Desde 2015 a economia brasileira vem sofrendo com a pior recessão de sua história, quando diversas variáveis macroeconômicas passaram a registrar seguidas retrações. Após dois anos recessivos, dados de 2017 dão sinais de uma possível estagnação da situação econômica, tendo as exportações de bens de consumo duráveis como seu principal expoente, seguido pelo impulso do consumo no segundo trimestre após a liberação do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço).
Com bons resultados industriais em julho de 2017, o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI) considera que “o pior já passou para a indústria”, traçando uma expectativa otimista quanto ao desempenho industrial. Além disso, assistimos uma clara e recorrente redução da taxa de inflação em 2017, levando as estimativas divulgadas pelo Banco Central no Boletim Focus do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) a níveis abaixo de 3% para o ano. Seguindo a trajetória descendente do IPCA, o Banco Central vem promovendo recorrentes reduções da taxa Selic, chegando a uma taxa anualizada de 8,45%.
Em um contexto de exportações crescentes e com uma baixa taxa de juros, a perspectiva de que a economia finalmente teria parado de se retrair ganha corpo. No entanto, enquanto os dados trazem um horizonte mais estável para a economia nacional, no âmbito internacional a situação pode ser classificada como delicada. Conforme apontado anteriormente, a melhora da situação brasileira pode ser atribuída às exportações e ao impulso ao consumo.
Portanto, com uma expectativa pessimista quanto aos investimentos mesmo com uma taxa de juros mais favorável (elevado nível de capacidade ociosa) e caso não tenhamos medidas robustas de incentivo à demanda interna, visto que a liberação do FGTS foi uma medida “pontual” e a taxa de desemprego continua elevada, para mantermos esta perspectiva e engatarmos uma recuperação de fato dependemos de um cenário internacional favorável.
O Fundo Monetário Internacional (FMI), em seu relatório acerca da situação da economia mundial de abril de 2017, destacou a possibilidade da aceleração do crescimento nas economias centrais. Dados mais recentes indicam crescimento acima do esperado para os Estados Unidos e Europa, alimentando expectativas de que finalmente o mundo retomaria uma trajetória de crescimento.
Ainda que os sinais de maiores taxas de crescimento sejam uma realidade, a situação pode não ser tão favorável quanto aparenta quando passamos a analisar indicadores de mercados financeiros. Principal índice de volatilidade dos mercados, o Vix, que tem como métrica os derivativos de opção da bolsa de valores de Chicago, tem estado em níveis extremamente reduzidos, o que sinaliza uma baixa percepção de risco dos investidores.
Portanto, como os agentes têm uma percepção de risco muito baixa (ao menos em relação às operações no mercado financeiro), tendem a assumir posições mais arriscadas. Recentemente, o Vix teria atingido patamares inferiores ao pré-Crise de 2008, o que vem sendo encarado por analistas como possível prenúncio de uma nova crise.
O indicativo de que os investidores têm tomado posições arriscadas se reflete em outros mercados, fato ressaltado por Jeffrey Frenkel, professor de Harvard, em matéria recente para o Project Syndicate. Mesmo com uma recuperação a passos lentos, a bolsa de valores dos Estados Unidos vem batendo recordes mês a mês, junto com a taxa de ganho por ação (earning per share), que teria alcançado valores próximos dos períodos pré-Crise de 1929 e crise das “empresas pontocom” no início dos anos 2000.
Em paralelo, segundo o Wall Street Journal, o mercado de hipotecas norte-americanas estaria voltando a operar nos mesmos moldes do pré-Crise de 2008, em que o crédito aos consumidores seria baseado na valorização do preço de imóveis.
O mercado de títulos públicos norte-americanos também estaria extremamente valorizado, fato ressaltado pelo ex-presidente do Banco Central norte-americano Alan Grenspan, trazendo risco de um possível colapso financeiro internacional.
Por mais que os EUA venham aumentando lentamente a taxa básica de juros visando a evitar um possível estouro de bolha, uma ascensão da taxa de inflação seguida pela expectativa de aceleração do ciclo de aumento da taxa de juros poderia desencadear uma venda generalizada de títulos de longo prazo (dez anos ou mais).
Além do mercado norte-americano, as situações europeia e japonesa também merecem destaque, ambos com uma política monetária de taxa de juros nominal negativa. No caso europeu, mesmo com sinais de recuperação econômica, o Banco Central Europeu tem tido dificuldade em sinalizar uma reversão de suas políticas monetárias expansionistas de compra de ativos e aumentar sua taxa de juros de curto prazo. A dificuldade reside em uma possível deflação acelerada no preço de ativos, podendo desencadear nova crise financeira.
Já o Japão está aprofundando suas políticas monetárias expansionistas, com o Banco Central Japonês se tornando um dos principais investidores no mercado de ações e detendo mais de 40% dos títulos públicos do país. Novamente, o horizonte de reversão dessas políticas é delicado e altamente arriscado.
Portanto, temos três mercados relevantes e com capacidade de disseminação internacional com profundos sinais de sobrevalorização, trazendo consigo a possibilidade da eclosão de uma nova crise financeira. Nesse meio, a aparente estagnação brasileira dependente de estímulos do comércio internacional poderia ser duramente comprometida no caso de novos abalos na economia mundial.
Com um governo apostando em pacotes de reformas para ajustar as contas públicas, não podemos esperar medidas anticíclicas mais robustas de estímulo à demanda agregada. Mais que isso, uma reversão do cenário internacional poderia trazer complicações que o Brasil não teve de enfrentar nem mesmo na Crise de 2008, visto que a economia já se encontra fragilizada e com dificuldades de se ancorar no mercado interno – ao menos no curto prazo.
A superação da profunda crise política deflagrada pós-impeachment é ainda mais urgente frente à necessidade de nos prepararmos para a possibilidade de nova crise de âmbito internacional. Resta esperarmos que o próximo governo incorpore este risco, muito mais concreto do que o business as usual pode aparentar.
Com bons resultados industriais em julho de 2017, o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI) considera que “o pior já passou para a indústria”, traçando uma expectativa otimista quanto ao desempenho industrial. Além disso, assistimos uma clara e recorrente redução da taxa de inflação em 2017, levando as estimativas divulgadas pelo Banco Central no Boletim Focus do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) a níveis abaixo de 3% para o ano. Seguindo a trajetória descendente do IPCA, o Banco Central vem promovendo recorrentes reduções da taxa Selic, chegando a uma taxa anualizada de 8,45%.
Em um contexto de exportações crescentes e com uma baixa taxa de juros, a perspectiva de que a economia finalmente teria parado de se retrair ganha corpo. No entanto, enquanto os dados trazem um horizonte mais estável para a economia nacional, no âmbito internacional a situação pode ser classificada como delicada. Conforme apontado anteriormente, a melhora da situação brasileira pode ser atribuída às exportações e ao impulso ao consumo.
Portanto, com uma expectativa pessimista quanto aos investimentos mesmo com uma taxa de juros mais favorável (elevado nível de capacidade ociosa) e caso não tenhamos medidas robustas de incentivo à demanda interna, visto que a liberação do FGTS foi uma medida “pontual” e a taxa de desemprego continua elevada, para mantermos esta perspectiva e engatarmos uma recuperação de fato dependemos de um cenário internacional favorável.
O Fundo Monetário Internacional (FMI), em seu relatório acerca da situação da economia mundial de abril de 2017, destacou a possibilidade da aceleração do crescimento nas economias centrais. Dados mais recentes indicam crescimento acima do esperado para os Estados Unidos e Europa, alimentando expectativas de que finalmente o mundo retomaria uma trajetória de crescimento.
Ainda que os sinais de maiores taxas de crescimento sejam uma realidade, a situação pode não ser tão favorável quanto aparenta quando passamos a analisar indicadores de mercados financeiros. Principal índice de volatilidade dos mercados, o Vix, que tem como métrica os derivativos de opção da bolsa de valores de Chicago, tem estado em níveis extremamente reduzidos, o que sinaliza uma baixa percepção de risco dos investidores.
Portanto, como os agentes têm uma percepção de risco muito baixa (ao menos em relação às operações no mercado financeiro), tendem a assumir posições mais arriscadas. Recentemente, o Vix teria atingido patamares inferiores ao pré-Crise de 2008, o que vem sendo encarado por analistas como possível prenúncio de uma nova crise.
O indicativo de que os investidores têm tomado posições arriscadas se reflete em outros mercados, fato ressaltado por Jeffrey Frenkel, professor de Harvard, em matéria recente para o Project Syndicate. Mesmo com uma recuperação a passos lentos, a bolsa de valores dos Estados Unidos vem batendo recordes mês a mês, junto com a taxa de ganho por ação (earning per share), que teria alcançado valores próximos dos períodos pré-Crise de 1929 e crise das “empresas pontocom” no início dos anos 2000.
Em paralelo, segundo o Wall Street Journal, o mercado de hipotecas norte-americanas estaria voltando a operar nos mesmos moldes do pré-Crise de 2008, em que o crédito aos consumidores seria baseado na valorização do preço de imóveis.
O mercado de títulos públicos norte-americanos também estaria extremamente valorizado, fato ressaltado pelo ex-presidente do Banco Central norte-americano Alan Grenspan, trazendo risco de um possível colapso financeiro internacional.
Por mais que os EUA venham aumentando lentamente a taxa básica de juros visando a evitar um possível estouro de bolha, uma ascensão da taxa de inflação seguida pela expectativa de aceleração do ciclo de aumento da taxa de juros poderia desencadear uma venda generalizada de títulos de longo prazo (dez anos ou mais).
Além do mercado norte-americano, as situações europeia e japonesa também merecem destaque, ambos com uma política monetária de taxa de juros nominal negativa. No caso europeu, mesmo com sinais de recuperação econômica, o Banco Central Europeu tem tido dificuldade em sinalizar uma reversão de suas políticas monetárias expansionistas de compra de ativos e aumentar sua taxa de juros de curto prazo. A dificuldade reside em uma possível deflação acelerada no preço de ativos, podendo desencadear nova crise financeira.
Já o Japão está aprofundando suas políticas monetárias expansionistas, com o Banco Central Japonês se tornando um dos principais investidores no mercado de ações e detendo mais de 40% dos títulos públicos do país. Novamente, o horizonte de reversão dessas políticas é delicado e altamente arriscado.
Portanto, temos três mercados relevantes e com capacidade de disseminação internacional com profundos sinais de sobrevalorização, trazendo consigo a possibilidade da eclosão de uma nova crise financeira. Nesse meio, a aparente estagnação brasileira dependente de estímulos do comércio internacional poderia ser duramente comprometida no caso de novos abalos na economia mundial.
Com um governo apostando em pacotes de reformas para ajustar as contas públicas, não podemos esperar medidas anticíclicas mais robustas de estímulo à demanda agregada. Mais que isso, uma reversão do cenário internacional poderia trazer complicações que o Brasil não teve de enfrentar nem mesmo na Crise de 2008, visto que a economia já se encontra fragilizada e com dificuldades de se ancorar no mercado interno – ao menos no curto prazo.
A superação da profunda crise política deflagrada pós-impeachment é ainda mais urgente frente à necessidade de nos prepararmos para a possibilidade de nova crise de âmbito internacional. Resta esperarmos que o próximo governo incorpore este risco, muito mais concreto do que o business as usual pode aparentar.
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