Por Antonio Martins, no site Outras Palavras:
Foi um empate. Pressionado há meses pela China, para que dê ao yuan status semelhante ao do dólar, euro, libra (inglesa) e iene (japonês), o Fundo Monetário Internacional (FMI) adiou a decisão. Por ora, a divisa chinesa não fará parte da cesta de moedas em que se baseiam os Direitos Especiais de Saque (SDR, em inglês), a principal referência monetária adotada pelo Fundo. Mas ao anunciar a decisão, o Comitê Executivo do Fundo decidiu, ao mesmo tempo, antecipar para 2016 uma nova reunião que decidirá sobre a composição dos SDR. Em condições normais, ela só ocorreria em 2022.
Está em jogo é muito mais que um reconhecimento formal. A importância do yuan como moeda internacional cresce aceleradamente desde 2009, quando a Pequim decidiu empenhar-se empenhar-se nesse sentido. À época, a China já era a segunda maior economia do mundo (ultrapassou os EUA em 2014, segundo certos critérios), mas o uso do yuan era residual.
A ação de Pequim mudou rapidamente o cenário. Hoje, 22% das transações comerciais da China são feitas em sua própria moeda. Como o comércio exterior chinês é o maior do mundo, o yuan disparou. Tornou-se a quinta divisa mais usada nas transações globais. Cerca de 50 bancos centrais do mundo já investem suas reservas em yuan – embora em quantidades ainda pequenas, em comparação ao dólar.
Mais: a liderança chinesa está trabalhando ativamente para lançar, em curto prazo, um Sistema Internacional de Pagamento Chinês (CIPS, em inglês), que permitirá fazer pagamentos em qualquer parte do mundo e rivalizará com o SWIFT, baseado no dólar. Se todos estes passos se completarem, haverá duas consequências geopolíticas de grande relevância.
Primeira: os EUA perderão a capacidade de impor sanções financeiras a países “dissidentes” – como fazem atualmente contra Rússia e Irã. Haverá ao menos uma alternativa internacional para os excluídos por Washington.
Segunda, e muito mais importante: os EUA serão, aos poucos, privados da condição de emissores da única moeda universalmente aceita. Isso dá a Washington o que o governo do presidente francês Charles de Gaulle qualificou, nos anos 1960, como “privilégio exorbitante”. Desde então, não há alternativa ao dólar; mas, a partir de 1973, o governo norte-americano decidiu romper unilateralmente os acordos de Bretton Woods – que obrigavam a converter em ouro os dólares em poder de outros países. Na prática, enquanto durar esta ordem, o Tesouro norte americano poderá sempre imprimir dólares, para fazer frente às importações de bens estrangeiros ou aos imensos gastos militares que permitem manter sua hegemonia militar.
A emergência internacional de Pequim e do yuan abre, em todo o mundo, uma enorme janela de oportunidades. A América Latina, por exemplo, poderia aproveitá-la para construir condições de livrar-se das restrições financeiras que o domínio da moeda norte-americana ainda impõe (leia nosso texto a respeito). O problema é que ainda falta a vontade política necessária para tanto…
Foi um empate. Pressionado há meses pela China, para que dê ao yuan status semelhante ao do dólar, euro, libra (inglesa) e iene (japonês), o Fundo Monetário Internacional (FMI) adiou a decisão. Por ora, a divisa chinesa não fará parte da cesta de moedas em que se baseiam os Direitos Especiais de Saque (SDR, em inglês), a principal referência monetária adotada pelo Fundo. Mas ao anunciar a decisão, o Comitê Executivo do Fundo decidiu, ao mesmo tempo, antecipar para 2016 uma nova reunião que decidirá sobre a composição dos SDR. Em condições normais, ela só ocorreria em 2022.
Está em jogo é muito mais que um reconhecimento formal. A importância do yuan como moeda internacional cresce aceleradamente desde 2009, quando a Pequim decidiu empenhar-se empenhar-se nesse sentido. À época, a China já era a segunda maior economia do mundo (ultrapassou os EUA em 2014, segundo certos critérios), mas o uso do yuan era residual.
A ação de Pequim mudou rapidamente o cenário. Hoje, 22% das transações comerciais da China são feitas em sua própria moeda. Como o comércio exterior chinês é o maior do mundo, o yuan disparou. Tornou-se a quinta divisa mais usada nas transações globais. Cerca de 50 bancos centrais do mundo já investem suas reservas em yuan – embora em quantidades ainda pequenas, em comparação ao dólar.
Mais: a liderança chinesa está trabalhando ativamente para lançar, em curto prazo, um Sistema Internacional de Pagamento Chinês (CIPS, em inglês), que permitirá fazer pagamentos em qualquer parte do mundo e rivalizará com o SWIFT, baseado no dólar. Se todos estes passos se completarem, haverá duas consequências geopolíticas de grande relevância.
Primeira: os EUA perderão a capacidade de impor sanções financeiras a países “dissidentes” – como fazem atualmente contra Rússia e Irã. Haverá ao menos uma alternativa internacional para os excluídos por Washington.
Segunda, e muito mais importante: os EUA serão, aos poucos, privados da condição de emissores da única moeda universalmente aceita. Isso dá a Washington o que o governo do presidente francês Charles de Gaulle qualificou, nos anos 1960, como “privilégio exorbitante”. Desde então, não há alternativa ao dólar; mas, a partir de 1973, o governo norte-americano decidiu romper unilateralmente os acordos de Bretton Woods – que obrigavam a converter em ouro os dólares em poder de outros países. Na prática, enquanto durar esta ordem, o Tesouro norte americano poderá sempre imprimir dólares, para fazer frente às importações de bens estrangeiros ou aos imensos gastos militares que permitem manter sua hegemonia militar.
A emergência internacional de Pequim e do yuan abre, em todo o mundo, uma enorme janela de oportunidades. A América Latina, por exemplo, poderia aproveitá-la para construir condições de livrar-se das restrições financeiras que o domínio da moeda norte-americana ainda impõe (leia nosso texto a respeito). O problema é que ainda falta a vontade política necessária para tanto…
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