Por Rodrigo Vianna, no blog Escrevinhador:
No inicio do mês, escrevi que a verdadeira tragédia de agosto não era o avanço conservador, os ataques à democracia e à esquerda. Isso é o que se espera da direita brasileira…
A tragédia mesmo era ver Lula (a maior liderança popular produzida por esse país, ao lado das figuras de Vargas e Prestes) acompanhar isso tudo calado.
Pois bem… Lula voltou.
Luis Inácio está de volta. Num encontro em Minas Gerais, anunciou nesta sexta-feira (28/agosto) que pode, sim, ser candidato em 2018 (clique aqui para saber mais). E isso ajuda a evitar o desmanche do campo que desde 2003 se organiza em torno de Lula.
Os erros cometidos por Dilma no início de seu segundo mandato, somados à mais dura campanha midiática contra um partido em meio século (a campanha de aniquilamento do PT só guarda paralelo com o que foi feito com o velho PCB nos anos 40 e 50), ameaçam provocar um estouro da boiada.
E é nesse quadro que Lula ressurge.
Sim, as pesquisas mostram que hoje ele perderia no segundo turno para Aécio e mesmo para Alckmin. Mas quem entende de pesquisas faz a seguinte leitura: é quase inacreditável que Lula, depois de passar os últimos seis meses apanhando todos os dias, ainda tenha um terço dos votos.
Sim, o quadro não é fácil. Mas por outro lado, todos os levantamentos sérios e mais profundos na sociedade brasileira indicam que há um “campo político-social” que está descontente com Dilma e o PT, mas (ainda) não se bandeou para o outro lado.
As forças de centro-esquerda podem se recompor, desde que falem para o futuro. Ninguém mais votará em Lula ou na esquerda só pelo discurso de que “tiramos milhões de pessoas da miséria”.
A maior parte dos brasileiros comprou a versão (vendida pelo próprio Lula) de que esse é um país de classe média. Quem ganha mais de 2 mil reais por mês já não se vê como pobre. E não vai apoiar um projeto apenas porque ele no passado ajudou a tirar milhões de pessoas na miséria.
Agora é a hora do futuro.
O brasileiro médio não quer bater panela, nem quer a volta da ditadura. Nem quer que a Dilma morra. Mas quer um projeto que garanta igualdade de oportunidades para seus filhos. E o governo Dilma/Levy aponta para tudo, menos para o futuro.
Lula pode ser a liderança a recompor esse campo, se oferecer um projeto novo. E Dilma pode ajudar se, em paralelo com sua disposição inabalável para manter as instituições funcionando (mesmo contra o PT e contra o governo), ousar um pouco, e sair da pura agenda levyana.
Sim, é preciso reconhecer que a corrupção não é “um probleminha menor”. O erro é transformar a corrupção em centro do debate (como faz a UDN tucana). O centro do debate segue a ser a desigualdade. Mas é preciso dizer em alto e bom som que foi um erro não se combater os desvios com ainda mais vigor – em que pese o fato de jamais o MPF e a PF terem trabalhado com tanta liberdade(e, às vezes, com alguma irresponsabilidade).
Sim, os tucanos não tem moral pra falar em corrupção. Ok. Mas o povo, especialmente o mais jovem, não quer esse campeonato de “eles roubaram mais, e a mídia não fala nada”.
Isso serve para escancarar a hipocrisia da velha imprensa. Mas não serve como horizonte de futuro.
Luis Inácio voltou. Mas esse retorno não pode significar a volta também do velho “sebastianismo” luso-brasileiro. O rei heróico morto em combate (Dom Sebastião) não voltará. Primeiro porque Lula não é rei. E segundo porque ele e o projeto que representa não estão mortos. Esse projeto precisa ser atualizado. E o “grande líder” sozinho não cura todas as feridas.
Todas as pesquisas qualitativas sérias (especialmente as que envolvem a classe C) indicam que hoje o centro da disputa é para atrair um amplo campo da população (cerca de 40% dos eleitores – que já votaram em Lula e Dilma, mas estão descrentes do governo e do PT). Um “salvador da pátria”(pela direita) pode conquistar parte desse público. Um tucano mais moderado (que reconheça os avanços do lulismo) também pode conquistar…
Mas ninguém mais do que Lula pode cumprir esse papel de reordenamento. A centro-esquerda precisa de um novo projeto, precisa falar para o futuro. Sem enterrar as bandeiras do passado.
A multidão que foi à concha acústica da UERJ ouvir o uruguaio Mujica (o esquerdista sóbrio e anti-consumista) é um sinal de que há espaço para um novo projeto.
A saída é apostar na generosidade do povo brasileiro. Enfrentar a direita, sim. Mas falando também para a imensa maioria que não tem ódio no peito, mas está desanimada. E, cá entre nós, tem motivos pra isso.
Lula e a esquerda no Brasil precisam de uma pitada de Mujica. Não é à toa que os dois estarão juntos neste sábado – simbolicamente, em São Bernardo do Campo, a cidade operária que Lula ajudou a transformar numa “cidade de classe média (clique aqui para saber mais sobre o ato com Lula. e Mujica).
Luis Inácio voltou. Mas sozinho não vai ganhar a parada. O Brasil precisa de um novo projeto.
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