Por Francisco Toledo, no site da Agência Democratize:
Em 2013, em uma das primeiras manifestações do Passe Livre a qual tive a oportunidade de cobrir como fotojornalista, acabei conversando com May Vivian, uma das lideranças do movimento na época, em São Paulo. Conversa vem e conversa vai, enquanto a manifestação caminhava, ela me disse: “O movimento faz vaquinha pra conseguir arcar com as faixas e as demais intervenções. Juntamos umas 20 pessoas, cada uma dá 20 reais, a manifestação tá pronta”.
Na mesma época, muitas teorias existiam sobre como os protestos contra o aumento da tarifa no transporte acabou se tornando uma revolta popular, levando milhões de pessoas durante semanas para as ruas. Nada concreto.
Hoje, o protagonista é diferente. Movimentos como o MBL e Vem pra Rua, possuem táticas e um modo de organização completamente fora dos padrões do Passe Livre. Claro, o financiamento de suas ações também faz parte disso.
Em reportagem da Agência Pública no ano passado, o diretor executivo do Estudantes pela Liberdade (EPL), uma espécie de braço brasileiro da organização Students for Liberty, deixou bem clara a ligação entre eles e o Movimento Brasil Livre:
“Quando teve os protestos em 2013 pelo Passe Livre, vários membros do Estudantes pela Liberdade queriam participar, só que, como a gente recebe recursos de organizações como a Atlas e a Students for Liberty, por uma questão de imposto de renda lá, eles não podem desenvolver atividades políticas. Então a gente falou: ‘Os membros do EPL podem participar como pessoas físicas, mas não como organização para evitar problemas. Aí a gente resolveu criar uma marca, não era uma organização, era só uma marca para a gente se vender nas manifestações como Movimento Brasil Livre. Então juntou eu, Fábio [Ostermann], juntou o Felipe França, que é de Recife e São Paulo, mais umas quatro, cinco pessoas, criamos o logo, a campanha de Facebook. E aí acabaram as manifestações, acabou o projeto. E a gente estava procurando alguém para assumir, já tinha mais de 10 mil likes na página, panfletos. E aí a gente encontrou o Kim [Kataguiri] e o Renan [Haas], que afinal deram uma guinada incrível no movimento com as passeatas contra a Dilma e coisas do tipo. Inclusive, o Kim é membro da EPL, então ele foi treinado pela EPL também. E boa parte dos organizadores locais são membros do EPL. Eles atuam como integrantes do Movimento Brasil Livre, mas foram treinados pela gente, em cursos de liderança. O Kim, inclusive, vai participar agora de um torneio de pôquer filantrópico que o Students For Liberty organiza em Nova York para arrecadar recursos. Ele vai ser um palestrante. E também na conferência internacional em fevereiro, ele vai ser palestrante”
Mas do que se tratam essas organizações como o Students for Libert e a Atlas?
O Students for Liberty conta com uma grande atuação e articulação em países que passaram por tempos de turbulência nos últimos cinco anos, como a Venezuela e Ucrânia.
Na Venezuela, através de outro braço, o Students for Liberty conta com diversos coordenadores regionais, com forte atuação desde o começo da década. Um deles é o economista Oscar Torrealba, um dos favoritos pelos jornais venezuelanos. Figura confirmada nas análises do jornal El Universal, um dos meios de comunicação mais de oposição ao chavismo no país latino-americano.
A atuação do braço do Students for Liberty na Venezuela dentro das universidades foi um verdadeiro impulso para que os protestos acabassem eclodindo no ano de 2014.
Em 2013, em uma das primeiras manifestações do Passe Livre a qual tive a oportunidade de cobrir como fotojornalista, acabei conversando com May Vivian, uma das lideranças do movimento na época, em São Paulo. Conversa vem e conversa vai, enquanto a manifestação caminhava, ela me disse: “O movimento faz vaquinha pra conseguir arcar com as faixas e as demais intervenções. Juntamos umas 20 pessoas, cada uma dá 20 reais, a manifestação tá pronta”.
Na mesma época, muitas teorias existiam sobre como os protestos contra o aumento da tarifa no transporte acabou se tornando uma revolta popular, levando milhões de pessoas durante semanas para as ruas. Nada concreto.
Hoje, o protagonista é diferente. Movimentos como o MBL e Vem pra Rua, possuem táticas e um modo de organização completamente fora dos padrões do Passe Livre. Claro, o financiamento de suas ações também faz parte disso.
Em reportagem da Agência Pública no ano passado, o diretor executivo do Estudantes pela Liberdade (EPL), uma espécie de braço brasileiro da organização Students for Liberty, deixou bem clara a ligação entre eles e o Movimento Brasil Livre:
“Quando teve os protestos em 2013 pelo Passe Livre, vários membros do Estudantes pela Liberdade queriam participar, só que, como a gente recebe recursos de organizações como a Atlas e a Students for Liberty, por uma questão de imposto de renda lá, eles não podem desenvolver atividades políticas. Então a gente falou: ‘Os membros do EPL podem participar como pessoas físicas, mas não como organização para evitar problemas. Aí a gente resolveu criar uma marca, não era uma organização, era só uma marca para a gente se vender nas manifestações como Movimento Brasil Livre. Então juntou eu, Fábio [Ostermann], juntou o Felipe França, que é de Recife e São Paulo, mais umas quatro, cinco pessoas, criamos o logo, a campanha de Facebook. E aí acabaram as manifestações, acabou o projeto. E a gente estava procurando alguém para assumir, já tinha mais de 10 mil likes na página, panfletos. E aí a gente encontrou o Kim [Kataguiri] e o Renan [Haas], que afinal deram uma guinada incrível no movimento com as passeatas contra a Dilma e coisas do tipo. Inclusive, o Kim é membro da EPL, então ele foi treinado pela EPL também. E boa parte dos organizadores locais são membros do EPL. Eles atuam como integrantes do Movimento Brasil Livre, mas foram treinados pela gente, em cursos de liderança. O Kim, inclusive, vai participar agora de um torneio de pôquer filantrópico que o Students For Liberty organiza em Nova York para arrecadar recursos. Ele vai ser um palestrante. E também na conferência internacional em fevereiro, ele vai ser palestrante”
Mas do que se tratam essas organizações como o Students for Libert e a Atlas?
Figura importante do MBL, Kim Kataguiri ao lado de Jorge Gerdau, mega-empresário e nome cotado pelo Planalto para integrar o Conselho de Desenvolvimento Econômico | Foto: Fernando Conrado
O Students for Liberty conta com uma grande atuação e articulação em países que passaram por tempos de turbulência nos últimos cinco anos, como a Venezuela e Ucrânia.
Na Venezuela, através de outro braço, o Students for Liberty conta com diversos coordenadores regionais, com forte atuação desde o começo da década. Um deles é o economista Oscar Torrealba, um dos favoritos pelos jornais venezuelanos. Figura confirmada nas análises do jornal El Universal, um dos meios de comunicação mais de oposição ao chavismo no país latino-americano.
A atuação do braço do Students for Liberty na Venezuela dentro das universidades foi um verdadeiro impulso para que os protestos acabassem eclodindo no ano de 2014.
Cartaz do Students for Liberty para Venezuela e Ucrânia | Imagem: Reprodução
Foi a atuação dos estudantes dentro das universidades que acabou influenciando as gigantes manifestações naquele ano na Venezuela.
Em 6 de fevereiro, estudantes da Universidade Católica de Táchira atuaram atacando residências. Dois dias depois, mulehres vestidas de preto e alunos de Táchira, Zulia, Caracas e Coro protestaram contra a prisão de colegas. No dia 12, foi a vez dos grandes protestos tomarem corpo no país. Tudo isso ocorreu cerca de 12 dias depois do político oposicionista ao governo, Leopoldo López, organizar pessoalmente com estudantes universitários os protestos.
Desde o começo dos anos 2010, a atuação de ONGs estrangeiras - principalmente norte-americanas - tem se tornado uma tática favorável para a oposição aos chavistas na Venezuela.
Em 2008, o Instituto Cato, com base nos Estados Unidos, concedeu cerca de 500 mil dólares ao estudante Yon Goicoechea, pelo seu papel na mobilização de protestos contra a suspensão da emissora privada RCTV, uma das maiores do país. Ao mesmo tempo, uma quantidade considerável de 45 milhões de dólares foi investido anualmente por instituições norte-americanas a grupos oposicionistas na Venezuela, para programas de “desenvolvimento juvenil”. Uma das instituições que recebe parte desse valor anualmente é o braço direito da Students for Liberty na Venezuela, que conta com uma forte atuação nas universidades.
A partir de 2010, com suporte financeiro e apoio estrangeiro, estudantes de oposição criaram a JAVU (Juventud Activa Venezuela Unida). Desde então, ensaiaram de diversas formas uma grande mobilização como a que ocorreria quatro anos depois.
Foi a atuação dos estudantes dentro das universidades que acabou influenciando as gigantes manifestações naquele ano na Venezuela.
Em 6 de fevereiro, estudantes da Universidade Católica de Táchira atuaram atacando residências. Dois dias depois, mulehres vestidas de preto e alunos de Táchira, Zulia, Caracas e Coro protestaram contra a prisão de colegas. No dia 12, foi a vez dos grandes protestos tomarem corpo no país. Tudo isso ocorreu cerca de 12 dias depois do político oposicionista ao governo, Leopoldo López, organizar pessoalmente com estudantes universitários os protestos.
Desde o começo dos anos 2010, a atuação de ONGs estrangeiras - principalmente norte-americanas - tem se tornado uma tática favorável para a oposição aos chavistas na Venezuela.
Em 2008, o Instituto Cato, com base nos Estados Unidos, concedeu cerca de 500 mil dólares ao estudante Yon Goicoechea, pelo seu papel na mobilização de protestos contra a suspensão da emissora privada RCTV, uma das maiores do país. Ao mesmo tempo, uma quantidade considerável de 45 milhões de dólares foi investido anualmente por instituições norte-americanas a grupos oposicionistas na Venezuela, para programas de “desenvolvimento juvenil”. Uma das instituições que recebe parte desse valor anualmente é o braço direito da Students for Liberty na Venezuela, que conta com uma forte atuação nas universidades.
A partir de 2010, com suporte financeiro e apoio estrangeiro, estudantes de oposição criaram a JAVU (Juventud Activa Venezuela Unida). Desde então, ensaiaram de diversas formas uma grande mobilização como a que ocorreria quatro anos depois.
Membros da JAVU em coletiva de imprensa | Foto: Reprodução/Google
Em 2011 fizeram greve de fome em apoio aos “presos políticos”. Em 2013 realizaram manifestações do lado de fora da Embaixada de Cuba, exigindo o retorno do então presidente Hugo Chávez, que estava em Havana realizando quimioterapia. Posteriormente, continuaram os protestos para desafiar o resultado da eleição presidencial de abril daquele ano.
Não por acaso, Yon Goicoechea e o Instituto Cato possuem contato direto e influência dentro do Students for Liberty. E assim como o Movimento Brasil Livre, o JAVU é visto como uma célula de atuação dentro das universidades e em protestos públicos pela Students for Liberty na Venezuela.
E mesmo assim, precisamos de doações
Mesmo com o investimento pesado de organizações estrangeiras no EPL do Brasil, que são repassados para sua célula de atuação nas manifestações (o Movimento Brasil Livre), seus organizadores ainda solicitam doações para a mobilização de protestos e intervenções.
Recentemente, o MBL solicitou doações no nome do próprio Kim Kataguiri, com sua conta no banco. Algo que, em teoria, poderia ser feito para a conta do EPL no Brasil, já que a organização tem recebido grandes doações desde o ano passado, partindo de ONGs estrangeiras.
Mas, por conta do discurso de “independência financeira e política” do MBL, algo assim não poderia ser feito sem questionamentos. Ainda mais após seus apoiadores saberem que, mesmo depois de receber R$300 mil no ano passado, o movimento ainda pede colaboração financeira de manifestantes pró-impeachment.
Em 2011 fizeram greve de fome em apoio aos “presos políticos”. Em 2013 realizaram manifestações do lado de fora da Embaixada de Cuba, exigindo o retorno do então presidente Hugo Chávez, que estava em Havana realizando quimioterapia. Posteriormente, continuaram os protestos para desafiar o resultado da eleição presidencial de abril daquele ano.
Não por acaso, Yon Goicoechea e o Instituto Cato possuem contato direto e influência dentro do Students for Liberty. E assim como o Movimento Brasil Livre, o JAVU é visto como uma célula de atuação dentro das universidades e em protestos públicos pela Students for Liberty na Venezuela.
E mesmo assim, precisamos de doações
Mesmo com o investimento pesado de organizações estrangeiras no EPL do Brasil, que são repassados para sua célula de atuação nas manifestações (o Movimento Brasil Livre), seus organizadores ainda solicitam doações para a mobilização de protestos e intervenções.
Recentemente, o MBL solicitou doações no nome do próprio Kim Kataguiri, com sua conta no banco. Algo que, em teoria, poderia ser feito para a conta do EPL no Brasil, já que a organização tem recebido grandes doações desde o ano passado, partindo de ONGs estrangeiras.
Mas, por conta do discurso de “independência financeira e política” do MBL, algo assim não poderia ser feito sem questionamentos. Ainda mais após seus apoiadores saberem que, mesmo depois de receber R$300 mil no ano passado, o movimento ainda pede colaboração financeira de manifestantes pró-impeachment.
MBL, independentes pero no mucho | Foto: Felipe Malavasi/Democratize
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