Do jornal Brasil de Fato:
O Instituto Tricontinental de Pesquisa Social lançou nesta terça-feira (6) o dossiê “Iranianos não esquecerão: A guerra híbrida contra o Irã”, que trata das inúmeras intervenções dos Estados Unidos contra a hoje república islâmica.
O documento foi feito a partir de uma entrevista com Seyed Mohammad Marandi, professor de Literatura Inglesa e Orientalismo da Universidade de Teerã e decano da Faculdade de Estudos Mundiais.
O texto mostra que, embora as tensões envolvendo Washington e Teerã – intensificadas principalmente pela saída dos EUA do acordo nuclear iraniano – tenham ganhado destaque na imprensa nos últimos anos, as tentativas de intervir ou desestabilizar a nação persa são muito mais antigas.
Washington, sob a administração de Dwight Eisenhower, foi responsável por organizar, junto com o Reino Unido, um golpe de estado contra o país em agosto de 1953. A ação, batizada de Operação Ajax, derrubou o governo do então primeiro-ministro Mohammed Mossadegh e consolidou a presença estadunidense no país.
O processo foi uma retaliação à nacionalização do petróleo iraniano, iniciada a partir de 1951 com amplo apoio do Parlamento e de parte da população, que já se indignava com o controle do setor por companhias britânicas. A partir daí, a nação viveu uma transição, em que o Xá Reza Pahlavi, então um monarca constitucional, passou a chefiar um estado autoritário, marcado por ataques contra opositores.
Ao Tricontinental, o professor Mohammad Marandi afirma que é possível observar “uma longa história de tentativas de desestabilizar qualquer país que não aceite a hegemonia estadunidense (…) O Xá do Irã foi apoiado pela assistência americana de 1953 a 1979”.
O país persa, então um dos maiores produtores de petróleo do mundo, experimentou um processo de crescimento do PIB, mas sem distribuição de renda, com as desigualdades se acentuaram e gerando insatisfações que logo se transformam em greves – entre elas a dos petroleiros. Os levantes populares da década de 1970 ajudaram a gestar a Revolução de 1979, que depôs a monarquia dos xás e instaurou o estado islâmico, em vigor ainda hoje.
A partir de 1979, segundo Marandi, os EUA iniciaram um longo processo de intervenções. “Junto com a Arábia Saudita, eles pediram a Saddam Hussein que o Iraque continuasse em guerra contra o Irã por oito anos, durante os quais forneceu às forças iraquianas armas químicas que foram amplamente usadas contra o Irã e a oposição iraquiana”, conta. Os conflitos só cessaram em 1988.
A “ameaça nuclear”
Além de influenciar na guerra entre entre Irã e Iraque, os EUA passaram a impor sanções contra Teerã após a revolução de 1979. As imposições seriam ampliadas em 1995 para incluir empresas que negociassem com a república islâmica. Em 2006 o Conselho de Segurança da ONU aprovou a resolução 1696 e impôs penalidades contra o Irã porque o país se recusou a suspender seu programa de enriquecimento de urânio.
“Foi nesse contexto que os EUA colocaram a ‘ameaça nuclear’ na mesa e iniciaram um regime de sanções unilaterais, com a ONU, contra o Irã”, afirma Marandi.
Com a intensificação das pressões, o Irã assinou em 2015 o Plano de Ação Conjunto Global (PACG), acordo internacional firmado com China, França, Rússia, EUA, Reino Unido, Alemanha e União Europeia.
Conhecido como “acordo nuclear iraniano”, o pacto tem como objetivo limitar o programa nuclear do país. Em troca, o grupo retirou as sanções que atingiam os setores de finanças, comércio e energia. Bilhões de dólares e de bens congelados foram liberados com o fim das imposições
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou em maio de 2018, no entanto, que retiraria o país do acordo, restabelecendo sanções contra o Irã, contrariando os demais signatários, que afirmam que Teerã sempre respeitou os compromissos do pacto.
Segundo o Banco Central iraniano, o PIB do país, que estava em uma crescente desde que a administração Barack Obama retirou parte das penalidades, encolheu 3,9% em 2018 e deverá diminuir 6% em 2019. Ainda assim, Washington anunciou, em abril, a extensão das sanções ao petróleo iraniano a todos os clientes que restavam no país, elevando ao máximo a pressão.
“As sanções não têm o respaldo do direito internacional ou das Nações Unidas. Por isso são ilegais mesmo para seus próprios padrões. Os Estados Unidos intimidam outros países ameaçando-os com sanções caso não sigam o seu exemplo contra o Irã, como foi feito com a Coreia do Sul, Japão, Turquia e Índia em relação à compra de petróleo iraniano”, conta o professor.
Holocausto nuclear
Após deixar o pacto, os EUA passaram a adotar um discurso mais duro. Em junho, reforçou sua presença militar na região, alegando que Teerã estaria por trás de ataques contra petroleiros do Japão e Noruega.
“Trump ameaça regularmente os iranianos. Ele diz repetidamente que pode obliterar o país, o que essencialmente significa usar armas de destruição em massa. É uma ameaça de morte aos iranianos por meio de um holocausto nuclear. Em 19 de maio de 2019, por exemplo, Trump disse via Twitter: ‘se o Irã quer lutar, esse será seu fim oficial’”, diz Marandi.
O pesquisador também critica o silêncio da comunidade internacional em relação à ameaças de Trump. "Nenhum líder ocidental, nenhum parlamentar europeu, nenhuma grande figura política na Europa está disposta a criticá-lo, muito menos a condená-lo. Suas ameaças de um holocausto nuclear foram recebidas com silêncio”.
O documento foi feito a partir de uma entrevista com Seyed Mohammad Marandi, professor de Literatura Inglesa e Orientalismo da Universidade de Teerã e decano da Faculdade de Estudos Mundiais.
O texto mostra que, embora as tensões envolvendo Washington e Teerã – intensificadas principalmente pela saída dos EUA do acordo nuclear iraniano – tenham ganhado destaque na imprensa nos últimos anos, as tentativas de intervir ou desestabilizar a nação persa são muito mais antigas.
Washington, sob a administração de Dwight Eisenhower, foi responsável por organizar, junto com o Reino Unido, um golpe de estado contra o país em agosto de 1953. A ação, batizada de Operação Ajax, derrubou o governo do então primeiro-ministro Mohammed Mossadegh e consolidou a presença estadunidense no país.
O processo foi uma retaliação à nacionalização do petróleo iraniano, iniciada a partir de 1951 com amplo apoio do Parlamento e de parte da população, que já se indignava com o controle do setor por companhias britânicas. A partir daí, a nação viveu uma transição, em que o Xá Reza Pahlavi, então um monarca constitucional, passou a chefiar um estado autoritário, marcado por ataques contra opositores.
Ao Tricontinental, o professor Mohammad Marandi afirma que é possível observar “uma longa história de tentativas de desestabilizar qualquer país que não aceite a hegemonia estadunidense (…) O Xá do Irã foi apoiado pela assistência americana de 1953 a 1979”.
O país persa, então um dos maiores produtores de petróleo do mundo, experimentou um processo de crescimento do PIB, mas sem distribuição de renda, com as desigualdades se acentuaram e gerando insatisfações que logo se transformam em greves – entre elas a dos petroleiros. Os levantes populares da década de 1970 ajudaram a gestar a Revolução de 1979, que depôs a monarquia dos xás e instaurou o estado islâmico, em vigor ainda hoje.
A partir de 1979, segundo Marandi, os EUA iniciaram um longo processo de intervenções. “Junto com a Arábia Saudita, eles pediram a Saddam Hussein que o Iraque continuasse em guerra contra o Irã por oito anos, durante os quais forneceu às forças iraquianas armas químicas que foram amplamente usadas contra o Irã e a oposição iraquiana”, conta. Os conflitos só cessaram em 1988.
A “ameaça nuclear”
Além de influenciar na guerra entre entre Irã e Iraque, os EUA passaram a impor sanções contra Teerã após a revolução de 1979. As imposições seriam ampliadas em 1995 para incluir empresas que negociassem com a república islâmica. Em 2006 o Conselho de Segurança da ONU aprovou a resolução 1696 e impôs penalidades contra o Irã porque o país se recusou a suspender seu programa de enriquecimento de urânio.
“Foi nesse contexto que os EUA colocaram a ‘ameaça nuclear’ na mesa e iniciaram um regime de sanções unilaterais, com a ONU, contra o Irã”, afirma Marandi.
Com a intensificação das pressões, o Irã assinou em 2015 o Plano de Ação Conjunto Global (PACG), acordo internacional firmado com China, França, Rússia, EUA, Reino Unido, Alemanha e União Europeia.
Conhecido como “acordo nuclear iraniano”, o pacto tem como objetivo limitar o programa nuclear do país. Em troca, o grupo retirou as sanções que atingiam os setores de finanças, comércio e energia. Bilhões de dólares e de bens congelados foram liberados com o fim das imposições
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou em maio de 2018, no entanto, que retiraria o país do acordo, restabelecendo sanções contra o Irã, contrariando os demais signatários, que afirmam que Teerã sempre respeitou os compromissos do pacto.
Segundo o Banco Central iraniano, o PIB do país, que estava em uma crescente desde que a administração Barack Obama retirou parte das penalidades, encolheu 3,9% em 2018 e deverá diminuir 6% em 2019. Ainda assim, Washington anunciou, em abril, a extensão das sanções ao petróleo iraniano a todos os clientes que restavam no país, elevando ao máximo a pressão.
“As sanções não têm o respaldo do direito internacional ou das Nações Unidas. Por isso são ilegais mesmo para seus próprios padrões. Os Estados Unidos intimidam outros países ameaçando-os com sanções caso não sigam o seu exemplo contra o Irã, como foi feito com a Coreia do Sul, Japão, Turquia e Índia em relação à compra de petróleo iraniano”, conta o professor.
Holocausto nuclear
Após deixar o pacto, os EUA passaram a adotar um discurso mais duro. Em junho, reforçou sua presença militar na região, alegando que Teerã estaria por trás de ataques contra petroleiros do Japão e Noruega.
“Trump ameaça regularmente os iranianos. Ele diz repetidamente que pode obliterar o país, o que essencialmente significa usar armas de destruição em massa. É uma ameaça de morte aos iranianos por meio de um holocausto nuclear. Em 19 de maio de 2019, por exemplo, Trump disse via Twitter: ‘se o Irã quer lutar, esse será seu fim oficial’”, diz Marandi.
O pesquisador também critica o silêncio da comunidade internacional em relação à ameaças de Trump. "Nenhum líder ocidental, nenhum parlamentar europeu, nenhuma grande figura política na Europa está disposta a criticá-lo, muito menos a condená-lo. Suas ameaças de um holocausto nuclear foram recebidas com silêncio”.
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