Por Mino Carta, na revista CartaCapital:
Segunda, 28, realizou-se a já tradicional festa de CartaCapital, destinada a entregar os prêmios das empresas e dos empresários mais admirados no Brasil e a celebrar, com o atraso de dois meses, também tradicional, o aniversário da revista, no caso o décimo nono. Como se deu desde o começo do seu mandato, contamos com a presença, muito honrosa para nós, da presidenta Dilma Rousseff. A cobertura do evento está nesta edição e uma edição especial nas bancas.
Limito-me aqui a comemorar uma trajetória de longo curso: dezenove anos não é pouco, tanto mais para uma publicação que rema contracorrente e se defronta com um critério dito técnico cultuado por quem valoriza as tiragens sem atentar para a importância da audiência. Diga-se que a busca de tiragens cada vez mais elevadas, e nem tanto, levou o jornalismo brasileiro a uma indiscutível decadência. A partir da ideia nefasta: o público é primário, talvez monoglota.
A mídia nativa esforçou-se para baixar o nível, na firme determinação de despencar de estágios bem mais altos, atingidos décadas atrás, ao menos do ponto de vista formal. O Brasil contou com jornalistas notáveis, que não foram solitários na prática da boa escrita. A operação a favor da mediocridade foi, porém, vitoriosa, e os profissionais mergulharam nos redemoinhos que haviam provocado. Confrontado com o jornalismo dos países do ex-Primeiro Mundo, o nosso dá pena.
Ouço e leio, de uns tempos para cá, que a mídia impressa está em xeque diante do avanço avassalador da tecnologia. Verdade factual: somos alcançados diariamente por um alude de informações, onde quer que nos encontremos, a agravar a situação criada pelo advento, antes do rádio, depois da televisão. Quem esperava pelo jornal diário para saber das novidades hoje verifica logo de manhã que já sabe de tudo.
Na noite de segunda passada, ao dar as boas-vindas à festa de CartaCapital, arrisquei-me a dizer que para a mídia impressa há saídas, até bem convenientes, para ela e seus leitores. Trata-se de partir, com o devido destemor, para o rincão feliz da qualidade. Pertenço a uma geração de jornalistas voltados dia e noite à tarefa de ilustrar o público. De iluminá-lo. No Brasil, andamos no sentido oposto, embora seja justo acentuar que o problema da concorrência tecnológica abarca o mundo todo. E esta também é verdade factual.
Não é preciso inquirir os botões para entender que significa qualidade. Ou, por outra: além de honesto, atrelado ao interesse dos leitores em lugar daquele da casa-grande e afeito ao melhor emprego do vernáculo, o jornalismo haverá de percorrer os dois atalhos que as circunstâncias lhe oferecem. O primeiro, da análise, competência de quem dispõe de autoridade e cultura, donde de credibilidade, não para pretender a concordância do leitor, habilitado, contudo, a contribuir para que o próprio forme livremente sua opinião.
O segundo, da informação exclusiva, o furo, como se diz na linguagem das redações. Trata-se da notícia que somente alguns profissionais conseguem colher, fiéis da chamada reportagem investigativa, há tempo abandonada pela mídia nativa, a bem de telefones e computadores e da aposentadoria dos perdigueiros da informação. CartaCapital rema contracorrente, como disse acima, mas na convicção de que este exato rumo leva à permanência da mídia impressa. O amanhã avisa: as tiragens perdem sentido, em proveito de um jornalismo dirigido a plateias restritas, no entanto decisivas. Diziam os sábios da antiga Roma: verba volant, scripta manent, as palavras voam, a escrita fica.
O neoliberalismo alargou a distância entre ricos e pobres, o avanço da tecnologia ameaça alargá-la entre letrados e iletrados. Corremos o risco de recriar, pelas rotas deste progresso, uma Idade Média cultural, a exprimir altíssimas e crescentes taxas de superficialidade, quando não de ignorância. Não ouso, porém, perguntar a respeito aos meus botões, por ora não quero alongar-me no assunto.
Segunda, 28, realizou-se a já tradicional festa de CartaCapital, destinada a entregar os prêmios das empresas e dos empresários mais admirados no Brasil e a celebrar, com o atraso de dois meses, também tradicional, o aniversário da revista, no caso o décimo nono. Como se deu desde o começo do seu mandato, contamos com a presença, muito honrosa para nós, da presidenta Dilma Rousseff. A cobertura do evento está nesta edição e uma edição especial nas bancas.
Limito-me aqui a comemorar uma trajetória de longo curso: dezenove anos não é pouco, tanto mais para uma publicação que rema contracorrente e se defronta com um critério dito técnico cultuado por quem valoriza as tiragens sem atentar para a importância da audiência. Diga-se que a busca de tiragens cada vez mais elevadas, e nem tanto, levou o jornalismo brasileiro a uma indiscutível decadência. A partir da ideia nefasta: o público é primário, talvez monoglota.
A mídia nativa esforçou-se para baixar o nível, na firme determinação de despencar de estágios bem mais altos, atingidos décadas atrás, ao menos do ponto de vista formal. O Brasil contou com jornalistas notáveis, que não foram solitários na prática da boa escrita. A operação a favor da mediocridade foi, porém, vitoriosa, e os profissionais mergulharam nos redemoinhos que haviam provocado. Confrontado com o jornalismo dos países do ex-Primeiro Mundo, o nosso dá pena.
Ouço e leio, de uns tempos para cá, que a mídia impressa está em xeque diante do avanço avassalador da tecnologia. Verdade factual: somos alcançados diariamente por um alude de informações, onde quer que nos encontremos, a agravar a situação criada pelo advento, antes do rádio, depois da televisão. Quem esperava pelo jornal diário para saber das novidades hoje verifica logo de manhã que já sabe de tudo.
Na noite de segunda passada, ao dar as boas-vindas à festa de CartaCapital, arrisquei-me a dizer que para a mídia impressa há saídas, até bem convenientes, para ela e seus leitores. Trata-se de partir, com o devido destemor, para o rincão feliz da qualidade. Pertenço a uma geração de jornalistas voltados dia e noite à tarefa de ilustrar o público. De iluminá-lo. No Brasil, andamos no sentido oposto, embora seja justo acentuar que o problema da concorrência tecnológica abarca o mundo todo. E esta também é verdade factual.
Não é preciso inquirir os botões para entender que significa qualidade. Ou, por outra: além de honesto, atrelado ao interesse dos leitores em lugar daquele da casa-grande e afeito ao melhor emprego do vernáculo, o jornalismo haverá de percorrer os dois atalhos que as circunstâncias lhe oferecem. O primeiro, da análise, competência de quem dispõe de autoridade e cultura, donde de credibilidade, não para pretender a concordância do leitor, habilitado, contudo, a contribuir para que o próprio forme livremente sua opinião.
O segundo, da informação exclusiva, o furo, como se diz na linguagem das redações. Trata-se da notícia que somente alguns profissionais conseguem colher, fiéis da chamada reportagem investigativa, há tempo abandonada pela mídia nativa, a bem de telefones e computadores e da aposentadoria dos perdigueiros da informação. CartaCapital rema contracorrente, como disse acima, mas na convicção de que este exato rumo leva à permanência da mídia impressa. O amanhã avisa: as tiragens perdem sentido, em proveito de um jornalismo dirigido a plateias restritas, no entanto decisivas. Diziam os sábios da antiga Roma: verba volant, scripta manent, as palavras voam, a escrita fica.
O neoliberalismo alargou a distância entre ricos e pobres, o avanço da tecnologia ameaça alargá-la entre letrados e iletrados. Corremos o risco de recriar, pelas rotas deste progresso, uma Idade Média cultural, a exprimir altíssimas e crescentes taxas de superficialidade, quando não de ignorância. Não ouso, porém, perguntar a respeito aos meus botões, por ora não quero alongar-me no assunto.
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