O jornal Folha de São Paulo, um decadente porta-voz da direita neoliberal, publicou no último sábado (24) um editorial enaltecendo as privatizações já realizadas no país e defendendo a entrega das estatais remanescentes, com destaque para as gigantes Petrobras, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal.
O veículo, propriedade de uma tradicional família da burguesia paulista (Frias), faz uma apologia dos empreendimentos privados, comandados por grandes capitalistas nativos e estrangeiros, e reitera o mantra da “ineficiência da gestão pública”, associada a “conveniências políticas dos governos de turno”.
EUA já descartaram neoliberalismo
Cabe, em primeiro lugar, constatar que o conteúdo do referido editorial é uma receita velha e fracassada.
O neoliberalismo fracassou, conforme explica em aula o professor emérito da Fundação Getúlio Vargas, Luiz Carlos Bresser Pereira.
Este fracasso é reconhecido hoje até mesmo pelos EUA, onde o neoliberalismo teve sua mais famosa e perniciosa tradução programática: o chamado Consenso de Washington.
Na tentativa de recuperar a hegemonia econômica, que perdeu para a China, o governo Joe Biden promove uma política de reindustrialização sustentada por investimentos públicos orçados em trilhões de dólares.
Ou seja, a alma do programa de incentivo à indústria da Casa Branca, a solução que preconiza para reverter a decadência, é “Estado na veia”, como diria a ex-presidenta Dilma Rousseff.
Washington certamente está de olho no exemplo de seu principal rival geopolítico, sediado em Pequim.
O Estado na maior economia do mundo
Voltemos os olhos para a China, a nação que produziu a experiência de desenvolvimento mais exitosa da história universal.
Os quatro maiores bancos do mundo (por ativos) são empresas estatais da grande potência asiática: Industrial and Commercial Bank of China (ICBC); China Construction Bank Corporation; Agricultural Bank of China e Bank of China LTD.
Muitos economistas sabem que o sistema financeiro centraliza a poupança ou o excedente econômico produzido pela sociedade e tem o poder de definir, em larga escala, o destino e a direção dos investimentos produtivos.
O controle estatal dos bancos permite ao Estado implementar uma política desenvolvimentista que já transformou a China na maior potência econômica do globo.
Além disto, fornece ao governo chinês, sob a firme direção do Partido Comunista, as condições necessárias para levar a cabo sua audaciosa Iniciativa Cinturão e Rota, também batizada de Nova Rota da Seda, que está desenhando as linhas mestras de uma nova ordem mundial, ao lado do Brics, hoje um grupo geopolítico bem mais relevante economicamente do que o bolorento G7.
A verdade está nos fatos e estes não têm maior correspondência com o canto da sereia neoliberal.
Lucro e tragédia
São muitos os malefícios das privatizações promovidas por governantes neoliberais, sejam estes provenientes do voto popular, como foi o caso do tucano Fernando Henrique Cardoso (o FHC), ou de um golpe de Estado, caso do usurpador Michel Temer.
Vou me limitar a citar os casos emblemáticos de duas grandes empresas privatizadas, Vale e Eletrobras.
Comecemos pela gigante da mineração, entregue por FHC na bacia das almas por um preço bem abaixo do valor real da empresa, um crime contra o patrimônio público brasileiro abençoado pelas classes dominantes.
Depois que a empresa foi transferida à “competência” da burguesia, a maximização dos lucros passou a ser o objetivo exclusivo e o critério absoluto de suas ações.
O resultado não poderia ser mais trágico.
A empresa descuidou da segurança, deixando de investir na manutenção das barragens de mineração, e cometeu dois dos maiores crimes contra o meio ambiente e a classe trabalhadora registrados em nossa história.
O rompimento da barragem de Brumadinho (MG) em janeiro de 2019 derramou 13 milhões de metros cúbicos de lama tóxica sobre o meio ambiente mineira, 270 pessoas morreram e três pessoas continuam desaparecidas.
O desastre em Mariana (MG) ocorreu antes, em 2015.
Estima-se que 47,8 milhões de metros cúbicos de rejeitos foram liberados com o rompimento, provocando a inundação das áreas urbanas próximas, a morte de pessoas e animais e a poluição do solo e de cursos d’água.
Entre os rios que receberam substâncias poluentes e tóxicas destaca-se o rio Doce, um dos mais importantes da região, que banha parte de Minas e do Espírito Santo.
Até hoje a pesca é proibida na região afetada e a recuperação da qualidade das águas do Rio Doce ainda é um trabalho em andamento.
A Eletrobras também foi vítima de uma infame privataria.
“Na verdade, não a privatizaram. Cometeram um crime de lesa-pátria contra o povo brasileiro, entregando uma empresa dessa magnitude”, ressaltou o presidente Lula.
O resultado concreto da entrega do sistema elétrico a empresas estrangeiras foi a eclosão de inúmeros apagões pelo país, em especial na capital de São Paulo.
“Esse negócio de destruir tudo o que o Estado pode fazer, achando que o setor privado é melhor, é mentira”, afirmou o chefe do Executivo.
Artigo de fé
Convém assinalar ainda que, ao contrário das promessas neoliberais, as privatizações não elevaram as taxas de investimentos e de crescimento do PIB.
Pelo contrário, o entreguismo provocou redução dos investimentos, desindustrialização, estagnação econômica e aumento do desemprego.
Por outro lado, as privatizações ampliaram os lucros dos tubarões capitalistas, contribuindo para maior concentração e centralização do capital, exacerbando as desigualdades.
Em outras palavras, as políticas neoliberais são péssimas para a sociedade, mas em contraste garantem generosos lucros para os grandes capitalistas.
Este último efeito é a razão que orienta o jornal da família Frias, mascarada com uma profusão de frases ocas e a satanização do Estado e da política.
O editorial da “Folha” dispensa os fatos, escarnece da realidade e carece de objetividade, é apenas mais um anacrônico artigo de fé neoliberal.
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