Por Antonio Pimenta, no jornal Hora do Povo:
Hollywood jamais escondeu seus vínculos de muitos anos com Washington, o Pentágono e o complexo industrial-militar, mas nunca uma primeira-dama chegara ao ponto de expô-los tão abertamente como Michelle Obama, ao anunciar direto da Casa Branca, atendendo ao melífluo Jack Nickolson, o vencedor do Oscar 2013, o filme “Argos”, a glamourização de uma operação da CIA no Irã em 1980 em que um filme fake é a fachada.
Outro filme, tido até três meses antes, pela Reuters, como “favorito ao Oscar”, também sobre uma operação da CIA, a que executou extra-judicialmente o desarmado Osama Bin Laden, “A Hora Mais Escura”, após enorme escândalo pelos 30 minutos de apologia da tortura, teve de se contentar com uma modesta estatueta, a de edição sonora, depois de estar concorrendo a cinco indicações, inclusive de melhor filme.
Assim, em 2013, o Oscar vai - como assinalou o articulista Pepe Escobar - para .... a CIA! A Academia estendeu seu tapete vermelho para esse antro de tortura, sabotagem e terror que infelicita os povos do mundo e inclusive o povo norte-americano, e dá aval à campanha midiática pela guerra ao Irã.
Não foi por falta de filme melhor. “Lincoln”, de Steven Spielberg, sobre um momento decisivo da história dos EUA, a mudança na constituição para abolir de vez a escravidão, em que pese ignorar o papel que os próprios negros jogaram – no campo de batalha e na retaguarda – para a vitória na guerra da Secessão, é muito superior. Flagra a luta obstinada de Lincoln, magnificamente interpretado por Daniel Day-Lewis, para obter a maioria de dois terços no Congresso, através do convencimento e do suborno, pois já era assim que funcionava na época a democracia nos EUA. Não houve como negar o Oscar de melhor ator a Day-Lewis, mas “Lincoln” teve de se contentar com apenas mais uma estatueta, depois de 12 indicações.
“Argos” é um filme fake sobre a realização de um filme fake. Como o próprio ex-presidente Jimmy Carter relatou à CNN, a operação foi essencialmente dos canadenses, graças ao então embaixador Ken Taylor.
Mas é principalmente uma falsificação da história, a exemplo do que “Rambo” buscou fazer com a derrota no Vietnã. Na realidade, a CIA foi amplamente derrotada pela irrupção da revolução no Irã, após ter derrubado o primeiro-ministro legítimo Mossadegh em 1953 e instaurado a ditadura do Xá. A indignação acumulada anos a fio e as tentativas dos EUA de deterem a revolução levaram ao episódio da tomada da embaixada em Teerã por centenas de estudantes em novembro de 1979, gerando a chamada crise dos reféns. Foi a ditadura do Xá que reverteu a nacionalização do petróleo proclamada por Mossadegh.
Nos anos do Xá, a embaixada se caracterizou pela mais extremada intervenção nos assuntos internos do país, no apoio à ditadura e como conduto das decisões de Washington. No final de 1979, se concentravam na embaixada todo tipo de agentes de que os EUA dispunham na tentativa de derrotar o levante popular. São esses os “americanos inocentes” retratados em Argos; como já havia sido registrado o “americano tranqüilo” de Graham Greene em Saigon.
Embora cite o golpe da CIA contra Mossadegh, “Argos” só o faz para dar credibilidade a tudo que quer passar depois: a demonização do povo iraniano e sua revolução, apresentados como extremistas e homicidas potenciais dos “americanos inocentes”.
Quando os EUA tentaram uma operação militar para liberar os reféns, a chamada Operação “Eagle Claw” (Garra da Águia), em abril de 1980, foi um fiasco total. Três dos oito helicópteros enviados foram derrubados, oito soldados dos EUA morreram, e nenhum agente foi liberado. Eles iriam permanecer retidos na embaixada por 444 dias ao todo, só sendo libertados minutos depois da posse de Ronald Reagan na presidência dos EUA.
O fracasso na “crise dos reféns” foi explorado pelos republicanos para derrotar Jimmy Carter nas eleições de 1980 e numerosos analistas consideram que a CIA, por baixo dos panos, negociou a permanência dos reféns até o pleito nos EUA, em troca de peças de reposição para o exército iraniano, que se preparava para a guerra contra o Iraque e necessitava desesperadamente desses suprimentos. Episódio até hoje conhecido como a “Surpresa de Outubro” – a carta na manga para mostrar a “fraqueza” de Carter e a necessidade do belicoso Reagan na véspera da eleição. Assim, os reféns – 52 - foram liberados no governo Reagan, e apenas seis lograram se safar antes, como dito, centralmente graças à interferência dos canadenses, fato desconsiderado agora em prol da exaltação da CIA.
História falsificada
Não há nada de inocente em querer reescrever a história, quando na ordem do dia está a guerra contra o Irã, acusado pelos EUA e Israel de suposto “programa nuclear militar”, a exemplo do que foi feito com a “ameaça das armas de destruição em massa” no Iraque que não existiam. Menos ainda a presença de uma primeira-dama, em tais circunstâncias, a menos de dois dias de uma reunião com o Irã que vem sendo apontada como “última chance”. Nem em querer aclamar a CIA, com seus vôos de rendição, suas prisões secretas, tortura em massa com memorando do governo de W. Bush e ataques de drones – só para citar os fatos dos tempos mais recentes -, além dos costumeiros golpes de estado e ações do gênero.
Nem dá para esquecer que seu marido aproveitou uma aparição na viagem ao Brasil para anunciar o bombardeio da Líbia. Na operação que assassinou Bin Laden – foco do filme “A Hora Mais Escura” - o presidente Obama teve participação direta e ao vivo, desde a Casa Branca, e depois de ter autorizado tanto terrorismo com drones. Ganhador do Prêmio Nobel, quem sabe não seria merecedor também de um Oscar? Como sempre que dá uma boa bilheteria Hollywood providencia um repeteco, já estamos visualizando os próximos filmes da CIA: “190 horas de Waterboarding (Afogamento)” e “Drones da Liberdade”, este, estrelado por John Brennan.
Hollywood jamais escondeu seus vínculos de muitos anos com Washington, o Pentágono e o complexo industrial-militar, mas nunca uma primeira-dama chegara ao ponto de expô-los tão abertamente como Michelle Obama, ao anunciar direto da Casa Branca, atendendo ao melífluo Jack Nickolson, o vencedor do Oscar 2013, o filme “Argos”, a glamourização de uma operação da CIA no Irã em 1980 em que um filme fake é a fachada.
Outro filme, tido até três meses antes, pela Reuters, como “favorito ao Oscar”, também sobre uma operação da CIA, a que executou extra-judicialmente o desarmado Osama Bin Laden, “A Hora Mais Escura”, após enorme escândalo pelos 30 minutos de apologia da tortura, teve de se contentar com uma modesta estatueta, a de edição sonora, depois de estar concorrendo a cinco indicações, inclusive de melhor filme.
Assim, em 2013, o Oscar vai - como assinalou o articulista Pepe Escobar - para .... a CIA! A Academia estendeu seu tapete vermelho para esse antro de tortura, sabotagem e terror que infelicita os povos do mundo e inclusive o povo norte-americano, e dá aval à campanha midiática pela guerra ao Irã.
Não foi por falta de filme melhor. “Lincoln”, de Steven Spielberg, sobre um momento decisivo da história dos EUA, a mudança na constituição para abolir de vez a escravidão, em que pese ignorar o papel que os próprios negros jogaram – no campo de batalha e na retaguarda – para a vitória na guerra da Secessão, é muito superior. Flagra a luta obstinada de Lincoln, magnificamente interpretado por Daniel Day-Lewis, para obter a maioria de dois terços no Congresso, através do convencimento e do suborno, pois já era assim que funcionava na época a democracia nos EUA. Não houve como negar o Oscar de melhor ator a Day-Lewis, mas “Lincoln” teve de se contentar com apenas mais uma estatueta, depois de 12 indicações.
“Argos” é um filme fake sobre a realização de um filme fake. Como o próprio ex-presidente Jimmy Carter relatou à CNN, a operação foi essencialmente dos canadenses, graças ao então embaixador Ken Taylor.
Mas é principalmente uma falsificação da história, a exemplo do que “Rambo” buscou fazer com a derrota no Vietnã. Na realidade, a CIA foi amplamente derrotada pela irrupção da revolução no Irã, após ter derrubado o primeiro-ministro legítimo Mossadegh em 1953 e instaurado a ditadura do Xá. A indignação acumulada anos a fio e as tentativas dos EUA de deterem a revolução levaram ao episódio da tomada da embaixada em Teerã por centenas de estudantes em novembro de 1979, gerando a chamada crise dos reféns. Foi a ditadura do Xá que reverteu a nacionalização do petróleo proclamada por Mossadegh.
Nos anos do Xá, a embaixada se caracterizou pela mais extremada intervenção nos assuntos internos do país, no apoio à ditadura e como conduto das decisões de Washington. No final de 1979, se concentravam na embaixada todo tipo de agentes de que os EUA dispunham na tentativa de derrotar o levante popular. São esses os “americanos inocentes” retratados em Argos; como já havia sido registrado o “americano tranqüilo” de Graham Greene em Saigon.
Embora cite o golpe da CIA contra Mossadegh, “Argos” só o faz para dar credibilidade a tudo que quer passar depois: a demonização do povo iraniano e sua revolução, apresentados como extremistas e homicidas potenciais dos “americanos inocentes”.
Quando os EUA tentaram uma operação militar para liberar os reféns, a chamada Operação “Eagle Claw” (Garra da Águia), em abril de 1980, foi um fiasco total. Três dos oito helicópteros enviados foram derrubados, oito soldados dos EUA morreram, e nenhum agente foi liberado. Eles iriam permanecer retidos na embaixada por 444 dias ao todo, só sendo libertados minutos depois da posse de Ronald Reagan na presidência dos EUA.
O fracasso na “crise dos reféns” foi explorado pelos republicanos para derrotar Jimmy Carter nas eleições de 1980 e numerosos analistas consideram que a CIA, por baixo dos panos, negociou a permanência dos reféns até o pleito nos EUA, em troca de peças de reposição para o exército iraniano, que se preparava para a guerra contra o Iraque e necessitava desesperadamente desses suprimentos. Episódio até hoje conhecido como a “Surpresa de Outubro” – a carta na manga para mostrar a “fraqueza” de Carter e a necessidade do belicoso Reagan na véspera da eleição. Assim, os reféns – 52 - foram liberados no governo Reagan, e apenas seis lograram se safar antes, como dito, centralmente graças à interferência dos canadenses, fato desconsiderado agora em prol da exaltação da CIA.
História falsificada
Não há nada de inocente em querer reescrever a história, quando na ordem do dia está a guerra contra o Irã, acusado pelos EUA e Israel de suposto “programa nuclear militar”, a exemplo do que foi feito com a “ameaça das armas de destruição em massa” no Iraque que não existiam. Menos ainda a presença de uma primeira-dama, em tais circunstâncias, a menos de dois dias de uma reunião com o Irã que vem sendo apontada como “última chance”. Nem em querer aclamar a CIA, com seus vôos de rendição, suas prisões secretas, tortura em massa com memorando do governo de W. Bush e ataques de drones – só para citar os fatos dos tempos mais recentes -, além dos costumeiros golpes de estado e ações do gênero.
Nem dá para esquecer que seu marido aproveitou uma aparição na viagem ao Brasil para anunciar o bombardeio da Líbia. Na operação que assassinou Bin Laden – foco do filme “A Hora Mais Escura” - o presidente Obama teve participação direta e ao vivo, desde a Casa Branca, e depois de ter autorizado tanto terrorismo com drones. Ganhador do Prêmio Nobel, quem sabe não seria merecedor também de um Oscar? Como sempre que dá uma boa bilheteria Hollywood providencia um repeteco, já estamos visualizando os próximos filmes da CIA: “190 horas de Waterboarding (Afogamento)” e “Drones da Liberdade”, este, estrelado por John Brennan.
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