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O resultado da pesquisa Datafolha divulgado hoje compõe uma fantástica composição entre o óbvio e o ilógico.
O óbvio (e inegável) é que o sucesso da organização da Copa - contrariando tudo o que, nos últimos anos, foi despejado sobre a cabeça dos brasileiros - iria se refletir sobre a avaliação do Governo e nas intenções de voto em Dilma Rousseff.
E os números sobre este pessimismo artificial sofreram uma total reversão: desde o sentimento de orgulho com a Copa até a repulsa aos xingamentos que parte da arquibancada “coxinha” do Itaquerão dirigiu à presidenta no jogo de abertura.
A repulsa, aliás, foi tão grande que deu a impressão de que Aécio Neves e Eduardo Campos, com sua grosseira associação àquele gesto, ficaram vaiando sozinhos.
Mas para quem, pelas décadas de experiência eleitoral, se acostumou ao jogo das pesquisas, é mais importante ver porque, como e onde se colocam as “reservas técnicas” com que se pode influir na formação do clima eleitoral deixando um “volume morto” de onde se podem bombear os números necessários para ajustá-los depois.
O primeiro indício é que Aécio Neves, mesmo com o compacto apoio do pessoal que “não vota com o estômago”, não consegue desempacar. Parece que desde tempos imemoriais estagnou na faixa de 20%, que é bem menos do que a direita pode ter e tem em qualquer eleição, mesmo que enfrente Nosso Senhor redivivo como adversário.
Vai crescer, sim, porque não há outro jeito, mas está evidente que não empolga a ninguém.
O segundo, menos importante porém muito mais evidente, é que Eduardo Campos, nas pesquisas muito mais que na realidade eleitoral, funciona como um “colchão de amortecimento” para a polarização que é evidente neste processo de disputa. Um processo que, ao cabo, não é diferente de nenhum outro dos que nos acostumamos a viver desde que o tucanato passou a ser o partido único do conservadorismo brasileiro, com a extinção do PFL-DEM.
Eduardo Campos, qualquer um sabe, não é sequer uma sombra do que foi Marina Silva, que teve 17% dos votos totais (o que é a base da pesquisa). Para chegar a isso, Marina venceu no Distrito Federal e foi a segunda colocada em estados importantes, como o Rio de Janeiro, Pernambuco, Ceará (empatada com Serra) , além de outros menos expressivos eleitoralmente como o Amazonas e o Amapá.
O que fez o Datafolha para que Eduardo Campos subisse, já que míngua a olhos vistos a ponto de não conseguir sequer palanque nos principais estados e enfiou-se em disputas paroquiais que estão provocando uma debandada dos candidatos do PSB em todas as direções, seja a da oposição, seja a do Governo.
Simplesmente, em apenas um mês, mais que “dobrou” suas intenções de votos na mais populosa região do país, o Sudeste, como se demonstra no mapa acima, que é do próprio Datafolha, aos quais acresci os dados divulgados pelo mesmo instituto hoje na Folha de S. Paulo.
No colégio eleitoral formado por São Paulo, Minas, Rio de Janeiro e Espírito Santo, aí pelos 60 milhões de votos, o Datafolha diz que Campos passou de 4% para 9% das intenções de voto. Esse crescimento, de 5%, significaria “ganhar” três milhões de votos em um mês, uma imensa façanha para quem tinha pouco mais de 2 milhões de potenciais eleitores até junho.
Perdoem-me os estatísticos do Datafolha, mas só se o Dudu tivesse defendido os pênaltis do Chile, no lugar do Júlio César.
Nem vou falar em outras aberrações, como a de se atribuir 1% dos votos ao professor Mauro Iasi (PCB) – nada pessoal – ou 2% ao combativo Zé Maria, do PSTU, a quem o instituto prevê quase três milhões de votos, um crescimento extraordinário em relação aos 84 mil que teve como candidato a presidente em 2010.
Parece evidente que é por aí que trabalham politicamente os mentores de pesquisas: apostam tudo na prorrogação.
E daí para os pênaltis, com a esperança de uma “ajuda” do juiz.
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