Por André Barrocal, na revista CartaCapital:
“Show de besteiras” e “bobagens”, disse Santos Cruz
Santos Cruz ficou aborrecido. Em uma entrevista à revista Época após a demissão, disse que o governo é um “show de besteiras” e que o presidente “perde tempo com bobagens”. Bobagens ideológicas que o ex-capitão e seus filhos acreditam ter sido o motivo do triunfo eleitoral.
Para a Secretaria de Governo, Bolsonaro nomeou outro general, com quem tem relação pessoal, Luiz Eduardo Ramos Baptista Pereira. Este era chefe do Comando Militar do Sudeste, em São Paulo. Sua entrada no governo abriu uma das duas vagas no Alto Comando do Exército, aquelas para as quais o porta-voz de Bolsonaro foi preterido.
Ramos Baptista conversou há algumas semanas com uns parlamentares sobre a situação política e disse-lhes para ter calma. Aos poucos, os militares iriam segurar o presidente, controlar a, digamos, afoiteza dele. “Só que o que aconteceu foi o contrário”, comenta um desses parlamentares. “O Bolsonaro é que enquadrou os militares, com as demissões dos generais.”
Bolsonaro e militares: uma relação que nunca foi das melhores
Bolsonaro e os militares casaram-se na eleição, mas a relação do presidente com a cúpula das Forças Armadas nunca foi das melhores. O motivo? Quando era tenente, nos anos 1980, Bolsonaro defendeu em público aumento de salário, uma insubordinação, e até planejou explodir bombas por isso. Foi condenado numa sindicância interna, embora absolvido pelo Superior Tribunal Militar.
O ex-capitão dá-se melhor com a turma de baixa patente. Na reta final da eleição no ano passado, foi a um evento do Bope no Rio e comentou: “Tô dando continência pro coronel, mas quem vai mandar no Brasil serão os capitães”. Quem será que a baixa oficialidade respeita mais, e dispõe-se a seguir: o presidente? Ou seus chefes nos quartéis?
Durante a greve dos caminhoneiros que parou o País em 2018 e ameaçou o mandato de Michel Temer, CartaCapital testemunhou o deputado Celso Russomano (PRB-SP) falar com o colega Ivan Valente (PSOL-SP) no café da Câmara. Era 28 de maio, uma segunda-feira. Russomano contou que, na véspera, tinha conversado sobre a crise com Ramos Baptista, que já era chefe do Comando Militar do Sudeste. O general teria dito, no relato de Russomano: “Vocês têm que segurar a situação aí em Brasília, se não eu não sei como vai ser com a base aqui”.
Os caminhoneiros, como se descobriu naquela época, mostraram-se bolsonaristas. São 2 milhões, mais ou menos, 1% da população, e Bolsonaro quer armar todos eles, vide seus decretos armamentistas derrubados pelo Senado. Ele teria assim uma espécie de milícia sobre rodas.
Sentimento rebelde anticúpula das Forças Armadas, relação direta com baixas patentes, caminhoneiros armados… Uma combinação preocupante encarnada por Jair Bolsonaro.
O Alto Comando do Exército, um grupo de 16 generais da ativa, escolheu em 24 de junho novos membros do time, para o lugar de dois que iriam para a reserva. O porta-voz de Jair Bolsonaro, Octávio do Rêgo Barros, era um concorrente e ficou de fora. Seus competidores eram melhores? Ou ele teria sido vítima de uma guerra fria existente entre o presidente e a cúpula das Forças Armadas?
Os militares estão contrariados com a resistência do presidente em se deixar domesticar por gente fardada que faz (ou fazia) parte do governo, conforme eles têm dito em conversas reservadas com parlamentares e empresários. Depois das manifestações de rua de seus apoiadores em 26 de maio, Bolsonaro radicalizou. Demitiu generais que tinham uma postura não-extremista.
A degola atingiu Franklimberg Ribeiro de Freitas, que na Fundação Nacional do Índio (Funai) era contra privilegiar fazendeiros. Juarez Aparecido de Paula Cunha, que à frente dos Correios lutava contra a privatização da empresa. E Carlos Alberto dos Santos Cruz, que na chefia da Secretaria de Governo era contra o plano de despejar verba oficial na imprensa simpática ao presidente.
“Os militares não engoliram a demissão do Santos Cruz, que para mim foi uma vitória do núcleo ideológico do governo, representado pelos filhos do presidente e o Olavo de Carvalho”, diz o assessor de um empresário. Uma afirmação feita após conversas nas últimas semanas com oficiais da Aeronáutica e do Exército.
Os militares estão contrariados com a resistência do presidente em se deixar domesticar por gente fardada que faz (ou fazia) parte do governo, conforme eles têm dito em conversas reservadas com parlamentares e empresários. Depois das manifestações de rua de seus apoiadores em 26 de maio, Bolsonaro radicalizou. Demitiu generais que tinham uma postura não-extremista.
A degola atingiu Franklimberg Ribeiro de Freitas, que na Fundação Nacional do Índio (Funai) era contra privilegiar fazendeiros. Juarez Aparecido de Paula Cunha, que à frente dos Correios lutava contra a privatização da empresa. E Carlos Alberto dos Santos Cruz, que na chefia da Secretaria de Governo era contra o plano de despejar verba oficial na imprensa simpática ao presidente.
“Os militares não engoliram a demissão do Santos Cruz, que para mim foi uma vitória do núcleo ideológico do governo, representado pelos filhos do presidente e o Olavo de Carvalho”, diz o assessor de um empresário. Uma afirmação feita após conversas nas últimas semanas com oficiais da Aeronáutica e do Exército.
“Show de besteiras” e “bobagens”, disse Santos Cruz
Santos Cruz ficou aborrecido. Em uma entrevista à revista Época após a demissão, disse que o governo é um “show de besteiras” e que o presidente “perde tempo com bobagens”. Bobagens ideológicas que o ex-capitão e seus filhos acreditam ter sido o motivo do triunfo eleitoral.
Para a Secretaria de Governo, Bolsonaro nomeou outro general, com quem tem relação pessoal, Luiz Eduardo Ramos Baptista Pereira. Este era chefe do Comando Militar do Sudeste, em São Paulo. Sua entrada no governo abriu uma das duas vagas no Alto Comando do Exército, aquelas para as quais o porta-voz de Bolsonaro foi preterido.
Ramos Baptista conversou há algumas semanas com uns parlamentares sobre a situação política e disse-lhes para ter calma. Aos poucos, os militares iriam segurar o presidente, controlar a, digamos, afoiteza dele. “Só que o que aconteceu foi o contrário”, comenta um desses parlamentares. “O Bolsonaro é que enquadrou os militares, com as demissões dos generais.”
Bolsonaro e militares: uma relação que nunca foi das melhores
Bolsonaro e os militares casaram-se na eleição, mas a relação do presidente com a cúpula das Forças Armadas nunca foi das melhores. O motivo? Quando era tenente, nos anos 1980, Bolsonaro defendeu em público aumento de salário, uma insubordinação, e até planejou explodir bombas por isso. Foi condenado numa sindicância interna, embora absolvido pelo Superior Tribunal Militar.
O ex-capitão dá-se melhor com a turma de baixa patente. Na reta final da eleição no ano passado, foi a um evento do Bope no Rio e comentou: “Tô dando continência pro coronel, mas quem vai mandar no Brasil serão os capitães”. Quem será que a baixa oficialidade respeita mais, e dispõe-se a seguir: o presidente? Ou seus chefes nos quartéis?
Durante a greve dos caminhoneiros que parou o País em 2018 e ameaçou o mandato de Michel Temer, CartaCapital testemunhou o deputado Celso Russomano (PRB-SP) falar com o colega Ivan Valente (PSOL-SP) no café da Câmara. Era 28 de maio, uma segunda-feira. Russomano contou que, na véspera, tinha conversado sobre a crise com Ramos Baptista, que já era chefe do Comando Militar do Sudeste. O general teria dito, no relato de Russomano: “Vocês têm que segurar a situação aí em Brasília, se não eu não sei como vai ser com a base aqui”.
Os caminhoneiros, como se descobriu naquela época, mostraram-se bolsonaristas. São 2 milhões, mais ou menos, 1% da população, e Bolsonaro quer armar todos eles, vide seus decretos armamentistas derrubados pelo Senado. Ele teria assim uma espécie de milícia sobre rodas.
Sentimento rebelde anticúpula das Forças Armadas, relação direta com baixas patentes, caminhoneiros armados… Uma combinação preocupante encarnada por Jair Bolsonaro.
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