados autoritários já não podem controlar a circulação de informação, de forma que os cidadãos podem se organizar utilizando a internet – o exemplo dado pelo palestrante foram as recentes manifestações no norte da África. Ele avalia como positiva ainda a substituição da figura do jornalista como herói solitário pela produção de informação a diversas mãos, com uma estratégia de “enxame” que caracteriza a blogosfera, como ele define. “A inteligência coletiva é superior à proeza individual”, concluiu Ignácio Ramonet.
Quanto às sombras, ou seja, os aspectos a respeito dos quais se deve refletir, o intelectual alerta que o momento que vivemos é transitório. Ele lembra que há cinco anos não existiam Twitter, Facebook, i-phone, tablet e Wikileaks, por exemplo. “É certo que blogueiros, twitteiros, serão cada vez mais importantes. Mas não sabemos como o Estado e as empresas de comunicação se organizarão para retomar um poder que perderam”.
Para Ignácio Ramonet, o momento de mudança que vive a comunicação é comparável ao surgimento da imprensa com Gutemberg, que foi um elemento importante em grandes mudanças sociais do período, como o surgimento do protestantismo, ou de novas formas de Estado, entre outras. “Alterações nos campos estruturais da comunicação sempre refletem em campos gerais da sociedade”, alertou o teórico.
Ele afirmou ainda que o trabalho voluntário de milhões de blogueiros contribui para o enriquecimento de grandes conglomerados, citando o Google e o Facebook como exemplos. Por fim, falou sobre a característica de dispersão e fragmentação da informação que marca a blogosfera, para concluir: “o jornalismo não pode ser eliminado”, justificando que o papel do jornalismo deve ser o de dar sentido geral às coisas, a fim de “melhor compreender o mundo, para melhor participar dele”.
Nassif e a mídia do capital financeiro
Luis Nassif completou o debate ao focar a relação da imprensa com o capital financeiro no Brasil. Ele fez um histórico do comportamento da mídia convencional no país e resgatou exemplos de ação coordenada dos seus veículos, como no caso dos ataques recentes ao ministro Orlando Silva. “Após a queda do Orlando a mídia deu voz ao seu advogado, para defender a sua reputação(…). Quado ela quer, a mídia cria um clima de corrupção com um fato irrelevante por dia – como o caso da tapioca”, denunciou o jornalista.
Para Nassif, o papel que a blogosfera cumpriu rebatendo o discurso da mídia convencional sobre o caso Satiagraha foi um bom exemplo do seu potencial. “A mídia jogou seu poder para atacar a operação e defender Daniel Dantas e Gilmar Mendes. O contraponto foi na blogosfera, que respondeu, ponto por ponto, as inverdades levantadas pela mídia, com informações”. Para ele, a tendência é que sejam criados espaços de discussão e mediação do conjunto de informações que circulam na blogosfera, fortalecendo o papel das novas mídias de informar e combater a contra-informação veiculada pelas mídias convencionais.
Kristinn Hrafnsson, porta-voz do Wikileaks; Ignácio Ramonet, o criador do Le Monde Diplomatique; e o jornalista e blogueiro Luis Nassif debateram sobre o papel das novas mídias na primeira mesa do 1º Encontro Mundial de Blogueiros, que teve início nesta quinta-feira (27) e segue até sábado (29) na Itaipu Binacional, em Foz do Iguaçu (PR).
Enquanto o porta-voz do Wikileaks relatou a experiência da organização com a mídia tradicional e apontou a importância de uma ação integrada com os blogs, Ignácio Ramonet falou das possibilidades e limites das novas mídias e Luis Nassif pautou a importância da informação de qualidade para a guerra de informações na qual os blogueiros se inserem.
Wikileaks não morreu
Kristinn Hrafnsson iniciou desmentindo as notícias de que o Wikileaks estaria prestes a acabar. Ele disse que a organização suspendeu suas atividades para concentrar esforços em levantar fundos frente ao boicote promovido pelas empresas Visa, Mastercard, Paypal e Bank of America. Mas ele garante que as ações do Wikileaks serão retomadas.
O finlandês se disse decepcionado com a mídia tradicional pelas tentativas de supressão de informações e existência de censura interna, além de relação muito próxima aos governos. Kristinn diz que não esperava, por exemplo, que uma potência como o The New York Times, jornal que veiculou o escândalo de Watergate na época de Nixon, se dobraria diante de um pedido da Casa Branca de não publicação de histórias, como aconteceu. Ele relatou ainda sobre a recusa dos jornais de denunciarem práticas como esta, mesmo que o veículo a ser denunciado não disputasse público por ser em outro país, por exemplo.
Para Kristinn, é evidente a existência de uma lacuna entre o público e a confiança na mídia, algo constatado desde uma das primeiras ações do grupo, com a divulgação dos “Diários de Guerra do Afeganistão”. Para ele, uma ação conjunta do Wikileaks com blogueiros pode ser uma resposta eficaz à sociedade. “Wikileaks e blogueiros devem atuar de mãos dadas, quero que tenhamos a oportunidade de trabalhar juntos, pois sabemos que essa lacuna existe”.
Ramonet: luzes e sombras
O teórico da comunicação e criador do Le Monde Diplomatique, Ignácio Ramonet, abordou o que ele próprio chamou de “luzes e sombras” do papel dos novos meios. O francês afirmou que já não é possível fazer jornalismo desconsiderando os novos meios e os novos atores que surgem com a utilização destes. Em seguida, listou as principais consequências que identifica a partir da utilização das novas mídias.
Entre as luzes, que seriam os aspectos positivos, Ramonet avalia que os veículos tradicionais vivem uma crise e, ainda, que os Estados autoritários já não podem controlar a circulação de informação, de forma que os cidadãos podem se organizar utilizando a internet – o exemplo dado pelo palestrante foram as recentes manifestações no norte da África. Ele avalia como positiva ainda a substituição da figura do jornalista como herói solitário pela produção de informação a diversas mãos, com uma estratégia de “enxame” que caracteriza a blogosfera, como ele define. “A inteligência coletiva é superior à proeza individual”, concluiu Ignácio Ramonet.
Quanto às sombras, ou seja, os aspectos a respeito dos quais se deve refletir, o intelectual alerta que o momento que vivemos é transitório. Ele lembra que há cinco anos não existiam Twitter, Facebook, i-phone, tablet e Wikileaks, por exemplo. “É certo que blogueiros, twitteiros, serão cada vez mais importantes. Mas não sabemos como o Estado e as empresas de comunicação se organizarão para retomar um poder que perderam”.
Para Ignácio Ramonet, o momento de mudança que vive a comunicação é comparável ao surgimento da imprensa com Gutemberg, que foi um elemento importante em grandes mudanças sociais do período, como o surgimento do protestantismo, ou de novas formas de Estado, entre outras. “Alterações nos campos estruturais da comunicação sempre refletem em campos gerais da sociedade”, alertou o teórico.
Ele afirmou ainda que o trabalho voluntário de milhões de blogueiros contribui para o enriquecimento de grandes conglomerados, citando o Google e o Facebook como exemplos. Por fim, falou sobre a característica de dispersão e fragmentação da informação que marca a blogosfera, para concluir: “o jornalismo não pode ser eliminado”, justificando que o papel do jornalismo deve ser o de dar sentido geral às coisas, a fim de “melhor compreender o mundo, para melhor participar dele”.
Nassif e a mídia do capital financeiro
Luis Nassif completou o debate ao focar a relação da imprensa com o capital financeiro no Brasil. Ele fez um histórico do comportamento da mídia convencional no país e resgatou exemplos de ação coordenada dos seus veículos, como no caso dos ataques recentes ao ministro Orlando Silva. “Após a queda do Orlando a mídia deu voz ao seu advogado, para defender a sua reputação(…). Quado ela quer, a mídia cria um clima de corrupção com um fato irrelevante por dia – como o caso da tapioca”, denunciou o jornalista.
Para Nassif, o papel que a blogosfera cumpriu rebatendo o discurso da mídia convencional sobre o caso Satiagraha foi um bom exemplo do seu potencial. “A mídia jogou seu poder para atacar a operação e defender Daniel Dantas e Gilmar Mendes. O contraponto foi na blogosfera, que respondeu, ponto por ponto, as inverdades levantadas pela mídia, com informações”. Para ele, a tendência é que sejam criados espaços de discussão e mediação do conjunto de informações que circulam na blogosfera, fortalecendo o papel das novas mídias de informar e combater a contra-informação veiculada pelas mídias convencionais.
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