Por Rodrigo Vianna, no blog Escrevinhador:
Não se trata de poesia. Mas de política. A edição da “Folha” desta sexta-feira é mais uma demonstração de que a batalha nas ruas de Kiev ou Caracas não é feita só de coquetéis molotov, bombas e fuzis. A batalha se dá na mídia, na TV, na internet, nas páginas envelhecidas dos jornais. São Paulo, Caracas, Kiev, Moscou e Washington. A batalha é uma só.
Não se trata de poesia. Mas de política. A edição da “Folha” desta sexta-feira é mais uma demonstração de que a batalha nas ruas de Kiev ou Caracas não é feita só de coquetéis molotov, bombas e fuzis. A batalha se dá na mídia, na TV, na internet, nas páginas envelhecidas dos jornais. São Paulo, Caracas, Kiev, Moscou e Washington. A batalha é uma só.
Reparemos bem. Ao lado, temos a primeira página do jornal conservador paulistano – o mesmo que apoiou o golpe de 64 e emprestou seus carros para transporte de presos durante a ditadura militar. Na capa da “Folha”, ucranianos escalam uma montanha de entulho no centro de Kiev, e a legenda avisa: “Manifestantes antigoverno usam pneus e entulho para montar barricadas…” Logo abaixo, uma chamada sobre reintegração de posse em São Paulo: “Em SP, invasores destroem imóveis do Minha Casa”. Numa página interna, o jornal informa que esse “invasores resistiram e, até a noite, praticavam atos de vandalismo”. (página C-1)
Ucranianos não praticam “vandalismo”. São tratados de forma heróica. Ainda que se saiba que parte dos manifestantes em Kiev tem um discurso racista, próximo do nazismo. Brasileiros são “vândalos”. Ucranianos são “manifestantes”.
Mas sigamos adiante. Nas páginas internas, a “Folha” traz vários textos do enviado especial a Kiev. Num deles, o repórter mostra uma pequena fábrica para produção de coquetéis Molotov, dentro do Metrô de Kiev. O cidadão que produz as bombas é descrito assim: “Sem afiliação a partidos ou uma proposta ideológica clara, o cidadão diz ter sido atraído pela praça e pelas manifestações a partir da ideia de que é necessário mudar o sistema político na Ucrânia.”
Mudar o sistema político. Hum. Não fica claro se o cidadão quer uma ditadura. A Ucrânia não é uma democracia? O governo não foi eleito pela maioria? Hum… “Sem afiliação a partidos” – essa parece ser a chave para legitimar tudo nos dias que correm. A CIA, os EUA, a CNN, a Folha não tem filiação a partidos. Não. Nem o nobre manifestante de Kiev.
Ao lado da reportagem sobre os molotov, um texto opinativo assinado por Igor Gielow (sobrenome “eslavo”, muito bom! Isso dá credibilidade ao comentário). Basicamente, Gielow diz que a crise na Ucrânia é “reflexo da estratégia de Putin para a região”. Ele não está errado. Pena que esqueça de contar uma parte da história. “O importante não é o que eu publico, mas o que deixo de publicar”, dizia Roberto Marinho.
Gielow e a “Folha” ensinam: Putin é um líder malvado, que pretende manter na Ucrânia “a esfera de poder dos tempos imperiais e soviéticos”. Aprendam: só a Rússia tem interesses imperiais na Ucrânia. Do outro lado, há cidadãos sem afiliação partidária, lutando contra um insano governo pró-Moscou. Os EUA e a Europa não têm interesses na Ucrânia. Só Putin. A culpa é dos russos.
Na “Folha” luta-se com as palavras muito antes da manhã começar. Luta-se com as palavras em Kiev, em São Paulo, Moscou. Washington fica invisível. E toda a estratégia passa por aí. O poder imperial só existe por parte da Rússia. Washington não tem qualquer projeto imperial: nem na Ucrânia, nem na Síria, nem tampouco na América Latina…
Falando nisso, a cobertura sobre a Venezuela é também grandiosa no diário da família Frias. Declarações de Maduro aparecem entre aspas. Velho truque jornalistico para desqualificar, colocar no gueto da suspeição, qualquer fala dos chavistas. Segundo a Folha, o governo de Maduro afirma que o movimento (golpista? Isso a Folha não diz) é uma armação de “forças de ultradireita da Venezuela e de Miami”. No texto original a expressão está assim, entre aspas. Por que? Para dar a impressão de que Maduro é um lunático, e que não há forças de ultradireita lutando nas ruas. Não. Há só “estudantes” e “manifestantes” (e agora sou eu que coloco entre aspas).
A legenda da foto ao lado (também publicada pelo jornal conservador paulistano) diz: “Estudantes queimam lixo em atos contra Nicolás Maduro”. Primeiro, como se sabe que o sujeito é um “estudante”? Depois, reparem que queimar lixo na Venezuela é “ato contra Maduro“. Queimar prédios em desapropriação, em São Paulo, vira “vandalismo”.
Em Caracas não há “vândalos”.
Ao lado da foto, um texto assinado por repórter (que está em São Paulo!!!!!) narra roubo de equipamento da CNN em Caracas: “o ataque à CNN se assemelha a inúmeros relatos de motociclistas intimidando manifestantes, com tolerância e até respaldo das forças de segurança do governo”. O roubo ocorreu em manifestação da oposição. Mas o roubo certamente é coisa dos chavistas. Claro. Nem é preciso ir até Caracas pra saber (registro a bem da verdade factual que o repórter - a quem conheço, ótima pessoa – foi correspondente em Caracas).
No mesmo texto (assinado, de São Paulo) os grupos que defendem o governo são chamados de “milícias”. Ok. Já estive em Caracas cinco ou seis vezes. E há grupos chavistas que se assemelham mesmo a milícias. Mas do lado da oposição há o que? Não há milícias? A turma de Leopoldo, que deu golpe em 2002, é formada por cidadãos inocentes. E só.
Quem lê a “Folha” aprende que, em Caracas, há de um lado “milícias chavistas”. De outro, só “estudantes” e “manifestantes”.
Não há neutralidade no uso das palavras. Nunca houve. Nunca haverá. E quanto mais agudas as crises, mais isso fica claro. Há escolhas. A “Folha” faz as suas. A CNN, a Telesur, a VTV – ou esse blogueiro. A diferença é que uns assumem que têm lado. Outros fingem que estão “a serviço do Brasil”.
Lutemos, com as palavras. Não há saída. O outro lado luta todos os dias, todas horas.
“Palavra, palavra
(digo exasperado),
se me desafias,
aceito o combate” (Drummond).
Ucranianos não praticam “vandalismo”. São tratados de forma heróica. Ainda que se saiba que parte dos manifestantes em Kiev tem um discurso racista, próximo do nazismo. Brasileiros são “vândalos”. Ucranianos são “manifestantes”.
Mas sigamos adiante. Nas páginas internas, a “Folha” traz vários textos do enviado especial a Kiev. Num deles, o repórter mostra uma pequena fábrica para produção de coquetéis Molotov, dentro do Metrô de Kiev. O cidadão que produz as bombas é descrito assim: “Sem afiliação a partidos ou uma proposta ideológica clara, o cidadão diz ter sido atraído pela praça e pelas manifestações a partir da ideia de que é necessário mudar o sistema político na Ucrânia.”
Mudar o sistema político. Hum. Não fica claro se o cidadão quer uma ditadura. A Ucrânia não é uma democracia? O governo não foi eleito pela maioria? Hum… “Sem afiliação a partidos” – essa parece ser a chave para legitimar tudo nos dias que correm. A CIA, os EUA, a CNN, a Folha não tem filiação a partidos. Não. Nem o nobre manifestante de Kiev.
Ao lado da reportagem sobre os molotov, um texto opinativo assinado por Igor Gielow (sobrenome “eslavo”, muito bom! Isso dá credibilidade ao comentário). Basicamente, Gielow diz que a crise na Ucrânia é “reflexo da estratégia de Putin para a região”. Ele não está errado. Pena que esqueça de contar uma parte da história. “O importante não é o que eu publico, mas o que deixo de publicar”, dizia Roberto Marinho.
Gielow e a “Folha” ensinam: Putin é um líder malvado, que pretende manter na Ucrânia “a esfera de poder dos tempos imperiais e soviéticos”. Aprendam: só a Rússia tem interesses imperiais na Ucrânia. Do outro lado, há cidadãos sem afiliação partidária, lutando contra um insano governo pró-Moscou. Os EUA e a Europa não têm interesses na Ucrânia. Só Putin. A culpa é dos russos.
Na “Folha” luta-se com as palavras muito antes da manhã começar. Luta-se com as palavras em Kiev, em São Paulo, Moscou. Washington fica invisível. E toda a estratégia passa por aí. O poder imperial só existe por parte da Rússia. Washington não tem qualquer projeto imperial: nem na Ucrânia, nem na Síria, nem tampouco na América Latina…
Falando nisso, a cobertura sobre a Venezuela é também grandiosa no diário da família Frias. Declarações de Maduro aparecem entre aspas. Velho truque jornalistico para desqualificar, colocar no gueto da suspeição, qualquer fala dos chavistas. Segundo a Folha, o governo de Maduro afirma que o movimento (golpista? Isso a Folha não diz) é uma armação de “forças de ultradireita da Venezuela e de Miami”. No texto original a expressão está assim, entre aspas. Por que? Para dar a impressão de que Maduro é um lunático, e que não há forças de ultradireita lutando nas ruas. Não. Há só “estudantes” e “manifestantes” (e agora sou eu que coloco entre aspas).
A legenda da foto ao lado (também publicada pelo jornal conservador paulistano) diz: “Estudantes queimam lixo em atos contra Nicolás Maduro”. Primeiro, como se sabe que o sujeito é um “estudante”? Depois, reparem que queimar lixo na Venezuela é “ato contra Maduro“. Queimar prédios em desapropriação, em São Paulo, vira “vandalismo”.
Em Caracas não há “vândalos”.
Ao lado da foto, um texto assinado por repórter (que está em São Paulo!!!!!) narra roubo de equipamento da CNN em Caracas: “o ataque à CNN se assemelha a inúmeros relatos de motociclistas intimidando manifestantes, com tolerância e até respaldo das forças de segurança do governo”. O roubo ocorreu em manifestação da oposição. Mas o roubo certamente é coisa dos chavistas. Claro. Nem é preciso ir até Caracas pra saber (registro a bem da verdade factual que o repórter - a quem conheço, ótima pessoa – foi correspondente em Caracas).
No mesmo texto (assinado, de São Paulo) os grupos que defendem o governo são chamados de “milícias”. Ok. Já estive em Caracas cinco ou seis vezes. E há grupos chavistas que se assemelham mesmo a milícias. Mas do lado da oposição há o que? Não há milícias? A turma de Leopoldo, que deu golpe em 2002, é formada por cidadãos inocentes. E só.
Quem lê a “Folha” aprende que, em Caracas, há de um lado “milícias chavistas”. De outro, só “estudantes” e “manifestantes”.
Não há neutralidade no uso das palavras. Nunca houve. Nunca haverá. E quanto mais agudas as crises, mais isso fica claro. Há escolhas. A “Folha” faz as suas. A CNN, a Telesur, a VTV – ou esse blogueiro. A diferença é que uns assumem que têm lado. Outros fingem que estão “a serviço do Brasil”.
Lutemos, com as palavras. Não há saída. O outro lado luta todos os dias, todas horas.
“Palavra, palavra
(digo exasperado),
se me desafias,
aceito o combate” (Drummond).
4 comentários:
Política
Antônio de Souza: Suíça, Maluf e as denúncias que deixam tucanos aloprados
publicado em 21 de fevereiro de 2014 às 16:08
“Depois, os tucanos fritaram Maluf para assumir o eleitorado conservador”, observa o autor deste texto
por Antônio de Souza Lopes da Silva, especial para o Viomundo
Todos sabem que durante anos Paulo Maluf foi acusado com veemência de ser corrupto. Os movimentos populares em várias eleições usaram o símbolo “ratuf“ para vinculá-lo a corrupção.
Maluf resistiu às denúncias o quando pode. Até que um belo dia as contas na Suíça foram abertas por pressão dos judeus que buscavam recuperar seu dinheiro confiscado pelos nazistas. Oficialmente, a Suíça ficou neutra durante a Segunda Guerra, isso favorecia que o dinheiro roubado dos judeus fosse depositado aí.
Foi nessa operação que a conta blue diamond, que seria de Maluf e seus familiares, acabou sendo revelada.
A conta na Suíça combinada ao péssimo governo do ex-prefeito Celso Pitta e às denúncias de sua ex-mulher Nicéa desembocaram na derrocada eleitoral do malufismo, que não teve mais força para eleger prefeito e disputar o governo estadual.
Esses fatos favoreceram o PSDB em São Paulo. Ajudaram tanto que os tucanos se enraizaram na máquina pública e resolveram fritar Maluf para assumir o eleitorado conservador.
Com a oposição enfraquecida, o PSDB só enfrentou dificuldades fortes em 2002, quando por muito pouco José Genoíno, ex-presidente nacional do PT, não se elegeu governador de São Paulo.
Ou seja, o fator Suíça ajudou – e muito — a consolidar a hegemonia tucana.
Agora, ironicamente, o “fator Suíça” começa a ameaçar o governador Geraldo Alckmin, entre outros tucanos.
O engenheiro João Roberto Zaniboni, velho conhecido do senador Aloysio Nunes, foi condenado por lavar dinheiro de propina na Suiça. Ele recebeu, via esquema Alstom, R$ 1,9 milhão de reais.
Zaniboni trabalhou na Fepasa (Ferrovia Paulista S/A). Depois, em agosto de 1993, foi trabalhar na CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos), sendo indicado em uma reunião presidida por Aloysio Nunes.
Miro,
Não é novidade que o padrão "mídia venezuelizada" teve seu grande ensaio no golpe contra Chavez, e a partir desse insucesso a fórmula foi aperfeiçoada com o acréscimo da desastabilização da economia.
A rede band-idadagem assumiu publicamente o boicote o Hadad; tem também o episódio da bolinha de papel na grobo e; agora, a rede band-idadagem desce vários pontos a mais rumo ao obscurantismo com essa manipulação tosca, tanto quanto os corpos espalhados numa praia da Bolívia:
http://noticias.band.uol.com.br/jornaldaband/videos/2014/02/21/14876232-explosivos-sao-feitos-de-acucar-e-amendoim.html
Lendo textos assim que fico a lamentas que a guerrilha não tenha vencido a ditadura militar, a essa hora estaríamos falido como todo país comunista faliu e teríamos matado milhares de pessoa como todo país socialista faliu e como o leste Europeu ninguém mais estari brincando de ser de esquerdae talves como o Vietan estaríamos abrindo o nosso primeiro Mc Donalds. O texto é um amontoado de bobagens de gente que nunca pisou ou respirou o ar da Ucrânia, texto que me faz viajar tempo a mundo que foi extinto pela marcha da história, da política e da economia. Estamos em 2014 e não mais na década de 50. Se os médicos não falaram, eu falo seu mundo foi extinto em 1989 há 25 anos, há um quarto de século. O Brasil é ainda o único país do mundo que leva o comunismo a sério.
Lembram-se, os amigos do Barão, que tentei chamar-lhes a atenção para o Irani Lima, blogueiro de Taubaté respondendo a processos e ameaçado por denunciar a corrupção na FDE do Alckmin? É esse cara aqui: http://www.brasil247.com/pt/247/brasil/131173/Por-que-colaborei-com-a-vaquinha-do-Z%C3%A9-Dirceu.htm
Quem sabe aparecendo no 247 ele receba alguma solidariedade, blogueiro sujo que é.
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