Do sítio do Centro de Estudos Barão de Itararé:
Depoimentos de personalidades políticas, militantes da mídia alternativa, funcionários e ex-funcionários da rádio e TV Cultura marcaram a manifestação contra o processo de desmonte da emissora, ocorrida nesta terça-feira (3), em São Paulo. O evento, que reuniu mais de 150 pessoas no Sindicato dos Engenheiros, consolidou o primeiro ato em resposta ao sucateamento e à falta de democracia na gestão do canal público.
O economista Luiz Gonzaga Belluzzo, o jornalista Luis Nassif e diversas entidades – como o Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), Barão de Itararé, Intervozes, Altercom, Sindicato dos Jornalistas, Sindicato dos Radialistas, Federação Interestadual dos Trabalhadores em Radiodifusão e Televisão (FITERT), entre outras – também compareceram à atividade. Os deputados estaduais Simão Pedro (PT-SP), Carlos Giannazi (PSOL-SP) e Leci Brandão (PCdoB-SP) foram alguns dos parlamentares presentes.
Para Belluzzo, a mobilização da sociedade civil em defesa da Cultura é de grande importância, pois defende a especificidade da Comunicação Pública no país. “As TVs públicas têm um projeto diferenciado, pois reservam um espaço abandonado pela TV privada, que é o da educação, da cultura e da informação”, diz. Belluzzo integra o Conselho Curador da emissora e garante ser contra a concessão de espaço de um canal público para um grande grupo de comunicação, como no caso da TV Folha: “É uma privatização do espaço público, como se uma pessoa fosse em uma repartição pública e conseguisse um privilégio”.
Na visão de Luis Nassif, trata-se de uma “profunda falta de cultura, em todos os sentidos” de João Sayad (atual presidente da Fundação Padre Anchieta, mantenedora da Cultura). “O Sayad alegou que economizaria dinheiro deixando de filmar a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp) e em seu lugar colocaria DVDs da Deutsche Welle (TV pública alemã). Ora, é um absurdo não registrar a manifestação cultural da classe A de São Paulo. Se não tem sensibilidade nem para a classe A, imagine para as manifestações culturais populares, da periferia, que deveriam ter lugar num canal público”.
O jornalista também afirmou que está acontecendo um “desmonte absoluto” da TV Cultura e alerta sobre a truculência com a qual o PSDB enfrentará a questão. “O Sayad é um objeto de manipulação do Serra e os governos tucanos criaram um pensamento de total insensibilidade a qualquer movimento social, de opinião pública”. Joaquim Palhares, diretor da revista Carta Maior, também denunciou a postura dos tucanos em relação às TVs públicas. “Em outros estados, como o Pará e o Rio Grande do Sul, as TVs públicas também sofreram esse processo de sucateamento”. Para ele, o desmonte da Cultura é fruto de um “modelo privatista das políticas públicas de Comunicação”.
Gestão Sayad: “uma palhaçada”
Alguns ex-funcionários relataram seus casos recentes de demissão da emissora. A radialista Marilu Cabañas, por exemplo, contou que João Sayad convocou representantes de todos os setores da emissora para que se apresentassem e falassem sobre suas situações. “Entreguei uma lista de itens que achávamos problemáticos, com reivindicações básicas. No dia seguinte, todo mundo estava na rua”, diz. Em suas palavras, “foi uma palhaçada”. Ela se emocionou ao lembrar da orientação editorial que recebeu: “fazer matéria com pobre e sobre pobre é uma bobagem”.
Maria Amélia Rocha Lopes, que dirigia o programa Manos e Minas – um dos poucos da TV brasileira que abre espaço para a cultura hip-hop, cumprindo o papel de diversidade e pluralidade que a Comunicação Pública prevê –, também compartilhou seu caso com o público. Sayad anunciou que o programa seria extinto, gerando grande mobilização das comunidades e até artistas (como o rapper Mano Brown, dos Racionais MCs). Sayad voltou atrás, mas na sequência demitiu Maria Amélia e todos os funcionários que se mobilizaram pelo programa. “Não se trata só de perder o emprego, mas de compreender a função e a missão de uma TV pública”, afirmou.
“Terra arrasada”
De acordo com João Brant, do Coletivo Intervozes, o desmonte que está sendo feito na emissora deixará “terra arrasada”, pois está destruindo seu patrimônio. “Os programas extintos e a aniquilação do quadro de profissionais refletem a mentalidade da direção da emissora hoje”. Ele afirma que o projeto da TV Cultura enquanto TV pública está gravemente comprometido.
A Coordenadora-executiva do FNDC, Rosane Bertotti acredita que o debate tem que refletir a Comunicação Pública como um todo. “O estado de São Paulo vai na contramão da história. Recentemente, houve o Seminário Internacional “Regulação da Comunicação Pública”, em Brasília, por exemplo”.
Bertotti e Renata Mielli, do Barão de Itararé, lembraram a importância de vincular a luta em defesa da TV Cultura à luta pelo marco regulatório das Comunicações. “A mídia privada quer vetar qualquer debate que anseie a democratização da comunicação. O debate em torno da TV Cultura é um deles”, afirma Mielli.
Relembrando a Conferência Nacional de Comunicação (Confecom), ocorrida em 2009, o jornalista e historiador Gilberto Maringoni também sugere que a luta pela TV Cultura seja inserida em uma agenda pela democratização da comunicação. “É preciso mobilizar-nos, mas sempre relacionando a questão da Cultura com as outras lutas acumuladas”, opinou.
Encaminhamentos
Ao final do ato, alguns apontamentos foram decididos para a continuidade das manifestações contra a privataria da Cultura. Um novo ato já está marcado para o dia 16 de abril, em frente à sede da TV, quando será eleito o novo presidente do Conselho Curador da Fundação Padre Anchieta.
Além disso, também foi lançada a proposta de um manifesto assinado por artistas e intelectuais que se identifiquem com a luta, e a produção de vídeos “virais” com depoimentos de personalidades diversas.
Por fim, também será solicitada auditoria das contas da Fundação Padre Anchieta; a circulação de um abaixo-assinado da sociedade civil e, em âmbito parlamentar, a criação de uma CPI da Privataria da TV Cultura, além de audiência pública (que já teve seu requerimento, feito pela deputada federal Luiza Erundina (PSB-SP), aprovado na Câmara).
Depoimentos de personalidades políticas, militantes da mídia alternativa, funcionários e ex-funcionários da rádio e TV Cultura marcaram a manifestação contra o processo de desmonte da emissora, ocorrida nesta terça-feira (3), em São Paulo. O evento, que reuniu mais de 150 pessoas no Sindicato dos Engenheiros, consolidou o primeiro ato em resposta ao sucateamento e à falta de democracia na gestão do canal público.
O economista Luiz Gonzaga Belluzzo, o jornalista Luis Nassif e diversas entidades – como o Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), Barão de Itararé, Intervozes, Altercom, Sindicato dos Jornalistas, Sindicato dos Radialistas, Federação Interestadual dos Trabalhadores em Radiodifusão e Televisão (FITERT), entre outras – também compareceram à atividade. Os deputados estaduais Simão Pedro (PT-SP), Carlos Giannazi (PSOL-SP) e Leci Brandão (PCdoB-SP) foram alguns dos parlamentares presentes.
Para Belluzzo, a mobilização da sociedade civil em defesa da Cultura é de grande importância, pois defende a especificidade da Comunicação Pública no país. “As TVs públicas têm um projeto diferenciado, pois reservam um espaço abandonado pela TV privada, que é o da educação, da cultura e da informação”, diz. Belluzzo integra o Conselho Curador da emissora e garante ser contra a concessão de espaço de um canal público para um grande grupo de comunicação, como no caso da TV Folha: “É uma privatização do espaço público, como se uma pessoa fosse em uma repartição pública e conseguisse um privilégio”.
Na visão de Luis Nassif, trata-se de uma “profunda falta de cultura, em todos os sentidos” de João Sayad (atual presidente da Fundação Padre Anchieta, mantenedora da Cultura). “O Sayad alegou que economizaria dinheiro deixando de filmar a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp) e em seu lugar colocaria DVDs da Deutsche Welle (TV pública alemã). Ora, é um absurdo não registrar a manifestação cultural da classe A de São Paulo. Se não tem sensibilidade nem para a classe A, imagine para as manifestações culturais populares, da periferia, que deveriam ter lugar num canal público”.
O jornalista também afirmou que está acontecendo um “desmonte absoluto” da TV Cultura e alerta sobre a truculência com a qual o PSDB enfrentará a questão. “O Sayad é um objeto de manipulação do Serra e os governos tucanos criaram um pensamento de total insensibilidade a qualquer movimento social, de opinião pública”. Joaquim Palhares, diretor da revista Carta Maior, também denunciou a postura dos tucanos em relação às TVs públicas. “Em outros estados, como o Pará e o Rio Grande do Sul, as TVs públicas também sofreram esse processo de sucateamento”. Para ele, o desmonte da Cultura é fruto de um “modelo privatista das políticas públicas de Comunicação”.
Gestão Sayad: “uma palhaçada”
Alguns ex-funcionários relataram seus casos recentes de demissão da emissora. A radialista Marilu Cabañas, por exemplo, contou que João Sayad convocou representantes de todos os setores da emissora para que se apresentassem e falassem sobre suas situações. “Entreguei uma lista de itens que achávamos problemáticos, com reivindicações básicas. No dia seguinte, todo mundo estava na rua”, diz. Em suas palavras, “foi uma palhaçada”. Ela se emocionou ao lembrar da orientação editorial que recebeu: “fazer matéria com pobre e sobre pobre é uma bobagem”.
Maria Amélia Rocha Lopes, que dirigia o programa Manos e Minas – um dos poucos da TV brasileira que abre espaço para a cultura hip-hop, cumprindo o papel de diversidade e pluralidade que a Comunicação Pública prevê –, também compartilhou seu caso com o público. Sayad anunciou que o programa seria extinto, gerando grande mobilização das comunidades e até artistas (como o rapper Mano Brown, dos Racionais MCs). Sayad voltou atrás, mas na sequência demitiu Maria Amélia e todos os funcionários que se mobilizaram pelo programa. “Não se trata só de perder o emprego, mas de compreender a função e a missão de uma TV pública”, afirmou.
“Terra arrasada”
De acordo com João Brant, do Coletivo Intervozes, o desmonte que está sendo feito na emissora deixará “terra arrasada”, pois está destruindo seu patrimônio. “Os programas extintos e a aniquilação do quadro de profissionais refletem a mentalidade da direção da emissora hoje”. Ele afirma que o projeto da TV Cultura enquanto TV pública está gravemente comprometido.
A Coordenadora-executiva do FNDC, Rosane Bertotti acredita que o debate tem que refletir a Comunicação Pública como um todo. “O estado de São Paulo vai na contramão da história. Recentemente, houve o Seminário Internacional “Regulação da Comunicação Pública”, em Brasília, por exemplo”.
Bertotti e Renata Mielli, do Barão de Itararé, lembraram a importância de vincular a luta em defesa da TV Cultura à luta pelo marco regulatório das Comunicações. “A mídia privada quer vetar qualquer debate que anseie a democratização da comunicação. O debate em torno da TV Cultura é um deles”, afirma Mielli.
Relembrando a Conferência Nacional de Comunicação (Confecom), ocorrida em 2009, o jornalista e historiador Gilberto Maringoni também sugere que a luta pela TV Cultura seja inserida em uma agenda pela democratização da comunicação. “É preciso mobilizar-nos, mas sempre relacionando a questão da Cultura com as outras lutas acumuladas”, opinou.
Encaminhamentos
Ao final do ato, alguns apontamentos foram decididos para a continuidade das manifestações contra a privataria da Cultura. Um novo ato já está marcado para o dia 16 de abril, em frente à sede da TV, quando será eleito o novo presidente do Conselho Curador da Fundação Padre Anchieta.
Além disso, também foi lançada a proposta de um manifesto assinado por artistas e intelectuais que se identifiquem com a luta, e a produção de vídeos “virais” com depoimentos de personalidades diversas.
Por fim, também será solicitada auditoria das contas da Fundação Padre Anchieta; a circulação de um abaixo-assinado da sociedade civil e, em âmbito parlamentar, a criação de uma CPI da Privataria da TV Cultura, além de audiência pública (que já teve seu requerimento, feito pela deputada federal Luiza Erundina (PSB-SP), aprovado na Câmara).
0 comentários:
Postar um comentário