Por Jeferson Miola, em seu blog:
1.
No 1º turno da eleição de 2018, Bolsonaro obteve 49,2 milhões de votos – 33,5% do total de 147,3 milhões de eleitores alistados. Considerando-se apenas os 107 milhões de votos válidos; ou seja, descontando-se os votos em branco, nulos e as abstenções, teve 46%.
As séries de pesquisas de opinião realizadas por distintos institutos desde o início do governo Bolsonaro mostram, com variações sutis, que o pior índice de aprovação dele em todo este período nunca foi inferior a 25%, em maio/2020.
Com este desempenho Bolsonaro – um sociopata genocida que deveria estar preso, se as instituições de fato estivessem funcionando normalmente – nunca deixou de ser um polo eleitoral competitivo da extrema-direita. Mais: ele é, hoje, o fator político em torno do qual a oligarquia dominante, em todos seus matizes, do centro-direita à extrema-direita, gravita.
2.
Os recentes levantamentos do Datafolha [14/8] e da XP/Ipespe [17/8] mostram que Bolsonaro alcançou seu melhor índice de aprovação desde o início do governo, com 37%.
Os institutos também revelam que o percentual de pessoas que o avaliam como ruim ou péssimo baixou 10 pontos, ao patamar de 34% no Datafolha, e 37% na pesquisa XP.
Outros 27% no Datafolha [23% na XP] avaliam Bolsonaro como regular – um contingente que, em momentos de polarização, divide-se entre votar nele ou nos seus oponentes.
De acordo com esta fotografia, portanto, Bolsonaro segue titular da preferência de pelo menos 1/3 do eleitorado. Quem ostenta esta força eleitoral polariza a política brasileira. Com esta performance, o PT tem sido o pólo da política nacional pela esquerda nos últimos 30 anos, desde a 1ª eleição presidencial pós-ditadura, em 1989.
3.
O fenômeno da pandemia coincide com a confluência, contra Bolsonaro, de dificuldades de tal ordem que, em “situação normal”, levariam qualquer governante à lona, como: a comprovação dos esquemas de corrupção do clã durante décadas na política; a exposição do vínculo com o miliciano Adriano da Nóbrega e o Escritório do Crime; as manobras para esconder da justiça Queiroz, o capataz e tesoureiro da organização criminosa; os freios do STF ao funcionamento das milícias digitais; a divulgação da escatológica “reunião ministerial” de 22 de abril; as demissões dos ministros Mandetta e Moro; o crescimento da repulsa internacional; a devastação ambiental e o extermínio de povos indígenas; o noticiário hostil capitaneado pela Globo; as denúncias de crimes contra a humanidade protocoladas no TPI e na CIDH; os mais de 50 pedidos de impeachment; o descalabro econômico; a catástrofe sanitária de mais de 110 mil mortes etc e etc.
A ruptura com os Moro-lavajatistas não nocauteou Bolsonaro, como se insinuou que poderia acontecer em decorrência do conflito entre as 2 falanges da extrema-direita.
Bolsonaro compensou a perda relativa de apoios dos Moro-lavajatistas avançando sobre outros segmentos sociais e atraindo para a órbita de sustentação o corrupto Centrão. Com isso, ele trava tanto o impeachment no Congresso como a condenação por crimes de responsabilidade no STF.
Com o programa anti- nacional, anti-popular, entreguista e rentista, ele assegura o apoio e a coesão de todas frações da oligarquia dominante para se manter no governo.
4.
O auxílio emergencial de R$ 600 por pessoa – que numa família de 5 adultos pode significar uma renda de R$ 3 mil – é um dos fatores que explica o salto da aprovação nas pesquisas.
Mas é preciso balancear com realismo o peso deste auxílio e também contrabalançar outros fatores que contribuíram para que Bolsonaro tenha conseguido manter, durante todo período do seu governo, uma taxa de aprovação elevada, ao redor de 30%, quando ainda não existia o auxílio emergencial e, mais ainda: quando ele inclusive ameaçava extinguir o Bolsa-Família!
Os achados aparentemente contraditórios do Datafolha reforçam esta hipótese. Se é verdade que Bolsonaro melhorou consideravelmente os índices de aprovação no nordeste [região na qual 45% da população se habilitou ao auxílio emergencial] e cresceu entre desempregados, pessoas de menor escolaridade e menor renda; é preciso observar que o desempenho dele também melhorou, na mesma proporção que no extrato social e geográfico anterior, no sul, no sudeste, e entre as pessoas que recebem entre 5 e 10 salários mínimos e as de maior escolaridade.
5.
Não será com respostas automáticas e superficiais que se conseguirá decifrar esta realidade complexa e contraditória.
Tão ou mais importante quanto entender os resultados das pesquisas recentes, é necessário investigar a fundo por que Bolsonaro, fazendo o que faz e sendo a aberração monstruosa que é, consegue preservar um patamar elevado de apoio popular, contrariando todos manuais de ciência política e sociologia.
Mais além do auxílio emergencial que catapulta sua popularidade, é preciso reconhecer que Bolsonaro é, cada vez mais, uma espécie de alter ego duma sociedade hipnotizada por valores reacionários e imundos; expoente de um modelo de sociedade fundada na indiferença, no fanatismo religioso, no autoritarismo, na barbárie, na idolatria de torturadores, no racismo, na propagação do ódio e mentiras e na banalização da morte.
Bolsonaro é o rosto proeminente desta sociedade arcaica que produz reações abjetas e repugnantes, como em relação à criança de 10 anos que interrompeu gravidez decorrente de estupro.
Bolsonaro é o sujeito histórico do fascismo neste século 21. Ele explora com maestria os elementos da guerra cibernética para a consolidação e expansão do poder.
A esquerda, os democratas e os progressistas do Brasil estão diante do desafio inédito de inventar estratégias eficazes para combater e derrotar Bolsonaro e a maquinaria fascista.
1.
No 1º turno da eleição de 2018, Bolsonaro obteve 49,2 milhões de votos – 33,5% do total de 147,3 milhões de eleitores alistados. Considerando-se apenas os 107 milhões de votos válidos; ou seja, descontando-se os votos em branco, nulos e as abstenções, teve 46%.
As séries de pesquisas de opinião realizadas por distintos institutos desde o início do governo Bolsonaro mostram, com variações sutis, que o pior índice de aprovação dele em todo este período nunca foi inferior a 25%, em maio/2020.
Com este desempenho Bolsonaro – um sociopata genocida que deveria estar preso, se as instituições de fato estivessem funcionando normalmente – nunca deixou de ser um polo eleitoral competitivo da extrema-direita. Mais: ele é, hoje, o fator político em torno do qual a oligarquia dominante, em todos seus matizes, do centro-direita à extrema-direita, gravita.
2.
Os recentes levantamentos do Datafolha [14/8] e da XP/Ipespe [17/8] mostram que Bolsonaro alcançou seu melhor índice de aprovação desde o início do governo, com 37%.
Os institutos também revelam que o percentual de pessoas que o avaliam como ruim ou péssimo baixou 10 pontos, ao patamar de 34% no Datafolha, e 37% na pesquisa XP.
Outros 27% no Datafolha [23% na XP] avaliam Bolsonaro como regular – um contingente que, em momentos de polarização, divide-se entre votar nele ou nos seus oponentes.
De acordo com esta fotografia, portanto, Bolsonaro segue titular da preferência de pelo menos 1/3 do eleitorado. Quem ostenta esta força eleitoral polariza a política brasileira. Com esta performance, o PT tem sido o pólo da política nacional pela esquerda nos últimos 30 anos, desde a 1ª eleição presidencial pós-ditadura, em 1989.
3.
O fenômeno da pandemia coincide com a confluência, contra Bolsonaro, de dificuldades de tal ordem que, em “situação normal”, levariam qualquer governante à lona, como: a comprovação dos esquemas de corrupção do clã durante décadas na política; a exposição do vínculo com o miliciano Adriano da Nóbrega e o Escritório do Crime; as manobras para esconder da justiça Queiroz, o capataz e tesoureiro da organização criminosa; os freios do STF ao funcionamento das milícias digitais; a divulgação da escatológica “reunião ministerial” de 22 de abril; as demissões dos ministros Mandetta e Moro; o crescimento da repulsa internacional; a devastação ambiental e o extermínio de povos indígenas; o noticiário hostil capitaneado pela Globo; as denúncias de crimes contra a humanidade protocoladas no TPI e na CIDH; os mais de 50 pedidos de impeachment; o descalabro econômico; a catástrofe sanitária de mais de 110 mil mortes etc e etc.
A ruptura com os Moro-lavajatistas não nocauteou Bolsonaro, como se insinuou que poderia acontecer em decorrência do conflito entre as 2 falanges da extrema-direita.
Bolsonaro compensou a perda relativa de apoios dos Moro-lavajatistas avançando sobre outros segmentos sociais e atraindo para a órbita de sustentação o corrupto Centrão. Com isso, ele trava tanto o impeachment no Congresso como a condenação por crimes de responsabilidade no STF.
Com o programa anti- nacional, anti-popular, entreguista e rentista, ele assegura o apoio e a coesão de todas frações da oligarquia dominante para se manter no governo.
4.
O auxílio emergencial de R$ 600 por pessoa – que numa família de 5 adultos pode significar uma renda de R$ 3 mil – é um dos fatores que explica o salto da aprovação nas pesquisas.
Mas é preciso balancear com realismo o peso deste auxílio e também contrabalançar outros fatores que contribuíram para que Bolsonaro tenha conseguido manter, durante todo período do seu governo, uma taxa de aprovação elevada, ao redor de 30%, quando ainda não existia o auxílio emergencial e, mais ainda: quando ele inclusive ameaçava extinguir o Bolsa-Família!
Os achados aparentemente contraditórios do Datafolha reforçam esta hipótese. Se é verdade que Bolsonaro melhorou consideravelmente os índices de aprovação no nordeste [região na qual 45% da população se habilitou ao auxílio emergencial] e cresceu entre desempregados, pessoas de menor escolaridade e menor renda; é preciso observar que o desempenho dele também melhorou, na mesma proporção que no extrato social e geográfico anterior, no sul, no sudeste, e entre as pessoas que recebem entre 5 e 10 salários mínimos e as de maior escolaridade.
5.
Não será com respostas automáticas e superficiais que se conseguirá decifrar esta realidade complexa e contraditória.
Tão ou mais importante quanto entender os resultados das pesquisas recentes, é necessário investigar a fundo por que Bolsonaro, fazendo o que faz e sendo a aberração monstruosa que é, consegue preservar um patamar elevado de apoio popular, contrariando todos manuais de ciência política e sociologia.
Mais além do auxílio emergencial que catapulta sua popularidade, é preciso reconhecer que Bolsonaro é, cada vez mais, uma espécie de alter ego duma sociedade hipnotizada por valores reacionários e imundos; expoente de um modelo de sociedade fundada na indiferença, no fanatismo religioso, no autoritarismo, na barbárie, na idolatria de torturadores, no racismo, na propagação do ódio e mentiras e na banalização da morte.
Bolsonaro é o rosto proeminente desta sociedade arcaica que produz reações abjetas e repugnantes, como em relação à criança de 10 anos que interrompeu gravidez decorrente de estupro.
Bolsonaro é o sujeito histórico do fascismo neste século 21. Ele explora com maestria os elementos da guerra cibernética para a consolidação e expansão do poder.
A esquerda, os democratas e os progressistas do Brasil estão diante do desafio inédito de inventar estratégias eficazes para combater e derrotar Bolsonaro e a maquinaria fascista.
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