Por Fabrício Augusto de Oliveira, no site Brasil Debate:
Em menos de duas semanas, dois ministros “notáveis” do governo interino Temer foram apeados de seus cargos denunciados por conspirarem contra a Operação Lava Jato: Romero Jucá, ministro do planejamento, e Fabiano Silveira, ministro da Transparência e Fiscalização (artigo escrito antes do anúncio, ontem, 16, da saída do ministro Henrique Eduardo Alves). Se este ritmo for mantido, e essa possibilidade não pode ser descartada com a continuidade das investigações e delações premiadas, poderão ser poucos, dentro de pouco tempo, os “notáveis” do governo que ainda continuarão no cargo.
O governo Temer, frouxo até o momento, leniente nessas questões com seus companheiros e colegas de trabalho, praticamente atribuiu a Jucá a condição de gênio na política e na economia ao dele se despedir e agradecer por sua contribuição, mas sem especificar se era um gênio do “bem” ou do “mal”, e, no caso de Silveira, não percebeu, talvez ingênua ou, espertamente, nas gravações divulgadas, algo que o desabonasse e o comprometesse com aquelas conspirações. Este teve, no entanto, o bom senso de pedir demissão do cargo ante os protestos que surgiram de vários setores e em várias partes do país.
Temer é considerado uma raposa no meio político, de espírito conciliador e capaz de administrar adversidades. Mas, o fato, é que ele mesmo preparou essas arapucas para o seu governo. Num momento em que a sociedade anda sedenta por uma limpeza ética dos quadros políticos e governamentais, fechou os olhos para essa demanda da população e convidou para o governo figuras que se encontram na condição de réus ou de investigados na Operação Lava Jato e no Supremo Tribunal Federal (STF), sob o argumento de uma questionável “presunção de inocência” e da necessidade de formar um governo de “coalizão”.
Uma bobagem, que não poderia dar certo. Não bastasse tudo isso, ainda indicou, como líder de seu governo, um deputado de ficha sujíssima, caso de André Moura (PSC-SE) que, só no STF responde a três inquéritos, incluindo um por tentativa de homicídio. Não admira que o jornal alemão, Die Zeit, em artigo do jornalista Thomas Fischermann, tenha classificado o seu governo, no dia 25 de maio, como um “Governo ou um bando de gângsters”. Com este deslize, começou a colher mais cedo do que um esperava um sem número de torpedos, instabilizando politicamente seu governo, que pode durar menos tempo do que se previa.
No campo econômico, embevecido com os afagos recebidos das classes dominantes, entregou o comando da economia para a fina flor da ortodoxia, para quem a questão do ajuste se resume a lançar a conta sobre a classe média e os mais pobres, retirando-lhes benefícios indevidos e programas sociais dispendiosos para reequilibrar as contas públicas e trazer de volta os investimentos.
Como nas histórias da carochinha, acreditam – ou fingem acreditar – que o saneamento financeiro do setor público seja capaz, por si, de despertar o “espírito animal” dos investidores, como se o país não se defrontasse com nenhum outro problema estrutural, e que a recessão seja regeneradora de um tecido econômico carcomido por políticas econômicas incompetentes e irresponsáveis, como se não fosse, ela própria, fonte de maior desequilíbrio das contas públicas, ao derrubar dramaticamente as receitas.
No vale tudo adotado para se atingir este objetivo, a política econômica tem se transformado num samba de uma nota só: cortes de verbas para programas sociais e investimentos públicos; aumento de impostos indiretos, legalização de jogos até há pouco vistos como nefastos para a sociedade, visando aumentar a arrecadação; reforma da previdência, e qualquer outra coisa a mais que retire direitos da população contempladas na Constituição de 1988 para “aliviar” as contas do governo.
De ajuste mesmo, só o torniquete nas políticas sociais. Tudo isso, como se as despesas financeiras do governo (os encargos da dívida pública) não tivessem nenhuma responsabilidade no desequilíbrio fiscal. E, apesar de tudo, ainda acenam com a retomada do crescimento em meio à política de terra arrasada que se está implementando. Não podem ser levados a sério. Tanto que a OCDE já elevou a retração do PIB brasileiro de 4% para 4,3% em 2016.
Pelo andar da carruagem, tanto no campo político como econômico há muito para se temer do governo Temer. No campo político, pelas indicações de “notáveis” que realizou não será nenhuma surpresa se o seu governo continuar sacudido periodicamente por novas denúncias, envolvendo seus quadros e minando as já poucas forças de apoio dadas a um governo sem legitimidade para realizar mudanças necessárias para reerguer o país.
Do ponto de vista econômico, os estragos que a política econômica deve provocar no tecido econômico e social podem levar à perda de apoio até mesmo de setores importantes do capital, assim como à maior oposição não somente dos servidores públicos, dos movimentos sociais, da população mais pobre e mesmo da classe média, fustigada pelo aumento do desemprego, que já ultrapassa os 11%, por uma nova rodada de aumento dos impostos e pela queda no nível de suas rendas e decepcionada com os rumos que o país tomou.
Os caminhos para uma nova eleição presidencial ainda este ano parecem, estar, assim, cada vez mais se abrindo.
Em menos de duas semanas, dois ministros “notáveis” do governo interino Temer foram apeados de seus cargos denunciados por conspirarem contra a Operação Lava Jato: Romero Jucá, ministro do planejamento, e Fabiano Silveira, ministro da Transparência e Fiscalização (artigo escrito antes do anúncio, ontem, 16, da saída do ministro Henrique Eduardo Alves). Se este ritmo for mantido, e essa possibilidade não pode ser descartada com a continuidade das investigações e delações premiadas, poderão ser poucos, dentro de pouco tempo, os “notáveis” do governo que ainda continuarão no cargo.
O governo Temer, frouxo até o momento, leniente nessas questões com seus companheiros e colegas de trabalho, praticamente atribuiu a Jucá a condição de gênio na política e na economia ao dele se despedir e agradecer por sua contribuição, mas sem especificar se era um gênio do “bem” ou do “mal”, e, no caso de Silveira, não percebeu, talvez ingênua ou, espertamente, nas gravações divulgadas, algo que o desabonasse e o comprometesse com aquelas conspirações. Este teve, no entanto, o bom senso de pedir demissão do cargo ante os protestos que surgiram de vários setores e em várias partes do país.
Temer é considerado uma raposa no meio político, de espírito conciliador e capaz de administrar adversidades. Mas, o fato, é que ele mesmo preparou essas arapucas para o seu governo. Num momento em que a sociedade anda sedenta por uma limpeza ética dos quadros políticos e governamentais, fechou os olhos para essa demanda da população e convidou para o governo figuras que se encontram na condição de réus ou de investigados na Operação Lava Jato e no Supremo Tribunal Federal (STF), sob o argumento de uma questionável “presunção de inocência” e da necessidade de formar um governo de “coalizão”.
Uma bobagem, que não poderia dar certo. Não bastasse tudo isso, ainda indicou, como líder de seu governo, um deputado de ficha sujíssima, caso de André Moura (PSC-SE) que, só no STF responde a três inquéritos, incluindo um por tentativa de homicídio. Não admira que o jornal alemão, Die Zeit, em artigo do jornalista Thomas Fischermann, tenha classificado o seu governo, no dia 25 de maio, como um “Governo ou um bando de gângsters”. Com este deslize, começou a colher mais cedo do que um esperava um sem número de torpedos, instabilizando politicamente seu governo, que pode durar menos tempo do que se previa.
No campo econômico, embevecido com os afagos recebidos das classes dominantes, entregou o comando da economia para a fina flor da ortodoxia, para quem a questão do ajuste se resume a lançar a conta sobre a classe média e os mais pobres, retirando-lhes benefícios indevidos e programas sociais dispendiosos para reequilibrar as contas públicas e trazer de volta os investimentos.
Como nas histórias da carochinha, acreditam – ou fingem acreditar – que o saneamento financeiro do setor público seja capaz, por si, de despertar o “espírito animal” dos investidores, como se o país não se defrontasse com nenhum outro problema estrutural, e que a recessão seja regeneradora de um tecido econômico carcomido por políticas econômicas incompetentes e irresponsáveis, como se não fosse, ela própria, fonte de maior desequilíbrio das contas públicas, ao derrubar dramaticamente as receitas.
No vale tudo adotado para se atingir este objetivo, a política econômica tem se transformado num samba de uma nota só: cortes de verbas para programas sociais e investimentos públicos; aumento de impostos indiretos, legalização de jogos até há pouco vistos como nefastos para a sociedade, visando aumentar a arrecadação; reforma da previdência, e qualquer outra coisa a mais que retire direitos da população contempladas na Constituição de 1988 para “aliviar” as contas do governo.
De ajuste mesmo, só o torniquete nas políticas sociais. Tudo isso, como se as despesas financeiras do governo (os encargos da dívida pública) não tivessem nenhuma responsabilidade no desequilíbrio fiscal. E, apesar de tudo, ainda acenam com a retomada do crescimento em meio à política de terra arrasada que se está implementando. Não podem ser levados a sério. Tanto que a OCDE já elevou a retração do PIB brasileiro de 4% para 4,3% em 2016.
Pelo andar da carruagem, tanto no campo político como econômico há muito para se temer do governo Temer. No campo político, pelas indicações de “notáveis” que realizou não será nenhuma surpresa se o seu governo continuar sacudido periodicamente por novas denúncias, envolvendo seus quadros e minando as já poucas forças de apoio dadas a um governo sem legitimidade para realizar mudanças necessárias para reerguer o país.
Do ponto de vista econômico, os estragos que a política econômica deve provocar no tecido econômico e social podem levar à perda de apoio até mesmo de setores importantes do capital, assim como à maior oposição não somente dos servidores públicos, dos movimentos sociais, da população mais pobre e mesmo da classe média, fustigada pelo aumento do desemprego, que já ultrapassa os 11%, por uma nova rodada de aumento dos impostos e pela queda no nível de suas rendas e decepcionada com os rumos que o país tomou.
Os caminhos para uma nova eleição presidencial ainda este ano parecem, estar, assim, cada vez mais se abrindo.
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