Por Marques Casara, no jornal Brasil de Fato:
O escândalo da vez, no setor de medicamentos, foi a revelação de que a Pfizer escondeu informações sobre um remédio que poderia reduzir em 64% o risco de uma pessoa contrair Alzheimer. Motivo: a patente do medicamento havia expirado. Com isso, qualquer empresa do setor poderia lucrar com a descoberta. Os doentes seriam beneficiados, mas o lucro não ficaria apenas com a Pfizer. A alta gestão da companhia optou por ocultar a informação, para não beneficiar a concorrência. O caso foi descoberto pelo jornal The Washington Post.
O remédio em questão é o anti-inflamatório Enbrel, um sucesso de vendas usado para tratar artrite reumatoide. É um produto com faturamento anual de US$ 2,1 bilhões. Pesquisadores da própria Pfizer descobriram que o Enbrel também poderia prevenir o Alzheimer, que atinge 10 milhões de pessoas a cada ano, 60% delas em países de renda baixa ou média.
Em nota, a empresa nega. Diz que não divulgou porque faltavam evidências. Isso não é verdade, segundo o Post, pois as evidências existiam desde 2015. Faltava apenas um estudo complementar.
Casos como esse, na indústria farmacêutica, são mais comuns do que a gente imagina. As gigantes do setor escondem avanços, em nome de estratégias vinculadas aos resultados financeiros. A saúde das pessoas fica em segundo plano. Em 2011, o cientista Thomas Steitz, Prêmio Nobel de Química, denunciou que as farmacêuticas não querem curar pessoas, mas torná-las dependentes de medicamentos que precisem ser tomados por toda a vida. Na mesma linha, seguiu o Nobel de Medicina, Richard J. Roberts. Ele denunciou que as empresas bloqueiam medicamentos que curam, porque não são rentáveis.
A indústria farmacêutica está repleta de escândalos. É um setor delicado, pois lida com vidas humanas. Mas segue a fria lógica do capitalismo: se não dá lucro, não interessa. Essa lógica - a do o lucro acima de tudo - serve para medicamentos, sabonetes, guarda-chuvas ou qualquer outra mercadoria inserida em uma cadeia produtiva industrial em regime de concorrência neoliberal.
A questão ética, os direitos humanos, a cura de doenças, tudo isso tem menos importância. Nos escritórios da alta gestão, o papo é reto: se não dá lucro, não interessa. O que interessa são os recordes de faturamento, que geram bônus anuais bilionários aos CEOs das companhias.
Os governos não têm a mínima gerência sobre essas questões, mesmo quando o assunto envolve vidas humanas. Estão impotentes para interferir em um mundo para o qual estão cada vez menos preparados. A economia - essa economia que lemos nos jornais e assistimos na TV - é pura ideologia. Nenhuma decisão de Estado é tomada sem que sejam consultados os grupos econômicos que controlam o fluxo de capitais. Não espere decisões de governo que não sejam em benefício de grandes grupos econômicos. E não importa se o governo é de direita ou de esquerda.
Ao cidadão, resta a cínica resignação de ser rebaixado à condição de consumidor. Ou ainda mais: à condição de mera mercadoria.
O escândalo da vez, no setor de medicamentos, foi a revelação de que a Pfizer escondeu informações sobre um remédio que poderia reduzir em 64% o risco de uma pessoa contrair Alzheimer. Motivo: a patente do medicamento havia expirado. Com isso, qualquer empresa do setor poderia lucrar com a descoberta. Os doentes seriam beneficiados, mas o lucro não ficaria apenas com a Pfizer. A alta gestão da companhia optou por ocultar a informação, para não beneficiar a concorrência. O caso foi descoberto pelo jornal The Washington Post.
O remédio em questão é o anti-inflamatório Enbrel, um sucesso de vendas usado para tratar artrite reumatoide. É um produto com faturamento anual de US$ 2,1 bilhões. Pesquisadores da própria Pfizer descobriram que o Enbrel também poderia prevenir o Alzheimer, que atinge 10 milhões de pessoas a cada ano, 60% delas em países de renda baixa ou média.
Em nota, a empresa nega. Diz que não divulgou porque faltavam evidências. Isso não é verdade, segundo o Post, pois as evidências existiam desde 2015. Faltava apenas um estudo complementar.
Casos como esse, na indústria farmacêutica, são mais comuns do que a gente imagina. As gigantes do setor escondem avanços, em nome de estratégias vinculadas aos resultados financeiros. A saúde das pessoas fica em segundo plano. Em 2011, o cientista Thomas Steitz, Prêmio Nobel de Química, denunciou que as farmacêuticas não querem curar pessoas, mas torná-las dependentes de medicamentos que precisem ser tomados por toda a vida. Na mesma linha, seguiu o Nobel de Medicina, Richard J. Roberts. Ele denunciou que as empresas bloqueiam medicamentos que curam, porque não são rentáveis.
A indústria farmacêutica está repleta de escândalos. É um setor delicado, pois lida com vidas humanas. Mas segue a fria lógica do capitalismo: se não dá lucro, não interessa. Essa lógica - a do o lucro acima de tudo - serve para medicamentos, sabonetes, guarda-chuvas ou qualquer outra mercadoria inserida em uma cadeia produtiva industrial em regime de concorrência neoliberal.
A questão ética, os direitos humanos, a cura de doenças, tudo isso tem menos importância. Nos escritórios da alta gestão, o papo é reto: se não dá lucro, não interessa. O que interessa são os recordes de faturamento, que geram bônus anuais bilionários aos CEOs das companhias.
Os governos não têm a mínima gerência sobre essas questões, mesmo quando o assunto envolve vidas humanas. Estão impotentes para interferir em um mundo para o qual estão cada vez menos preparados. A economia - essa economia que lemos nos jornais e assistimos na TV - é pura ideologia. Nenhuma decisão de Estado é tomada sem que sejam consultados os grupos econômicos que controlam o fluxo de capitais. Não espere decisões de governo que não sejam em benefício de grandes grupos econômicos. E não importa se o governo é de direita ou de esquerda.
Ao cidadão, resta a cínica resignação de ser rebaixado à condição de consumidor. Ou ainda mais: à condição de mera mercadoria.
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