Por Heloisa Villela, de Washington, no blog Viomundo:
Na chamada grande imprensa norte-americana eles não tem nome, parentes, planos de vida. São quatro consequências não intencionais da nobre guerra contra as drogas. Candelária Tratt Nelson, de 45 anos, grávida de cinco meses, Juana Banegas, também grávida de cinco meses, Emerson Martínez e Chalo Brock Wood foram mortos no dia 11 de maio em uma operação conjunta de agentes do Departamento de Combate às Drogas (DEA) dos Estados Unidos com policiais de Honduras. Até agora, os jornais americanos não publicaram sequer o nome das vítimas.
O ataque aconteceu no rio Patuca, o mais longo do país que funciona, na prática, como uma rodovia, pois é o único meio de transporte para as populações de índios Miskitu, Tawaka e Pech que vivem nesta área do distrito de Gracias a Dios, desprovido de estradas.
O rio Patuca desagua no Caribe e é justamente na boca do rio que os barcos comerciais de pesca recolhem os trabalhadores para semanas de pesca e mergulho em alto mar.
Annie Bird, do grupo de direitos humanos Rights Action, conversou com Lilda Lesama, que há dez anos trabalha na região e coordena pescadores e mergulhadores para os barcos comerciais. Ela explicou que durante o dia, é muito quente para cruzar o rio. Muitas viagens são feitas no meio da noite, quando a temperatura é mais amena. Na sexta-feira, dia 11 de maio, depois de deixar mergulhadores em Barra Patuca, ela começou a longa viagem de volta (dez horas ao todo) à cidade de Ahuas, às cinco da tarde. No caminho, recolheu passageiros que também voltavam à cidade.
Segundo Lilda, eram três horas da manhã quando os doze passageiros do barco viram quatro helicópteros se aproximando. Foi uma chuva de balas e algumas granadas. Além dos quatro mortos, outros quatro passageiros ficaram feridos, entre eles uma criança. Os parentes dos mortos moram em uma área tão afastada que nem mesmo as organizações de lavradores e de direitos humanos conseguiram conversar com eles ainda. As famílias dos feridos estão apavoradas, com medo de abrir a boca.
Os helicópteros eram tripulados por agentes americanos do DEA, policiais hondurenhos e, aparentemente, pilotos guatemaltecos.
“É um nojo”, disse ao Viomundo a historiadora da Universidade da Califórnia em Santa Cruz, Dana Frank. Especializada em América Latina, ela tem se dedicado, em particular, a Honduras. E disse que a guerra contra as drogas, promovida pelo governo americano, está, na verdade, servindo de braço armado à usurpação das terras dos lavradores do vale do Aguán por parte de um dos homens mais ricos de Honduras, Miguel Facussé.
Dana analisou as comunicações diplomáticas da embaixada americana de Honduras, reveladas pelo site Wikileaks, e concluiu que desde 2004 o Departamento de Estado americano sabe que Facussé é traficante. Importa cocaína.
Um telegrama da embaixada, escrito no dia 19 de março de 2004, é intitulado: “Avião de drogas queimado em propriedade de hondurenho proeminente”. O telegrama relata que o avião levava mil quilos de cocaína da Colômbia e pousou, no dia 14 de março, na propriedade de Miguel Facussé.
O embaixador americano, Larry Palmer, acrescentou no telegrama: “A propriedade de Facussé é fortemente protegida e a possibilidade de algum indivíduo ter acesso à propriedade, e usar a pista de pouso, é questionável”. Ou seja, a pista somente poderia ser usada para o tráfico de drogas com a autorização do empresário. Para fechar o relato, o embaixador destaca que esta seria a terceira vez, em um ano e três meses, que se demonstrou a ligação de traficantes com a propriedade do senhor Facussé.
Curiosamente, dois anos depois oficiais da embaixada tiveram vários encontros com Facussé, inclusive após o golpe que derrubou o presidente Manuel Zelaya. Golpe que Facussé apoiou. O empresário planta palmeiras para a produção de biocombustíveis. Em julho de 2011, o governo norte-americano enviou um novo embaixador a Honduras: Lisa Kubske, uma especialista em biocombustíveis.
Em fevereiro de 2009, o jornal direitista El Heraldo, de Tegucigalpa, capital de Honduras, publicou uma reportagem sobre um avião Cessna encontrada no Vale de Aguán com mais de uma tonelada de cocaína. Ele estava em uma pista de pouso que, segundo o jornal, pertence a Miguel Facussé.
O empresário hondurenho tem uma força própria de segurança que, segundo testemunhas, foi treinada recentemente por Rangers (forças especiais norte-americanas). Segundo Dana Frank, mais de quarenta camponeses foram mortos, recentemente, em áreas de disputa. As áreas tinham sido usadas no processo de reforma agrária, nos anos 70, e nos últimos anos estão sendo tomadas pela empresa de Facussé, com o apoio efetivo de policiais e militares hondurenhos e, indiretamente, com o dinheiro da guerra contra as drogas, fornecido pelo governo norte-americano.
Os Estados Unidos operam três bases militares em Honduras. Em uma delas, têm drones (aviões não tripulados). Se em 2011 o governo americano deu U$ 10 milhões ao exército e à polícia de Honduras, agora, em junho, a verba subiu para U$ 40 milhões. Poucas semanas antes do ataque ao barco de passageiros, aparentemente confundido com um barco de traficantes, o jornal New York Times fez uma ampla reportagem sobre o trabalho das forças especiais, que estão combatendo o tráfico de drogas na América Central.
Nela, o jornal chegou a dizer que agora os Estados Unidos poderão destinar mais recursos a essa guerra, já que estão saindo do Iraque, onde aprenderam e praticaram novas táticas. Com mais de cinquenta mil mortos na chamada guerra contra as drogas, declarada pelo presidente Felipe Calderón, os mexicanos sabem bem como são essas táticas e quais resultados elas produzem.
Na chamada grande imprensa norte-americana eles não tem nome, parentes, planos de vida. São quatro consequências não intencionais da nobre guerra contra as drogas. Candelária Tratt Nelson, de 45 anos, grávida de cinco meses, Juana Banegas, também grávida de cinco meses, Emerson Martínez e Chalo Brock Wood foram mortos no dia 11 de maio em uma operação conjunta de agentes do Departamento de Combate às Drogas (DEA) dos Estados Unidos com policiais de Honduras. Até agora, os jornais americanos não publicaram sequer o nome das vítimas.
O ataque aconteceu no rio Patuca, o mais longo do país que funciona, na prática, como uma rodovia, pois é o único meio de transporte para as populações de índios Miskitu, Tawaka e Pech que vivem nesta área do distrito de Gracias a Dios, desprovido de estradas.
O rio Patuca desagua no Caribe e é justamente na boca do rio que os barcos comerciais de pesca recolhem os trabalhadores para semanas de pesca e mergulho em alto mar.
Annie Bird, do grupo de direitos humanos Rights Action, conversou com Lilda Lesama, que há dez anos trabalha na região e coordena pescadores e mergulhadores para os barcos comerciais. Ela explicou que durante o dia, é muito quente para cruzar o rio. Muitas viagens são feitas no meio da noite, quando a temperatura é mais amena. Na sexta-feira, dia 11 de maio, depois de deixar mergulhadores em Barra Patuca, ela começou a longa viagem de volta (dez horas ao todo) à cidade de Ahuas, às cinco da tarde. No caminho, recolheu passageiros que também voltavam à cidade.
Segundo Lilda, eram três horas da manhã quando os doze passageiros do barco viram quatro helicópteros se aproximando. Foi uma chuva de balas e algumas granadas. Além dos quatro mortos, outros quatro passageiros ficaram feridos, entre eles uma criança. Os parentes dos mortos moram em uma área tão afastada que nem mesmo as organizações de lavradores e de direitos humanos conseguiram conversar com eles ainda. As famílias dos feridos estão apavoradas, com medo de abrir a boca.
Os helicópteros eram tripulados por agentes americanos do DEA, policiais hondurenhos e, aparentemente, pilotos guatemaltecos.
“É um nojo”, disse ao Viomundo a historiadora da Universidade da Califórnia em Santa Cruz, Dana Frank. Especializada em América Latina, ela tem se dedicado, em particular, a Honduras. E disse que a guerra contra as drogas, promovida pelo governo americano, está, na verdade, servindo de braço armado à usurpação das terras dos lavradores do vale do Aguán por parte de um dos homens mais ricos de Honduras, Miguel Facussé.
Dana analisou as comunicações diplomáticas da embaixada americana de Honduras, reveladas pelo site Wikileaks, e concluiu que desde 2004 o Departamento de Estado americano sabe que Facussé é traficante. Importa cocaína.
Um telegrama da embaixada, escrito no dia 19 de março de 2004, é intitulado: “Avião de drogas queimado em propriedade de hondurenho proeminente”. O telegrama relata que o avião levava mil quilos de cocaína da Colômbia e pousou, no dia 14 de março, na propriedade de Miguel Facussé.
O embaixador americano, Larry Palmer, acrescentou no telegrama: “A propriedade de Facussé é fortemente protegida e a possibilidade de algum indivíduo ter acesso à propriedade, e usar a pista de pouso, é questionável”. Ou seja, a pista somente poderia ser usada para o tráfico de drogas com a autorização do empresário. Para fechar o relato, o embaixador destaca que esta seria a terceira vez, em um ano e três meses, que se demonstrou a ligação de traficantes com a propriedade do senhor Facussé.
Curiosamente, dois anos depois oficiais da embaixada tiveram vários encontros com Facussé, inclusive após o golpe que derrubou o presidente Manuel Zelaya. Golpe que Facussé apoiou. O empresário planta palmeiras para a produção de biocombustíveis. Em julho de 2011, o governo norte-americano enviou um novo embaixador a Honduras: Lisa Kubske, uma especialista em biocombustíveis.
Em fevereiro de 2009, o jornal direitista El Heraldo, de Tegucigalpa, capital de Honduras, publicou uma reportagem sobre um avião Cessna encontrada no Vale de Aguán com mais de uma tonelada de cocaína. Ele estava em uma pista de pouso que, segundo o jornal, pertence a Miguel Facussé.
O empresário hondurenho tem uma força própria de segurança que, segundo testemunhas, foi treinada recentemente por Rangers (forças especiais norte-americanas). Segundo Dana Frank, mais de quarenta camponeses foram mortos, recentemente, em áreas de disputa. As áreas tinham sido usadas no processo de reforma agrária, nos anos 70, e nos últimos anos estão sendo tomadas pela empresa de Facussé, com o apoio efetivo de policiais e militares hondurenhos e, indiretamente, com o dinheiro da guerra contra as drogas, fornecido pelo governo norte-americano.
Os Estados Unidos operam três bases militares em Honduras. Em uma delas, têm drones (aviões não tripulados). Se em 2011 o governo americano deu U$ 10 milhões ao exército e à polícia de Honduras, agora, em junho, a verba subiu para U$ 40 milhões. Poucas semanas antes do ataque ao barco de passageiros, aparentemente confundido com um barco de traficantes, o jornal New York Times fez uma ampla reportagem sobre o trabalho das forças especiais, que estão combatendo o tráfico de drogas na América Central.
Nela, o jornal chegou a dizer que agora os Estados Unidos poderão destinar mais recursos a essa guerra, já que estão saindo do Iraque, onde aprenderam e praticaram novas táticas. Com mais de cinquenta mil mortos na chamada guerra contra as drogas, declarada pelo presidente Felipe Calderón, os mexicanos sabem bem como são essas táticas e quais resultados elas produzem.
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