Por Marcio Pochmann, no site Brasil Debate:
Neste ano em que o Brasil realiza a sua sétima eleição presidencial desde o fim da ditadura militar (1964-1984), podem ser identificados alguns sinais de desconforto com o governo da presidenta Dilma.
Em geral, localiza-se no segmento detentor do maior nível de renda a parcela significativa de reclamações, o que possivelmente aponta para as dores do parto da nova sociedade fluida em construção no País.
Nos dias de hoje, o conjunto de alterações no interior da sociedade brasileira compara-se – guardada a devida proporção – à transição para a sociedade urbana e industrial da década de 1930, que rompeu com o padrão de imobilidade social vigente ao longo da antiga e primitiva sociedade agrária.
Naquela oportunidade, a situação do analfabetismo superior a 4/5 dos brasileiros e da pobreza generalizada no campo, onde residia a quase totalidade da população, expressava, por si só, a presença secular de rudimentar estrutura social.
Entre as décadas de 1930 e 1970, contudo, o País assistiu à consolidação de uma nova sociedade móvel, assentada na trajetória de significativa e generalizada mobilidade social. Naquele período, a ampla ascensão social ocorreu demarcada pela constituição urbana dos novos ricos e das classes média assalariada e trabalhadora industrial.
Apesar disso, a desigualdade permaneceu, acompanhando todo o processo de diversificação social, uma vez que determinados segmentos privilegiados usavam o “elevador” para subir mais rapidamente, enquanto a maioria da população subia – degrau por degrau – a longa escada do edifício País.
De certa forma, a prevalência de monopólios sociais como na educação e mesmo no acesso ao crédito, sobretudo, se mostraram capazes de viabilizar a formatação da sociedade móvel, cuja origem social determinava – em geral – a posição atingida a partir do ingresso no mercado de trabalho.
Noutras palavras, a circunstância em que o filho do pobre tendia a se manter pobre simplesmente porque seus pais eram pobres, não obstante registros de mobilidade social intrageracional (comparação individual da primeira com a atual ocupação) e intergeracional (comparação da situação do filho com a dos pais).
Tudo isso terminou sendo contido durante as duas últimas décadas do século passado. Com o abandono do projeto nacional desenvolvimentista diante das decisões de pagamento da dívida externa adotadas no início dos anos de 1980, e das políticas neoliberais da década de 1990, a sociedade brasileira sofreu forte inflexão no movimento de mobilidade social.
O esvaziamento industrial, acompanhado do maior desemprego e precarização das condições e relações de trabalho, impôs a substituição do quadro geral anterior de ascensão social pela imobilidade social. Isso para não citar os diversos casos de regressão na estrutura da sociedade.
Somente a partir dos anos 2000 que o Brasil restaurou novamente o importante padrão de mobilidade social. A recuperação do crescimento econômico acompanhado do processo de inclusão social permitiu, não apenas a generalização do processo de ascensão social, mas, principalmente, a alteração do sentido mobilidade no interior da população.
Isso porque coube a cada um a possibilidade de se mover mais, independentemente de sua origem social e racial.
Com a introdução das políticas governamentais voltadas à universalização de oportunidades, os antigos monopólios sociais – que ainda não foram desconstituídos – seguem afetados decididamente, abrindo maiores chances da ascensão sem o prévio carimbo classificatório de origem social.
Assim, a passagem da sociedade móvel para a condição de fluida potencializa o sentido maior da universalização de oportunidades, ampliando as disputas no interior da população em condições ainda não isonômicas de competição.
Mesmo com o importante resultado da redução no grau de desigualdade, sobretudo com base na renda do trabalho, tende a se manter a polarização social.
O recente movimento de transição da sociedade móvel (origem social determina a posição a ser atingida no mercado de trabalho) para a sociedade fluida (movimento de ascensão independente da origem social) tem sido acompanhado de sucessivas reações negativas por parte de sociais privilegiados.
Tratam-se, resumidamente, daqueles que, até então, estavam satisfeitos ou pelo padrão de imobilidade social reinante nos anos de 1980 e 1990 ou de ascensão social contida e determinada pela origem social.
Compreender melhor a nova sociedade brasileira em constituição requer também identificar os seus opositores até então privilegiados. Mais que isso, buscar atuar frente às possibilidades de fazer avançar ainda mais os rumos de uma sociedade democrática e cada vez menos injusta.
Neste ano em que o Brasil realiza a sua sétima eleição presidencial desde o fim da ditadura militar (1964-1984), podem ser identificados alguns sinais de desconforto com o governo da presidenta Dilma.
Em geral, localiza-se no segmento detentor do maior nível de renda a parcela significativa de reclamações, o que possivelmente aponta para as dores do parto da nova sociedade fluida em construção no País.
Nos dias de hoje, o conjunto de alterações no interior da sociedade brasileira compara-se – guardada a devida proporção – à transição para a sociedade urbana e industrial da década de 1930, que rompeu com o padrão de imobilidade social vigente ao longo da antiga e primitiva sociedade agrária.
Naquela oportunidade, a situação do analfabetismo superior a 4/5 dos brasileiros e da pobreza generalizada no campo, onde residia a quase totalidade da população, expressava, por si só, a presença secular de rudimentar estrutura social.
Entre as décadas de 1930 e 1970, contudo, o País assistiu à consolidação de uma nova sociedade móvel, assentada na trajetória de significativa e generalizada mobilidade social. Naquele período, a ampla ascensão social ocorreu demarcada pela constituição urbana dos novos ricos e das classes média assalariada e trabalhadora industrial.
Apesar disso, a desigualdade permaneceu, acompanhando todo o processo de diversificação social, uma vez que determinados segmentos privilegiados usavam o “elevador” para subir mais rapidamente, enquanto a maioria da população subia – degrau por degrau – a longa escada do edifício País.
De certa forma, a prevalência de monopólios sociais como na educação e mesmo no acesso ao crédito, sobretudo, se mostraram capazes de viabilizar a formatação da sociedade móvel, cuja origem social determinava – em geral – a posição atingida a partir do ingresso no mercado de trabalho.
Noutras palavras, a circunstância em que o filho do pobre tendia a se manter pobre simplesmente porque seus pais eram pobres, não obstante registros de mobilidade social intrageracional (comparação individual da primeira com a atual ocupação) e intergeracional (comparação da situação do filho com a dos pais).
Tudo isso terminou sendo contido durante as duas últimas décadas do século passado. Com o abandono do projeto nacional desenvolvimentista diante das decisões de pagamento da dívida externa adotadas no início dos anos de 1980, e das políticas neoliberais da década de 1990, a sociedade brasileira sofreu forte inflexão no movimento de mobilidade social.
O esvaziamento industrial, acompanhado do maior desemprego e precarização das condições e relações de trabalho, impôs a substituição do quadro geral anterior de ascensão social pela imobilidade social. Isso para não citar os diversos casos de regressão na estrutura da sociedade.
Somente a partir dos anos 2000 que o Brasil restaurou novamente o importante padrão de mobilidade social. A recuperação do crescimento econômico acompanhado do processo de inclusão social permitiu, não apenas a generalização do processo de ascensão social, mas, principalmente, a alteração do sentido mobilidade no interior da população.
Isso porque coube a cada um a possibilidade de se mover mais, independentemente de sua origem social e racial.
Com a introdução das políticas governamentais voltadas à universalização de oportunidades, os antigos monopólios sociais – que ainda não foram desconstituídos – seguem afetados decididamente, abrindo maiores chances da ascensão sem o prévio carimbo classificatório de origem social.
Assim, a passagem da sociedade móvel para a condição de fluida potencializa o sentido maior da universalização de oportunidades, ampliando as disputas no interior da população em condições ainda não isonômicas de competição.
Mesmo com o importante resultado da redução no grau de desigualdade, sobretudo com base na renda do trabalho, tende a se manter a polarização social.
O recente movimento de transição da sociedade móvel (origem social determina a posição a ser atingida no mercado de trabalho) para a sociedade fluida (movimento de ascensão independente da origem social) tem sido acompanhado de sucessivas reações negativas por parte de sociais privilegiados.
Tratam-se, resumidamente, daqueles que, até então, estavam satisfeitos ou pelo padrão de imobilidade social reinante nos anos de 1980 e 1990 ou de ascensão social contida e determinada pela origem social.
Compreender melhor a nova sociedade brasileira em constituição requer também identificar os seus opositores até então privilegiados. Mais que isso, buscar atuar frente às possibilidades de fazer avançar ainda mais os rumos de uma sociedade democrática e cada vez menos injusta.
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