Por Ricardo Kotscho, no blog Balaio do Kotscho:
Manhã de segunda-feira. Assunto não falta. Só desgraça, claro, no Brasil e no mundo. Por isso, pensei em escrever sobre futebol, mas também não me animei, depois de ler a perfeita análise de Juca Kfouri sobre a rodada de domingo do Brasileirão, sob o título "Diga basta, torcedor!".
Disse tudo: "Daí, uma reflexão diante da miséria que assola nosso futebol: imagine o que acontecerá se o torcedor, pacificamente, qual Gandhi, deixar de ver os jogos? Resistência pacífica mesmo! Estádios ainda mais vazios que o habitual, audiência em queda, patrocinadores que gastam milhões para expor suas marcas em desespero, o que acontecerá? Imagine".
Pois posso imaginar, caro Juca, mas aí o que nos restará para fazer de mais emocionante nas velhas tardes de domingo?
Poderia escrever sobre o racionamento oficial de água, que atinge 2,1 milhões de paulistas, fora os não contabilizados. Ou sobre o ebola, que se alastra pela África, a nova trégua de 72 horas entre Hamas e Israel, enquanto palestinos continuam morrendo, entre eles um menino de 14 anos (não há registro de vítimas israelenses), o tiroteio na CPI da Petrobras, a grana correndo na campanha eleitoral, e por aí afora.
Também renderia uma boa matéria a ciclovia da avenida Sumaré, que foi pintada de vermelho, uma nova obra de Fernando Haddad, já chamado "Prefeito Suvinil", por espalhar faixas exclusivas pela cidade, tirando o espaço dos carros para dar lugar a bicicletas e ônibus, algo considerado politicamente correto. Desta vez, porém, o prefeito arrumou encrenca não só com os donos de carros (não é meu caso), mas com os pedestres, pois a ciclovia foi implantada no mesmo espaço antes reservado ao pessoal das caminhadas matinais.
Quando os assuntos são muitos, às vezes a gente se esquece do que está mais próximo da nossa janela, a exemplo da interminável novela urbana que venho acompanhando diariamente do meu privilegiado posto de observação.
Começou na mesma semana da Copa no Brasil. Com o som inconfundível das britadeiras, a Sabesp abriu pela enésima vez um buraco na alameda Ministro Rocha Azevedo, esquina com a alameda Lorena, no coração do Jardim Paulista, bairro nobre da cidade. Duas pistas foram fechadas com cones (não, o Fred não estava lá) e fitas. Logo, máquinas e caminhões de uma empreiteira terceirizada pela Sabesp se perfilaram para dar mãos à obra, provocando grandes congestionamentos e uma sinfonia de buzinas _ e, assim, do jeito que começou, continua tudo lá até hoje, dois meses depois, portanto, sem prazo para um final feliz.
Se alguém estiver interessado em entender os motivos da crise de desabastecimento de água em São Paulo, basta passar apenas algumas horas naquele lugar para conhecer o padrão Sabesp de qualidade, eficiência e respeito ao consumidor.
Dois ou três operários por dia se revezam no buraco, que anda a cada semana, em direção à avenida Paulista, enquanto outros ficam olhando ou esperam sua vez nos caminhões, todos sem mostrar muita pressa. Nunca vi ali um engenheiro da empreiteira ou da Sabesp, algum fiscal da prefeitura, nada que pudesse sugerir a preocupação do poder público com o andamento da obra.
Muito menos alguma boa alma da Sabesp, que tem uma fornida equipe de comunicação e não poupa dinheiro com investimentos em propagada, preocupou-se em informar aos moradores o que, afinal, a companhia está fazendo ali, quanto tempo vai durar a "obra", qual o seu custo, nada.
Claro que cabe à empresa, controlada pelo governo do Estado, e com 49% das ações na Bolsa, teoricamente responsável pelo saneamento básico de 27,7 milhões de pessoas, cuidar da manutenção da sua rede subterrânea de água e esgoto, mas não custaria nada dar uma satisfação ao distinto público, assim como tomar providências para amenizar os transtornos e apressar a conclusão dos serviços. Os moradores da região e os leitores deste Balaio já ficariam satisfeitos se recebessem algumas informações sobre o destino do buraco.
Motoristas de táxi de um ponto próximo já especulam se a Sabesp não teria aderido aos programas do "pré-sal" e resolvido investir na prospecção de petróleo em pleno Jardim Paulista. Dia desses, quem sabe, jorra ali o chamado ouro negro e os acionistas privados poderão comemorar a subida das suas ações.
"Como a Sabesp não teve dinheiro para investir na manutenção e tem para distribuir lucros na bolsa de Nova York?", quer saber o vereador Laércio Benko, do PHS, que entrevistei semana passada na Record News, durante a série de sabatinas da emissora com os candidatos ao governo do Estado. Interessado em receber uma resposta, como nós também, Benko apresentou requerimento, que já foi aprovado, pedindo a instauração de uma CPI na Câmara Municipal para investigar a companhia.
Vamos esperar sentados, que de pé cansa. Com a palavra, a Sabesp.
Manhã de segunda-feira. Assunto não falta. Só desgraça, claro, no Brasil e no mundo. Por isso, pensei em escrever sobre futebol, mas também não me animei, depois de ler a perfeita análise de Juca Kfouri sobre a rodada de domingo do Brasileirão, sob o título "Diga basta, torcedor!".
Disse tudo: "Daí, uma reflexão diante da miséria que assola nosso futebol: imagine o que acontecerá se o torcedor, pacificamente, qual Gandhi, deixar de ver os jogos? Resistência pacífica mesmo! Estádios ainda mais vazios que o habitual, audiência em queda, patrocinadores que gastam milhões para expor suas marcas em desespero, o que acontecerá? Imagine".
Pois posso imaginar, caro Juca, mas aí o que nos restará para fazer de mais emocionante nas velhas tardes de domingo?
Poderia escrever sobre o racionamento oficial de água, que atinge 2,1 milhões de paulistas, fora os não contabilizados. Ou sobre o ebola, que se alastra pela África, a nova trégua de 72 horas entre Hamas e Israel, enquanto palestinos continuam morrendo, entre eles um menino de 14 anos (não há registro de vítimas israelenses), o tiroteio na CPI da Petrobras, a grana correndo na campanha eleitoral, e por aí afora.
Também renderia uma boa matéria a ciclovia da avenida Sumaré, que foi pintada de vermelho, uma nova obra de Fernando Haddad, já chamado "Prefeito Suvinil", por espalhar faixas exclusivas pela cidade, tirando o espaço dos carros para dar lugar a bicicletas e ônibus, algo considerado politicamente correto. Desta vez, porém, o prefeito arrumou encrenca não só com os donos de carros (não é meu caso), mas com os pedestres, pois a ciclovia foi implantada no mesmo espaço antes reservado ao pessoal das caminhadas matinais.
Quando os assuntos são muitos, às vezes a gente se esquece do que está mais próximo da nossa janela, a exemplo da interminável novela urbana que venho acompanhando diariamente do meu privilegiado posto de observação.
Começou na mesma semana da Copa no Brasil. Com o som inconfundível das britadeiras, a Sabesp abriu pela enésima vez um buraco na alameda Ministro Rocha Azevedo, esquina com a alameda Lorena, no coração do Jardim Paulista, bairro nobre da cidade. Duas pistas foram fechadas com cones (não, o Fred não estava lá) e fitas. Logo, máquinas e caminhões de uma empreiteira terceirizada pela Sabesp se perfilaram para dar mãos à obra, provocando grandes congestionamentos e uma sinfonia de buzinas _ e, assim, do jeito que começou, continua tudo lá até hoje, dois meses depois, portanto, sem prazo para um final feliz.
Se alguém estiver interessado em entender os motivos da crise de desabastecimento de água em São Paulo, basta passar apenas algumas horas naquele lugar para conhecer o padrão Sabesp de qualidade, eficiência e respeito ao consumidor.
Dois ou três operários por dia se revezam no buraco, que anda a cada semana, em direção à avenida Paulista, enquanto outros ficam olhando ou esperam sua vez nos caminhões, todos sem mostrar muita pressa. Nunca vi ali um engenheiro da empreiteira ou da Sabesp, algum fiscal da prefeitura, nada que pudesse sugerir a preocupação do poder público com o andamento da obra.
Muito menos alguma boa alma da Sabesp, que tem uma fornida equipe de comunicação e não poupa dinheiro com investimentos em propagada, preocupou-se em informar aos moradores o que, afinal, a companhia está fazendo ali, quanto tempo vai durar a "obra", qual o seu custo, nada.
Claro que cabe à empresa, controlada pelo governo do Estado, e com 49% das ações na Bolsa, teoricamente responsável pelo saneamento básico de 27,7 milhões de pessoas, cuidar da manutenção da sua rede subterrânea de água e esgoto, mas não custaria nada dar uma satisfação ao distinto público, assim como tomar providências para amenizar os transtornos e apressar a conclusão dos serviços. Os moradores da região e os leitores deste Balaio já ficariam satisfeitos se recebessem algumas informações sobre o destino do buraco.
Motoristas de táxi de um ponto próximo já especulam se a Sabesp não teria aderido aos programas do "pré-sal" e resolvido investir na prospecção de petróleo em pleno Jardim Paulista. Dia desses, quem sabe, jorra ali o chamado ouro negro e os acionistas privados poderão comemorar a subida das suas ações.
"Como a Sabesp não teve dinheiro para investir na manutenção e tem para distribuir lucros na bolsa de Nova York?", quer saber o vereador Laércio Benko, do PHS, que entrevistei semana passada na Record News, durante a série de sabatinas da emissora com os candidatos ao governo do Estado. Interessado em receber uma resposta, como nós também, Benko apresentou requerimento, que já foi aprovado, pedindo a instauração de uma CPI na Câmara Municipal para investigar a companhia.
Vamos esperar sentados, que de pé cansa. Com a palavra, a Sabesp.
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