Por Gilberto Maringoni, na revista Fórum:
A lista de Fachin é devastadora por um motivo central: é suficientemente ampla e ecumênica para não ser acusada de parcial ou unidirecional. Ao mesmo tempo, seu potencial destrutivo pode colocar a pique todo o sistema político. Ela nos bate na cara gritando “Après moi le déluge! Après moi le déluge!”
E depois do dilúvio? Quem administrará as águas?
O rol de nomes e sobrenomes nela contido reafirma algo perceptível após as eleições de 2014, quando Dilma decidiu colocar a pique a credibilidade do voto popular nela depositada: não há um vetor com credibilidade para reorganizar o sistema. O estelionato eleitoral trouxe o desalento, exacerbou o sentimento antipolítica e descortinou o fascismo social que não ousava dizer seu nome.
Nos anos 1980, na derrocada da ditadura, o MDB (e depois o PMDB) se capacitou em longos anos de luta democrática para tocar o barco nos escombros do regime, tendo a Constituinte como Norte. Tornou-se um importante vetor ou baliza política. Em torno dele, todas as movimentações políticas se descortinaram.
Sua deslegitimação, no final da década, junto com a do governo Sarney, criou quatro anos de interregno na disputa de projetos – governos Collor e Itamar -, até que o PSDB ancorou-se solidamente no capital financeiro para impor um projeto político e econômico factível numa era de reorganização da divisão internacional do trabalho. Tornou-se o segundo vetor pós-democratização
O terceiro parâmetro a garantir a continuidade da disputa democrática foi o PT, a partir de três quebras da economia nacional patrocinadas pelas gestões de FHC. Sem romper totalmente com as diretrizes anteriores, a agremiação mostrou extrema competência nos primeiros anos para atuar na esteira do dinamismo externo (China), elevar o salário real com moderadas taxas de distribuição de renda e de crescimento do PIB. Sensivelmente, a vida melhorou para as camadas populares no período.
Lula investiu na expansão do mercado interno e teve notável êxito nisso. Não operou a etapa seguinte, liberar o excedente público para alavancar o investimento estatal e reduzir o impacto da crise externa. Implicaria uma elevação da temperatura do choque distributivo que optou por não fazer.
A derrocada do PT abriu as portas do caos. Nem o PMDB e nem o PSDB têm legitimidade popular e o projeto que empalmam, de inserção subordinada, não galvaniza forças significativas para além do capital financeiro. O projeto do golpe só funcionará com redução drástica dos salários reais e elevação exponencial dos juros básicos, o que resulta – entre outras coisas – em sobrevalorização cambial.
Ou seja, se de um lado a diretriz é reduzir custos de produção para atrair capital, na outra ponta, a defasagem cambial eleva objetivamente os mesmos custos internos. É uma conta que não fecha, ainda mais em uma economia em depressão.
A lista de Facchin chega nesse cenário. É bom que ela exista, mas não é solução para nada. Na corrida contra o tempo, tirando Lula, não há competidor sério para as eleições de 2018.
Mas um Lula desossado de projeto nacional – como aconteceu entre 2003-10, apesar dos bons ventos de fora – pode ser importante alento na luta contra as reformas, mas não reorganiza a lambança pós-golpe. Pode até reafirmá-la.
Lula é decisivo nesta conjuntura – 2017! – por ser o único fiapo de polo definidor de rumos futuros. Mantém densidade eleitoral e um recall no eleitorado pobre, inigualável por qualquer outro.
Mas Lula – ou outra força de esquerda – pede um projeto de desenvolvimento macroeconômico consistente. Querendo ou não o ex-presidente, sua postulação representa um aguçamento acelerado da luta de classes. Tornou-se não-palatável aos de cima neste momento, daí o esforço por tirá-lo do jogo.
O caminho será difícil e complexo. Mas ele não surgirá sem que se acentuem as divisões no bloco dominante e sem enfrentamento a partir de baixo.
Pode haver algum tipo de conciliação? Sim, mas não parece ser a tendência dominante na cena política.
A lista de Facchin parece ter o poder de dinamitar todos os navios.
A lista de Fachin é devastadora por um motivo central: é suficientemente ampla e ecumênica para não ser acusada de parcial ou unidirecional. Ao mesmo tempo, seu potencial destrutivo pode colocar a pique todo o sistema político. Ela nos bate na cara gritando “Après moi le déluge! Après moi le déluge!”
E depois do dilúvio? Quem administrará as águas?
O rol de nomes e sobrenomes nela contido reafirma algo perceptível após as eleições de 2014, quando Dilma decidiu colocar a pique a credibilidade do voto popular nela depositada: não há um vetor com credibilidade para reorganizar o sistema. O estelionato eleitoral trouxe o desalento, exacerbou o sentimento antipolítica e descortinou o fascismo social que não ousava dizer seu nome.
Nos anos 1980, na derrocada da ditadura, o MDB (e depois o PMDB) se capacitou em longos anos de luta democrática para tocar o barco nos escombros do regime, tendo a Constituinte como Norte. Tornou-se um importante vetor ou baliza política. Em torno dele, todas as movimentações políticas se descortinaram.
Sua deslegitimação, no final da década, junto com a do governo Sarney, criou quatro anos de interregno na disputa de projetos – governos Collor e Itamar -, até que o PSDB ancorou-se solidamente no capital financeiro para impor um projeto político e econômico factível numa era de reorganização da divisão internacional do trabalho. Tornou-se o segundo vetor pós-democratização
O terceiro parâmetro a garantir a continuidade da disputa democrática foi o PT, a partir de três quebras da economia nacional patrocinadas pelas gestões de FHC. Sem romper totalmente com as diretrizes anteriores, a agremiação mostrou extrema competência nos primeiros anos para atuar na esteira do dinamismo externo (China), elevar o salário real com moderadas taxas de distribuição de renda e de crescimento do PIB. Sensivelmente, a vida melhorou para as camadas populares no período.
Lula investiu na expansão do mercado interno e teve notável êxito nisso. Não operou a etapa seguinte, liberar o excedente público para alavancar o investimento estatal e reduzir o impacto da crise externa. Implicaria uma elevação da temperatura do choque distributivo que optou por não fazer.
A derrocada do PT abriu as portas do caos. Nem o PMDB e nem o PSDB têm legitimidade popular e o projeto que empalmam, de inserção subordinada, não galvaniza forças significativas para além do capital financeiro. O projeto do golpe só funcionará com redução drástica dos salários reais e elevação exponencial dos juros básicos, o que resulta – entre outras coisas – em sobrevalorização cambial.
Ou seja, se de um lado a diretriz é reduzir custos de produção para atrair capital, na outra ponta, a defasagem cambial eleva objetivamente os mesmos custos internos. É uma conta que não fecha, ainda mais em uma economia em depressão.
A lista de Facchin chega nesse cenário. É bom que ela exista, mas não é solução para nada. Na corrida contra o tempo, tirando Lula, não há competidor sério para as eleições de 2018.
Mas um Lula desossado de projeto nacional – como aconteceu entre 2003-10, apesar dos bons ventos de fora – pode ser importante alento na luta contra as reformas, mas não reorganiza a lambança pós-golpe. Pode até reafirmá-la.
Lula é decisivo nesta conjuntura – 2017! – por ser o único fiapo de polo definidor de rumos futuros. Mantém densidade eleitoral e um recall no eleitorado pobre, inigualável por qualquer outro.
Mas Lula – ou outra força de esquerda – pede um projeto de desenvolvimento macroeconômico consistente. Querendo ou não o ex-presidente, sua postulação representa um aguçamento acelerado da luta de classes. Tornou-se não-palatável aos de cima neste momento, daí o esforço por tirá-lo do jogo.
O caminho será difícil e complexo. Mas ele não surgirá sem que se acentuem as divisões no bloco dominante e sem enfrentamento a partir de baixo.
Pode haver algum tipo de conciliação? Sim, mas não parece ser a tendência dominante na cena política.
A lista de Facchin parece ter o poder de dinamitar todos os navios.
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