Por Luciano Martins Costa, na Revista Brasileiros:
Você parece confuso: lutou tanto para que os corruptos fossem punidos, brigou com amigos, com familiares, até com aquela sobrinha que estuda na PUC você andou se desentendendo.
Pois toda aquela agitação deu nisso: respaldados pela massa e apoiados pela mídia, aqueles paladinos da honradez assumiram o governo federal.
E agora não passa um dia sem uma denúncia contra seus heróis, num lamaçal tão profundo que já se ouve, aqui e ali, a constatação de que o próprio presidente interino ficou sem condições de governar.
Muitos já pedem sua renúncia.
Por outro lado, alguns ministros do Supremo Tribunal Federal mal disfarçam o desconforto com a perspectiva de terem que tomar uma decisão que tem todos os ingredientes indigestos da confusão jurídica que ajudaram a criar: se julgam inocente a presidente afastada, desmoralizam ao mesmo tempo o Congresso e a imprensa hegemônica; se, ignorando as evidências, mantém o governo enterino, lançam de uma vez no esgoto suas biografias e a ilusão de que o Brasil venha a ser um dia um país para ser levado a sério num futuro próximo.
Você, no meio dessa confusão, olha sua camisa amarela no armário, lembra de todo aquele ufanismo e se pergunta: “pra que?”
Vou responder: provavelmente, as manifestações serviram para mostrar como a cultura de massa funciona tanto para vender cerveja como para transformar a minoria silenciosa em maioria ruidosa.
O consumo de cerveja ou política é quase inconsciente.
Muitos teóricos da comunicação estão agora debruçados nesse fenômeno brasileiro que começou em 2013 com os protestos contra o aumento da passagem de ônibus, depois foi apropriada por grupos anarquistas, em seguida substituídos por hordas de fascistas, até que finalmente desaguou na maré de cidadãos indignados contra o vermelho.
Enquanto isso, o chamado “baixo clero” do Congresso se mobilizou, sacudiu o marasmo de décadas a reboque de qualquer grupo que chegasse ao poder e, com a ajuda da mídia tradicional, se apossou do Tesouro.
Para fazer o que? – Para fazer o que sempre fez: empurrar o Brasil para trás e repartir o butim.
Mas a mangueira da Lava-Jato mudou de mãos, e de repente começam a aparecer nas delações negociadas alguns nomes que não estavam no plano original.
Você vai dizer: tudo bem, desde que tirem o PT do Planalto.
Ainda assim, resta uma enorme confusão política a ser administrada, e nada pode ser feito em desacordo com a Constituição.
A decisão do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, de denunciar ao mesmo tempo Renan Calheiros, Eduardo Cunha, o ex-presidente José Sarney e o ex-ministro Jucá, e deixar de orelha em pé outras figuras controversas, pode não ser o que você pensa: é possível que ele tenha feito essa semeadura para colher outra coisa, que não as condenações.
É bem possível que essa seja a senha para a conciliação.
Como se pode constatar nos fóruns de discussão das redes sociais, dentro do próprio Partido dos Trabalhadores, com exceção da burocracia dirigente, muitos rejeitam qualquer espécie de acerto seletivo no fim do processo.
E aí?
Vai fazer como o personagem do samba de Ary Barroso?
Para ver e ouvir: Camisa Amarela, de Ary Barroso, gravado por Aracy de Almeida em 1939.
Você parece confuso: lutou tanto para que os corruptos fossem punidos, brigou com amigos, com familiares, até com aquela sobrinha que estuda na PUC você andou se desentendendo.
Pois toda aquela agitação deu nisso: respaldados pela massa e apoiados pela mídia, aqueles paladinos da honradez assumiram o governo federal.
E agora não passa um dia sem uma denúncia contra seus heróis, num lamaçal tão profundo que já se ouve, aqui e ali, a constatação de que o próprio presidente interino ficou sem condições de governar.
Muitos já pedem sua renúncia.
Por outro lado, alguns ministros do Supremo Tribunal Federal mal disfarçam o desconforto com a perspectiva de terem que tomar uma decisão que tem todos os ingredientes indigestos da confusão jurídica que ajudaram a criar: se julgam inocente a presidente afastada, desmoralizam ao mesmo tempo o Congresso e a imprensa hegemônica; se, ignorando as evidências, mantém o governo enterino, lançam de uma vez no esgoto suas biografias e a ilusão de que o Brasil venha a ser um dia um país para ser levado a sério num futuro próximo.
Você, no meio dessa confusão, olha sua camisa amarela no armário, lembra de todo aquele ufanismo e se pergunta: “pra que?”
Vou responder: provavelmente, as manifestações serviram para mostrar como a cultura de massa funciona tanto para vender cerveja como para transformar a minoria silenciosa em maioria ruidosa.
O consumo de cerveja ou política é quase inconsciente.
Muitos teóricos da comunicação estão agora debruçados nesse fenômeno brasileiro que começou em 2013 com os protestos contra o aumento da passagem de ônibus, depois foi apropriada por grupos anarquistas, em seguida substituídos por hordas de fascistas, até que finalmente desaguou na maré de cidadãos indignados contra o vermelho.
Enquanto isso, o chamado “baixo clero” do Congresso se mobilizou, sacudiu o marasmo de décadas a reboque de qualquer grupo que chegasse ao poder e, com a ajuda da mídia tradicional, se apossou do Tesouro.
Para fazer o que? – Para fazer o que sempre fez: empurrar o Brasil para trás e repartir o butim.
Mas a mangueira da Lava-Jato mudou de mãos, e de repente começam a aparecer nas delações negociadas alguns nomes que não estavam no plano original.
Você vai dizer: tudo bem, desde que tirem o PT do Planalto.
Ainda assim, resta uma enorme confusão política a ser administrada, e nada pode ser feito em desacordo com a Constituição.
A decisão do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, de denunciar ao mesmo tempo Renan Calheiros, Eduardo Cunha, o ex-presidente José Sarney e o ex-ministro Jucá, e deixar de orelha em pé outras figuras controversas, pode não ser o que você pensa: é possível que ele tenha feito essa semeadura para colher outra coisa, que não as condenações.
É bem possível que essa seja a senha para a conciliação.
Como se pode constatar nos fóruns de discussão das redes sociais, dentro do próprio Partido dos Trabalhadores, com exceção da burocracia dirigente, muitos rejeitam qualquer espécie de acerto seletivo no fim do processo.
E aí?
Vai fazer como o personagem do samba de Ary Barroso?
Para ver e ouvir: Camisa Amarela, de Ary Barroso, gravado por Aracy de Almeida em 1939.
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