Por Ricardo Kotscho, em seu blog:
Dos 142 milhões de brasileiros inscritos para as eleições deste ano, metade não deverá votar em ninguém, calcula o presidente do Ibope, Carlos Augusto Montenegro, o maior especialista brasileiro em pesquisas eleitorais.
Ao constatar que o cenário está inalterado há mais de um ano, “como água parada”, Montenegro encontra dois motivos principais para esse desinteresse:
Ao constatar que o cenário está inalterado há mais de um ano, “como água parada”, Montenegro encontra dois motivos principais para esse desinteresse:
- “Ninguém sobe nem desce porque os candidatos não emocionam”
- “A população está enojada da política. Nunca vi o eleitor tão frio e desmotivado”.
Em entrevista ao colunista Bernardo Mello Franco, de O Globo, o presidente do Ibope fez uma análise pouco alentadora sobre as possibilidades dos principais candidatos:
- Bolsonaro não será eleito. Se for para o segundo turno, não ganha de ninguém.
- Candidatura de Marina Silva vai sumir assim que começar o horário eleitoral.
- Sem alianças, Ciro Gomes deve ir pelo mesmo caminho.
- Alckmin ainda é um enigma.
- Com Lula preso, o PT terá dificuldades para transferir votos.
Ou seja, não sobra ninguém.
Como não será possível importar ou inventar candidatos, teremos uma eleição surreal, inédita no mundo: os eleitores não têm candidatos e os candidatos não têm votos, com exceção de Lula, o líder das pesquisas, que a Justiça tirou da disputa.
Após quatro anos de Lava Jato e dois de governo Temer, caminhamos para a eleição num cenário de terra arrasada.
Eleições normais costumam ser um importante processo de renovação de esperanças e de representantes, mas desta vez não temos uma coisa nem outra.
Muito ao contrário: os presidenciáveis competitivos estão todos na política há muito tempo; o desemprego cresce e o PIB cai, e não há nenhum risco de que o Congresso a ser eleito em outubro possa ser melhor do que este que está aí.
Mergulhados desde as eleições de 2014 na mais profunda crise política e econômica da história republicana, os brasileiros já não acreditam que a eleição possa melhorar as suas vidas.
O que esta análise de Carlos Augusto Montenegro demonstra, acima de tudo, é que os brasileiros desistiram do Brasil.
Conseguiram matar até as nossas esperanças, destruindo o presente e comprometendo o futuro. Não sobrou pedra sobre pedra.
A apenas 77 dias da abertura das urnas, é o que temos.
Bom domingo.
Vida que segue.
1 comentários:
Ando com preguiça de comentar catando milho em meu smartphone tela de 4, um espaço adequado para textos breves, jamais para textos analíticos. Porém, tentarei me superar outra vez, pois considero lamentável a importância que se dá, não para os dados resultantes do levantamento do Ibope ou de qualquer outro instituto do gênero, mas para as análises e prognósticos políticos dos chefes desses institutos. É verdade que existe,no dia de hoje, no presente, uma tendência a um gigantesco número de votos brancos, nulos e de abstenções. Espertamente, Montenegro manipula esses dados para fazer prognósticos fajutos, que interessam ao seu campo político, ou seja, ao Mercado que ele representa. Daí, sutilmente, tenta liquidar com duas candidaturas, tal como gostariam que ocorresse os estrategistas que organizaram a Frente Ampla da Direita. Refiro-me a Ciro e a Bolsonaro. A "análise" de Montenegro busca influenciar as decisões sobre o nome do candidato alternativo da esquerda, em substituição ao de Lula, lançando no ar uma pretensa afirmação "isenta", fundada na crença apolítica de que "os números não mentem", de que esses números alertam que "Ciro não tem chances". Montenegro colabora, portanto, para desqualificar o único nome que poderá derrotar Alckmin no segundo turno, estimulando a rejeição que o sectarismo e o exclusivismo petista já vem manifestando contra o candidato do PDT. Ao desqualificar Bolsonaro, Montenegri busca,por sua vez, qualificar Alckmin entre os eleitores indecisos da direita. Para mim, os estrategistas do mercado sonham em chegar a um segundo turno, disputado entre Alckmin e um nome do PT, de preferência Haddad. Alckmin agregaria os votos de Bolsonaro (que declararia seu apoio ao tucano), e levaria vantagem na classe média onde a rejeição a um nome do PT é o grande produto político da campanha de desqualificação desse partido movida pela grande mídia. Essa é uma das virtudes do nome de Ciro, a sua capacidade de agradar aos eleitores que rejeitam o PT, diputando-os vantajosamente com um candidato da direita como Alckmin. Quanto aos eleitores que hoje afirmam que não irão votar em ninguém, isso também é simultaneamente um desejo e um produto político consciente da propaganda política e ideológica da direita. Cabe à esquerda traçar uma ação visando reverter essa tendência, através da política, única Ciência capaz de conceber o futuro como projeção da ação transformadora dos homens, e não como projeções de gráficos estatísticos, fundados em levantamentos de institutos a serviço dos interesses do mercado.
Postar um comentário