Por Felipe Bianchi, no site do Centro de Estudos Barão de Itararé:
Os ataques da mídia monopolista e de setores conservadores à comunicação pública não param. A razão para gritaria diz respeito a supostos ‘altos salários’ pagos a jornalistas pela Empresa Brasil de Comunicação (EBC). A polêmica, entretanto, não se justifica, conforme argumentam o jornalistas Luis Nassif, Paulo Moreira Leite e Sidney Rezende.
Alvos de matérias de grandes jornais sobre o assunto, os renomados profissionais rebateram a tese de que seus vencimentos estariam acima da realidade do mercado da comunicação e criticaram a 'caça às bruxas' que vem sendo empreendida contra qualquer jornalista e meio de comunicação que não endosse o pensamento único dos grandes veículos.
Para Paulo Moreira Leite, há uma clara tentativa de rotular e desqualificar profissionais que não rezam a cartilha dominante. “Transformar jornalistas com nosso currículo em ‘estrelas pró-PT’ é forçar demais a barra. Criam estereótipos sem base alguma na realidade”, rebate.
Com passagens consagradas em redações de veículos como Veja, Época e IstoÉ, Paulo Moreira Leite avalia que mirar nos jornalistas da EBC, significa, na verdade, mirar na liberdade de expressão. “Na mídia comercial brasileira, outros pontos de vista são impossíveis. O cenário é diferente, porém, quando falamos de blogs e da comunicação pública”, argumenta. “A TV Brasil é plural e agora paga o preço de não ter feito a cobertura do processo de impeachment seguindo a linha do pensamento único. O mito dos altos salários é mais uma tentativa de deslegitimar a comunicação pública”.
Em texto publicado em seu blog, intitulado ‘Por trás dos salários da EBC’, o jornalista explica:
(...) Cabe reconhecer que minha remuneração como apresentador e editor chefe do programa Espaço Público, chamado ainda a fazer comentários cada vez mais frequentes nos telejornais da TV Brasil, era inferior ao que recebi na maior parte de meus empregos nos últimos quinze anos.
Era menor do que meus vencimentos como diretor da sucursal da Istoé em Brasília, que ocupei entre 2013 e 2014. Também era mais baixa do que recebia em qualquer uma das funções que exerci na revista Época, onde fui editor, chefe da sucursal de Brasília e, em outro período na empresa, em outro regime de trabalho, diretor de redação. Também é inferior aos meus vencimentos no Diário de S. Paulo, onde fui diretor de redação. Fazendo as correções necessárias em função da inflação, também é inferior ao que recebia como redator chefe da VEJA.
(....)
Pode-se explicar a divulgação de uma informação errada como mais uma demonstração de leviandade, prática condenável do jornalismo que atira primeiro para perguntar depois. Mas não é só isso, evidentemente. Até porque, para se falar seriamente sobre salários altos, baixos, ou na média, seria preciso ir ao mercado e apurar aquilo que se paga por funções equivalentes nas emissoras privadas, se possível com referências nominais, o que ficaria um pouco chato, em alguns casos até engraçado, né?
Na verdade, a falácia dos “altos salários” pagos pela EBC cumpre uma função ideológica. Ajuda a construir a lenda negativa em torno de uma emissora que se quer acusar de desperdiçar recursos públicos e de oferecer mordomias para as chamadas estrelas “pró-PT.” Também ajuda a colocar uma dúvida sobre o real compromisso desses profissionais com os pontos-de-vista que defendem (...).
(...) O problema aqui é uma emissora que desafina o coro dos contentes, cumprindo a função necessária de apresentar uma alternativa a um pensamento escandalosamente único que, só admite alterações na cor da gravata dos apresentadores ou no penteado das comentaristas. O fato dessa melodia ser sustentada com recursos públicos -- que também pagam a conta de boa parte das receitas das emissoras privadas -- torna tudo ainda mais irritante e aceitável. Mostra que o monopolio privado da comunicação, que tem uma preferência ideológica nítida, pode ser questionado, ainda que através de uma pequena brecha.
Nas pressões contra a TV Brasil, o que se quer é uma sociedade unidimensional, onde se busca criminalizar o conflito de ideias para que possa ser silenciado. Por isso os programas que davam identidade a TV Brasil foram retirados do ar sem mais demora.
Nassif promete ação judicial e desafia jornalões
Condutor do programa Brasilianas, também na TV Brasil, Luis Nassif teve o contrato suspenso, sem nenhuma justificativa legal, tão logo Michel Temer assumiu a presidência provisória. Nassif avisa: ingressará na Justiça contra a arbitrariedade da medida.
Mesmo com histórico profissional que inclui passagens por empresas como Veja, Folha de S. Paulo (integrando, inclusive, o conselho editorial do jornal) e Bandeirantes, Nassif também tem sido arremessado à vala da falsa polêmica em relação à EBC. “Para início de conversa, quando eu fui para a EBC, o contrato seguiu as mesmas bases do que eu tinha com a TV Cultura”, esclarece. “Os valores, inclusive, são muito similares aos de meu contrato com o Canal Rural, ou seja, estão absolutamente dentro dos parâmetros da área”.
Em resposta à menção de seu nome nas acusações de salários inflacionados, Nassif esclarece: “Ao contrário do que dizem, meu contrato não diz respeito apenas ao programa Brasilianas. Também inclui comentários em dois jornais e nas rádios”. Por fim, o jornalista lançou uma aposta. “Desafio qualquer um, a Folha, o Estadão, a mostrar qualquer conteúdo com viés político em nossos programas. Já desafiei em texto e desafio novamente”.
'Insinuações baratas' causam indignação
Nem os 23 anos de CBN e 20 anos de Globo News foram suficientes para salvar Sidney Rezende do bombardeio sobre os profissionais da comunicação pública. Após não ter seu contrato renovado na Globo News (coincidentemente após tecer duras críticas à imprensa brasileira), o jornalista passou a integrar a Rádio Nacional, um dos braços da EBC. No dia 20 de maio, porém, seu programa foi extinto - praticamente uma semana após o afastamento da presidenta Dilma Rousseff.
Em texto publicado no dia 14 do mesmo mês, pouco antes da notícia do encerramento, Rezende divulgou um longo texto em seu blog explicando, de forma didática e transparente, a questão dos contratos com a EBC. Ele destaca pontos citados em uma carta que a própria Empresa enviou à revista Veja. A carta foi ignorada pela publicação da Editora Abril.
Dentre os pontos citados, está a questão do salário de Rezende. Em primeiro lugar, explica o documento, “este foi sacramentado dentro dos recursos orçamentários da EBC e respeitando as normas gerais estabelecidas na Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993”. A EBC ainda declara que “o jornalista possui reconhecida competência profissional e seu trabalho será remunerado de acordo com os salários de mercado. A contratação do mesmo também atende aos objetivos da EBC e está contribuindo para fazer a comunicação pública mais ampla, plural e isenta”.
Com dados e números, Rezende explica ainda que não usufruía de nenhum tipo de benefício como plano de saúde, vale-refeição ou vale-transporte. “Se fosse relação pessoa física, receberia mensalmente 13 vencimentos de R$ 36 mil”, declara. O contrato do jornalista não incluía apenas a apresentação do programa Nacional Brasil, mas também a incumbência de “ajudar a editorializar a faixa que trabalhamos de 6h às 10h e disponibilizar minha força de trabalho, quando convocado pela direção, para outros desafios de programação”.
Antes mesmo de o seu contrato ser rompido pelo governo Temer, Rezende saiu em defesa da comunicação pública. “Fazer uma programação de qualidade, aumentar a audiência, ampliar o caráter educativo e cultural do nosso povo através dos instrumentos de comunicação da EBC não é um desafio pessoal, mas coletivo, e é um orgulho para qualquer jornalista sério se envolver num projeto dessa dimensão”, expressou no blog.
“Trabalhar no serviço público não significa estar envolvido em maracutaias”, disparou, justificando sua indignação com ‘insinuações baratas’. “Compreendo que alguns prefiram para si agir como vestais da moral alheia. Até para ser fiel à minha folha de serviços, respeito a todos, mas exijo que tenham a mesma conduta para comigo”, sentenciou.
Os ataques da mídia monopolista e de setores conservadores à comunicação pública não param. A razão para gritaria diz respeito a supostos ‘altos salários’ pagos a jornalistas pela Empresa Brasil de Comunicação (EBC). A polêmica, entretanto, não se justifica, conforme argumentam o jornalistas Luis Nassif, Paulo Moreira Leite e Sidney Rezende.
Alvos de matérias de grandes jornais sobre o assunto, os renomados profissionais rebateram a tese de que seus vencimentos estariam acima da realidade do mercado da comunicação e criticaram a 'caça às bruxas' que vem sendo empreendida contra qualquer jornalista e meio de comunicação que não endosse o pensamento único dos grandes veículos.
Para Paulo Moreira Leite, há uma clara tentativa de rotular e desqualificar profissionais que não rezam a cartilha dominante. “Transformar jornalistas com nosso currículo em ‘estrelas pró-PT’ é forçar demais a barra. Criam estereótipos sem base alguma na realidade”, rebate.
Com passagens consagradas em redações de veículos como Veja, Época e IstoÉ, Paulo Moreira Leite avalia que mirar nos jornalistas da EBC, significa, na verdade, mirar na liberdade de expressão. “Na mídia comercial brasileira, outros pontos de vista são impossíveis. O cenário é diferente, porém, quando falamos de blogs e da comunicação pública”, argumenta. “A TV Brasil é plural e agora paga o preço de não ter feito a cobertura do processo de impeachment seguindo a linha do pensamento único. O mito dos altos salários é mais uma tentativa de deslegitimar a comunicação pública”.
Em texto publicado em seu blog, intitulado ‘Por trás dos salários da EBC’, o jornalista explica:
(...) Cabe reconhecer que minha remuneração como apresentador e editor chefe do programa Espaço Público, chamado ainda a fazer comentários cada vez mais frequentes nos telejornais da TV Brasil, era inferior ao que recebi na maior parte de meus empregos nos últimos quinze anos.
Era menor do que meus vencimentos como diretor da sucursal da Istoé em Brasília, que ocupei entre 2013 e 2014. Também era mais baixa do que recebia em qualquer uma das funções que exerci na revista Época, onde fui editor, chefe da sucursal de Brasília e, em outro período na empresa, em outro regime de trabalho, diretor de redação. Também é inferior aos meus vencimentos no Diário de S. Paulo, onde fui diretor de redação. Fazendo as correções necessárias em função da inflação, também é inferior ao que recebia como redator chefe da VEJA.
(....)
Pode-se explicar a divulgação de uma informação errada como mais uma demonstração de leviandade, prática condenável do jornalismo que atira primeiro para perguntar depois. Mas não é só isso, evidentemente. Até porque, para se falar seriamente sobre salários altos, baixos, ou na média, seria preciso ir ao mercado e apurar aquilo que se paga por funções equivalentes nas emissoras privadas, se possível com referências nominais, o que ficaria um pouco chato, em alguns casos até engraçado, né?
Na verdade, a falácia dos “altos salários” pagos pela EBC cumpre uma função ideológica. Ajuda a construir a lenda negativa em torno de uma emissora que se quer acusar de desperdiçar recursos públicos e de oferecer mordomias para as chamadas estrelas “pró-PT.” Também ajuda a colocar uma dúvida sobre o real compromisso desses profissionais com os pontos-de-vista que defendem (...).
(...) O problema aqui é uma emissora que desafina o coro dos contentes, cumprindo a função necessária de apresentar uma alternativa a um pensamento escandalosamente único que, só admite alterações na cor da gravata dos apresentadores ou no penteado das comentaristas. O fato dessa melodia ser sustentada com recursos públicos -- que também pagam a conta de boa parte das receitas das emissoras privadas -- torna tudo ainda mais irritante e aceitável. Mostra que o monopolio privado da comunicação, que tem uma preferência ideológica nítida, pode ser questionado, ainda que através de uma pequena brecha.
Nas pressões contra a TV Brasil, o que se quer é uma sociedade unidimensional, onde se busca criminalizar o conflito de ideias para que possa ser silenciado. Por isso os programas que davam identidade a TV Brasil foram retirados do ar sem mais demora.
Nassif promete ação judicial e desafia jornalões
Condutor do programa Brasilianas, também na TV Brasil, Luis Nassif teve o contrato suspenso, sem nenhuma justificativa legal, tão logo Michel Temer assumiu a presidência provisória. Nassif avisa: ingressará na Justiça contra a arbitrariedade da medida.
Mesmo com histórico profissional que inclui passagens por empresas como Veja, Folha de S. Paulo (integrando, inclusive, o conselho editorial do jornal) e Bandeirantes, Nassif também tem sido arremessado à vala da falsa polêmica em relação à EBC. “Para início de conversa, quando eu fui para a EBC, o contrato seguiu as mesmas bases do que eu tinha com a TV Cultura”, esclarece. “Os valores, inclusive, são muito similares aos de meu contrato com o Canal Rural, ou seja, estão absolutamente dentro dos parâmetros da área”.
Em resposta à menção de seu nome nas acusações de salários inflacionados, Nassif esclarece: “Ao contrário do que dizem, meu contrato não diz respeito apenas ao programa Brasilianas. Também inclui comentários em dois jornais e nas rádios”. Por fim, o jornalista lançou uma aposta. “Desafio qualquer um, a Folha, o Estadão, a mostrar qualquer conteúdo com viés político em nossos programas. Já desafiei em texto e desafio novamente”.
'Insinuações baratas' causam indignação
Nem os 23 anos de CBN e 20 anos de Globo News foram suficientes para salvar Sidney Rezende do bombardeio sobre os profissionais da comunicação pública. Após não ter seu contrato renovado na Globo News (coincidentemente após tecer duras críticas à imprensa brasileira), o jornalista passou a integrar a Rádio Nacional, um dos braços da EBC. No dia 20 de maio, porém, seu programa foi extinto - praticamente uma semana após o afastamento da presidenta Dilma Rousseff.
Em texto publicado no dia 14 do mesmo mês, pouco antes da notícia do encerramento, Rezende divulgou um longo texto em seu blog explicando, de forma didática e transparente, a questão dos contratos com a EBC. Ele destaca pontos citados em uma carta que a própria Empresa enviou à revista Veja. A carta foi ignorada pela publicação da Editora Abril.
Dentre os pontos citados, está a questão do salário de Rezende. Em primeiro lugar, explica o documento, “este foi sacramentado dentro dos recursos orçamentários da EBC e respeitando as normas gerais estabelecidas na Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993”. A EBC ainda declara que “o jornalista possui reconhecida competência profissional e seu trabalho será remunerado de acordo com os salários de mercado. A contratação do mesmo também atende aos objetivos da EBC e está contribuindo para fazer a comunicação pública mais ampla, plural e isenta”.
Com dados e números, Rezende explica ainda que não usufruía de nenhum tipo de benefício como plano de saúde, vale-refeição ou vale-transporte. “Se fosse relação pessoa física, receberia mensalmente 13 vencimentos de R$ 36 mil”, declara. O contrato do jornalista não incluía apenas a apresentação do programa Nacional Brasil, mas também a incumbência de “ajudar a editorializar a faixa que trabalhamos de 6h às 10h e disponibilizar minha força de trabalho, quando convocado pela direção, para outros desafios de programação”.
Antes mesmo de o seu contrato ser rompido pelo governo Temer, Rezende saiu em defesa da comunicação pública. “Fazer uma programação de qualidade, aumentar a audiência, ampliar o caráter educativo e cultural do nosso povo através dos instrumentos de comunicação da EBC não é um desafio pessoal, mas coletivo, e é um orgulho para qualquer jornalista sério se envolver num projeto dessa dimensão”, expressou no blog.
“Trabalhar no serviço público não significa estar envolvido em maracutaias”, disparou, justificando sua indignação com ‘insinuações baratas’. “Compreendo que alguns prefiram para si agir como vestais da moral alheia. Até para ser fiel à minha folha de serviços, respeito a todos, mas exijo que tenham a mesma conduta para comigo”, sentenciou.
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