Por Altamiro Borges
Em recente entrevista, Joseph Stiglitz, prêmio Nobel de Economia e crítico do neoliberalismo, fez uma previsão sombria que já parece virar realidade: “Podemos ter uma bolha na agricultura brasileira. Isto porque muitos investidores estrangeiros colocaram seu dinheiro nas commodities nos últimos meses, fugindo do dólar. Com a crise mundial, o primeiro impacto é o do fim dos créditos e dos investimentos e as dívidas contraídas pelo país podem ser um problema no campo. Além disso, tudo indica que os preços das commodities vão cair. A bolha no Brasil pode estar no campo. Ninguém está imune à crise. O Brasil, por mais preparado que esteja, também não está”.
Demissões e atraso de salários
Nos últimos dias, algumas notícias confirmam este preocupante prognóstico. Segundo o Centro Nacional das Indústrias do Setor Sucroalcooleiro e Energético, 75% das empresas deste setor já estão inadimplentes, em cerca de 30%, com os fornecedores de equipamentos. Depois da fase da bonança com os biocombustíveis, que atraiu R$ 50 bilhões em investimentos e propiciou lucros recordes para os usineiros, o setor agora alega dificuldades para saldar suas dívidas e já ameaça repassar a amarga conta para os trabalhadores, com demissões em massa e atrasos de salários.
A desculpa dos usineiros, sempre tão avarentos, é a falta de crédito. A crise financeira mundial teria provocado sua rápida contração. Além de não conseguir financiamentos para a exportação, o setor estaria endividado devido aos planos de expansão na fase da euforia do biocombustível. O preço do álcool também já sofreu queda de 7%. Segundo a União da Agroindústria Canavieira, dos 120 projetos de construção de novas usinas previstos até 2010, 95 já foram postergados. Até a Adecoagro, que pertence ao megaespeculador George Soros, decidiu adiar dois projetos.
Impacto nas máquinas agrícolas
A “bolha na agricultura” também já se faz sentir no setor de máquinas agrícolas. A multinacional John Deere anunciou a demissão de 200 operários de Horizontina, no interior do Rio Grande do Sul. Para o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos, Alcindo Kempfer, o clima é de temor. A indústria, que tem 2,6 trabalhadores, previa expansão com a exportação para a Argentina. Com a crise do agronegócio no país vizinho, altamente dependente de mercado externo, vários contratos foram suspensos. Na última semana de outubro, 300 pedidos de colheitadeiras foram cancelados.
Em outras regiões gaúchas em que a indústria de máquinas agrícolas é forte, como Santa Rosa, Ijuí e Passo Fundo, ainda não existem rumores sobre demissões. As empresas, porém, não estão viabilizando acordos sobre a efetivação dos trabalhadores temporários ou em fase de experiência. A exemplo de outros setores industriais que dependem do crédito externo e das exportações, no restante do país as expectativas também são preocupantes para o ramo de máquinas agrícolas. A queda nos preços e na demanda por commodities já afetaria os pedidos de compra no exterior.
O alto preço do agronegócio
Segundo reportagem da Carta Capital, que corrobora a previsão de Stiglitz, os R$ 5 bilhões que o governo Lula antecipou para garantir a safra agrícola não resolverá o problema. “Uma parcela importante do plantio é custeada pelas empresas comercializadoras de commodities (as tradings), que financiam a compra de insumos em troca da participação na colheita. Com as incertezas em relação ao câmbio e à cotação futura dos grãos, essa troca cessou. Para piorar, o crédito bancário escasseou justamente no período de plantio no Centro-Oeste, maior região produtora do país”.
Pressionado pelos ruralistas, o governo já estuda outras medidas para socorrer este setor, como o financiamento para estocagens, subsídios para garantir preço mínimo e crédito ao comprador. Há dúvidas se elas serão suficientes e chegarão a tempo para evitar o estouro da bolha no campo brasileiro, que passou por um intenso processo de desnacionalização nos últimos anos. A decisão do governo de priorizar o agronegócio – Lula chegou a proclamar que os “usineiros são os novos heróis” do país – poderá cobrar um alto preço nesta fase de grave crise do capitalismo mundial.
Em recente entrevista, Joseph Stiglitz, prêmio Nobel de Economia e crítico do neoliberalismo, fez uma previsão sombria que já parece virar realidade: “Podemos ter uma bolha na agricultura brasileira. Isto porque muitos investidores estrangeiros colocaram seu dinheiro nas commodities nos últimos meses, fugindo do dólar. Com a crise mundial, o primeiro impacto é o do fim dos créditos e dos investimentos e as dívidas contraídas pelo país podem ser um problema no campo. Além disso, tudo indica que os preços das commodities vão cair. A bolha no Brasil pode estar no campo. Ninguém está imune à crise. O Brasil, por mais preparado que esteja, também não está”.
Demissões e atraso de salários
Nos últimos dias, algumas notícias confirmam este preocupante prognóstico. Segundo o Centro Nacional das Indústrias do Setor Sucroalcooleiro e Energético, 75% das empresas deste setor já estão inadimplentes, em cerca de 30%, com os fornecedores de equipamentos. Depois da fase da bonança com os biocombustíveis, que atraiu R$ 50 bilhões em investimentos e propiciou lucros recordes para os usineiros, o setor agora alega dificuldades para saldar suas dívidas e já ameaça repassar a amarga conta para os trabalhadores, com demissões em massa e atrasos de salários.
A desculpa dos usineiros, sempre tão avarentos, é a falta de crédito. A crise financeira mundial teria provocado sua rápida contração. Além de não conseguir financiamentos para a exportação, o setor estaria endividado devido aos planos de expansão na fase da euforia do biocombustível. O preço do álcool também já sofreu queda de 7%. Segundo a União da Agroindústria Canavieira, dos 120 projetos de construção de novas usinas previstos até 2010, 95 já foram postergados. Até a Adecoagro, que pertence ao megaespeculador George Soros, decidiu adiar dois projetos.
Impacto nas máquinas agrícolas
A “bolha na agricultura” também já se faz sentir no setor de máquinas agrícolas. A multinacional John Deere anunciou a demissão de 200 operários de Horizontina, no interior do Rio Grande do Sul. Para o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos, Alcindo Kempfer, o clima é de temor. A indústria, que tem 2,6 trabalhadores, previa expansão com a exportação para a Argentina. Com a crise do agronegócio no país vizinho, altamente dependente de mercado externo, vários contratos foram suspensos. Na última semana de outubro, 300 pedidos de colheitadeiras foram cancelados.
Em outras regiões gaúchas em que a indústria de máquinas agrícolas é forte, como Santa Rosa, Ijuí e Passo Fundo, ainda não existem rumores sobre demissões. As empresas, porém, não estão viabilizando acordos sobre a efetivação dos trabalhadores temporários ou em fase de experiência. A exemplo de outros setores industriais que dependem do crédito externo e das exportações, no restante do país as expectativas também são preocupantes para o ramo de máquinas agrícolas. A queda nos preços e na demanda por commodities já afetaria os pedidos de compra no exterior.
O alto preço do agronegócio
Segundo reportagem da Carta Capital, que corrobora a previsão de Stiglitz, os R$ 5 bilhões que o governo Lula antecipou para garantir a safra agrícola não resolverá o problema. “Uma parcela importante do plantio é custeada pelas empresas comercializadoras de commodities (as tradings), que financiam a compra de insumos em troca da participação na colheita. Com as incertezas em relação ao câmbio e à cotação futura dos grãos, essa troca cessou. Para piorar, o crédito bancário escasseou justamente no período de plantio no Centro-Oeste, maior região produtora do país”.
Pressionado pelos ruralistas, o governo já estuda outras medidas para socorrer este setor, como o financiamento para estocagens, subsídios para garantir preço mínimo e crédito ao comprador. Há dúvidas se elas serão suficientes e chegarão a tempo para evitar o estouro da bolha no campo brasileiro, que passou por um intenso processo de desnacionalização nos últimos anos. A decisão do governo de priorizar o agronegócio – Lula chegou a proclamar que os “usineiros são os novos heróis” do país – poderá cobrar um alto preço nesta fase de grave crise do capitalismo mundial.
1 comentários:
Miro, seus textos continuam imperdiveis... ainda bem que você aceitou em escrever esse blog. Parabéns, um abraço.
Postar um comentário