Por Rodrigo Vianna, no blog Escrevinhador:
Nunca dantes na história desse país, um candidato lançou-se à presidência debruçado sobre um caixão. Deu-se no Recife, com ampla cobertura da Globo, aquilo que Alexandre Cesar Costa Teixeira (blog Megacidadania) chamou de “palancório”: mistura de palanque com velório. Marina apareceu sorrindo nas fotos ao lado do caixão.
Concordo com a análise de Paulo Nogueira (Diário do Centro do Mundo): bobagem achar que Marina (ou qualquer um) é proibido de sorrir numa situação trágica. Mas o fato é que o palancório do Recife deu a Marina motivos reais para, simbolicamente, sorrir sobre o caixão de Eduardo.
A direita brasileira tentou produzir nos últimos dias um 1954 às avessas. Uma farsa de agosto (em 54, o povão partiu pra cima da UDN e dos jornais que encurralaram Vargas, levando o presidente a suicídio). Nas redes sociais, em 2014, agigantou-se a tese de que “Dilma mandou matar Eduardo”. Mais uma tese maluca, que mostra o grau de desconexão da realidade de parte dos eleitores de oposição.
Milhares de “memes” foram produzidas para se criar uma onda de hostilidade à candidata petista. Quando bateu na praia, a onda era do tamanho de uma marolinha.
Dilma segue do mesmo tamanho na pesquisa DataFolha divulgada nesta segunda-feira (18 de agosto). Marina cresceu, abocanhando a herança de Eduardo e mais o “não-voto”, a turma da “não-política”. Quem mais perdeu com a onda marineira dos últimos cinco dias não foi Dilma, mas Aécio.
O resultado, por agora, é: Dilma 36% (igualzinho a julho), Marina 21%, Aécio 20% (também igualzinho a julho). Sim, garante-se o segundo turno (a verdade é que haveria segundo turno de qualquer jeito; só petistas mais fanáticos acreditavam no contrário). E, sim, a decisão pode se dar entre Dilma e Marina.
O deus Elio do jornalismo brasileiro dizia o contrário em “artigo” recente: “A ideia de uma candidata a líder espiritual [Marina] reconforta o eleitor desencantado com a polaridade PSDB-PT, com seus mensalões mineiro e federal. Para o primeiro turno isso é um bálsamo. Para o segundo, uma aventura.”
O colunismo tucano queria Marina pra “garantir segundo turno”. Hum… Faltou combinar com o eleitor.
Além dos 8 pontos que eram de Eduardo, Marina capturou gente que ia anular o voto, ou que nem iria à urna. Recolheu ainda alguma coisa entre nanicos (na última sexta, um velho amigo, da turma do “contra tudo que está aí, avisava: “já não preciso votar no Rui do PCO; agora eu vou de Marina“).
Cristaliza-se a impressão de que os tucanos podem sofrer a maior derrota eleitoral da história, ficando fora do segundo turno. Mas essa, por enquanto, é apenas uma possibilidade. Comentaristas gagos da Globo e da CBN, blogueiros da marginal, mervais e outros quetais estão agora divididos: alguns querem surrar Marina, desesperam-se porque o plano era que ela subisse “só um pouquinho” pra garantir Aécio no segundo turno; os mais despudorados já pensam em rifar Aécio e capturar Marina.
O drama é que, se a direita cristianizar Aécio e ele cair demais, a conta não fecha. A oposição precisa de Marina e Aécio somando 40%.
Além disso, Aécio desidratado significa que ele pode perder também Minas Gerais. O petista Pimentel está em primeiro na disputa pelo governo. Com Aécio fraco, em terceiro, o PSDB pode perder Minas. O que seria um desastre para a oposição. Até por isso, Aécio vai lutar uma briga que já não é para vencer, mas para sobreviver politicamente.
Não está escrito nas estrelas (nem a divina providência decidiu) que Marina vai crescer numa onda avassaladora até a eleição. Mas ela tem, sim, o perfil ideal para desfazer o grande nó da eleição de 2014. Até agora, ficara claro que a erosão sofrida por Dilma desde junho de 2013 não se transformara em votos para a velha oposição.
Marina não é Aécio. O discurso do “novo” pode, sim, levar a candidata do PSB ao segundo turno – com boas chances de vencer Dilma.
Não seria a primeira vez que um político traveste-se de “não político” para ganhar eleição. Pode dar certo na hora de enfrentar as urnas. Mas governar são outros quinhentos.
Um leitor comenta aqui no blog: “(…) com quem Marina governaria? Como o PSDB/DEM de FHC ou com o PMDB/PTB de Lula e Dilma? Eis a questão e a pergunta que deve ser feita a ela, já que o PSB é nanico e o RS [Rede Sustentabilidade] apenas um nascituro imprevisível. O último que fez isso foi Collor com o PRN. Acabou como acabou: impeachment porque não tinha sustentação no Congresso Nacional.”
Marina é, sim, uma candidata fluída como as lágrimas que inundaram o Recife. Essa é a força da candidatura dela: debaixo do chapéu do “novo” cabe qualquer coisa. Mas essa é também a fraqueza de Marina: a “não política” já deu em Collor, já deu em Janio.
Não acho que seja justo comparar Marina a nenhum dos dois personagens. Ela representa – também – um enorme contingente de eleitores e cidadãos que buscam um novo padrão de desenvolvimento. Isso não é janismo, não tem nada a ver com Collor.
O problema é que – na política e na vida – as pessoas e os partidos não são (apenas) aquilo que dizem ser. O PT podia dizer, em 89 ou até em 2002, que era socialista; mas sempre foi social-democrata. Os tucanos, ao contrário, podem bater no peito e dizer que são social-democratas, mas não passam de comandantes do ideário neoliberal.
E Marina? Ela se diz o “novo”. O que é isso? Saberemos logo.
Este blogueiro segue martelando o que dizia em 2013: essa é eleição para dois turnos. Sempre foi. Com Marina no segundo turno, o jogo para Dilma será mais complicado. No Datafolha, Marina aparece empatada com Dilma num eventual segundo turno (mas numericamente à frente da presidenta).
É preciso lembrar, no entanto, que Lula ainda vai para a TV. Dilma tende a crescer um pouco com o horário eleitoral.
Quando o rio de lágrimas secar, restará a campanha e os interesses concretos. Esses é que farão o povo decidir. Em 1960 e 1989, o povo brasileiro preferiu arriscar no “novo”. Vai arriscar agora?
Nunca dantes na história desse país, um candidato lançou-se à presidência debruçado sobre um caixão. Deu-se no Recife, com ampla cobertura da Globo, aquilo que Alexandre Cesar Costa Teixeira (blog Megacidadania) chamou de “palancório”: mistura de palanque com velório. Marina apareceu sorrindo nas fotos ao lado do caixão.
Concordo com a análise de Paulo Nogueira (Diário do Centro do Mundo): bobagem achar que Marina (ou qualquer um) é proibido de sorrir numa situação trágica. Mas o fato é que o palancório do Recife deu a Marina motivos reais para, simbolicamente, sorrir sobre o caixão de Eduardo.
A direita brasileira tentou produzir nos últimos dias um 1954 às avessas. Uma farsa de agosto (em 54, o povão partiu pra cima da UDN e dos jornais que encurralaram Vargas, levando o presidente a suicídio). Nas redes sociais, em 2014, agigantou-se a tese de que “Dilma mandou matar Eduardo”. Mais uma tese maluca, que mostra o grau de desconexão da realidade de parte dos eleitores de oposição.
Milhares de “memes” foram produzidas para se criar uma onda de hostilidade à candidata petista. Quando bateu na praia, a onda era do tamanho de uma marolinha.
Dilma segue do mesmo tamanho na pesquisa DataFolha divulgada nesta segunda-feira (18 de agosto). Marina cresceu, abocanhando a herança de Eduardo e mais o “não-voto”, a turma da “não-política”. Quem mais perdeu com a onda marineira dos últimos cinco dias não foi Dilma, mas Aécio.
O resultado, por agora, é: Dilma 36% (igualzinho a julho), Marina 21%, Aécio 20% (também igualzinho a julho). Sim, garante-se o segundo turno (a verdade é que haveria segundo turno de qualquer jeito; só petistas mais fanáticos acreditavam no contrário). E, sim, a decisão pode se dar entre Dilma e Marina.
O deus Elio do jornalismo brasileiro dizia o contrário em “artigo” recente: “A ideia de uma candidata a líder espiritual [Marina] reconforta o eleitor desencantado com a polaridade PSDB-PT, com seus mensalões mineiro e federal. Para o primeiro turno isso é um bálsamo. Para o segundo, uma aventura.”
O colunismo tucano queria Marina pra “garantir segundo turno”. Hum… Faltou combinar com o eleitor.
Além dos 8 pontos que eram de Eduardo, Marina capturou gente que ia anular o voto, ou que nem iria à urna. Recolheu ainda alguma coisa entre nanicos (na última sexta, um velho amigo, da turma do “contra tudo que está aí, avisava: “já não preciso votar no Rui do PCO; agora eu vou de Marina“).
Cristaliza-se a impressão de que os tucanos podem sofrer a maior derrota eleitoral da história, ficando fora do segundo turno. Mas essa, por enquanto, é apenas uma possibilidade. Comentaristas gagos da Globo e da CBN, blogueiros da marginal, mervais e outros quetais estão agora divididos: alguns querem surrar Marina, desesperam-se porque o plano era que ela subisse “só um pouquinho” pra garantir Aécio no segundo turno; os mais despudorados já pensam em rifar Aécio e capturar Marina.
O drama é que, se a direita cristianizar Aécio e ele cair demais, a conta não fecha. A oposição precisa de Marina e Aécio somando 40%.
Além disso, Aécio desidratado significa que ele pode perder também Minas Gerais. O petista Pimentel está em primeiro na disputa pelo governo. Com Aécio fraco, em terceiro, o PSDB pode perder Minas. O que seria um desastre para a oposição. Até por isso, Aécio vai lutar uma briga que já não é para vencer, mas para sobreviver politicamente.
Não está escrito nas estrelas (nem a divina providência decidiu) que Marina vai crescer numa onda avassaladora até a eleição. Mas ela tem, sim, o perfil ideal para desfazer o grande nó da eleição de 2014. Até agora, ficara claro que a erosão sofrida por Dilma desde junho de 2013 não se transformara em votos para a velha oposição.
Marina não é Aécio. O discurso do “novo” pode, sim, levar a candidata do PSB ao segundo turno – com boas chances de vencer Dilma.
Não seria a primeira vez que um político traveste-se de “não político” para ganhar eleição. Pode dar certo na hora de enfrentar as urnas. Mas governar são outros quinhentos.
Um leitor comenta aqui no blog: “(…) com quem Marina governaria? Como o PSDB/DEM de FHC ou com o PMDB/PTB de Lula e Dilma? Eis a questão e a pergunta que deve ser feita a ela, já que o PSB é nanico e o RS [Rede Sustentabilidade] apenas um nascituro imprevisível. O último que fez isso foi Collor com o PRN. Acabou como acabou: impeachment porque não tinha sustentação no Congresso Nacional.”
Marina é, sim, uma candidata fluída como as lágrimas que inundaram o Recife. Essa é a força da candidatura dela: debaixo do chapéu do “novo” cabe qualquer coisa. Mas essa é também a fraqueza de Marina: a “não política” já deu em Collor, já deu em Janio.
Não acho que seja justo comparar Marina a nenhum dos dois personagens. Ela representa – também – um enorme contingente de eleitores e cidadãos que buscam um novo padrão de desenvolvimento. Isso não é janismo, não tem nada a ver com Collor.
O problema é que – na política e na vida – as pessoas e os partidos não são (apenas) aquilo que dizem ser. O PT podia dizer, em 89 ou até em 2002, que era socialista; mas sempre foi social-democrata. Os tucanos, ao contrário, podem bater no peito e dizer que são social-democratas, mas não passam de comandantes do ideário neoliberal.
E Marina? Ela se diz o “novo”. O que é isso? Saberemos logo.
Este blogueiro segue martelando o que dizia em 2013: essa é eleição para dois turnos. Sempre foi. Com Marina no segundo turno, o jogo para Dilma será mais complicado. No Datafolha, Marina aparece empatada com Dilma num eventual segundo turno (mas numericamente à frente da presidenta).
É preciso lembrar, no entanto, que Lula ainda vai para a TV. Dilma tende a crescer um pouco com o horário eleitoral.
Quando o rio de lágrimas secar, restará a campanha e os interesses concretos. Esses é que farão o povo decidir. Em 1960 e 1989, o povo brasileiro preferiu arriscar no “novo”. Vai arriscar agora?
2 comentários:
Pois, é. Não creio que Marina consiga manter-se à frente de Aécio. Nem creio que se for para o segundo turno, vença Dilma. Mas, crer, para mim, não é comércio de 25 de março, como Marina faz. E, d. Marina, "comércio" , em princípio, não é com Deus. É com Mamona, dizem as religiões. Crer, para mim, é acreditar nos dados da realidade. É ser racional. O PSDB vai ter que se virar para ser mais esperto que Marina. Por enquanto ela superou os "espertises", com sua sonsa "mansidão" (?).
Eu não acredito nessa porcaria de pesquisa portanto o artigo acaba viciado é por ser ingenuo.
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