Por Pedro Oliveira, no site da Fundação Maurício Grabois:
Atenção! Este título não foi elaborado por nenhum órgão de imprensa socialista ou comunista. Foi editado para a publicação desta semana da revista mais importante do sistema econômico e financeiro do capitalismo: a The Economist, em um artigo que comemora os 200 anos do nascimento de Karl Marx, ocorrido em 1818.
Dois meses depois da fundação da revista The Economist, em setembro de 1843, que se auto-proclama “journal”, Karl Marx chegava a Paris, em novembro, com a tarefa de construir os Deutsch Franzosische Jahrbucher (O Diário Franco-Alemão), que deveria dar voz a escritores de oposição franceses e alemães.
Neste artigo sobre o qual falamos acima publicado na The Economist – depois de uma breve introdução que procura desqualificar a herança marxista em grande parte do século XX – o autor afirma que Karl Marx continua a ser uma figura “monumental”. Entre as críticas que a revista alinha na abertura do texto está a previsão de Marx (não-realizada) que a revolução socialista se daria primeiramente em países mais avançados do ponto de vista econômico. E a outra questão que a The Economistdestaca como “falha do pensamento dialético” de Marx é a falta de antecipação teórica sobre a ascensão do fascismo e do Estado Social na Europa.
No 200º. aniversário do nascimento de Karl Marx, que ocorre justamente em 5 de maio, “o interesse por ele está tão animado como sempre esteve”. Afirma a revista que o presidente da União Europeia, Jean-Claude Juncker, está em visita a Trier, na Alemanha, cidade natal de Marx, onde uma estátua doada à municipalidade local pelo governo da República Popular da China será inaugurada esta semana. A Biblioteca Britânica, onde Marx realizou grande parte da pesquisa para a elaboração de sua obra prima, O Capital, e onde também buscou referências para os artigos que publicou regularmente para o jornal estadunidense New York Daily Tribune(1), por quase dez anos, está organizando uma série de exposições e palestras sobre sua vida e obra. Editores estão produzindo e publicando vários livros sobre seu pensamento, como o livro do professor sueco Sven-Eric Liedman: “A world to Win: the life and Works of Karl Marx”, e a segunda edição do livro de Peter Singer: “Marx: a very short introduction”.
A revista, no entanto, considera que estes livros não são essenciais para a leitura sobre Marx como o foi o volume publicado por Isaiah Berlin: “Karl Marx”, que foi publicado em 1939.
A primeira razão pela qual a revista explica o porquê do sucesso de Marx como pensador e teórico é o poder de suas ideias. “Ele foi um pensador brilhante”, destaca o artigo, por ter desenvolvido uma teoria da sociedade impulsionada pelas forças econômicas – não apenas pelos meios de produção, mas pela relação entre os proprietários desses meios de produção e os trabalhadores. “Foi também um escritor brilhante”, continua a revista, lembrando a observação de Marx que a história se repete “a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa”.
Uma segunda razão, pontua o artigo, é o poder de sua personalidade que o autor se socorre de uma opinião de Mikhail Bakunin, segundo o qual “Marx era ambicioso e vaidoso, briguento, intolerante e…vingativo ao ponto da loucura”. O artigo afirma que Marx acreditava piamente que ele estava certo, que havia descoberto a chave da história que tinha escapado aos filósofos anteriores. Sua noção de felicidade era “lutar”, lembra a revista.
E uma terceira questão que o texto considera importante em sua avaliação é um paradoxo: a principal razão para o interesse contínuo em Marx, completa a revista, é que “suas ideias são mais relevantes do que têm sido há décadas”. O consenso do pós-guerra que deslocou o poder do capital para o trabalho e produziu uma grande melhoria no padrão de vida da humanidade está desaparecendo. “A globalização e o crescimento da economia virtual estão produzindo uma versão do capitalismo que mais uma vez parece estar fora de controle”, conclui a revista. Não é fortuito que o livro de economia que se tornou mais bem-sucedido nos últimos anos tenha sido “O Capital no Século XXI”, escrito pelo economista francês Thomas Piketty, com sua pesquisa a respeito do crescimento vertiginoso da desigualdade.
O profeta de Davos
Segundo a revista, Marx definiu o capitalismo como um sistema de rentismo, mais do que um processo “de criação de riqueza a partir do nada”, como os capitalistas gostam de proclamar. Na verdade, Marx afirmou que o capitalismo é um negócio especializado na expropriação da riqueza de outrem.
Segundo o artigo, “Marx considerava o capitalismo por sua natureza, um sistema global”. Ele se aconchega em todo lugar, se implanta em qualquer lugar, estabelece conecções em todos os lugares, e isso é uma verdade hoje como era no período vitoriano na Inglaterra, afirma a revista. Diz ainda que os mais importantes desenvolvimentos na História nos últimos 30 anos é a quebra de todas as barreiras ao livre trânsito dos fatores de produção – como as mercadorias, o capital e em alguma medida as próprias pessoas – e a emergência de novas economias na periferia do sistema. Empresas multinacionais fincam suas bandeiras onde é mais conveniente a seus interesses. Dirigentes de empresas, os CEOs, voam de um país a outro para tornar mais eficaz sua exploração global. O Fórum Econômico de Davos que se reúne anualmente na Suíça, bem que poderia proclamar: “Marx tinha razão!”
Marx também pensava que o capitalismo tem uma tendência à monopolização, descreve o artigo, onde os capitalistas mais eficazes engolem os seus rivais mais fracos, para extrair de forma mais efetiva as vantagens monopolistas. Novamente a revista concorda que a descrição feita por Marx sobre o desenvolvimento do comércio global, que está cada vez mais sendo reformatado pela globalização e pela internet. As maiores empresas do mundo estão não apenas se tornando maiores em quantidade absoluta de produção e circulação de mercadorias, como vão transformando as empresas menores em meros apêndices desse sistema global. O Facebook e a Google controlam 2/3 dos lucros da publicidade do comércio online dos Estados Unidos. A empresa Amazon, por sua vez, domina 40% do mercado americano de compras online. A Google processa 90%, em muitos países, de todas as buscas na internet.
Entretanto, constata a revista, após a segunda grande guerra as conquistas dos trabalhadores agora vão sendo precarizadas. E o proletariado volta a ser reabilitado na forma como Marx o via no início da Revolução Industrial. O Banco Mundial, apesar de tudo isso, calcula que o número de pessoas que vive em extrema pobreza declinou de cerca de 1 bilhão e 850 milhões de pessoas em 1990 para 767 milhões em 2013.
Como uma espécie de conclusão, a revista ao final do artigo considera que o grande erro histórico de Marx é que ele não elaborou a previsão de capacidade de reformas por parte da humanidade – ou seja, as pessoas podem desenvolver a busca de saídas para os evidentes problemas criados pelo capitalismo pelas reformas e não pela revolução. Mas a revista considera que os reformadores liberais – e mais ainda os que adotam a política do populismo na atualidade – não estão sendo tão eficientes que os seus predecessores. Por isso que o artigo conclama os líderes e os dirigentes do mundo a ler e estudar os escritos de Karl Marx, para compreender como funciona o capitalismo na visão dele, e para não cometer os mesmo erros que as classes dirigentes do capitalismo têm cometido historicamente.
https://www.economist.com/news/books-and-arts/21741531-his-bicentenary-marxs-diagnosis-capitalisms-flaws-surprisingly-relevant-rulers
Atenção! Este título não foi elaborado por nenhum órgão de imprensa socialista ou comunista. Foi editado para a publicação desta semana da revista mais importante do sistema econômico e financeiro do capitalismo: a The Economist, em um artigo que comemora os 200 anos do nascimento de Karl Marx, ocorrido em 1818.
Dois meses depois da fundação da revista The Economist, em setembro de 1843, que se auto-proclama “journal”, Karl Marx chegava a Paris, em novembro, com a tarefa de construir os Deutsch Franzosische Jahrbucher (O Diário Franco-Alemão), que deveria dar voz a escritores de oposição franceses e alemães.
Neste artigo sobre o qual falamos acima publicado na The Economist – depois de uma breve introdução que procura desqualificar a herança marxista em grande parte do século XX – o autor afirma que Karl Marx continua a ser uma figura “monumental”. Entre as críticas que a revista alinha na abertura do texto está a previsão de Marx (não-realizada) que a revolução socialista se daria primeiramente em países mais avançados do ponto de vista econômico. E a outra questão que a The Economistdestaca como “falha do pensamento dialético” de Marx é a falta de antecipação teórica sobre a ascensão do fascismo e do Estado Social na Europa.
No 200º. aniversário do nascimento de Karl Marx, que ocorre justamente em 5 de maio, “o interesse por ele está tão animado como sempre esteve”. Afirma a revista que o presidente da União Europeia, Jean-Claude Juncker, está em visita a Trier, na Alemanha, cidade natal de Marx, onde uma estátua doada à municipalidade local pelo governo da República Popular da China será inaugurada esta semana. A Biblioteca Britânica, onde Marx realizou grande parte da pesquisa para a elaboração de sua obra prima, O Capital, e onde também buscou referências para os artigos que publicou regularmente para o jornal estadunidense New York Daily Tribune(1), por quase dez anos, está organizando uma série de exposições e palestras sobre sua vida e obra. Editores estão produzindo e publicando vários livros sobre seu pensamento, como o livro do professor sueco Sven-Eric Liedman: “A world to Win: the life and Works of Karl Marx”, e a segunda edição do livro de Peter Singer: “Marx: a very short introduction”.
A revista, no entanto, considera que estes livros não são essenciais para a leitura sobre Marx como o foi o volume publicado por Isaiah Berlin: “Karl Marx”, que foi publicado em 1939.
A primeira razão pela qual a revista explica o porquê do sucesso de Marx como pensador e teórico é o poder de suas ideias. “Ele foi um pensador brilhante”, destaca o artigo, por ter desenvolvido uma teoria da sociedade impulsionada pelas forças econômicas – não apenas pelos meios de produção, mas pela relação entre os proprietários desses meios de produção e os trabalhadores. “Foi também um escritor brilhante”, continua a revista, lembrando a observação de Marx que a história se repete “a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa”.
Uma segunda razão, pontua o artigo, é o poder de sua personalidade que o autor se socorre de uma opinião de Mikhail Bakunin, segundo o qual “Marx era ambicioso e vaidoso, briguento, intolerante e…vingativo ao ponto da loucura”. O artigo afirma que Marx acreditava piamente que ele estava certo, que havia descoberto a chave da história que tinha escapado aos filósofos anteriores. Sua noção de felicidade era “lutar”, lembra a revista.
E uma terceira questão que o texto considera importante em sua avaliação é um paradoxo: a principal razão para o interesse contínuo em Marx, completa a revista, é que “suas ideias são mais relevantes do que têm sido há décadas”. O consenso do pós-guerra que deslocou o poder do capital para o trabalho e produziu uma grande melhoria no padrão de vida da humanidade está desaparecendo. “A globalização e o crescimento da economia virtual estão produzindo uma versão do capitalismo que mais uma vez parece estar fora de controle”, conclui a revista. Não é fortuito que o livro de economia que se tornou mais bem-sucedido nos últimos anos tenha sido “O Capital no Século XXI”, escrito pelo economista francês Thomas Piketty, com sua pesquisa a respeito do crescimento vertiginoso da desigualdade.
O profeta de Davos
Segundo a revista, Marx definiu o capitalismo como um sistema de rentismo, mais do que um processo “de criação de riqueza a partir do nada”, como os capitalistas gostam de proclamar. Na verdade, Marx afirmou que o capitalismo é um negócio especializado na expropriação da riqueza de outrem.
Segundo o artigo, “Marx considerava o capitalismo por sua natureza, um sistema global”. Ele se aconchega em todo lugar, se implanta em qualquer lugar, estabelece conecções em todos os lugares, e isso é uma verdade hoje como era no período vitoriano na Inglaterra, afirma a revista. Diz ainda que os mais importantes desenvolvimentos na História nos últimos 30 anos é a quebra de todas as barreiras ao livre trânsito dos fatores de produção – como as mercadorias, o capital e em alguma medida as próprias pessoas – e a emergência de novas economias na periferia do sistema. Empresas multinacionais fincam suas bandeiras onde é mais conveniente a seus interesses. Dirigentes de empresas, os CEOs, voam de um país a outro para tornar mais eficaz sua exploração global. O Fórum Econômico de Davos que se reúne anualmente na Suíça, bem que poderia proclamar: “Marx tinha razão!”
Marx também pensava que o capitalismo tem uma tendência à monopolização, descreve o artigo, onde os capitalistas mais eficazes engolem os seus rivais mais fracos, para extrair de forma mais efetiva as vantagens monopolistas. Novamente a revista concorda que a descrição feita por Marx sobre o desenvolvimento do comércio global, que está cada vez mais sendo reformatado pela globalização e pela internet. As maiores empresas do mundo estão não apenas se tornando maiores em quantidade absoluta de produção e circulação de mercadorias, como vão transformando as empresas menores em meros apêndices desse sistema global. O Facebook e a Google controlam 2/3 dos lucros da publicidade do comércio online dos Estados Unidos. A empresa Amazon, por sua vez, domina 40% do mercado americano de compras online. A Google processa 90%, em muitos países, de todas as buscas na internet.
Entretanto, constata a revista, após a segunda grande guerra as conquistas dos trabalhadores agora vão sendo precarizadas. E o proletariado volta a ser reabilitado na forma como Marx o via no início da Revolução Industrial. O Banco Mundial, apesar de tudo isso, calcula que o número de pessoas que vive em extrema pobreza declinou de cerca de 1 bilhão e 850 milhões de pessoas em 1990 para 767 milhões em 2013.
Como uma espécie de conclusão, a revista ao final do artigo considera que o grande erro histórico de Marx é que ele não elaborou a previsão de capacidade de reformas por parte da humanidade – ou seja, as pessoas podem desenvolver a busca de saídas para os evidentes problemas criados pelo capitalismo pelas reformas e não pela revolução. Mas a revista considera que os reformadores liberais – e mais ainda os que adotam a política do populismo na atualidade – não estão sendo tão eficientes que os seus predecessores. Por isso que o artigo conclama os líderes e os dirigentes do mundo a ler e estudar os escritos de Karl Marx, para compreender como funciona o capitalismo na visão dele, e para não cometer os mesmo erros que as classes dirigentes do capitalismo têm cometido historicamente.
https://www.economist.com/news/books-and-arts/21741531-his-bicentenary-marxs-diagnosis-capitalisms-flaws-surprisingly-relevant-rulers
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