Por Paulo Nogueira, no blog Diário do Centro do Mundo:
Vânia olhou para a sua panela tramontina roxa ali guardada no fundo do armário da cozinha.
Foi um olhar em que havia ao mesmo tempo melancolia e frustração.
Não era uma panela qualquer. Era aquela que Vânia usara nos protestos contra Dilma. Escolhera-a por ser leve e barulhenta. Perfeita, portanto, para a ocasião.
A panela remetia a Dilma. Vânia, naqueles dias de panelaço, abominava Dilma.
Dilma era um obstáculo para o Brasil, para os brasileiros. Quando gritava “Fora Dilma”, Vânia tinha certeza de que bradava pelo progresso nacional.
Vânia era gerente de uma loja da Riachuelo. O dono da cadeia dissera à imprensa que, Dilma saindo, as coisas logo se ajeitariam na economia nacional. Questão de dias.
Era o que todo mundo dizia, aliás. Vânia lia a Veja toda semana. Não perdia um Jornal Nacional. Deixava horas e horas a GloboNews ligada na tevê de sua casa. No trânsito, a rádio de seu carro oscilava entre CBN e Jovem Pan.
Considerava-se, modéstia à parte, uma mulher muito bem informada.
Todo mundo que ela admirava na imprensa concordava em que Dilma tinha que cair.
Vânia pegou a tramontina roxa nas mãos e como que voltou no tempo. Sentia que estava fazendo história ao participar dos panelaços. Com a panela nas mãos, naquelas noites, era tomada de uma euforia quase sexual.
Tinha que dar certo - e deu. Dilma enfim caiu.
Todos os problemas agora estavam resolvidos.
Ou não?
Ali, na sua cozinha, tramontina na mão, naquele momento de rememoração e reflexão, já se tinham passado mais de seis meses desde a queda de Dilma.
Mas e o paraíso prometido, onde fora parar?
Vânia batera a panela contra a corrupção, mas Temer e a turma que tomara o poder não significavam exatamente um choque de ética política.
Na economia, as coisas não podiam estar piores. Vários colegas de Vânia de gerência na Riachuelo tinham sido demitidos nos últimos dias. Cada vez que o chefe a chamava ela tinha um tremor. Achava que chegara a sua hora de ser despedida.
Naquele dia do reencontro com a tramontina roxa, Vânia pensou também em Dilma.
Será que ela era mesmo aquele monstro que pintaram?
Vira algumas entrevistas com ela depois do impeachment. Chamou sua atenção a forma como ela, Dilma, se referia aos pobres. Era uma simpatia que parecia ser genuína, e que como que tinha o poder de contagiar.
“Um país tão rico com tantos pobres não pode dar certo”, Vânia se pegou um dia refletindo. Isso nunca aconterera antes.
Vânia passara a ver Dilma de outra forma.
Teria sido vítima de uma trama de homens corruptos e muito ricos, como ela dizia?
Talvez sim, talvez não, pensou Vânia, panela na mão.
De repente, num impulso irresistível, atirou a tramontina contra a parede.
E lhe ocorreu que caso encontrasse Dilma na rua lhe daria um abraço.
Não um abraço de desculpa, mas um gesto de solidariedade de mulher para mulher. “Acho que me usaram para te pegar”, talvez dissesse.
A história acima é uma mistura de ficção leve e realidade brutal.
Foi um olhar em que havia ao mesmo tempo melancolia e frustração.
Não era uma panela qualquer. Era aquela que Vânia usara nos protestos contra Dilma. Escolhera-a por ser leve e barulhenta. Perfeita, portanto, para a ocasião.
A panela remetia a Dilma. Vânia, naqueles dias de panelaço, abominava Dilma.
Dilma era um obstáculo para o Brasil, para os brasileiros. Quando gritava “Fora Dilma”, Vânia tinha certeza de que bradava pelo progresso nacional.
Vânia era gerente de uma loja da Riachuelo. O dono da cadeia dissera à imprensa que, Dilma saindo, as coisas logo se ajeitariam na economia nacional. Questão de dias.
Era o que todo mundo dizia, aliás. Vânia lia a Veja toda semana. Não perdia um Jornal Nacional. Deixava horas e horas a GloboNews ligada na tevê de sua casa. No trânsito, a rádio de seu carro oscilava entre CBN e Jovem Pan.
Considerava-se, modéstia à parte, uma mulher muito bem informada.
Todo mundo que ela admirava na imprensa concordava em que Dilma tinha que cair.
Vânia pegou a tramontina roxa nas mãos e como que voltou no tempo. Sentia que estava fazendo história ao participar dos panelaços. Com a panela nas mãos, naquelas noites, era tomada de uma euforia quase sexual.
Tinha que dar certo - e deu. Dilma enfim caiu.
Todos os problemas agora estavam resolvidos.
Ou não?
Ali, na sua cozinha, tramontina na mão, naquele momento de rememoração e reflexão, já se tinham passado mais de seis meses desde a queda de Dilma.
Mas e o paraíso prometido, onde fora parar?
Vânia batera a panela contra a corrupção, mas Temer e a turma que tomara o poder não significavam exatamente um choque de ética política.
Na economia, as coisas não podiam estar piores. Vários colegas de Vânia de gerência na Riachuelo tinham sido demitidos nos últimos dias. Cada vez que o chefe a chamava ela tinha um tremor. Achava que chegara a sua hora de ser despedida.
Naquele dia do reencontro com a tramontina roxa, Vânia pensou também em Dilma.
Será que ela era mesmo aquele monstro que pintaram?
Vira algumas entrevistas com ela depois do impeachment. Chamou sua atenção a forma como ela, Dilma, se referia aos pobres. Era uma simpatia que parecia ser genuína, e que como que tinha o poder de contagiar.
“Um país tão rico com tantos pobres não pode dar certo”, Vânia se pegou um dia refletindo. Isso nunca aconterera antes.
Vânia passara a ver Dilma de outra forma.
Teria sido vítima de uma trama de homens corruptos e muito ricos, como ela dizia?
Talvez sim, talvez não, pensou Vânia, panela na mão.
De repente, num impulso irresistível, atirou a tramontina contra a parede.
E lhe ocorreu que caso encontrasse Dilma na rua lhe daria um abraço.
Não um abraço de desculpa, mas um gesto de solidariedade de mulher para mulher. “Acho que me usaram para te pegar”, talvez dissesse.
A história acima é uma mistura de ficção leve e realidade brutal.
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