Por Paulo Moreira Leite, em seu blog:
1. Bolsonaro teve uma das mais fracas e menos expressivas vitórias eleitorais desde a democratização.
Recebeu 55 milhões de votos sobre um eleitorado de 147 milhões, ou 39%.
Não tem maioria no país, portanto. Essa é a mensagem política mas não é a única.
A vantagem de 10 pontos sobre Haddad é menor que a vitória de Dilma sobre José Serra (12 pontos), que Lula sobre Serra (22 pontos) e Alckmin (23 pontos).
Só é superior à magra diferença que Dilma conseguiu obter sobre Aécio Neves (3,5 pontos), mas em 2014 a mesma articulação que se mobilizou para derrotar Haddad já auxiliava o PSDB.
Na manhã de hoje, num editorial intitulado "Salto no escuro", o Estado de S. Paulo, referência do pensamento conservador brasileiro, definiu a vitória de Bolsonaro como o "ápice" da "tiriricarização da política", como a "escolha de um presidente que muitos de seus próprios eleitores consideram completamente despreparado para chefiar o governo e o Estado".
2. Estimulado por todos aqueles que pretendiam ajudar Bolsonaro mas não queriam mostrar o nome e o rosto, em 2018 o voto nulo bateu recorde e chegou a 9,6%, ou 13,5 milhões de eleitores.
Foi reforçado na reta final, depois do choque em torno da fábrica de fake news e do discurso no qual Bolsonaro disse que Lula iria apodrecer na cadeia e que Haddad lhe faria companhia da prisão.
A abstenção foi de 29,6 milhões de votos, ou 21,2%. Como disse o youtuber Felipe Neto: "81 milhões de não votaram no Bozo. Ele enfrentará uma oposição gigantesca. Eu estarei lá. Espero contar com você."
3. Não há como negar que o enorme pacto de unidade entre o Judiciário, a mídia grande e o empresariado para excluir Lula da eleição - objetivo estratégico do verdadeiro mecanismo em operação nos bastidores da política brasileira - rendeu frutos.
Foi um fator decisivo. A truculência terá seu preço, porém.
Ao livrar Bolsonaro de uma disputa contra Lula nas urnas, uma condenação que é escândalo internacional vai perseguir os vencedores de 2018 como os fantasmas que assombram as tragédias de Shakespeare.
4. Estou convencido de que, na reta final do segundo turno, a chance de uma virada a favor de Haddad era real.
Tive essa impressão em conversas honestas com lideranças políticas e também em diálogos com pessoas do povo, que encontrei em pontos de ônibus, bares e outros locais públicos.
Nas duas últimas semanas a mobilização democrática da sociedade brasileira envolveu um número imenso de pessoas, que brotavam dos locais mais inesperados com um panfleto na mão, um sorriso no rosto e uma imensa vontade de explicar e convencer.
Eles e elas se qualificaram para atuar como uma grande força de resistência no próximo período.
"Foi um orgulho lutar ao seu lado na defesa da democracia e justiça social", escreveu Miguel Torres, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de S. Paulo, em mensagem enviada a seu circulo de amigos e conhecidos logo após a contagem dos votos.
Tenho certeza de que a experiência de quem tentou modificar a História em condições tão difíceis, em breve estará em romances, livros de memória e outros relatos que ajudam um país a se transformar em nação.
Não estive no comício da Lapa, no Rio de Janeiro.
Mas tenho certeza de que, em nossa consciência de povo tão desigual, temos a humildade de concordar, num grau maior ou menor, com a observação de Mano Brown sobre a necessidade de renovar e ampliar o diálogo com a periferia.
5. Mesmo derrotado, o PT e Haddad saem fortalecidos.
Entre todos os partidos relevantes que o país conheceu após a democratização, o PT é o único sobrevivente.
Haddad acabou apoiado até por lideranças do Judiciário que atuaram como carrascos contra o partido em outros momentos.
O PSDB foi ocupado pela extrema-direita e até Fernando Henrique Cardoso precisou esconder sua preferência no segundo turno. O MDB será alugado por Bolsonaro, da mesma forma que o DEM.
Antes que se forme um ensaiado coral de sábios para tentar nos convencer que o povo brasileiro rendeu-se ao neoliberalismo fardado, ou pior ainda, ao fascismo, melodias sob medida para justificar todo tipo de barbaridade em preparação após a eleição de Bolsonaro, convém considerar alguns dados da eleição:
1. Bolsonaro teve uma das mais fracas e menos expressivas vitórias eleitorais desde a democratização.
Recebeu 55 milhões de votos sobre um eleitorado de 147 milhões, ou 39%.
Não tem maioria no país, portanto. Essa é a mensagem política mas não é a única.
A vantagem de 10 pontos sobre Haddad é menor que a vitória de Dilma sobre José Serra (12 pontos), que Lula sobre Serra (22 pontos) e Alckmin (23 pontos).
Só é superior à magra diferença que Dilma conseguiu obter sobre Aécio Neves (3,5 pontos), mas em 2014 a mesma articulação que se mobilizou para derrotar Haddad já auxiliava o PSDB.
Na manhã de hoje, num editorial intitulado "Salto no escuro", o Estado de S. Paulo, referência do pensamento conservador brasileiro, definiu a vitória de Bolsonaro como o "ápice" da "tiriricarização da política", como a "escolha de um presidente que muitos de seus próprios eleitores consideram completamente despreparado para chefiar o governo e o Estado".
2. Estimulado por todos aqueles que pretendiam ajudar Bolsonaro mas não queriam mostrar o nome e o rosto, em 2018 o voto nulo bateu recorde e chegou a 9,6%, ou 13,5 milhões de eleitores.
Foi reforçado na reta final, depois do choque em torno da fábrica de fake news e do discurso no qual Bolsonaro disse que Lula iria apodrecer na cadeia e que Haddad lhe faria companhia da prisão.
A abstenção foi de 29,6 milhões de votos, ou 21,2%. Como disse o youtuber Felipe Neto: "81 milhões de não votaram no Bozo. Ele enfrentará uma oposição gigantesca. Eu estarei lá. Espero contar com você."
3. Não há como negar que o enorme pacto de unidade entre o Judiciário, a mídia grande e o empresariado para excluir Lula da eleição - objetivo estratégico do verdadeiro mecanismo em operação nos bastidores da política brasileira - rendeu frutos.
Foi um fator decisivo. A truculência terá seu preço, porém.
Ao livrar Bolsonaro de uma disputa contra Lula nas urnas, uma condenação que é escândalo internacional vai perseguir os vencedores de 2018 como os fantasmas que assombram as tragédias de Shakespeare.
4. Estou convencido de que, na reta final do segundo turno, a chance de uma virada a favor de Haddad era real.
Tive essa impressão em conversas honestas com lideranças políticas e também em diálogos com pessoas do povo, que encontrei em pontos de ônibus, bares e outros locais públicos.
Nas duas últimas semanas a mobilização democrática da sociedade brasileira envolveu um número imenso de pessoas, que brotavam dos locais mais inesperados com um panfleto na mão, um sorriso no rosto e uma imensa vontade de explicar e convencer.
Eles e elas se qualificaram para atuar como uma grande força de resistência no próximo período.
"Foi um orgulho lutar ao seu lado na defesa da democracia e justiça social", escreveu Miguel Torres, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de S. Paulo, em mensagem enviada a seu circulo de amigos e conhecidos logo após a contagem dos votos.
Tenho certeza de que a experiência de quem tentou modificar a História em condições tão difíceis, em breve estará em romances, livros de memória e outros relatos que ajudam um país a se transformar em nação.
Não estive no comício da Lapa, no Rio de Janeiro.
Mas tenho certeza de que, em nossa consciência de povo tão desigual, temos a humildade de concordar, num grau maior ou menor, com a observação de Mano Brown sobre a necessidade de renovar e ampliar o diálogo com a periferia.
5. Mesmo derrotado, o PT e Haddad saem fortalecidos.
Entre todos os partidos relevantes que o país conheceu após a democratização, o PT é o único sobrevivente.
Haddad acabou apoiado até por lideranças do Judiciário que atuaram como carrascos contra o partido em outros momentos.
O PSDB foi ocupado pela extrema-direita e até Fernando Henrique Cardoso precisou esconder sua preferência no segundo turno. O MDB será alugado por Bolsonaro, da mesma forma que o DEM.
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