Por Miguel do Rosário, no blog O Cafezinho:
Aproveitando que a presidenta está nos EUA fazendo discursos duros contra a espionagem, vamos dar uma espiada na cozinha do Tio Sam. O que ele come quando não tem dinheiro? Há alguns dias, o Tijolaço comentou e reproduziu artigo do Paul Krugman que denuncia a tentativa dos republicanos de fazerem cortes no mais antigo e popular programa social do governo americano, o Food Stamps, hoje conhecido simplesmente como Snaps, sigla para Supplemental Nutrition Assistance Program, ou Programa de Assistência Nutricional Suplementar.
A matéria merece alguns complementos estatísticos.
Segundo informações oficiais, o programa atingiu em 2012 um total de 46,60 milhões de americanos, e custou US$ 78,44 bilhões. Em reais, usando o câmbio médio dos últimos dias, em R$ 2,2, este valor corresponde a R$ 172 bilhões. O programa paga de US$ 100 a US$ 600 por pessoa (o valor médio é de US$ 133,41, ou R$ 293,00). Existe pelo menos desde 1969, sendo que programas similares existem nos EUA desde o fim da II Guerra.
Para efeito de comparação: o Programa Bolsa Família (PBF) beneficiou, no mês de set de 2013, 13,8 milhões de famílias, que receberam benefícios com valor médio de R$ 152,35. O orçamento federal para o programa em 2013 é de R$ 23,18 bilhões.
Ou seja, mesmo com o aumento de 60% dos gastos públicos com o Bolsa Família em 2013, o governo americano gasta com o seu principal programa de assistência social um valor sete vezes superior ao Bolsa Família.
Considerando que não apenas a quantidade de pobres no Brasil é bem superior a de pobres nos EUA, e que a qualidade da nossa pobreza é bem pior, conclui-se que as críticas que sempre se fizeram ao Bolsa Família eram profundamente desinformadas, pois os críticos ao Bolsa Família, em geral, são pessoas que admiram o modelo norte-americano.
O Snaps tem estado na berlinda da mídia americana por causa da movimentação de alguns republicanos, em especial o deputado republicano pela Flórida Steve Southerland, que vem protagonizando uma espécie de cruzada pela revisão do programa, com vistas a cortar beneficiários. Apesar do apoio entre republicanos, e do esforço quase místico de Southerland, a iniciativa não tem tido apoio na sociedade, em virtude da deterioração nas estatísticas sociais dos últimos anos. O número de famílias norte-americanas em situação de “insegurança alimentícia” tem disparado, e a recuperação econômica observada nos últimos meses tem ajudado apenas as camadas superiores, não os mais pobres.
Mesmo o Washington Post, jornal conservador, que publicou longa reportagem favorável às ideias Southerland, não demonstra otimismo de ver sua proposta prosperar, por causa da oposição radical que ela encontra entre os Democratas, além do poder de veto do presidente.
*****
Ainda sobre o discurso de Dilma, Merval Pereira encerra a sua coluna de um modo bizarro:
Não consta que Angela Merkel tenha utilizado o episódio [espionagem americana] na campanha em que se reelegeu na Alemanha.
Não consta? Que raio de jornalista é esse que não se preocupa em apurar?
Entretanto, é divertido constatar que, segundo um colunista do New York Times, a fala de Dilma será usada como modelo em Berlim, para pressionar as autoridades alemãs a reagirem com mais força à espionagem norte-americana.
Brazil’s stern rebuke to U.S. spying revelations may increase political pressure in Berlin, Delhi, Mexico City and elsewhere to follow Rousseff’s example and show a stronger reaction to U.S. global intelligence operations — at least in rhetoric.
Tradução: O firme repúdio do Brasil às revelações sobre a espionagem dos EUA pode aumentar a pressão política em Berlim, Delhi, Mexico e toda parte, para que sigam o exemplo de Rousseff e mostrem uma reação mais forte às operações globais da inteligência estadunidense – ao menos na retórica.
Ou seja, enquanto os sabujos da imprensa brasileira tentam desqualificar a justa e necessária indignação da presidenta Dilma contra a espionagem, tratando-a de eleitoreira, a imprensa internacional elogia o tom duro usado pela brasileira e diz que o exemplo pode forçar outras autoridades, inclusive na Alemanha, a reagirem com mais vigor à agressão norte-americana.
Aproveitando que a presidenta está nos EUA fazendo discursos duros contra a espionagem, vamos dar uma espiada na cozinha do Tio Sam. O que ele come quando não tem dinheiro? Há alguns dias, o Tijolaço comentou e reproduziu artigo do Paul Krugman que denuncia a tentativa dos republicanos de fazerem cortes no mais antigo e popular programa social do governo americano, o Food Stamps, hoje conhecido simplesmente como Snaps, sigla para Supplemental Nutrition Assistance Program, ou Programa de Assistência Nutricional Suplementar.
A matéria merece alguns complementos estatísticos.
Segundo informações oficiais, o programa atingiu em 2012 um total de 46,60 milhões de americanos, e custou US$ 78,44 bilhões. Em reais, usando o câmbio médio dos últimos dias, em R$ 2,2, este valor corresponde a R$ 172 bilhões. O programa paga de US$ 100 a US$ 600 por pessoa (o valor médio é de US$ 133,41, ou R$ 293,00). Existe pelo menos desde 1969, sendo que programas similares existem nos EUA desde o fim da II Guerra.
Para efeito de comparação: o Programa Bolsa Família (PBF) beneficiou, no mês de set de 2013, 13,8 milhões de famílias, que receberam benefícios com valor médio de R$ 152,35. O orçamento federal para o programa em 2013 é de R$ 23,18 bilhões.
Ou seja, mesmo com o aumento de 60% dos gastos públicos com o Bolsa Família em 2013, o governo americano gasta com o seu principal programa de assistência social um valor sete vezes superior ao Bolsa Família.
Considerando que não apenas a quantidade de pobres no Brasil é bem superior a de pobres nos EUA, e que a qualidade da nossa pobreza é bem pior, conclui-se que as críticas que sempre se fizeram ao Bolsa Família eram profundamente desinformadas, pois os críticos ao Bolsa Família, em geral, são pessoas que admiram o modelo norte-americano.
O Snaps tem estado na berlinda da mídia americana por causa da movimentação de alguns republicanos, em especial o deputado republicano pela Flórida Steve Southerland, que vem protagonizando uma espécie de cruzada pela revisão do programa, com vistas a cortar beneficiários. Apesar do apoio entre republicanos, e do esforço quase místico de Southerland, a iniciativa não tem tido apoio na sociedade, em virtude da deterioração nas estatísticas sociais dos últimos anos. O número de famílias norte-americanas em situação de “insegurança alimentícia” tem disparado, e a recuperação econômica observada nos últimos meses tem ajudado apenas as camadas superiores, não os mais pobres.
Mesmo o Washington Post, jornal conservador, que publicou longa reportagem favorável às ideias Southerland, não demonstra otimismo de ver sua proposta prosperar, por causa da oposição radical que ela encontra entre os Democratas, além do poder de veto do presidente.
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Ainda sobre o discurso de Dilma, Merval Pereira encerra a sua coluna de um modo bizarro:
Não consta que Angela Merkel tenha utilizado o episódio [espionagem americana] na campanha em que se reelegeu na Alemanha.
Não consta? Que raio de jornalista é esse que não se preocupa em apurar?
Entretanto, é divertido constatar que, segundo um colunista do New York Times, a fala de Dilma será usada como modelo em Berlim, para pressionar as autoridades alemãs a reagirem com mais força à espionagem norte-americana.
Brazil’s stern rebuke to U.S. spying revelations may increase political pressure in Berlin, Delhi, Mexico City and elsewhere to follow Rousseff’s example and show a stronger reaction to U.S. global intelligence operations — at least in rhetoric.
Tradução: O firme repúdio do Brasil às revelações sobre a espionagem dos EUA pode aumentar a pressão política em Berlim, Delhi, Mexico e toda parte, para que sigam o exemplo de Rousseff e mostrem uma reação mais forte às operações globais da inteligência estadunidense – ao menos na retórica.
Ou seja, enquanto os sabujos da imprensa brasileira tentam desqualificar a justa e necessária indignação da presidenta Dilma contra a espionagem, tratando-a de eleitoreira, a imprensa internacional elogia o tom duro usado pela brasileira e diz que o exemplo pode forçar outras autoridades, inclusive na Alemanha, a reagirem com mais vigor à agressão norte-americana.
1 comentários:
No texto do tijolaço ele finaliza "a elite sempre se parece em crueldade".O duro é essa classe média metida a elite. Acho até que são bem mais numerosos do que a própria elite ou fazem mais barulho que. Conheço inúmeras pessoas que fazem parte de meu relacionamento, p. exemplo, colegas de trabalho (muitos se diziam petistas roxos e hj.), pessoal da faculdade, e por aí vai. Não consigo entender essa gente, esse padrão de pessoas, pois não estão no topo da pirâmide.
Voltando ao BF estadunidense, curiosamente o programa é administrado pelo J.P.Morgan, que está em vias de pagar uma multa de US$ 11 bi em razão das fraudes praticadas no sub prime.
Deveriam mostrar tb. como funciona a saúde estadunidense. Ou o cidadão paga ou literalmente morre. O documentário SICKO (http://www.youtube.com/watch?v=VoBleMNAwUg) do Michael Moore mostra claramente como funciona a saúde no EUA. Não há saúde pública. Os hospitais botam na rua as pessoas que não podem pagar. Mas isso ninguém comenta.
E a previdência? Praticamente toda privada e que com a crise de 2008 boa parte foi para o espaço.
Mas esses idiotas que ficam clamando pelos militares alguns esquecem e a maioria desconhece, que os militares botaram as mãos nos recursos da previdência, cujo caixa era relativamente alto pois mais entravam recursos do que saiam posto que o programa era recente. Por que recursos da Previdência foram utilizados para a construção da Ponte Rio-Niterói (nunca encontrei dados que desmentissem), afinal qual o interesse nacional que ela representa? Nenhum. E mesmo que representasse esses recursos não são para essa finalidade.
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