Por Paulo Moreira Leite, em seu blog:
Derrotada em todas as opções para o comando do Congresso, a oposição retoma a pressão sobre os parlamentares brasileiros.
O clima é de fim de mundo.
Até jornalistas bem informados descrevem um universo apocalíptico, onde todos são corruptos, malandros, hipócritas – e quem não é apenas funciona como a exceção que confirma a regra.
Eu acho este raciocínio mais perigoso do que a própria corrupção que se procura denunciar, pois aponta para uma situação sem saída.
Quem descreve um mundo assim está dizendo que não há solução dentro das regras do jogo. Se todos são corruptos, não é dali que se deve esperar a salvação, certo?
Nós sabemos muito bem o que essa turma está falando sem dizer...
Não custa lembrar que nem Renan Calheiros nem Henrique Alves foram condenados em último recurso pela Justiça. Numa democracia, todos são inocentes até que se prove o contrário, correto?
Não temos tribunais de exceção. Nem admitimos linchamentos.
Os dois são acusados pelo Ministério Público, o que é muito diferente. Eu posso até achar que o ministério tem razão em suas denúncias, mas isso não encerra a discussão.
O Ministério Público tem obrigação de denunciar toda possibilidade de crime, que deve ser investigada e examinada, com isenção, pela Justiça. Até lá, no entanto, é preciso ter cautela.
Reportagem do Valor Econômico, ontem, lembrou que a principal acusação contra Henrique Alves, a de que possuía milhões de dólares no exterior, feita por sua ex-mulher, “posteriormente não se comprovou”.
E, se você se lembra do mensalão, irá lembrar-se que até um ex-ministro, Luiz Gushiken, passou sete anos na galeria dos acusados, aquela que os jornais publicavam diariamente, com retratinho de quem parecia procurado, até que acabou absolvido por falta de provas.
Quem gosta de berrar todo mundo é ladrão deveria saber que, naquela época, teve professor de colégio que se atreveu a dar sermão de cidadania para filhos de Gushiken em plena sala de aula – e não apareceu para se desculpar depois que tudo foi esclarecido.
O mesmo ocorreu com parlamentares como Paulo Rocha, o professor Luizinho...
Mesmo quem considera que Renan é culpado de tudo o que se diz a seu respeito, deveria recordar que seu comportamento não impediu que fosse ministro da Justiça de Fernando Henrique Cardoso.
De duas uma: ou Renan era virgem até se tornar um aliado do governo Lula, ou estão ele só incomoda porque aliou-se a Lula.
O mesmo, vamos combinar, vale para Henrique Alves. É estatisticamente impossível que só depois de 40 anos de Congresso ele começasse a cometer atos considerados condenáveis...
O debate que não quer terminar diz respeito a uma questão – o voto popular.
E isso é muito velho.
Procura-se sugerir que Renan e Henrique Alves foram eleitos porque têm esquemas, distribuem benefícios e favores escusos.
Ignora-se que eles praticam a regra do jogo que está aí. É o jogo do dinheiro, do aluguel de mandatos, da liberdade oferecida ao poder econômico para colonizar o Estado brasileiro.
Eu acho que isso sim ameaça a democracia. E, francamente, eu acho que já vivi o bastante para encontrar duas regras básicas para o funcionamento dos nossos regimes democráticos no Brasil.
Quando o dinheiro aluga o poder, todos ficam felizes. Quando isso não acontece mais, chamamos as baionetas do autoritarismo.
Foi assim 1964. Tentou-se fazer assim em 1956, em 1961...
No Brasil de hoje vivemos uma situação em que o dinheiro já não compra mais a felicidade de quem sempre mandou no País.
Os caras gastam, gastam, gastam, mas a turma que chegou ao Planalto a partir de 2002 pode até colocar no cofre, mas insiste em fazer o Bolsa Família, em aumentar a aposentadoria, em proteger o emprego...
Não há guerra ideológica, o PT de hoje está longe de ser o partido de raízes socialistas de seu nascimento, muitos petistas não se distinguem dos adversários que tanto denunciaram ao longo de 20 anos, mas mesmo esse pequeno desgaste, esse atrito, quase migalha, parece estar passando da conta...
O pessoal não suporta. E fica impaciente, nervoso. E é por isso que Renans incomodam, Henriques incomodam. São o alvo visível, fácil, de um ataque maior.
Num conto policial de 1957, Luís Lopes Coelho, um dos pioneiros do gênero na literatura brasileira, já falava de “deputados negocistas” que fechavam negócios com “malandros.”
Era um dado assim, banal, do país daquele tempo, a democracia que sobreviveu a um suicídio presidencial e a duas aventuras militares do pessoal que não conseguia fazer a UDN chegar ao governo pelo voto...
Imagine que apenas sete anos depois desse conto ter sido publicado, em clima de grande indignação ocorreu o golpe de 64, que iria acabar com a subversão e a corrupção – mas só serviu para provar com 100% de acerto que a indignação de natureza moral é um excelente combustível para medidas de caráter autoritário.
O país não precisa da indignação seletiva. Nem dos moralistas de marketing.
O necessário é respeitar a democracia e modificá-la por dentro, conforme suas regras e seu compasso.
E o ano de 2013 pode ser uma excelente oportunidade para fazer isso.
Mais do que nunca o País precisa debater uma reforma política que garanta que cada homem e cada mulher vale um voto – em vez de eleitores de 1 centavo e outros de 1 bilhão.
Num país com liberdade para os partidos políticos, com campanha na TV e uma imensa dívida social, apesar dos progressos recentes, é fácil saber quem tem a ganhar com esse regime – e quem teria a perder.
Quem se habilita? Pela resposta, já se sabe o compromisso de cada um.
Derrotada em todas as opções para o comando do Congresso, a oposição retoma a pressão sobre os parlamentares brasileiros.
O clima é de fim de mundo.
Até jornalistas bem informados descrevem um universo apocalíptico, onde todos são corruptos, malandros, hipócritas – e quem não é apenas funciona como a exceção que confirma a regra.
Eu acho este raciocínio mais perigoso do que a própria corrupção que se procura denunciar, pois aponta para uma situação sem saída.
Quem descreve um mundo assim está dizendo que não há solução dentro das regras do jogo. Se todos são corruptos, não é dali que se deve esperar a salvação, certo?
Nós sabemos muito bem o que essa turma está falando sem dizer...
Não custa lembrar que nem Renan Calheiros nem Henrique Alves foram condenados em último recurso pela Justiça. Numa democracia, todos são inocentes até que se prove o contrário, correto?
Não temos tribunais de exceção. Nem admitimos linchamentos.
Os dois são acusados pelo Ministério Público, o que é muito diferente. Eu posso até achar que o ministério tem razão em suas denúncias, mas isso não encerra a discussão.
O Ministério Público tem obrigação de denunciar toda possibilidade de crime, que deve ser investigada e examinada, com isenção, pela Justiça. Até lá, no entanto, é preciso ter cautela.
Reportagem do Valor Econômico, ontem, lembrou que a principal acusação contra Henrique Alves, a de que possuía milhões de dólares no exterior, feita por sua ex-mulher, “posteriormente não se comprovou”.
E, se você se lembra do mensalão, irá lembrar-se que até um ex-ministro, Luiz Gushiken, passou sete anos na galeria dos acusados, aquela que os jornais publicavam diariamente, com retratinho de quem parecia procurado, até que acabou absolvido por falta de provas.
Quem gosta de berrar todo mundo é ladrão deveria saber que, naquela época, teve professor de colégio que se atreveu a dar sermão de cidadania para filhos de Gushiken em plena sala de aula – e não apareceu para se desculpar depois que tudo foi esclarecido.
O mesmo ocorreu com parlamentares como Paulo Rocha, o professor Luizinho...
Mesmo quem considera que Renan é culpado de tudo o que se diz a seu respeito, deveria recordar que seu comportamento não impediu que fosse ministro da Justiça de Fernando Henrique Cardoso.
De duas uma: ou Renan era virgem até se tornar um aliado do governo Lula, ou estão ele só incomoda porque aliou-se a Lula.
O mesmo, vamos combinar, vale para Henrique Alves. É estatisticamente impossível que só depois de 40 anos de Congresso ele começasse a cometer atos considerados condenáveis...
O debate que não quer terminar diz respeito a uma questão – o voto popular.
E isso é muito velho.
Procura-se sugerir que Renan e Henrique Alves foram eleitos porque têm esquemas, distribuem benefícios e favores escusos.
Ignora-se que eles praticam a regra do jogo que está aí. É o jogo do dinheiro, do aluguel de mandatos, da liberdade oferecida ao poder econômico para colonizar o Estado brasileiro.
Eu acho que isso sim ameaça a democracia. E, francamente, eu acho que já vivi o bastante para encontrar duas regras básicas para o funcionamento dos nossos regimes democráticos no Brasil.
Quando o dinheiro aluga o poder, todos ficam felizes. Quando isso não acontece mais, chamamos as baionetas do autoritarismo.
Foi assim 1964. Tentou-se fazer assim em 1956, em 1961...
No Brasil de hoje vivemos uma situação em que o dinheiro já não compra mais a felicidade de quem sempre mandou no País.
Os caras gastam, gastam, gastam, mas a turma que chegou ao Planalto a partir de 2002 pode até colocar no cofre, mas insiste em fazer o Bolsa Família, em aumentar a aposentadoria, em proteger o emprego...
Não há guerra ideológica, o PT de hoje está longe de ser o partido de raízes socialistas de seu nascimento, muitos petistas não se distinguem dos adversários que tanto denunciaram ao longo de 20 anos, mas mesmo esse pequeno desgaste, esse atrito, quase migalha, parece estar passando da conta...
O pessoal não suporta. E fica impaciente, nervoso. E é por isso que Renans incomodam, Henriques incomodam. São o alvo visível, fácil, de um ataque maior.
Num conto policial de 1957, Luís Lopes Coelho, um dos pioneiros do gênero na literatura brasileira, já falava de “deputados negocistas” que fechavam negócios com “malandros.”
Era um dado assim, banal, do país daquele tempo, a democracia que sobreviveu a um suicídio presidencial e a duas aventuras militares do pessoal que não conseguia fazer a UDN chegar ao governo pelo voto...
Imagine que apenas sete anos depois desse conto ter sido publicado, em clima de grande indignação ocorreu o golpe de 64, que iria acabar com a subversão e a corrupção – mas só serviu para provar com 100% de acerto que a indignação de natureza moral é um excelente combustível para medidas de caráter autoritário.
O país não precisa da indignação seletiva. Nem dos moralistas de marketing.
O necessário é respeitar a democracia e modificá-la por dentro, conforme suas regras e seu compasso.
E o ano de 2013 pode ser uma excelente oportunidade para fazer isso.
Mais do que nunca o País precisa debater uma reforma política que garanta que cada homem e cada mulher vale um voto – em vez de eleitores de 1 centavo e outros de 1 bilhão.
Num país com liberdade para os partidos políticos, com campanha na TV e uma imensa dívida social, apesar dos progressos recentes, é fácil saber quem tem a ganhar com esse regime – e quem teria a perder.
Quem se habilita? Pela resposta, já se sabe o compromisso de cada um.
3 comentários:
PML< mesmo nao sendo sua seara, escreva-nos alguma coisa sobre a solicitaçao do Bundesbank e a recusa do FED Ny de sequer poder "ver" e auditar o OURO alemao guardado, segundo eles, em NY. a Imprensa e o pulbico alemaes estao ouriçados e nao é pra menos. Diante disso, se eles tem esse direito, porque os iranianos e coreanos do norte nao podem recusar que a AEIA audite seu uraniozinho? Tambem é questao de segurança.
Adoro o PML, mas discordo dele nesta questão.
O custo político da ascensão de Renan à presidência do Senado supera, em muito, os benefícios, se é que há algum. A imprensa e a oposição baterão em Renan incessantemente, mas, também, no governo. Acabei de receber e-mail da Avaaz.org informando a existência de petição, com mais de 800.000 assinaturas pedindo o impeachment de Renan. Segurar Renan custará muito caro ao governo, e/ou à sua base de sustentação.
Embora Renan não tenha sido condenado, o escândalo dos pagamentos à amante, tal como se configurou, é ônus que não deveria ser debitado da governabilidade, mas será, aliás, já está sendo. Os movimentos anteriores rápidos e incisivos de Dilma confrontando a corrupção, uma das causas de sua aprovação, causa importante, serão anulados. Inevitavelmente, a imagem de Renan será colada na de Dilma, se não pela oposição, pela imprensa engajada.
O caso de Renan é muito diferente do de Dirceu e Genoíno, que tiveram participação efetiva e decisiva na redemocratização, eleição de Lula e nos ganhos que o país obteve com os governos de esquerda (esquerda existe, sim). Diferentemente de Renan, Dirceu e Genoíno estão a ser perseguidos por motivos políticos-ideológicos, e foram condenados sem provas, num contorcionismo abjeto para subtrair-lhes dignidade e respeitabilidade. Condenando Genoíno e Dirceu, a alta hierarquia judiciária emporcalhou-se, o que ficou claro para os que pensam. Ganhou, mas não levou: cedo, ou tarde, mas inevitavelmente, o linchamento judiciário-midiático virá à tona, e será reconhecido como tal.
Já no caso de Renan, há suspeitas consistentes de que se deixou corromper para fazer frente a extorsão de ex-amante. Como defendê-lo? Trata-se de malfeito menor, na acepção de “ladrão de galinha”, ou malfeito de pé-de-chinelo, e cuja denúncia não é desdobramento de revide político, como acontece com Dirceu, Genoíno e, agora, Lula. Mesmo que seja inocente, até que sua inocência seja provada, e tal é exigido de uma pessoa que se candidata à presidência do Senado quando suspeita deste tipo de crime (parecer, além de ser), Renan não poderia candidatar-se, e, muito menos, ser eleito. Só a Renan cabe defender-se deste tipo de acusação, e não tem sentido o governo defendê-lo de denúncia que se refere à esfera privada de Renan.
Renan, por causa de problemas privados, já está trazendo e trará problemas sérios ao Senado, à governabilidade e ao país. Nesta, discordo completamente de PML, mas respeitosamente e reconhecendo nele a grande importância que tem por seu trabalho corajoso de pôr às claras para a sociedade os fatos políticos tal como são, rompendo a cortina de fumaça imposta pela imprensa grande e que distorce a realidade.
Triste é ver muitos compartilhando a peticäo da Avaaz, sem saber do que se trata. Recebi no meu email e sei que a pessoa que me repassou, näo sabe nem de que se trata, assinou, e depois me perguntou poque queria tirar o Renan do Senado. Pois ele näo conhece esse e näo sabe nada deste tal de Renan. È de rir, para näo chorar. È com essa gente que a direita consegue fisgar as assinaturas. Lamentávelmente, há muita gente que aasina sem mesmo saber o que significa, outros assinam por ouvir os ataques da Globo.
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