Por Atílio Boron, no sítio Vermelho:
A crescente desestabilização pela qual passa atualmente a Venezuela tem um objetivo irredutível: a queda do governo de Nicolás Maduro. Não há espaço para outras interpretações nessa afirmação que, inclusive, foi expressa em diversas ocasiões não apenas por manifestantes da direita, mas também pelos seus principais líderes e inspiradores locais: Leopoldo López y Maria Corina Machado.
Em algumas ocasiões referiram-se a seus objetivos, utilizando a expressão utilizada pelo Departamento de Estado: “Mudança de regime”, uma maneira amável de se referir ao “golpe de Estado”. Esta feroz campanha contra o governo bolivariano tem raízes internas e externas, intimamente imbricadas e solidárias a um objetivo comum: pôr fim ao pesadelo instaurado pelo comandante Hugo Chávez desde que assumiu a Presidência, em 1999.
Para os Estados Unidos, a autodeterminação venezuelana - firmada sobre as maiores reservas comprovadas de petróleo do mundo - e seus extraordinários esforços a favor da unidade da Nossa América equivalem a um intolerável e inadmissível desafio. Para a oposição interna, o chavismo significou o fim de sua coparticipação no saque e na pilhagem organizada pelos EUA e que teve os líderes e organizações políticas da Quarta República como seus sócios minoritários e operadores locais.
Alguns já esperavam a derrota do chavismo, uma vez morto o seu comandante, mas com as eleições presidenciais de 14 de abril de 2013 as suas esperanças esfumaram-se, mesmo que por uma porcentagem muito pequena de votos. A resposta destes falsos democratas foi organizar uma série de tumultos que custaram a vida de mais de uma dezena de jovens bolivarianos, além da destruição de diversos edifícios e propriedades públicas.
Tiveram que conter-se porque a resposta do governo foi muito clara e com a lei ao seu lado. Também porque confiavam que as eleições municipais de 8 de dezembro, concebida como um plebiscito, lhes permitiriam derrotar ao chavismo para exigir imediatamente a destituição de Maduro ou um referendo revogatório antecipado. Todavia a brincadeira saiu pela culatra porque perderam por quase um milhão de votos e nove pontos percentuais de diferença.
Atônitos frente ao inesperado resultado - que, pela primeira vez, oferecia ao governo bolivariano a possibilidade de governar dois anos e administrar a economia sem ter que envolver-se com virulentas campanhas eleitorais - peregrinaram para Washington para receber conselhos, dinheiro e ajudas de todo tipo para levar adiante o seu plano. Agora a prioridade era, como foi exigido por Nixon para o Chile de Allende em 1970, “fazer a economia chiar”.
Então surgiram as campanhas de escassez de abastecimento programadas e, segundo o especialista da CIA, Eugene Sharp, a especulação mudaria com os ataques a imprensa – na qual as mentiras e o terrorismo midiático não tinham limites – e logo, o “esquentar das ruas” buscando criar uma situação similar a de Bengazi, na Líbia, que arruinasse de vez a economia e que gerasse uma gravíssima crise de governabilidade que tornaria inevitável a intervenção de alguma potência amiga, que já sabemos quem é, que pudesse acudir com auxilio para restaurar a ordem.
Nada disso ocorreu, mas não foi o fim de seus propósitos rebeldes. López se entregou para a Justiça e é de esperar que isso faça cair, sobre ele e Machado, todo o peso da lei. Carregam várias mortes sobre suas mochilas e o pior que poderia ocorrer na Venezuela seria que o governo, ou a Justiça, não advertissem sobre o que se esconde dentro do ovo da serpente. Um castigo exemplar, sempre dentro do marco da legalidade vigente, e a ativa mobilização das massas chavistas para sustentar a Revolução Bolivariana, são o único caminho que permitirá enfrentar o perigo de um assalto fascista ao poder, ao invés de dar um sangrento fim a gestão bolivariana. E o que está em jogo é não apenas o futuro da Venezuela mas, indiretamente, de toda América Latina.
* Atílio Boron é cientista político e diretor do Programa Latino-americano de Educação a Distância em Ciências Sociais (PLED), do Centro Cultural de Cooperação “Floreal Gorini”. Artigo publicado originalmente no jornal argentino Página-12. Tradução: Cepat.
A crescente desestabilização pela qual passa atualmente a Venezuela tem um objetivo irredutível: a queda do governo de Nicolás Maduro. Não há espaço para outras interpretações nessa afirmação que, inclusive, foi expressa em diversas ocasiões não apenas por manifestantes da direita, mas também pelos seus principais líderes e inspiradores locais: Leopoldo López y Maria Corina Machado.
Em algumas ocasiões referiram-se a seus objetivos, utilizando a expressão utilizada pelo Departamento de Estado: “Mudança de regime”, uma maneira amável de se referir ao “golpe de Estado”. Esta feroz campanha contra o governo bolivariano tem raízes internas e externas, intimamente imbricadas e solidárias a um objetivo comum: pôr fim ao pesadelo instaurado pelo comandante Hugo Chávez desde que assumiu a Presidência, em 1999.
Para os Estados Unidos, a autodeterminação venezuelana - firmada sobre as maiores reservas comprovadas de petróleo do mundo - e seus extraordinários esforços a favor da unidade da Nossa América equivalem a um intolerável e inadmissível desafio. Para a oposição interna, o chavismo significou o fim de sua coparticipação no saque e na pilhagem organizada pelos EUA e que teve os líderes e organizações políticas da Quarta República como seus sócios minoritários e operadores locais.
Alguns já esperavam a derrota do chavismo, uma vez morto o seu comandante, mas com as eleições presidenciais de 14 de abril de 2013 as suas esperanças esfumaram-se, mesmo que por uma porcentagem muito pequena de votos. A resposta destes falsos democratas foi organizar uma série de tumultos que custaram a vida de mais de uma dezena de jovens bolivarianos, além da destruição de diversos edifícios e propriedades públicas.
Tiveram que conter-se porque a resposta do governo foi muito clara e com a lei ao seu lado. Também porque confiavam que as eleições municipais de 8 de dezembro, concebida como um plebiscito, lhes permitiriam derrotar ao chavismo para exigir imediatamente a destituição de Maduro ou um referendo revogatório antecipado. Todavia a brincadeira saiu pela culatra porque perderam por quase um milhão de votos e nove pontos percentuais de diferença.
Atônitos frente ao inesperado resultado - que, pela primeira vez, oferecia ao governo bolivariano a possibilidade de governar dois anos e administrar a economia sem ter que envolver-se com virulentas campanhas eleitorais - peregrinaram para Washington para receber conselhos, dinheiro e ajudas de todo tipo para levar adiante o seu plano. Agora a prioridade era, como foi exigido por Nixon para o Chile de Allende em 1970, “fazer a economia chiar”.
Então surgiram as campanhas de escassez de abastecimento programadas e, segundo o especialista da CIA, Eugene Sharp, a especulação mudaria com os ataques a imprensa – na qual as mentiras e o terrorismo midiático não tinham limites – e logo, o “esquentar das ruas” buscando criar uma situação similar a de Bengazi, na Líbia, que arruinasse de vez a economia e que gerasse uma gravíssima crise de governabilidade que tornaria inevitável a intervenção de alguma potência amiga, que já sabemos quem é, que pudesse acudir com auxilio para restaurar a ordem.
Nada disso ocorreu, mas não foi o fim de seus propósitos rebeldes. López se entregou para a Justiça e é de esperar que isso faça cair, sobre ele e Machado, todo o peso da lei. Carregam várias mortes sobre suas mochilas e o pior que poderia ocorrer na Venezuela seria que o governo, ou a Justiça, não advertissem sobre o que se esconde dentro do ovo da serpente. Um castigo exemplar, sempre dentro do marco da legalidade vigente, e a ativa mobilização das massas chavistas para sustentar a Revolução Bolivariana, são o único caminho que permitirá enfrentar o perigo de um assalto fascista ao poder, ao invés de dar um sangrento fim a gestão bolivariana. E o que está em jogo é não apenas o futuro da Venezuela mas, indiretamente, de toda América Latina.
* Atílio Boron é cientista político e diretor do Programa Latino-americano de Educação a Distância em Ciências Sociais (PLED), do Centro Cultural de Cooperação “Floreal Gorini”. Artigo publicado originalmente no jornal argentino Página-12. Tradução: Cepat.
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